Melkor- o inimigo da luz
Senhor de todas as coisas
[Melkor, o inimigo da luz] [Chuva ou O Fim Azul]
O texto se baseia basicamente em diálogos. É rapido e objetivo. Tentei usar linguagem coloquial sem fugir do bom senso. =)
Voilá, mais um Fim! ^^
---------------------------------------------------------------------------------
- O que vamos fazer agora, Henrique? – perguntou Felipe, olhando de soslaio pelo próprio cabelo que cobria o lado esquerdo de seu rosto.
- Sinceramente? – ele olhou para a janela, em uma evidente atuação, e encarou novamente o amigo – Não sei.
- Droga, essa chuva não para – Felipe diz, desapontado. Sentia-se constrangido por não ter nada para oferecer para Henrique.
- Ah, ela para sim. Parou agora pouco, lembra?
- Claro! E, depois que vestimos nossas sungas começou a cair mais forte ainda. Sabe, a impressão que tenho é a de que seu Deus está brincando conosco.
- Meu Deus? Ele não é meu! – Henrique protestou
- Muito menos meu. Mas você acredita, não é? Então é mais seu do que meu e só com você ele pode agir. Nenhum deus pode punir alguém que não acredita nele, é um paradoxo.
- Não é um paradoxo.
- Não importa. – Felipe riu – O que será que está passando na televisão?
- Domingo, de noite? – Henrique riu desdenhosamente – Ah, nem quero imaginar!
- Eu trouxe a televisão por satélite, boçal – Felipe virou os olhos, rindo
- Opa! Como se eu não conhecesse as pérolas que passam nesses canais! Como era mesmo o nome daquele filme que vimos? Aquele drama tão trágico!
- Trágico? Rimos o filme inteiro!
- Tá certo, tá certo. Mas era trágico. Não fosse o cheiro tão apetitoso de molho de tomate que os corpos exalavam e...
- Quieto! – Felipe disse – Ouviu?
- Um uivo. Eu já ouvi outros, sabia?
- Aham. Mas e um uivo de lobisomem? – ele perguntou, sombrio.
- Como assim? – Henrique franziu o cenho. Felipe cedeu. Os dois caíram no mais patético acesso de riso a que o ócio e a chuva podiam incitar.
- Estou com calor – Felipe falou, tentando ficar sério.
- Eu também.
- Vamos tirar a roupa? – ele perguntou, olhando o amigo com a cabeça baixa e os olhos erguidos, como uma cobra.
- Não! Seu louco – Henrique disse, expressando a falta de sentido da proposta.
- Eu estava brincando, tarado! – Felipe gritou, mas sentia como se traindo a si mesmo. Pois não podia negar, no seu âmago, que, desde que vira, por acaso, Henrique trocar-se, desejava vê-lo novamente. Pois nunca havia experimentado tanta curiosidade. Só pôde ver a barriga e uma pequena marca de sol, mas... Ah, como correu! Trancou-se no banheiro e ficou olhando seu próprio reflexo até acalmar seu espírito.
- Eu estava brincando – repetiu, olhando o amigo nos olhos. Um silêncio profundo caiu e esmagou-os por alguns instantes. Ambos pensativos, as sobrancelhas protegendo os olhos furtivos, desviaram o olhar e pararam por algum tempo de falar ou rir.
- .Sabe, eu estou me divertindo – Henrique destruiu a paz e o silêncio – De verdade.
- Falso! Não precisa fazer isso – Felipe pareceu ofendido – Está tudo uma droga. Não aconteceu nada de bom desde que chegamos. Desculpa, olha, eu achei que ia ser divertido e...
- Putz, eu to sendo sincero. Eu to gostando, a gente tem conversado bastante. Como a gente nunca fez.
- Se você diz. Eu estou gostando, só pela sua companhia, de qualquer forma. Eu me sinto muito sozinho quando tenho que vir para cá sozinho.
- Você pelo menos tem um sítio, Felipe.
- Bah.
- A gente vai ficar olhando a chuva, vai ver televisão ou o que?
- Vamos fazer amor – Felipe arqueou a sobrancelha
- Você pode falar sério pelo menos uma vez? – Henrique censurou-o
- Desculpa – Felipe disse. Eu estava falando sério, pensou.
- Pena que ninguém mais pôde vir. Hm, Felipe?
- Fala
- Você me disse, há um tempo atrás, que tinha alguma coisa pra me dizer. Mas nunca disse o que era.
- Não era nada.
- Pode falar, cara.
- Não era nada – Felipe virou-se para o outro lado, tentando disfarçar seu constrangimento. Era tudo tão difícil, cara a cara.
- Por favor, conta.
- Eu nem lembro mais. Acho que eu só queria agradecer todo o apoio que você me dá, sabe? Eu queria dizer que você é um grande amigo, sério mesmo. Desculpa.
- É isso? Ah, eu também acho que você é um amigão, falando sério, fico muito feliz por ter te conhecido. Aprendi bastante coisa com você e... – Henrique parou de falar, assustado.
- Desculpa, desculpa, desculpa! – Felipe disse, por entre lágrimas e soluços e beijou-o. Não houve resistência nem cumplicidade, Henrique parecia simplesmente não saber o que fazer. Felipe não esperou por reação alguma nem olhou nos olhos de seu amigo. Saiu correndo, abriu a porta e sumiu na chuva.
- Felipe! – Felipe ouviu uma voz chamando-o, através do véu de chuva, e virou-se. Talvez não tivesse sido um erro. Mas era só o vento. Não havia ninguém no seu encalço, ninguém atrás dele implorando para que voltasse. Correu no escuro, embaixo de toda água que caía, e escondeu-se embaixo de uma árvore onde – quando criança – gostava de subir e passar a tarde inteira, sozinho.
- Merda, merda! – gritou para si mesmo. Ainda faltavam dois dias e ele já tinha estragado tudo. Não conseguiria mais olhar nos olhos de Henrique, não! Seriam os dois piores dias da sua vida. Graças a ele e somente ele, o que era pior.
- Eu quero morrer – soluçou. Queria morrer, não por seu primeiro beijo ter se dado com Henrique. Disso ele gostava. Mas o primeiro beijo de Henrique havia se dado com ele! Com ele! Que direito ele tinha de estragar a vida de outra pessoa? Já não bastava a sua própria?
- Felipe! – ouviu uma voz chamá-lo. Não era o vento.
- O que foi isso? – Henrique perguntou, pausadamente, para ninguém. Não havia entendido uma só cena daquele Ato. Porque Felipe... Ah, ele havia beijado-o sem aviso prévio... Porque?
- Merda – disse, em baixo tom, para si mesmo. Tentou entender. Não conseguia. Não imaginava que ele faria algo assim, não Felipe. Devia estar desesperado, pobre Felipe! Sempre tão errado, tão sozinho. E agora isto. Ele não ia suportar, era tão fraco quanto parecia forte!
- Felipe! – gritou quando viu o amigo sentado embaixo de uma árvore, chorando. A chuva parecia vir toda dele, só dele. Pobre Felipe, pobre Felipe!
- Cara, que merda é essa? – Henrique sacodia Felipe – Fala comigo! O que tá acontecendo?
- Por favor, me solta – Felipe estava como se estivesse morrendo.
- Não! Fala comigo! Porque você fez isso?
- Desculpa, eu já pedi desculpas!
- Não quero que você se desculpe! Me explica!
- Cacete, eu já disse que sinto muito! Por favor, para!
- Não! – Henrique empurou-o na árvore e o fez arregalar os olhos assustados
- Desculpa, Henrique! Por favor, não faz nada, não! – Felipe levantou os braços, se defendendo. Henrique soltou-o e começou a chorar
- Cara, o que é isso? – perguntou, soluçando.
- Não me bate, por favor, eu não queria ter feito isso!
- Eu não vou te bater, não, nunca! De onde você tirou isso, caramba? Para, eu só quero falar com você! Me explica o que está acontecendo!
- Eu... – Felipe começou a soluçar – Eu te amo!
- Não, chega de correr, que merda! – Henrique segurou Felipe pelo braço quando ele levantou-se e tentou fugir. – Dá para olhar nos meus olhos e, pelo menos uma vez, enfrentar a vida de frente, como homem?
- Como homem? – Felipe estava de frente e encarava Henrique – Como homem?
- Qual é a graça? – Henrique ofendeu-se – Qual é a graça? Me diz!
- Desculpa – Felipe disse e abaixou os olhos novamente
- Olha para mim! – Henrique disse, imperativo – Me explica agora isso, pelo amor de Deus.
- Eu te amo. Eu te amo eu te amo eu te amo! – Felipe disse, as pupilas no centro do globo ocular, fixas nos olhos de Henrique.
- Puta merda – Henrique disse, pesaroso - Porque?
- Porque? Não sei, não me pergunta! Eu só não agüento mais esconder isso. Sério, cara, desculpa. E desculpa pelo que fiz agora pouco, fui um idiota, só pensei que você pudesse...
- Não. Não se desculpa. Já foi. Mas ainda não entendo. Com a Luiza, a Thais... Porque eu?
- Porque é você, é você que eu quero, cacete. Não tem porquê.
- Não dá pra entender, desculpa.
- Ah, dá sim! – Felipe parecia irritado – Você é bonito, inteligente, gosta de mim como eu sou, é simpático, me ajudou quando eu precisei. Era inevitável, eu sabia! E eu te avisei, não te avisei?
- Você disse que nunca faria nada assim.
- Mas eu avisei que eu estava com problemas. Você não devia ter me ajudado, eu não disse? Você nunca me ouve!
- Então por isso...
- É. Por isso que eu tentei me afastar. Mas não deu. Eu tentei, sério.
- Você podia ter falado.
- Eu não queria perder o pouco que já tinha conquistado.
- Você podia ter falado.
- Você já era meu amigo! O que mais eu podia pedir? – Felipe ainda chorava
- Eu não faço nenhum favor sendo seu amigo!
- Se você soubesse o que eu sentia desde o começo, você estaria aqui, comigo? – Felipe perguntou, sóbrio.
- Não sei. Mas eu estou aqui – Henrique chorava também, novamente – Você me ama de verdade?
- Sim.
- Então me aceite também, assim como eu sou. Desculpa.
Henrique abraçou-o com força, do jeito mais sincero que pôde e soube que – ah, sim – Felipe estaria feliz assim. Queria protege-lo, só não sabia como. Beijou-lhe a testa e voltaram ambos para a casa, onde assistiram televisão até dormirem. E Felipe dormiu sob a barriga de Henrique, sentindo-lhe a respiração e o coração. E tiveram os dois dias mais lindos de suas vidas.
O texto se baseia basicamente em diálogos. É rapido e objetivo. Tentei usar linguagem coloquial sem fugir do bom senso. =)
Voilá, mais um Fim! ^^
---------------------------------------------------------------------------------
- O que vamos fazer agora, Henrique? – perguntou Felipe, olhando de soslaio pelo próprio cabelo que cobria o lado esquerdo de seu rosto.
- Sinceramente? – ele olhou para a janela, em uma evidente atuação, e encarou novamente o amigo – Não sei.
- Droga, essa chuva não para – Felipe diz, desapontado. Sentia-se constrangido por não ter nada para oferecer para Henrique.
- Ah, ela para sim. Parou agora pouco, lembra?
- Claro! E, depois que vestimos nossas sungas começou a cair mais forte ainda. Sabe, a impressão que tenho é a de que seu Deus está brincando conosco.
- Meu Deus? Ele não é meu! – Henrique protestou
- Muito menos meu. Mas você acredita, não é? Então é mais seu do que meu e só com você ele pode agir. Nenhum deus pode punir alguém que não acredita nele, é um paradoxo.
- Não é um paradoxo.
- Não importa. – Felipe riu – O que será que está passando na televisão?
- Domingo, de noite? – Henrique riu desdenhosamente – Ah, nem quero imaginar!
- Eu trouxe a televisão por satélite, boçal – Felipe virou os olhos, rindo
- Opa! Como se eu não conhecesse as pérolas que passam nesses canais! Como era mesmo o nome daquele filme que vimos? Aquele drama tão trágico!
- Trágico? Rimos o filme inteiro!
- Tá certo, tá certo. Mas era trágico. Não fosse o cheiro tão apetitoso de molho de tomate que os corpos exalavam e...
- Quieto! – Felipe disse – Ouviu?
- Um uivo. Eu já ouvi outros, sabia?
- Aham. Mas e um uivo de lobisomem? – ele perguntou, sombrio.
- Como assim? – Henrique franziu o cenho. Felipe cedeu. Os dois caíram no mais patético acesso de riso a que o ócio e a chuva podiam incitar.
- Estou com calor – Felipe falou, tentando ficar sério.
- Eu também.
- Vamos tirar a roupa? – ele perguntou, olhando o amigo com a cabeça baixa e os olhos erguidos, como uma cobra.
- Não! Seu louco – Henrique disse, expressando a falta de sentido da proposta.
- Eu estava brincando, tarado! – Felipe gritou, mas sentia como se traindo a si mesmo. Pois não podia negar, no seu âmago, que, desde que vira, por acaso, Henrique trocar-se, desejava vê-lo novamente. Pois nunca havia experimentado tanta curiosidade. Só pôde ver a barriga e uma pequena marca de sol, mas... Ah, como correu! Trancou-se no banheiro e ficou olhando seu próprio reflexo até acalmar seu espírito.
- Eu estava brincando – repetiu, olhando o amigo nos olhos. Um silêncio profundo caiu e esmagou-os por alguns instantes. Ambos pensativos, as sobrancelhas protegendo os olhos furtivos, desviaram o olhar e pararam por algum tempo de falar ou rir.
- .Sabe, eu estou me divertindo – Henrique destruiu a paz e o silêncio – De verdade.
- Falso! Não precisa fazer isso – Felipe pareceu ofendido – Está tudo uma droga. Não aconteceu nada de bom desde que chegamos. Desculpa, olha, eu achei que ia ser divertido e...
- Putz, eu to sendo sincero. Eu to gostando, a gente tem conversado bastante. Como a gente nunca fez.
- Se você diz. Eu estou gostando, só pela sua companhia, de qualquer forma. Eu me sinto muito sozinho quando tenho que vir para cá sozinho.
- Você pelo menos tem um sítio, Felipe.
- Bah.
- A gente vai ficar olhando a chuva, vai ver televisão ou o que?
- Vamos fazer amor – Felipe arqueou a sobrancelha
- Você pode falar sério pelo menos uma vez? – Henrique censurou-o
- Desculpa – Felipe disse. Eu estava falando sério, pensou.
- Pena que ninguém mais pôde vir. Hm, Felipe?
- Fala
- Você me disse, há um tempo atrás, que tinha alguma coisa pra me dizer. Mas nunca disse o que era.
- Não era nada.
- Pode falar, cara.
- Não era nada – Felipe virou-se para o outro lado, tentando disfarçar seu constrangimento. Era tudo tão difícil, cara a cara.
- Por favor, conta.
- Eu nem lembro mais. Acho que eu só queria agradecer todo o apoio que você me dá, sabe? Eu queria dizer que você é um grande amigo, sério mesmo. Desculpa.
- É isso? Ah, eu também acho que você é um amigão, falando sério, fico muito feliz por ter te conhecido. Aprendi bastante coisa com você e... – Henrique parou de falar, assustado.
- Desculpa, desculpa, desculpa! – Felipe disse, por entre lágrimas e soluços e beijou-o. Não houve resistência nem cumplicidade, Henrique parecia simplesmente não saber o que fazer. Felipe não esperou por reação alguma nem olhou nos olhos de seu amigo. Saiu correndo, abriu a porta e sumiu na chuva.
- Felipe! – Felipe ouviu uma voz chamando-o, através do véu de chuva, e virou-se. Talvez não tivesse sido um erro. Mas era só o vento. Não havia ninguém no seu encalço, ninguém atrás dele implorando para que voltasse. Correu no escuro, embaixo de toda água que caía, e escondeu-se embaixo de uma árvore onde – quando criança – gostava de subir e passar a tarde inteira, sozinho.
- Merda, merda! – gritou para si mesmo. Ainda faltavam dois dias e ele já tinha estragado tudo. Não conseguiria mais olhar nos olhos de Henrique, não! Seriam os dois piores dias da sua vida. Graças a ele e somente ele, o que era pior.
- Eu quero morrer – soluçou. Queria morrer, não por seu primeiro beijo ter se dado com Henrique. Disso ele gostava. Mas o primeiro beijo de Henrique havia se dado com ele! Com ele! Que direito ele tinha de estragar a vida de outra pessoa? Já não bastava a sua própria?
- Felipe! – ouviu uma voz chamá-lo. Não era o vento.
- O que foi isso? – Henrique perguntou, pausadamente, para ninguém. Não havia entendido uma só cena daquele Ato. Porque Felipe... Ah, ele havia beijado-o sem aviso prévio... Porque?
- Merda – disse, em baixo tom, para si mesmo. Tentou entender. Não conseguia. Não imaginava que ele faria algo assim, não Felipe. Devia estar desesperado, pobre Felipe! Sempre tão errado, tão sozinho. E agora isto. Ele não ia suportar, era tão fraco quanto parecia forte!
- Felipe! – gritou quando viu o amigo sentado embaixo de uma árvore, chorando. A chuva parecia vir toda dele, só dele. Pobre Felipe, pobre Felipe!
- Cara, que merda é essa? – Henrique sacodia Felipe – Fala comigo! O que tá acontecendo?
- Por favor, me solta – Felipe estava como se estivesse morrendo.
- Não! Fala comigo! Porque você fez isso?
- Desculpa, eu já pedi desculpas!
- Não quero que você se desculpe! Me explica!
- Cacete, eu já disse que sinto muito! Por favor, para!
- Não! – Henrique empurou-o na árvore e o fez arregalar os olhos assustados
- Desculpa, Henrique! Por favor, não faz nada, não! – Felipe levantou os braços, se defendendo. Henrique soltou-o e começou a chorar
- Cara, o que é isso? – perguntou, soluçando.
- Não me bate, por favor, eu não queria ter feito isso!
- Eu não vou te bater, não, nunca! De onde você tirou isso, caramba? Para, eu só quero falar com você! Me explica o que está acontecendo!
- Eu... – Felipe começou a soluçar – Eu te amo!
- Não, chega de correr, que merda! – Henrique segurou Felipe pelo braço quando ele levantou-se e tentou fugir. – Dá para olhar nos meus olhos e, pelo menos uma vez, enfrentar a vida de frente, como homem?
- Como homem? – Felipe estava de frente e encarava Henrique – Como homem?
- Qual é a graça? – Henrique ofendeu-se – Qual é a graça? Me diz!
- Desculpa – Felipe disse e abaixou os olhos novamente
- Olha para mim! – Henrique disse, imperativo – Me explica agora isso, pelo amor de Deus.
- Eu te amo. Eu te amo eu te amo eu te amo! – Felipe disse, as pupilas no centro do globo ocular, fixas nos olhos de Henrique.
- Puta merda – Henrique disse, pesaroso - Porque?
- Porque? Não sei, não me pergunta! Eu só não agüento mais esconder isso. Sério, cara, desculpa. E desculpa pelo que fiz agora pouco, fui um idiota, só pensei que você pudesse...
- Não. Não se desculpa. Já foi. Mas ainda não entendo. Com a Luiza, a Thais... Porque eu?
- Porque é você, é você que eu quero, cacete. Não tem porquê.
- Não dá pra entender, desculpa.
- Ah, dá sim! – Felipe parecia irritado – Você é bonito, inteligente, gosta de mim como eu sou, é simpático, me ajudou quando eu precisei. Era inevitável, eu sabia! E eu te avisei, não te avisei?
- Você disse que nunca faria nada assim.
- Mas eu avisei que eu estava com problemas. Você não devia ter me ajudado, eu não disse? Você nunca me ouve!
- Então por isso...
- É. Por isso que eu tentei me afastar. Mas não deu. Eu tentei, sério.
- Você podia ter falado.
- Eu não queria perder o pouco que já tinha conquistado.
- Você podia ter falado.
- Você já era meu amigo! O que mais eu podia pedir? – Felipe ainda chorava
- Eu não faço nenhum favor sendo seu amigo!
- Se você soubesse o que eu sentia desde o começo, você estaria aqui, comigo? – Felipe perguntou, sóbrio.
- Não sei. Mas eu estou aqui – Henrique chorava também, novamente – Você me ama de verdade?
- Sim.
- Então me aceite também, assim como eu sou. Desculpa.
Henrique abraçou-o com força, do jeito mais sincero que pôde e soube que – ah, sim – Felipe estaria feliz assim. Queria protege-lo, só não sabia como. Beijou-lhe a testa e voltaram ambos para a casa, onde assistiram televisão até dormirem. E Felipe dormiu sob a barriga de Henrique, sentindo-lhe a respiração e o coração. E tiveram os dois dias mais lindos de suas vidas.