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Jun Kyonase e Hikojiro Kyonase (“Yume: A Lenda da Energia Interior”) - Parte 1

[align=justify] Sons de luta podem ser escutados ao longe...
Uma vila sendo invadida por saqueadores os quais saem destruindo tudo pela frente, sem se importarem em matar aqueles em seu caminho, não fazendo distinção entre idosos, crianças, mulheres ou homens.
Em uma das casas, o dono fecha as portas tentando, em vão, proteger sua família composta por esposa e um casal de filhos: a menina com seus aparentes 11 anos e o menino, 8 anos. A mãe os empurra pela porta dos fundos dizendo para fugirem correndo o mais rápido que puderem sem olhar para trás.
Ao passo que os irmãos saem, saqueadores arrombam a porta principal da casa e já entram atacando o pai, que luta sem a mínima chance de sobrevivência, levando um golpe certeiro de machado em seu pescoço, tendo sua cabeça separada do corpo.
A esposa, ao ver o marido morto, ataca os assaltantes com uma naginata, deixando toda a força de seu corpo ser expelida em cada golpe dado e cada lágrima derramada. Infelizmente todo esse ódio não é páreo para o grupo de saqueadores, em maior quantidade. Eles a pegam sem piedade, derrubando-a ao chão e abusando de seu corpo feminino; o último sofrimento antes do encontro com seu amado esposo no Tengoku.
Enquanto isso, de mãos dadas, os dois irmãos fogem desesperadamente seguindo à risca as últimas palavras da mãe. Eles conseguem alcançar um planalto que faz divisa entre a vila e a plantação de arroz da mesma, onde atravessa um córrego de águas agora avermelhadas devido aos corpos de moradores assassinados caídos às suas margens.
- Vamos ter de atravessar o córrego. - diz a garota para seu irmão.
- Eu tô com medo, one-san! - retruca o garoto, assustado, agarrando fortemente a mão da irmã.
- Se tivermos medo não iremos conseguir escapar dos ladrões. - fala ela olhando fixamente para o menino - Estamos juntos e temos de permanecer assim para fugirmos. - ela retribui o aperto de mão de seu irmão mais novo e continua - Está pronto?
O menino, agora mais confiante, responde:
- Hai!
- Ikuzo!
Os dois, com as mãos fortemente agarradas, começam a correr descendo o planalto em direção ao córrego, porém, antes de alcançarem sua margem, a garota tem um dos pés agarrados e é violentamente derrubada ao chão, provocando a consequente queda de seu irmão. Um dos supostos mortos caídos a havia segurado e falava com uma voz quase finda, mas aterrorizante:
- Tasukete... kudasai...
A garota, apavorada, tenta se soltar, debatendo-se no chão, enquanto o menino se levanta puxando sua mão:
- Solte ela, vamos! Deixa a gente em paz! - grita ele desesperado.
Infelizmente, a força de ambos é insuficiente contra a do homem que os mantém ali. O mesmo começa a se levantar, enquanto retira do kimono, uma pequena corneta em forma de concha marinha a qual assopra emitindo um sonoro ruído agudo capaz de ser escutado por todos os arredores da vila. Segundos após o soar da corneta, outros pseudo-mortos ao redor levantam-se e passos rápidos de pessoas se aproximando começam a ser escutados, enquanto, dos arrozais, no outro lado do córrego, alguns homens saem detrás de algumas árvores e, até mesmo, debaixo dos corredores de arroz.
Apavoradas, as duas crianças, ao chão, abraçam-se fortemente enquanto lágrimas de desesperança começam a brotar em seus olhos, deixando-se escorregar vagarosamente por seus rostos a cada segundo de aproximação dos invasores. O homem da corneta fita-os com um sádico sorriso nos lábios enquanto aguarda a chegada dos companheiros.
Cerca de 10 saqueadores chegam ao local circundando os irmãos. Homens de variados tipos físicos, mas com algo em comum: a feição extremamente sádica ao ponto de forçar as duas crianças a esconderem seus rostos na tentativa de evitar o crescente medo iminente. Não para menos, pois qualquer um, mesmo o mais intimidador de todos os seres humanos, reagiria temerariamente diante a primeira visão desses homens de semblantes tão assustadores, para não dizer doentios, chegando a torná-los pessoas capazes de assassinar apenas com o olhar.
- Eles estavam fugindo tentando atravessar o córrego. - fala o homem da corneta. - Acredito pretenderem atravessar o arrozal e percorrer a planície para chegar à trilha norte. É uma pena terem tido a surpresa de encontrarem um morto-vivo no caminho, eh, eh, eh! - diz enquanto se abaixa de frente para os irmãos passando a mão no assustado rosto da garota.
- Acho que são as crianças que fugiram daquela última casa que invadimos, Okashira. - diz um dos três homens vindos da vila para o que está a seu lado. Este, um homem alto de tez bronzeada com cabelos e olhos da mesma cor da pele, trajado apenas com uma shitabaki rasgada e manchada de sangue assim como sua tez e machado.
- Sendo assim, - quem toma a palavra agora é o próprio Okashira - deixo-os a seu encargo, Umi-san. Vou voltar para a vila e finalizar o trabalho. Ikuzo! - fala ele para os dois homens que o acompanhavam.
- OE, Okashira! - replica o corneteiro.
- Doushita?
- O que faço com os dois?
O chefe, que já se encaminhava de volta, para e, com a voz de um verdadeiro líder, diz:
- Você sabe muito bem o seu trabalho, então, cumpra-o.
- Quer dizer que não tem problema se nos divertirmos um pouquinho? - insiste o homem da corneta como se fosse uma criança implorando por um brinquedo.
- Façam o que quiserem. - responde friamente o Okashira. - Além do mais, - ele, ainda de costas, entreolha lateralmente para os dois irmãos prostrados ao chão - não há futuro feliz para essas crianças uma vez que seus pais já não se encontram mais vivos. - termina ele enquanto passa a mão pela lâmina de seu machado retirando o sangue depositado na mesma.
Com essas palavras o Okashira e seus dois acompanhantes distanciam-se deixando para trás duas crianças estarrecidas com o conhecimento da morte dos pais, sozinhas agora no mundo e acompanhadas por 8 homens desconhecidos e de pensamentos os mais doentios possíveis.
Os irmãos encontram-se tão fortemente agarrados que seus corpos chegam a quase formar um único. A sensação de insegurança e desespero é tamanha que se iguala ao cheiro do ar que sopra ao redor, assim como ao desejo contido nos olhos dos homens que os cercam: o de MORTE!
Umi-san, o corneteiro, é o primeiro a se manifestar:
- Bem, vocês ouviram o homem. Temos liberdade para agir da forma que quisermos. Então, o que estamos esperando?
Ao término de sua frase, Umi aproxima-se das crianças com uma avidez tal que torna seus movimentos impossíveis de serem enxergados pelas mesmas. Poucos segundos depois, os irmãos não mais se encontram juntos. Umi possui a menina presa fortemente por seus braços enquanto o menino permanece ao chão, agora já cercado por 5 dos 8 homens.
- Cuidem dele enquanto me divirto com esta pequena lótus. - a voz do algoz é demoníaca igualmente ao seu próprio âmago. O contato com o corpo daquele homem faz a garota sentir a certeza da morte. Eles haviam sido atacados não por humanos, mas, sim, por demônios disfarçados.
- One-saaannn! - grita desesperadamente o garoto esticando o braço em busca da segurança de sua irmã ao mesmo tempo em que tenta se levantar.
Um dos 5 homens que o cercava não hesitou em chutar-lhe o rosto fazendo-o cair violentamente contra o chão, arrastando o outro lado de sua face no mesmo, provocando um grito de angústia de sua irmã.
- Não adianta gritar, pequenina! O destino de vocês já foi definido e ele pertence apenas a nós, eh, eh, eh, eh, eh...
Depois de falar, o homem da corneta de concha empurra a garota para os dois homens que restaram e, enquanto eles a deitam no chão, um segurando seus braços e o outro, as pernas, Umi começa a se despir, olhando fixamente para ela. Seu irmão, ainda desnorteado pela pancada no chão, levanta a cabeça titubeantemente e avista aquela constrangedora cena. Ele grita, entretanto é calado por um soco em seu estômago, seguido de outros tantos golpes. A garota, por sua vez, inicia um choro sem fim: o eco do grito de seu irmão; o barulho das pancadas que o mesmo recebe; o asco daqueles homens que a tocam; a dor física; mas, principalmente, a intensa dor de seu espírito que derrama lágrimas desejosas de morte. Sim, antes não mais existir a ter que estar passando por todo aquele sofrimento. Ela, que sempre fora capaz de sair e tirar outros de situações constrangedoras, sentia-se nula naquele instante, incapaz de encontrar um mínimo de forças que a fizesse, ao menos, tentar reagir aos abusos que sofria.
Da mesma forma sentia-se seu irmão. Seu corpo encontrava-se inerte, praticamente morto, não fosse por seus olhos que não mudavam o foco de sua irmã. Seu coração batia fracamente, contudo sua mente ainda trabalhava e seu espírito encontrava-se alerta como nunca. Ele era mais novo, sim, mas era um "homem" e tinha o dever de proteger sua irmã de qualquer mal iminente. Assim fora criado por seus pais. No entanto, sempre fora dependente da irmã por esta ser mais velha e ter um espírito diferente do dele. Ela era mais sábia e, na maioria das vezes, era quem estava perto quando o mesmo precisava. Ele sempre desejara ter a oportunidade de ajudá-la e, quando o momento se apresentou, ali estava ele, mais uma vez incapacitado de agir por conta própria e tirar a irmã daquele pesadelo.
Duas almas distintas, mas que, ainda mais naquele instante, aproximaram-se de tal maneira que se tornaram unas.
A visão de ambos começa e enevoar...
_____________________

VOCABULÁRIO (Termos Japoneses):

Naginata: arma de haste longa japonesa tipo alabarda, mas com lâmina curva e de gume único na ponta.

Tengoku: céu ou paraíso

One-san - irmã mais velha (qnd usado diretamente com ela)

Hai - sim

Ikuzo - Vamos!

Tasukete kudasai - Ajude-me, por favor!

Okashira - termo usado para "líder", "chefe"

Oe - Ei!

Doushita - O que há? / Qual é o problema?

Shitabaki - calça de kimono, geralmente aquela de kimono mais smples, como de artes marciais japonesas (judo, karate etc)[/align]
 

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