OBRA-PRIMA
Perfeição total do primeiro ao último frame (talvez nem tanto, mas quase isso). Melhor adaptação de quadrinhos de todos os tempos
de longe.
É impressionante como o Sam Raimi conseguiu fazer tantas coisas tão perfeitamente, e tudo ao mesmo tempo. Caso alguém esteja com a cabeça em Alfa Centauro e não tenha percebido que coisas são essas, aí vai:
1-
Ele conseguiu capturar perfeitamente o clima, a estética e os temas das HQs do Aranha, em todos os aspectos.
O humor e a ação mirabolante foram brilhantemente dosados, sem nunca atrapalhar o desenvolvimento dos personagens (que foi
bastante superior ao do primeiro filme, mas eu volto a falar disso depois).
As referências, como no primeiro filme, estão por toda parte, mas dessa vez elas estão a serviço de um roteiro melhor, e estão mais amarradas na história. Cada momento que reproduz
perfeitamente alguma cena clássica dos quadrinhos (e são vários) é conseqüência direta das coisas que os personagens fazem
no filme. Tipo, isso é
extremamente difícil de fazer, e foi feito de forma perfeita. O momento "Spider-Man no more!", com o uniforme no lixo, por exemplo, foi absolutamente perfeito.
Eu já mencionei que o filme é perfeito?
2-
Ele conseguiu imprimir seu estilo de direção no filme de maneira brilhante. Na verdade ele evoluiu o próprio estilo com o filme. Quer dizer, risca isso. Homem-Aranha 2 é o melhor filme do Sam Raimi.
Um dos problemas do primeiro filme é que ele não parecia um filme do Sam Raimi. Havia um pouco do estilo dele ali, claro, mas ele parecia contido, como se não quisesse desrespeitar o material, ou algo assim. (Não digo que
foi isso, digo que
parece isso. O que
foi, de fato, deve ter algo a ver com medo das bilheterias e estúdios de Hollywood, mas eu não gosto de perder tempo falando dessas coisas.)
Mas em Homem-Aranha 2, logo na primeira cena do filme a câmera gritou "Sam Raimi!". Eu não lembro exatamente dos recursos de filmagem e montagem usados nesse momento, mas o efeito é mais ou menos "ZOOM! FLASH! VUUUUUUUUUP! YOWZA!", etc.
Considerando que o estilo de direção do Raimi provavelmente foi influenciado pelas próprias HQs do Aranha, a coisa casou perfeitamente em todas as cenas, e eu definitivamente não consigo ver outra pessoa fazendo esses filmes.
3-
Ele conseguiu fazer um blockbuster hollywoodiano de super-heróis onde as coisas mais importantes não acontecem nas cenas de ação.
Eu disse que ia falar dos personagens, e porque eles evoluíram, então, uh...
O melhor exemplo é a
Tia May, eu acho.
Eu tenho que confessar que a Tia May havia me incomodado um pouco no primeiro filme. A participação dela havia sido burocrática demais, parecia que ela só estava ali porque tinha que estar. Tudo que ela faz naquele filme é lembrar o Peter de que o Tio Ben amava ele, podem conferir.
Mas em Homem-Aranha 2 ela é uma personagem
de verdade. A evolução dela foi
gigantesca. Cada fala dela é importante, todas as cenas dela com o Peter têm
peso, carga dramática verdadeira,
significado. Cacete, como a Tia May detonou nesse filme. Ela até dá uma guardachuvada no Octopus.
E por falar nisso, eles
melhoraram o Octopus. Sério. Por mais que a minha parte fanboy esteja querendo enforcar o sujeito realista que está falando agora, o Octopus das HQs é um cientista louco com um visual cool. O Oquinho do Raimi, por sua vez, não é um vilão
per se. É só um personagem trágico que se transforma em uma força destrutiva descontrolada que o Aranha tem que enfrentar. Pra agravar a coisa toda, ele é um cara que o Peter admira, um cara que havia até se tornado uma figura paterna para ele durante um dia. Bem foda tudo isso.
Eu gostei mais do Harry nesse filme também. Não sei exatamente porque. Talvez porque ele esteja menos chorão e mais psicopata.
Jonah Jameson está tão engraçado quanto no primeiro filme, a boa notícia é que ele aparece mais. Tenho certeza de que eu havia postado em algum lugar dizendo algo como "Por favor, Sam Raimi, mais Jonah Jameson!", então, obrigado, Sam Raimi.
Até o Robbie Robertson, que no primeiro filme só tinha a utilidade de ser uma base para o Jameson dialogar, dessa vez nos poucos momentos em que aparece consegue mostrar um pouco, senão sobre si próprio, pelo menos sobre o que pensa do Homem-Aranha.
Mas esses filmes são sobre Peter e Mary Jane. E a essa altura eu posso dizer que a história deles é linda e extremamente romântica, como tinha que ser. A última frase do filme sintetizou perfeitamente o momento em que a série se encontra. Algo
muito importante aconteceu, e graças ao resto do filme, não são só os fãs que vão entender o que isso significa.
Alíás, quando o filme termina
várias coisas importantes aconteceram. Mais de uma pessoa descobre a identidade do Aranha, e outras dão a entender que também sabem. Isso é interessante, porque o filme se concentra nas dificuldades de ser um herói, e manter uma identidade secreta deve ser extremamente difícil.
A cena do metrô sobre a qual alguns reclamaram serviu ao mesmo propósito que as pessoas jogando coisas no Duende no primeiro filme, mostrar o relacionamento do Aranha com os novaiorquinos. A diferença é que a cena do trem foi
bem melhor.
4-
Ele conseguiu mostrar que com grandes poderes vêm problemas nos estudos, problemas no trabalho e uniformes incômodos que devem ser lavados à mão.
Não, sério. Peter Parker. Eu não sei nem o que dizer. Na verdade eu não deveria ter que dizer nada, porque qualquer um com meio cerebelo conseguiu perceber que foi
perfeito.
5-
Ele conseguiu fazer cenas de ação tão foda que fazem as do primeiro filme parecerem bobas.
O Aranha se movimentando, de maneira geral, foi perfeição. Mas o Aranha se movimentando enquanto luta contra o Octopus (que, by the way, foi perfeição), foi de outro mundo. Eu quero ver esse filme mais umas três vezes no cinema
no mínimo.
Eu vou parar de falar agora, porque eu sei que quando os tópicos pós-estréia de filmes badalados estão no começo ninguém lê os posts dos outros.
90/100