Neithan
Ele não sabe brincar. Ele é joselito
A mão de ferro ficou pior em 2013. Com mais privilégios e cobranças. Não interessa se o futebol está estagnado, os clubes atrasados e os torcedores sacrificados. O importante é a grade de programação. Com dinheiro e influência, a TV Globo comprou a alma do futebol brasileiro…
O futebol no Brasil tem uma dona.
Não é vilã.
Sabe se impor.
Administrar o que é seu com mão de ferro.
Ela tem nome: a carioca Rede Globo de Televisão.
No final de 2012 e no início de 2013, foram várias demonstrações de poder.
Públicas, sem medo de questionamento.
Para quem quiser ver.
O e-mail de Marcelo Campos Pinto aos presidentes de clubes foi histórico.
Mandado no final de novembro do ano passado.
"Desde 1997, quando se assinou o primeiro contrato da nova era do Campeonato Brasileiro de Futebol da Série A, a TV Globo e a Globosat não tem (sic) poupado esforçados (sic) para promover, valorizar e engrandecer esta competição. Entendemos, entretanto, como temos ressaltado em todas as nossas reuniões, que este é um esforço de todos nós, clubes e emissoras. Não raras vezes temos a impressão de que os clubes entendem que esta missão não lhes diz respeito, o que evidentemente não faz o menor sentido”.
Outro trecho é mais direto.
"Lembro, por oportuno, que tais matérias são exibidas de segunda a sábado em nossos telejornais e programas esportivos, o que corresponde a mais de 60% da exposição anual das marcas dos clubes e de seus patrocinadores de camisa e material esportivo na Rede Globo e no Sportv."
O protesto de Marcelo é veemente.
"A demora dos jogadores para se dirigirem à coletiva.
Entre o "banho" e a entrevista, podem levar até 2 horas."
Termina o e-mail com um desabafo.
De quem deseja ver tudo mudado neste ano.
“De uma maneira geral, a TV GLOBO não tem nenhum privilégio em relação à (sic) outras emissoras.
Que nada pagam ao clube."
A mensagem, transparente.
Não importa a vida real de um time de futebol.
Mas o show.
O recado deu resultado.
As federações e os clubes facilitarão ainda mais o trabalho da Globo.
Os anúncios de contratações e entrevistas importantes serão dentro dos jornais da emissora.
E, sempre que possível, será avisada antecipadamente.
Lógico que terá privilégio também nas informações com essa antecipação.
A Globo está mais firme neste ano.
Enquadrando até cúpula da CBF.
Acabou com parte da alegria do vice Marco Polo Del Nero.
A Globo e SporTV não irão citar que 20 torneios estaduais no País têm a Chevrolet como patrocinadora.
O motivo: a Volkswagen paga R$ 192 milhões por ano por uma das cotas do futebol na emissora.
Marco Polo apenas agradará os presidentes de federações.
E contabilizará os seus votos na eleição de abril de 2014.
Pior para os executivos da Chevrolet que sonhavam com a divulgação da marca.
O próprio presidente José Maria Marin tem de engolir em seco a vontade da Globo.
A grande maioria dos presidentes de clubes fala em off, longe dos microfones.
Seria ideal adequar o calendário brasileiro ao europeu.
Abriria espaço para excursões.
As janelas não desmontariam seus clubes durante os campeonatos.
Haveria espaço para férias e pré-temporadas de verdade.
Tudo seria facilitado.
Mas acontece que a emissora não permite.
Toda a sua grade de programação está amarrada.
Os anunciantes são fechados de janeiro a dezembro.
Há décadas é assim.
Vai continuar sendo.
E o calendário do futebol brasileiro tem de se adequar a isso.
Quem se sentou na cadeira da presidência da CBF sabe que é assim.
Não há choro nem vela.
"Temos de conviver com essa realidade.
É a realidade que temos.
Não podemos nos basear no calendário de outros países, como os da Europa.
Não vou criar nem alimentar falsas ilusões de que vamos mexer no calendário."
O dirigente deu essas declarações ontem.
Foi um recado de que a CBF continuará se dobrando às exigências da Globo.
E os omissos presidentes de clubes aceitam.
Cerca de míseros 17 dias de pré-temporada.
Jogos na prática às 15h no verão senegalesco de várias regiões brasileiras.
Partidas às 22h, expondo seus torcedores à falta de condução.
E à cada vez maior violência das cidades grandes.
A Globo está mais do que certa.
Tem de adequar o futebol brasileiro à sua grade de programação.
Tratar os presidentes de clubes como seus funcionários.
Ela faz não porque paga.
Porque sabe que lida com pessoas omissas, fracas, desunidas.
Que se impressionam com o dinheiro.
E esquecem totalmente do bom senso.
Do bem-estar dos apaixonados pelo esporte.
Das pessoas que colocam o clube como uma das prioridades na vida.
Elas não são prioridades para os administradores da CBF e de federações.
Muito menos os jogadores.
Quem tem uma tendência ao sadismo, por exemplo, poderá se divertir com a Copa São Paulo de Futebol Junior.
Garotos de até 20 anos jogarão neste sábado e domingo ao vivo pela SporTV.
Às 14h, no horário de verão.
Ou 13h, no horário do sol, em pleno verão.
Em vez de água, se poderia servir sopa fervente no intervalo.
Aí o espetáculo seria perfeito.
O importante é a grade de programação da emissora.
Ou alguém ainda se ilude?
Imaginando que a FPF faz a tabela sem consultar a dona do futebol?
Ninguém pode se esquecer disso.
Nem dos privilégios de quem paga.
Marcelo Campos Pinto colocou todos no eixo.
Depois que o e-mail vazou, os recados foram mais cuidadosos.
Diretos nos ouvidos de quem interessa.
Desde a riquíssima CBF até o desvalido Potiguar de Mossoró estão avisados.
Calendários, horários de jogos, entrevistas, apresentação de jogadores.
Essa é a sua preocupação.
Condições de trabalho e de saúde dos atletas não interessam.
Nem o bem-estar dos torcedores.
Não é com ela.
A sua preocupação é com o espetáculo, gerar audiência.
E manter patrocinadores felizes e disposto a pagar cada vez mais.
Não é por acaso que Corinthians e Flamengo ganham mais dinheiro da emissora.
Não há preocupação em desequilibrar as forças.
Com a ‘espanholização’.
Na transformação no Barcelona de Itaquera.
Ou do Real Madrid do Ninho do Urubu.
Mais ricos do que os outros.
Com mais dinheiro para ter melhores jogadores.
Ganhar mais títulos.
O importante é mostrar os clubes que levantam o ibope.
E esconder aqueles que não dão.
Como Palmeiras e Botafogo, por exemplo.
O futebol neste País está estagnado.
Parado no tempo, atrasado, amarrado.
Lamentável que seu dono tenha a visão tão limitada.
Só olhe para o bolso.
Mas não é surpresa.
Desde os tempos da ditadura militar é assim.
O futebol virou monopólio.
Deixou de ser esporte, virou show.
Cujos bastidores não interessa mostrar.
Foi na época dos militares que a emissora expandiu, cresceu.
E se tornou a poderosa Rede Globo de Televisão...
Cosme Rimoli~
Olha, nunca gostei dele, mas o texto é interessante. Muita coisa que já sabíamos, mas o lance do Calendário não ter sido mudado para o Europeu (que traria muitos benefícios aos clubes) por conta da Globo, eu nunca tinha pensado.
O futebol no Brasil tem uma dona.
Não é vilã.
Sabe se impor.
Administrar o que é seu com mão de ferro.
Ela tem nome: a carioca Rede Globo de Televisão.
No final de 2012 e no início de 2013, foram várias demonstrações de poder.
Públicas, sem medo de questionamento.
Para quem quiser ver.
O e-mail de Marcelo Campos Pinto aos presidentes de clubes foi histórico.
Mandado no final de novembro do ano passado.
"Desde 1997, quando se assinou o primeiro contrato da nova era do Campeonato Brasileiro de Futebol da Série A, a TV Globo e a Globosat não tem (sic) poupado esforçados (sic) para promover, valorizar e engrandecer esta competição. Entendemos, entretanto, como temos ressaltado em todas as nossas reuniões, que este é um esforço de todos nós, clubes e emissoras. Não raras vezes temos a impressão de que os clubes entendem que esta missão não lhes diz respeito, o que evidentemente não faz o menor sentido”.
Outro trecho é mais direto.
"Lembro, por oportuno, que tais matérias são exibidas de segunda a sábado em nossos telejornais e programas esportivos, o que corresponde a mais de 60% da exposição anual das marcas dos clubes e de seus patrocinadores de camisa e material esportivo na Rede Globo e no Sportv."
O protesto de Marcelo é veemente.
"A demora dos jogadores para se dirigirem à coletiva.
Entre o "banho" e a entrevista, podem levar até 2 horas."
Termina o e-mail com um desabafo.
De quem deseja ver tudo mudado neste ano.
“De uma maneira geral, a TV GLOBO não tem nenhum privilégio em relação à (sic) outras emissoras.
Que nada pagam ao clube."
A mensagem, transparente.
Não importa a vida real de um time de futebol.
Mas o show.
O recado deu resultado.
As federações e os clubes facilitarão ainda mais o trabalho da Globo.
Os anúncios de contratações e entrevistas importantes serão dentro dos jornais da emissora.
E, sempre que possível, será avisada antecipadamente.
Lógico que terá privilégio também nas informações com essa antecipação.
A Globo está mais firme neste ano.
Enquadrando até cúpula da CBF.
Acabou com parte da alegria do vice Marco Polo Del Nero.
A Globo e SporTV não irão citar que 20 torneios estaduais no País têm a Chevrolet como patrocinadora.
O motivo: a Volkswagen paga R$ 192 milhões por ano por uma das cotas do futebol na emissora.
Marco Polo apenas agradará os presidentes de federações.
E contabilizará os seus votos na eleição de abril de 2014.
Pior para os executivos da Chevrolet que sonhavam com a divulgação da marca.
O próprio presidente José Maria Marin tem de engolir em seco a vontade da Globo.
A grande maioria dos presidentes de clubes fala em off, longe dos microfones.
Seria ideal adequar o calendário brasileiro ao europeu.
Abriria espaço para excursões.
As janelas não desmontariam seus clubes durante os campeonatos.
Haveria espaço para férias e pré-temporadas de verdade.
Tudo seria facilitado.
Mas acontece que a emissora não permite.
Toda a sua grade de programação está amarrada.
Os anunciantes são fechados de janeiro a dezembro.
Há décadas é assim.
Vai continuar sendo.
E o calendário do futebol brasileiro tem de se adequar a isso.
Quem se sentou na cadeira da presidência da CBF sabe que é assim.
Não há choro nem vela.
"Temos de conviver com essa realidade.
É a realidade que temos.
Não podemos nos basear no calendário de outros países, como os da Europa.
Não vou criar nem alimentar falsas ilusões de que vamos mexer no calendário."
O dirigente deu essas declarações ontem.
Foi um recado de que a CBF continuará se dobrando às exigências da Globo.
E os omissos presidentes de clubes aceitam.
Cerca de míseros 17 dias de pré-temporada.
Jogos na prática às 15h no verão senegalesco de várias regiões brasileiras.
Partidas às 22h, expondo seus torcedores à falta de condução.
E à cada vez maior violência das cidades grandes.
A Globo está mais do que certa.
Tem de adequar o futebol brasileiro à sua grade de programação.
Tratar os presidentes de clubes como seus funcionários.
Ela faz não porque paga.
Porque sabe que lida com pessoas omissas, fracas, desunidas.
Que se impressionam com o dinheiro.
E esquecem totalmente do bom senso.
Do bem-estar dos apaixonados pelo esporte.
Das pessoas que colocam o clube como uma das prioridades na vida.
Elas não são prioridades para os administradores da CBF e de federações.
Muito menos os jogadores.
Quem tem uma tendência ao sadismo, por exemplo, poderá se divertir com a Copa São Paulo de Futebol Junior.
Garotos de até 20 anos jogarão neste sábado e domingo ao vivo pela SporTV.
Às 14h, no horário de verão.
Ou 13h, no horário do sol, em pleno verão.
Em vez de água, se poderia servir sopa fervente no intervalo.
Aí o espetáculo seria perfeito.
O importante é a grade de programação da emissora.
Ou alguém ainda se ilude?
Imaginando que a FPF faz a tabela sem consultar a dona do futebol?
Ninguém pode se esquecer disso.
Nem dos privilégios de quem paga.
Marcelo Campos Pinto colocou todos no eixo.
Depois que o e-mail vazou, os recados foram mais cuidadosos.
Diretos nos ouvidos de quem interessa.
Desde a riquíssima CBF até o desvalido Potiguar de Mossoró estão avisados.
Calendários, horários de jogos, entrevistas, apresentação de jogadores.
Essa é a sua preocupação.
Condições de trabalho e de saúde dos atletas não interessam.
Nem o bem-estar dos torcedores.
Não é com ela.
A sua preocupação é com o espetáculo, gerar audiência.
E manter patrocinadores felizes e disposto a pagar cada vez mais.
Não é por acaso que Corinthians e Flamengo ganham mais dinheiro da emissora.
Não há preocupação em desequilibrar as forças.
Com a ‘espanholização’.
Na transformação no Barcelona de Itaquera.
Ou do Real Madrid do Ninho do Urubu.
Mais ricos do que os outros.
Com mais dinheiro para ter melhores jogadores.
Ganhar mais títulos.
O importante é mostrar os clubes que levantam o ibope.
E esconder aqueles que não dão.
Como Palmeiras e Botafogo, por exemplo.
O futebol neste País está estagnado.
Parado no tempo, atrasado, amarrado.
Lamentável que seu dono tenha a visão tão limitada.
Só olhe para o bolso.
Mas não é surpresa.
Desde os tempos da ditadura militar é assim.
O futebol virou monopólio.
Deixou de ser esporte, virou show.
Cujos bastidores não interessa mostrar.
Foi na época dos militares que a emissora expandiu, cresceu.
E se tornou a poderosa Rede Globo de Televisão...
Cosme Rimoli~
Olha, nunca gostei dele, mas o texto é interessante. Muita coisa que já sabíamos, mas o lance do Calendário não ter sido mudado para o Europeu (que traria muitos benefícios aos clubes) por conta da Globo, eu nunca tinha pensado.