Mandaram esse texto em uma lista de discussões da qual participo e achei legal compartilhar aqui com vocês:
Consta que George Orwell escreveu o romance "1984"(Nineteen
eighty-four) em 1948, sendo o título da obra um anagrama para o ano de
redação. Em 2008, portanto, completam-se sessenta anos da existência desta
obra fundamental para a literatura do século XX, sendo de esperar que
surjam, no fandom brasileiro, estudos e análises sobre o autor e o livro.
Romance do tipo distópico, "1984' é uma obra isolada no contexto
de sua época, perturbadora e marcante, na sua feroz previsão de um mundo
absolutamente totalitário, alimentado por guerras permanentes entre os
super-estados (Oceania, Eurásia e Lestásia) e, na Oceania, pela adoração
induzida à misteriosa figura do "Grande Irmão" (Big Brother), do qual nem o
nome se conhece, embora sua foto esteja espalhada por toda a parte,
onipresentemente.
Na 29a. edição brasileira, da Cia. Editora Nacional (SP, 2005)
podemos ler palavras de George Orwell na contracapa:
"O meu ponto de partida é sempre um sentimento de partilha, uma
noção de injustiça. Quando sento para escrever um livro não digo para mim
"vou produzir uma obra de arte." Escrevo porque existe alguma mentira para
ser denunciada, algum fato para o qual quero chamar atenção, e acredito
sempre que vou encontrar quem me ouça." (...)
"Se você quer imaginar uma imagem do futuro, imagine uma bota
prensando um rosto humano para sempre." (esta é fortíssima)
E o comentário editorial da contracapa:
"1984" não é apenas mais um livro sobre política, mas uma
metáfora do mundo que estamos inexoravelmente construindo. Invasão de
privacidade, avanços tecnológicos que propiciam o controle total dos
indivíduos, destruição ou manipulação da memória histórica dos povos e
guerras para assegurar a paz já fazem parte da realidade. Se essa realidade
caminhar para o cenário antevisto em "1984", o indivíduo não terá qualquer
defesa. Aí reside a importancia de se ler Orwell, porque seus escritos são
capazes de alertar as gerações presentes e futuras do perigo que correm e de
mobilizá-las pela humanização do mundo."
Nas orelhas, palavras também importantes:
"O mais famoso dos romances de George Orwell foi escrito dois
anos antes da morte do autor. Tuberculoso, sabendo que o fim se aproximava,
lutou contra o tempo para colocar no papel sua visão de um mundo que o
desapontava e caminhava perigosamente para o oposto de todos os sonhos de
fraternidade e solidariedade dos antigos socialistas. (...)
O enredo, sob a perspectiva de oceania, mostra como teletelas
permite que o chefe supremo do Partido, o Grande Irmão (...) vigie os
indivíduos e mantenha um sistema político cuja coesão interna é obtida não
só pela opressão, mas também pela construção de um idioma totalitário, a
Novilíngua, que quando estivesse completo, impediria a expressão de qualquer
opinião contrária ao Partido. (...)"
Uma das obras mais íntegras da ficção científica (tipo distopia)
"1984" surpreende pela simplicidade do seu enredo, enxuto de coisas
desnecessárias, profundo e tenso. Um mundo fechado em si mesmo, teoricamente
possível, onde a liberdade de expressão desapareceu, substituída pelo medo
constante onde até as crianças aparecem como prováveis delatoras de seus
pais. Surpreende também que, a par da extrema importancia da mensagem,
aparece também a excelencia do texto, que flui facilmente apesar do clima
sufocante, não faltando um certo senso de humor britânico na crua exposição
dos aberrantes costumes da classe dominante, o chamado "Partido Interno", em
sua descarada manipulação dos fatos, alterando sistematicamente o passado
histórico ou até mesmo fatos recentes de conhecimento público. Por exemplo,
quando a ração semanal de chocolate é reduzida para vinte gramas por semana
(!) e poucos dias após já se agradece ao Grande Irmão por haver aumentado a
ração para vinte gramas.
Analisar "1984" em sua grandeza e significado é uma tarefa
arriscada, pois quem a tentar corre o risco de ficar muito aquém do valor do
livro. Em suma, trata-se de um dos poucos livros que fizeram história, que
modificaram o mundo, ao despertar consciencias adormecidas através da sua
estupenda mensagem.
Há várias adaptações cinematográficas da obra, cheguei a
assistir a mais antiga.
Um autor brasileiro, Roberval Barcellos, tentou em sua noveleta
"O Camarada O'Brien" uma continuação livre da história.
Vamos ver o que surgirá ao longo de 2008, em torno de "1984' e
seus sessenta anos.