Não sou a favor do financiamento público de campanha, ao menos enquanto fonte primária de verba para os partidos disputarem as eleições.
E a razão primordial para isso tem a ver menos com a corrupção (que não vai deixar de ser mais ou menos endêmica no Brasil se o fundo triplicar ou quintuplicar) e mais com a democracia e os incentivos que lhe são necessários. Sem a necessidade de se voltar para a sociedade para conseguir a maior parte de sua arrecadação, os eleitos não precisam se aproximar de seus eleitores, o que perpetua e até aprofunda uma das grandes fissuras de nosso sistema político: a falta de um sentimento de identificação/representação.
Por outro lado, quem é a favor de financiamento empresarial de campanha diz que tal medida é necessária para aumentar a transparência das eleições. Mas tal abertura não resgata a democracia: é simplesmente a eutanásia do princípio democrático. Pessoas jurídicas são organizações normalmente hierárquicas, com mecanismos de tomada de decisão os mais variados possíveis. Não fica claro para o eleitor final como e porque tal empresa resolveu doar para o candidato final e, além disso, uma grande corporação inclui trabalhadores das mais variadas tendências políticas, e dependem de todos esses para gerar seu faturamento.
O financiamento corporativo de campanhas ainda carrega a desvantagem do público, sendo quase tão efetivo quanto este em afastar o povo dos candidatos. E não retira todos os incentivos para contribuição eleitoral irregular: pode ser muito pertinente para alguém doar para o Caixa 2 e não ter o seu nome divulgado.
Sou a favor de financiamento de campanha por pessoa física com um limite relativamente modesto por contribuinte, que terá seu nome divulgado. Haverá mil problemas, e a corrupção e as verbas irregulares continuarão a existir, havendo necessidade de essas práticas serem coibidas pelo aparato jurídico-policial. Mas nada para mim ganha da vantagem de o político ter que pedir dinheiro para o eleitor comum de forma a realizar uma campanha minimamente coerente.
É dificílimo, na verdade, caracterizar o gasto eleitoral. E se o dono de uma gráfica resolver imprimir panfletos "de presente" para um aliado político, ou se fulano rico resolver emprestar um imóvel para servir de comitê de campanha? É um tema muito espinhoso, quase impossível de ser regulamentado. Mas deve-se, de toda forma, tentar lutar para que o custo-campanha seja o menor possível, tornando a democracia mais democrática.