Você está comparando as atrocidades da Segunda Guerra Mundial com uma excomunhão?
Não, estou apenas usando como exemplo para a idéia de que, mesmo que alguém tenha o direito de fazer algo ou defender um pensamento, também temos todo o direito de achar isso ruim.
Seus valores, não generalize. A igreja tem seus valores, e seus seguidores (teoricamente) os seguem.
Não de todos, mas não só meus, e a prova está na indignação de todos que aqui postaram para com o estupro da garota. Assim como ninguém aqui defendeu a opinião da Igreja até agora, apenas que ela tem o direito de manifestar-se.
E não confunda: os valores humanos são uma coisa, os de uma instituição são outra. Nossos valores humanos, quaisquer que sejam, se desenvolvem conosco, e podem vir inclusive a absorver valores externos, como os de uma instituição, mas independente disso, ainda estão relacionados ao modo como vemos o mundo. Já os valores da Igreja, assim como o de outras instituições, são fixos, completamente alienígenas às nossas pessoas, sendo impostos e assimilados conforme a criação. De início são indiferentes para com qualquer pessoa. Esses valores também foram criados por seres humanos, como nós, mas isso foi há muuuuito tempo atrás, e numa realidade que pouco tem a ver com a nossa.
E pois é, teoricamente. A partir do momento que a maior parte das pessoas tem a religião imposta, por assim dizer, pelos pais, sem ter optado por isso por vontade própria, e seguindo essa religião mais por estarem acostumadas do que por ter escolhido essa fé, ainda mais quando a sociedade à sua volta caminha por rumos e valores diferentes, já que o predomínio do catolicismo se deve mais à conversão forçada no passado do que por aceitação voluntariosa, como podemos condenar a garota (ou sua mãe) por optar pela decisão mais lógica ("Quem escolho? A filha que criei por 9 anos, ou os dois netos frutos do estupro que irão mata-la no processo?"
)? Os fetos eram inocentes, mas a garota é vítima. Quem sai perdendo desde o início?
Aí não é insensibilidade. Se um pai de família, em um ato desesperado, rouba um pão pra dar pros seus filhos, ele está cometendo um crime. É algo insensível processar um pai como esse, mas crime é crime. Nesse caso, mesma coisa, pode ter sido "crueldade" da igreja, mas ela fez de acordo com suas convicções religiosas.
Eu ainda digo que é insensibilidade. Cada caso é um caso, e se a nossa Justiça pouco ou nada considera os fins, na minha opinião ela está seriamente equivocada. Uma coisa é a pessoa roubar por maldade, inveja, desejo de posse etc. Outra coisa, é faze-lo por sobrevivência, ainda mais pela sobrevivencia de outrem.
Ou será mesmo que a propriedade privada agora vale mais que vidas humanas?
Se essa pessoa está roubando para dar de comer aos filhos, muito provavelmente é porque não tenha nenhuma outra opção, caso contrário não arriscaria ser preso e largar sua prole na mão. E se essa pessoa não tem opção, é culpa da sociedade e do Estado, cuja obrigação é garantir o minimo para a sobrevivência de seus cidadãos. E não, isso não é papo comunista, visto que na Alemanha todo cidadão tem direito a, no minimo, um teto pra dormir e três refeições diárias. Fora que os desempregados tem direito a um apartamento e 450 Euros por mês. E sim, eles recebem isso. Tem de obedecer à certas regras, mas daí é opção deles.
Bom, isso se afastou um pouco do assunto, mas foi por uma boa causa
É essa inflexibilidade que deixa as pessoas frustradas com a Igreja, assim como com outras religões. Estamos acostumados a viver em uma sociedade cujos valores aparentes estão mais afastados dos valores da Igreja. As pessoas esperam que a mesma acompanhe o pensamento atual, pois elas nasceram em nossa presente época, enquanto a dita instituição possui 1500 anos, e cujos valores tem se modificado apenas aos poucos, aos trancos e solavancos, e sempre de má vontade.
A questão é, crescendo numa sociedade baseada cada vez mais no antropocentrismo, ao invés do teocentrismo, e na razão, ao invés da fé, nada mais comum do que as pessoas questionarem e se indignarem com opiniões baseadas em dogmas repassados à séculos, para os quais não deve haver contestação, segundo a Igreja (nesse caso, pois todas as religiões possuem dogmas, cujo significado, pra quem não sabe, é o de verdade incontestável, literalmente).
É uma simples questão de troca de valores primordiais. Onde antes imperava a fé e a crença, e pouca era a contestação às mesmas, agora está começando o domínio da razão, onde praticas como essas podem fazer muito sentido para os seguidores da dita fé, mas pouco ou nenhum para quem segue mais pelo caminho da lógica (o que não impede a compreensão, como está sendo feito, do porque de tais pensamentos serem defendidos).
Balbo disse:
A "insensibilidade" da Igreja é imaginária, Oromë. Vocês estão indignados com algo que não existe. Porque a Igreja leva em conta todos os fatores, que são 1) o risco que a menina correria e 2) a vida dos filhos dela. Ela não ignora o primeiro (o que seria insensível); ela acha que o segundo é mais importante.
Mas não causaria duas mortes. É isso que vocês estão ignorando.
E também não era um caso de morte certa para a menina. Haveria a chance até de retirarem os bebês vivos sem ela sofrer nada.
E o que o leva a crer que ela não ignora o primeiro? Até agora, só vi provas de ela se importar com o segundo, isso é, supondo que se importe, e não que esteja apenas defendendo a posição tradicional.
Mas como até agora não vi provas nem de ela se importar, e tampouco de não se importar, isso vai pouco além da especulação.
Ah, e quem disse que estou ignorando as duas mortes? Só acho mais válido o sacrífício de uma, no caso duas, vidas que nem começaram a ter qualquer traço de consciencia ainda, do que o de uma garota de 9 anos, que é a que mais sofreu com a história, e que definitivamente não merece o risco de morrer para arcar com as consequencias de algo que ela em momento algum escolheu fazer.
O que tenho como certeza é: a Igreja coloca em segundo plano a mãe (Mulher, né? Me lembra a opinião da mesma à respeito do gênero
), privilegiando o fruto de um ato ocorrido contra a vontade da maior vítima da história, e defendendo um curso de ação que simplesmente acabaria com a vida da garota, literal ou figurativamente; isso em prol de duas crianças que, se nascessem, muito pouco provavelmente contariam com amor e afeto, pelo menos se ficassem na familia da garota, e que possivelmente poderiam nascer com algum tipo de deficiencia, levando em conta o total despreparo biológico da mãe para carrega-las e dar à luz. Elas chegariam ao mundo, se deparariam muito provavelmente com ressentimento apenas, e, como cresceriam? E se a mãe morresse no processo?
Tente imaginar a si mesmo, como resultado de um estupro à uma garota de nove anos, e cujo parto matou a mãe. Eu me imaginei, e tendo em conta como sou agora, preferiria mil vezes mais ter sido abortado e morto, do que ter chegado ao mundo dessa maneira. Eu pelo menos não consigo me imaginar vivendo um segundo só em paz com esse peso na consciencia.
Como eu já disse, não sou contra a Igreja se manifestar, nem que ela tenha essas opiniões (na minha visão) tortas, desde que não atrapalhe a vida de quem não tem nada a ver com isso por causa delas (não estou dizendo que era esse o caso, visto que a família era católica). Mas isso tampouco me impede de criticar o conteúdo dessa visão, assim como de defender o direito que temos de critica-la. Da mesma maneira que a Igreja demonstra sua opinião, tenho todo o direito de faze-lo com a minha, que, por sinal, é baseada em valores adquiridos em nossa sociedade, e não de uma outra, extremamente diferente, de mais de uma milênio atrás.