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Enquanto Agonizo (William Faulkner)

Tataran

Usuário
Comecei hoje Enquanto Agonizo, de Faulkner, que já estava na minha estante há tempos, parcialmente inspirado pelo fato do Lucas também estar lendo. Como ele costuma tecer uns comentários bem interessantes, resolvi me posicionar com antecedência para aproveitar. :sim:

Segundo a sinopse da L&PM:

Enquanto agonizo foi eleito um dos cem melhores romances em inglês do século XX, tanto pelo júri especializado da editora Modern Library como pelos leitores. Publicado em 1930, é um grandioso exemplar da linguagem e do estilo praticados por Faulkner. Neste romance, o autor distancia-se da aristocracia sulista americana para falar de gente comum e humilde, como a família Bundren, que se reúne para cumprir o último desejo da matriarca: ser enterrada em Jefferson, ao lado de seus parentes. O marido e os cinco filhos partem com o caixão determinados a cumprir seu objetivo, sem saber como essa viagem mudaria suas vidas.

Faulkner tece um caleidoscópio de emoções que afloram a partir da voz de cada um dos personagens, revelando a história aos poucos, com flashbacks que vão se entrelaçando, formando um espelho da condição humana.

Estou adorando o livro até o momento. Que grandiosidade e genialidade do Faulkner! Cada pequeno capítulo é narrado sob o ponto de vista de um dos personagens, em um tipo de fluxo de consciência. É extremamente interessante observar como cada um expressa uma visão e interpretação diferente para o mesmo fato, bem como suas ações vão seguindo motivações diversas.

No começo, é meio complicado entender quem é quem, eis que os personagens ora são chamados pelo primeiro nome, ora pelo segundo, ora por uma designação pessoal (Pai, por exemplo) e ora, simplesmente, por Ele ou Ela. Mas, aos poucos, nós vamos penetrando na história e entendendo, ainda que de forma limitada, o papel de cada um dos participantes.

Tenho a nítida impressão de que a minha compreensão da história segue em eterno descompasso com o ponto em que se encontra a minha leitura. A cada página lida, eu consigo entender o que se passou umas cinco páginas atrás... XD
 
Confesso que ando bem curiosa com o Faulkner por causa do Cormac McCarthy, (praticamente em todos os lugares onde se fala dele, Faulkner é citado como uma de suas principais influências) mas aí basta eu me animar pra começar direto com O Som e a Fúria que o Wilson me recomenda Luz em Agosto... e agora esse tópico sobre Enquanto Agonizo me oferece outra possibilidade de leitura coletiva... (gostei tanto da do Ficções que me animei pra tentar arranjar o Terra Sonâmbula pro clube do Meia)

E agora, comofas/
 
[align=justify]Apenas comecei ele, ainda estou enrolado com um Fitzgerald e com uma porção de textos do mestrado mas vamos que vamos, assim que terminar posto aqui, podem ficar tranquilos.

Estou empolgadíssimo com esse livro, meu primeiro Faulkner![/align]
 
Não consegui largar até terminar. Que chute no estômago que é este livro. E que final bizarro!

Vou esperar o Lucas terminar para postar mais alguma coisa, mas já virei fã do Faulkner. :sim:

.Penny Lane. disse:
E agora, comofas/

Ué, lê todos os que você tem vontade. :timido:
 
Acabei de folhear o livro na edição da LPM Pocket e é bem pequeno. Acho que vou encarar.... Penny, na dúvida leia os dois :sim:, bom que vc posta também no tópico do Som e a Fúria XD.
 
[align=justify]Putz, confesso que estou encontrando problemas para situar os personagens. Várias narrativas de vários personagens acerca de uma mesma situação, certo?

Não me atirem spoilers, estou na página 30 ainda. XD[/align]
 
Lucas, segue, dentro de spoilers, a identificação dos personagens principais. Não coloquei nenhum detalhe da história para não atrapalhar sua leitura. Mas, se tiver interesse, sirva-se da ajuda: :sim:

Família Bundren:
Addie Bundren - a mãe agonizante
Anse Bundren - o pai
Cash Bundren - o filho mais velho
Darl Bundren - o segundo filho mais velho
Jewel Bundren - o terceiro filho
Dewey Dell Bundren - a única filha
Vardaman Bundren - o caçula

Família Tull (vizinhos dos Bundren):
Vernon Tull - o marido
Cora Tull - a mulher

Outros:
Peabody - médico
Whitfild - reverendo
e os demais não apresentam muita dificuldade...
 
[align=justify]Thank you very much!

Vou seguir aqui, estava com dúvida se o Dewey Dell era ou não parente dos Bundren. Assim que terminar posto, pode deixar.[/align]
 
Beleza, Lucas. Eu te espero para uma discussão da história, mas me deixa tirar do peito dois comentários sobre o estilo da narrativa que, a essa altura, você já percebeu. :sim:

É muito interessante observar como cada um dos narradores enxerga o mundo e os acontecimentos sob a sua ótica particular. Acredito que esse livro seja de muita valia para quem tem qualquer pretensão de escrever um romance ou outro livro no futuro. Dá para ter uma aula de construção de personagens e de suas visões e opiniões peculiares. Até as atitudes mais estranhas soam coerentes frente às peculiaridades de cada personagem. Nada parece forçado demais ou fora de linha com o caráter de cada um, por mais surpreendente que seja a atitude.

Outro ponto fascinante é o uso do verbo no presente na narrativa da história. Isso é tão pouco comum, mas caiu muito bem no livro. Também a permanente mudança de foco da narrativa é outra aula para qualquer um com pretensões de escritor (não é o meu caso). Dá, certamente, para extrair inumeráveis lições dali.
 
O enredo lembrou-me o de As Ondas da Virginia Wolf... Táí. Interessei. Vou ver se junto e compro! =D
Tenho também O Intruso encalhado aqui em casa... Alguém sabe me dizer se é bom?
 
[align=justify]Putz, sua listagem está ajudando horrores Tataran. História muito boa mesmo, é só pegar o ritmo e ir se acostumando com essa mudança de fogo e com a quantidade relativamente grande de personagens que a história se desenrola que é uma belezura.[/align]
 
Comecei a ler e igual aconteceu em Som e a Fúria estou meio perdido (já li as primeiras 50 pgs). Mas acho que vou deixar pra entender o enredo só no final.... O ritmo da narrativa e o estilo parecem demais com o Som e a Fúria (vai gostar de "ele diz" ou "então ela disse")...
 
Acabei no final de semana ! Realmente a reviravolta é muito interessante ... Alguém se anima a postar algo para iniciarmos um debate. Pelo que percebi do pouco que li do Faulkner ele está sempre lidando com temas Universais... Nesse caso a morte, aliás, o título "As I lay dying" parece que perde um pouco na comparação com "enquanto agonizo". Pelo que li ele tirou o trecho de uma fala de Agamenon (personagem da Odisséia e da Orestéia), que foi morto à traição numa banheira por sua esposa Clytmenestra pra ficar com o amante Egisto, após o retorno da guerra de Tróia no qual sacrificou a filha Iphigenia. Não vai dar tempo de procurar a frase completa, mas acho que começarmos pelo título seria interessante pra iniciarmos um debate sobre a obra, que também possui algumas referências bíblicas....
 
[align=justify]Fiquem a vontade, devo terminar hoje ou amanhã, sim estão f**** as leituras do mestrado e tenho que preparar uns resumos para alguns eventos, então está bem puxado, mas vamos lá. Encontre lá Kelvin, mesmo que eu não possa contribuir de forma mais afeita, já que não li ainda o livro em que se encontram os diálogos que tu citaste.

Os vários focos narrativos confundem às vezes, mas são o que o livro tem de especial, que proporciona ao leitor múltiplas visões de uma mesma história. Legal mesmo! :sim: [/align]
 
Bom, acho que poderia falar de cada narrador/personagem individualmente e das várias coisas que me fascinaram em cada um. Vou me concentrar, agora, em Darl, por óbvias razões. Há um detalhe interessante a respeito dele e umas três coisas que não consegui entender completamente.

Em primeiro lugar, é fascinante observar como as suas faculdades mentais vão se deteriorando ao longo da história. Ele começa o livro narrando de uma forma razoavelmente objetiva e, então, aos poucos, seu raciocínio vai-se deteriorando, e um desses sintomas é ele começar a referir-se a si mesmo na terceira pessoa. Tudo culmina em sua loucura completa, no incêndio ao celeiro e na sua internação em Jackson.

Mas, aí vem a primeira das minhas dúvidas. Desde o começo, Darl parece ter uma certa capacidade de "ler" as mentes dos outros. Ele sabe que Dewey Dell está grávida e percebe que Jewel não é filho de sua mãe, sem que ninguém o diga. Mais além, quando ele começa a se referir a si mesmo na terceira pessoa, ele adota pensamentos típicos de outro personagem. Em geral, ele adota os pensamentos de Vardaman, desde quando começa a dizer que sua mãe é um peixe ou um cavalo, até, no seu capítulo final, quando repete o mantra de seu irmão caçula de que "Darl é meu irmão". Essa é minha dúvida: Darl realmente possui alguma capacidade "extra-sensorial", ou isso é algum recurso narrativo empregado por Faulkner para realçar alguma nuança de seu caráter?

Quanto ao incêndio do celeiro, temos que a única testemunha inequívoca do evento é supostamente Vardaman. Ora, Vardaman exibe alguns sinais de loucura clara, e talvez vá terminar trilhando os mesmos caminhos de Darl. Podemos ter certeza, a partir dele, que Darl é o culpado do incêndio do celeiro? Para mim, é interessante que, desde o incêndio, em nenhuma de suas narrativas, Darl afirma ter iniciado o incêndio; e Vardaman não diz textualmente que foi Darl mas apenas que viu alguma coisa que Dewey Dell lhe fez prometer não contar a ninguém. Por fim, também Dewey Dell não diz textualmente que Vardaman lhe disse que viu Darl colocar fogo no celeiro. A única narrativa em que se diz isso é de Cash. Isso tudo me gera uma outra dúvida: Darl colocou mesmo fogo no celeiro? E não é curioso que, nós, como leitores, temos "acesso" à mente de todos os personagens relevantes da história e, ainda assim, ficamos em dúvida quanto a um evento capital? XD

E, por fim, quais são as motivações pessoais de Jewel e Dewey Dell para colaborarem com tanto afinco na entrega de Darl ao manicômio? Tenho, para mim, que há algo aí relacionado ao fato de Darl ter posse do segredo de ambos. Se ele fosse considerado louco, seu testemunho perderia muito de validade; além do que, se ele fosse trancafiado à distância, não teria oportunidade de revelar o que sabia.
 
Comprei o livro. Aproveitei e incluí o pocket da L&PM, que é baratinho, junto com outra compra... (aliás parte dela também é influenciada pelo Meia... esse fórum vai me levar à falência ¬¬) Falta agora esperar chegar... quando ler eu posto aqui.
 
Tataran disse:
Bom, acho que poderia falar de cada narrador/personagem individualmente e das várias coisas que me fascinaram em cada um. Vou me concentrar, agora, em Darl, por óbvias razões. Há um detalhe interessante a respeito dele e umas três coisas que não consegui entender completamente.
Como ele é o personagem com o maior número de capítulos acho que será também o que vai dar mais trabalho pra tentar compreender...

Tataran disse:
Em primeiro lugar, é fascinante observar como as suas faculdades mentais vão se deteriorando ao longo da história. Ele começa o livro narrando de uma forma razoavelmente objetiva e, então, aos poucos, seu raciocínio vai-se deteriorando, e um desses sintomas é ele começar a referir-se a si mesmo na terceira pessoa. Tudo culmina em sua loucura completa, no incêndio ao celeiro e na sua internação em Jackson.
Muito interessante mesmo o desenvolvimento da loucura dele durante o decorrer do livro.....

Tataran disse:
Mas, aí vem a primeira das minhas dúvidas. Desde o começo, Darl parece ter uma certa capacidade de "ler" as mentes dos outros. Ele sabe que Dewey Dell está grávida e percebe que Jewel não é filho de sua mãe, sem que ninguém o diga. Mais além, quando ele começa a se referir a si mesmo na terceira pessoa, ele adota pensamentos típicos de outro personagem. Em geral, ele adota os pensamentos de Vardaman, desde quando começa a dizer que sua mãe é um peixe ou um cavalo, até, no seu capítulo final, quando repete o mantra de seu irmão caçula de que "Darl é meu irmão". Essa é minha dúvida: Darl realmente possui alguma capacidade "extra-sensorial", ou isso é algum recurso narrativo empregado por Faulkner para realçar alguma nuança de seu caráter?

Não sei se sua capacidade de perceber as coisas decorrem de uma capacidade extra-sensorial. Tive a impressão que ele era o mais inteligente dos irmãos, por isso com sua capacidade de raciocínio ele conseguia descobrir essas coisas... a gravidez poderia ser percebida através de indícios ou uma interrogação ao própria Dewey Dell. O adultério que resultou em Jewel pela pouca semelhança deste com o "pai", pela preferência que a mãe nutria por este ou pela semelhança deste com o Reverendo.

Tataran disse:
Quanto ao incêndio do celeiro, temos que a única testemunha inequívoca do evento é supostamente Vardaman. Ora, Vardaman exibe alguns sinais de loucura clara, e talvez vá terminar trilhando os mesmos caminhos de Darl. Podemos ter certeza, a partir dele, que Darl é o culpado do incêndio do celeiro? Para mim, é interessante que, desde o incêndio, em nenhuma de suas narrativas, Darl afirma ter iniciado o incêndio; e Vardaman não diz textualmente que foi Darl mas apenas que viu alguma coisa que Dewey Dell lhe fez prometer não contar a ninguém. Por fim, também Dewey Dell não diz textualmente que Vardaman lhe disse que viu Darl colocar fogo no celeiro. A única narrativa em que se diz isso é de Cash. Isso tudo me gera uma outra dúvida: Darl colocou mesmo fogo no celeiro? E não é curioso que, nós, como leitores, temos "acesso" à mente de todos os personagens relevantes da história e, ainda assim, ficamos em dúvida quanto a um evento capital? XD
Vardaman é o caçula. Pode ser que seus erros sejam justificados pela pouca idade, como parece ter ocorrido no caso da morte do peixe e o trauma da morte da mãe. Tive a impressão que Darl de fato colocou fogo no celeiro, nunca analisei sobre essa ótica... Vc consegue imaginar uma teoria alternativa ?

Tataran disse:
E, por fim, quais são as motivações pessoais de Jewel e Dewey Dell para colaborarem com tanto afinco na entrega de Darl ao manicômio? Tenho, para mim, que há algo aí relacionado ao fato de Darl ter posse do segredo de ambos. Se ele fosse considerado louco, seu testemunho perderia muito de validade; além do que, se ele fosse trancafiado à distância, não teria oportunidade de revelar o que sabia.
Jewel acho que é pela rivalidade com Darl. Quanto a Dewey Dell tive a mesma impressão. Ela não queria que sua gravidez fosse revelada, pois na época e lugar em que ocorreram os fatos isso representaria um enorme estigma para ela.
 
Kelvin, demorei a responder, porque não quero deixar o Lucas e a Penny muito atrás. Então vou indo em ritmo de tartaruga (ou para ser mais preciso em ritmo de Anse Bundren conduzindo um caixão :tchitum: ).

Kelvin disse:
Não sei se sua capacidade de perceber as coisas decorrem de uma capacidade extra-sensorial. Tive a impressão que ele era o mais inteligente dos irmãos, por isso com sua capacidade de raciocínio ele conseguia descobrir essas coisas... a gravidez poderia ser percebida através de indícios ou uma interrogação ao própria Dewey Dell. O adultério que resultou em Jewel pela pouca semelhança deste com o "pai", pela preferência que a mãe nutria por este ou pela semelhança deste com o Reverendo.

Pois é, se fossem só esses dois fatos nem me teria ocorrido essa interpretação "metafísica". O grande problema para mim foi Darl adotar, em seu fluxo de consciência, pensamentos de Vardaman, desde quando começa a dizer que sua mãe é um peixe ou um cavalo, até, no seu capítulo final, quando repete o mantra de seu irmão caçula de que "Darl é meu irmão". Se para esses outros dois fatos (a gravidez de Dewey Dell e a bastardia de Jewel) dá para imaginar que ele possa ter uma alta perspicácia, o mesmo não ocorre para essa comunhão de pensamentos.

Kelvin disse:
Vardaman é o caçula. Pode ser que seus erros sejam justificados pela pouca idade, como parece ter ocorrido no caso da morte do peixe e o trauma da morte da mãe. Tive a impressão que Darl de fato colocou fogo no celeiro, nunca analisei sobre essa ótica... Vc consegue imaginar uma teoria alternativa ?

Não tenho nenhuma teoria alternativa que faça sentido. O que me interessou no ponto é que Faulkner nos dá acesso à mente de todos os envolvidos na trama e, mesmo assim, ficamos na dúvida sobre fatos importantes e tendo que adivinhar motivações de personagem, além de outras coisas. É bizarro e fascinante!

Kelvin disse:
Jewel acho que é pela rivalidade com Darl. Quanto a Dewey Dell tive a mesma impressão. Ela não queria que sua gravidez fosse revelada, pois na época e lugar em que ocorreram os fatos isso representaria um enorme estigma para ela.

É verdade... Ambos os dois estavam dispostos a entregar o irmão ao manicômio para satisfazerem um interesse todo particular. Eu só não consegui captar bem a motivação do pai. Ele foi bem ativo na entrega de Darl, e parece que não tinha um objetivo particular para isso.
 
[align=justify]Opa, vamos lá que eu finalmente acabei de ler e entendi pouquíssima coisa #prontofalei

A mudança de narrador constantemente me enbananou. Senti dificuldades de acompanhar os nuances mais subjetivos do pensamento de cada personagem, sinceramente, depois de um tempo procurei compreender mais o enredo do que as peculiaridades de cada narrador. Esse livro me desafiou, espero poder compreender melhor as coisas discutindo aqui e depois relendo, porque essa primeira leitura deixou muito a desejar (provavelmente porque li em haustos muito pequenos, lia 10 ou 20 páginas cada vez ao invés de ler uma porção maior da história).

Enfim, sobre o Darl estar ficando louco ao longo do livro (não percebi essa mudança de pessoa no discurso dele, #shameonme) foi realmente arrepiante, porque a gente começa a ver a lógica ou a falta dela a partir do narrador, como coisa que ele mesmo pensou e não coisas que alguém a ele imputou (embora seja o autor quem o cria etc. e tal). O que posso dizer é que não faltaram oportunidades para fazer a loucura dele aflorar. Que tragédia! Que infausta epopéia para sepultar a pobre da Addie Bundren.

Se o Darl ficou louco não foi a toa, a meu ver. Tanto sofrimento, tantas provações se lhe impuseram, que dilaceraram qualquer traço de sanidade que ele tinha, conduzir o caixão da mãe (o que deve ser uma experiência traumáticas nas 'melhores' circunstâncias) tendo que atravessar pontes quebrando, chuvas torrenciais, gente opinando de tudo que é lado, família em cacos, brigando e se xingando; a demora que já denunciava a decomposição do corpo, putz, ninguém pode condená-lo por perder a razão. E o próprio Faulkner acabou condoendo-se de seu personagem, evidenciando a justificabilidade de interná-lo ou não (depois encontro o trechinho, fiz questão de marcar no celular a página, XD )

Pode ser que Dewey Dell e Jewel tivessem esse interesse (aliás, essa questão da gravidez ficou obscura para mim, não lembro de tâ-la visto confirmada com todas as letras) mas por outro lado há de se considerar que naquela altura, com a chance de Darl ser associado ao incêndio no celeiro, interná-lo pode ser até uma forma de tirá-lo de cena para evitar a prisão dele bem como também de qualquer um deles ser tido como cúmplice da coisa toda. Enfim, fico em dúvida em relação a isso. Qualquer um que chutasse o balde naquela ocasião tem se não meu apoio pelo menos minha compreensão, que maldição não pesa sobre eles, não?

Depois posto mais algumas coisas que pensei aqui com meus botões e que quero compartilhar com vocês.[/align]
 
Lucas_Deschain disse:
[align=justify]Opa, vamos lá que eu finalmente acabei de ler e entendi pouquíssima coisa #prontofalei
Isso é normal em se tratando de Faulkner. Parece com essa confusão ele busca retratar a própria confusão que era a vida no Yaknapathapa County (acho que ainda não dou conta de escrever corretamente essa palavra e não vai dar tempo de consultar no livro...)

Lucas_Deschain disse:
A mudança de narrador constantemente me enbananou. Senti dificuldades de acompanhar os nuances mais subjetivos do pensamento de cada personagem, sinceramente, depois de um tempo procurei compreender mais o enredo do que as peculiaridades de cada narrador.
Mesmo o enredo é meio difícil de compreender. O texto deixa vários espaços vazios, falta uma continuidade. Isso é proposital no Faulkner. Aliás, parei pra pensar sobre isso e cheguei à conclusão que isso retrata em grande parte a nossa vida: só podemos conhecer o mundo em parte, de forma fragmentada, etc., não existe narrador onisciente na vida real. Lá vou eu com minhas viagens filosóficas de novo, melhor parar por aqui, rss.

Lucas_Deschain disse:
Esse livro me desafiou, espero poder compreender melhor as coisas discutindo aqui e depois relendo, porque essa primeira leitura deixou muito a desejar (provavelmente porque li em haustos muito pequenos, lia 10 ou 20 páginas cada vez ao invés de ler uma porção maior da história).
Também senti essa dificuldade por não ter lido integralmente do começo ao fim. Seguramente a leitura coletiva ajudará a compreender melhor a história ....

Lucas_Deschain disse:
Enfim, sobre o Darl estar ficando louco ao longo do livro (não percebi essa mudança de pessoa no discurso dele, #shameonme) foi realmente arrepiante, porque a gente começa a ver a lógica ou a falta dela a partir do narrador, como coisa que ele mesmo pensou e não coisas que alguém a ele imputou (embora seja o autor quem o cria etc. e tal). O que posso dizer é que não faltaram oportunidades para fazer a loucura dele aflorar. Que tragédia! Que infausta epopéia para sepultar a pobre da Addie Bundren.
De fato uma verdadeira epopéia.

Lucas_Deschain disse:
Se o Darl ficou louco não foi a toa, a meu ver. Tanto sofrimento, tantas provações se lhe impuseram, que dilaceraram qualquer traço de sanidade que ele tinha, conduzir o caixão da mãe (o que deve ser uma experiência traumáticas nas 'melhores' circunstâncias) tendo que atravessar pontes quebrando, chuvas torrenciais, gente opinando de tudo que é lado, família em cacos, brigando e se xingando; a demora que já denunciava a decomposição do corpo, putz, ninguém pode condená-lo por perder a razão. E o próprio Faulkner acabou condoendo-se de seu personagem, evidenciando a justificabilidade de interná-lo ou não (depois encontro o trechinho, fiz questão de marcar no celular a página, XD )

Pode ser que Dewey Dell e Jewel tivessem esse interesse (aliás, essa questão da gravidez ficou obscura para mim, não lembro de tâ-la visto confirmada com todas as letras) mas por outro lado há de se considerar que naquela altura, com a chance de Darl ser associado ao incêndio no celeiro, interná-lo pode ser até uma forma de tirá-lo de cena para evitar a prisão dele bem como também de qualquer um deles ser tido como cúmplice da coisa toda. Enfim, fico em dúvida em relação a isso.

É verdade, podia ser uma forma de evitar a prisão dele :sim:. Algo, aliás, muito comum no sistema penal consistente na alegação de inimputabilidade para se conseguir a absolvição pelo crime.

Tataran disse:
O grande problema para mim foi Darl adotar, em seu fluxo de consciência, pensamentos de Vardaman, desde quando começa a dizer que sua mãe é um peixe ou um cavalo, até, no seu capítulo final, quando repete o mantra de seu irmão caçula de que "Darl é meu irmão". Se para esses outros dois fatos (a gravidez de Dewey Dell e a bastardia de Jewel) dá para imaginar que ele possa ter uma alta perspicácia, o mesmo não ocorre para essa comunhão de pensamentos.
Sei os trechos aos quais vc se refere, acho que vou reler pra ver se chego a alguma conclusão sobre isso.

Tataran disse:
o que me interessou no ponto é que Faulkner nos dá acesso à mente de todos os envolvidos na trama e, mesmo assim, ficamos na dúvida sobre fatos importantes e tendo que adivinhar motivações de personagem, além de outras coisas. É bizarro e fascinante!

Acho que aí está a grande inovação dele. Agora, tenho a impressão de que as histórias nunca estão completas e qualquer síntese realizada, não vai além de uma interpretação.
 

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