Acabei de ver.
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Eu fiquei impressionado (no bom e no mau sentido) em como os primeiros 5 minutos do filme são tratados: o Bay deve cortar por umas 30 locações e momentos diferentes, envolvendo uma entrega de drogas e uma equipe de Narcóticos, cada plano deve durar menos de 5 segundos, centenas de cenários e personagens introduzidos, e praticamente nada grudando na sua mente. É basicamente uma piada, quando todas essas operações tratadas com seriedade e agilidade vão acabar num encontro da KKK onde o Lawrence e o Smith soltam do disfarce ("It's the negroes!" ele diz, humorosamente) e prossegue um pequeno (e inútil) tiroteio. Mas é claro, os destaques são destaques; em especial, uma perseguição de carro enorme e épica (acontecendo nos primeiros 40 minutos), envolvendo a dupla dinâmica, policiais, um time de Narcs disfarçados, traficantes haitianos, e a irmã do Lawrence. Eles devem ter destruído pelo menos uns 200 carros pra filmar essa cena toda, e é extremamente excitante. Envolve um caminhão com uma carga de carros, e os haitianos vão soltando um por um e usando como obstáculos para os perseguidores. Os carros se soltam do caminhão, capotam pela estrada, alguns desviam, alguns não, a camera desliza de um lado pro outro, passa por baixo dos veículos, é espetacular. Outro momento ótimo (entre vários) é o tiroteio envolvendo a dupla e os haitianos, alguns minutos depois, onde a camera fica girando em volta de dois cômodos, sem cortes, mostrando os dois lados do tiroteio. O Bay obviamente sabe o que tá fazendo.
Mas os meus problemas principais são: (1) precisava de duas horas e meia pra contar essa história? Dava pra editar e refinar muita coisa da narrativa, o filme tem muito enchimento (cenas desnecessárias pra "mover" a trama, que ninguém está acompanhando mesmo), especialmente cenas do vilão cubano (irritante) algumas perseguições de carros extras (o filme tem 3 ou 4!). Do jeito que tava, parecia que eu estava assistindo Ben Hur ou O Vento Levou... ou whatever. (2) o filme tem momentos bem engraçados, e a zombaria entre o Smith e o Lawrence é divertida (por mais que eu ache o Lawrence extremamente sem graça), mas se tivessem pego um escritor de comédia de verdade, iam poder se livrar de vários momentos em que as piadas falham, ou que não funcionam o suficiente (to tentando lembrar de algum trecho hilário de cabeça, mas nada grudou; só o Joe Pantoliano como o chefe, e a mãe do vilão com uma escopeta). (3) O Bay tem talento enorme com cenas de ação, mas ele tende a filmar os personagens em tiroteios ao contrário, com eles atirando na direção da camera, quando é muito mais excitante ver pra onde eles estão atirando -- por isso os momentos com o lança-mísseis são os mais eletrizantes, você vê aonde o míssil tá indo. O mesmo com as cenas de perseguição de carro, pois fica aparente o quanto é mais excitante filmar o carro por trás do que filmar ele da lateral ou diagonal da frente.
Subtexto interessante: os créditos do filme mostram Ecstasys (a droga dos tráficos) sendo feitos e fabricados e etc, enquanto "A Michael Bay Film" e "Bad Boys 2" aparecem na tela -- isso é obviamente uma provocação humorosa do Bay, explicando que o que vocês vão sentir durante o filme é puro êxtase -- uma obra que é intermitentemente engraçada e eletrizante, como os efeitos da droga -- mas depois ele se contradiz, com momentos de moralismo, com personagens denunciando o ecstasy claramente por ser uma porcaria e uma desgraça da sociedade (isso seria um comentário ímplicito do Bay, denunciando a inutilidade do próprio filme?). Tem também um óbvio subtexto homossexual -- a cena que eles conversam sobre "a bunda machucada" do Lawrence, o Lawrence pedindo transferência (aka divórcio), os dois discutindo como um casal, o Smith ameaçando o namorado da filha do Lawrence de estuprá-lo (hilário), ciúmes sobre o romance do Smith com a irmã do Lawrence -- e um conflito entre a personalidade da dupla, o Lawrence sendo o "pacífico" e "respeitoso" com a vida humana (entrando numa terapia de auto-ajuda e relaxamento), e o Smith sendo o que atira primeiro e depois mostra o distintivo. Me pergunto com qual dos dois o Bay se identifica mais...