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A Metamorfose, Franz Kafka

Simplismente adoro, estou até pensando em reler...
O mais curioso do livro é sua mensaguem implicita, que penso eu sobre a deficiencia das pessoas ao nosso redor. :lendo:
 
Acabei de reler "Metamorfose". A primeira vez que li foi na adolescência e, claro, não pude "captar" muita coisa. Mas lembro de ter gostado muito. Talvez o que tenha me chamado a atenção naquela época, fosse o grotesco do homem que se transforma, da noite para o dia, em um inseto repugnante. Não lembro de ter percebido duas coisas, que nessa releitura me chamou a atenção: uma dose de humor no texto e a personagem da empregada, que tem contato com Gregor "transformado". Sem falar que tudo é narrado como se fosse tudo muito natural: "Oh, me Deus, hoje acordei um inseto."

É uma obra relamente incrível. Sempre é bom tê-la em mãos para uma releitura.

O final é soberbo. De uma ironia sagaz. Afinal, a família Samsa está salva (não mais existe a criatura repugnante e "seus sonhos e projetos" poderão ser realizados).

Clássico!

:traça:
 
Eu abandonei na primeira tentativa. Desconfio, quase que batendo o martelo, de que a culpa é do tradutor. Tentei com a Martin Claret e achei horrível o texto, a técnica de escrita. Já comprei outra edição com tradutor diferente, vejamos no que dá.
 
Huhuhuhuh... estava pensando em reler, porque "A Metamorfose" é daqueles livros que você termina e sabe que você deixou passar batido um montão de detalhes.

Ler este tópico só me fez ter mais certeza ainda disso :rofl:
 
Muito interessantes as observações aqui colocadas. Mas me ocorreu algo novo: quem está fora do contexto da realidade humana, Gregor ou sua família? O genial autor nos mostra de forma extrema o "kitch" citado em "A insustentável leveza do ser" de Milan Kundera que nos faz sentir tão bonzinhos... Como ficamos horrorizados diante do comportamento dos Samsa!!! Mas, como cada um de nós trataríamos a questão caso ocorresse conosco? Infelizmente tive em minha família um exemplo de máscaras caindo. Minha mãe sempre ficou horrorizada com a maneira desumana que sua irmã tratava meus avós já idosos e com pouca autonomia para realizar atividades vitais. Porém bastou meu pai ficar por poucos dias sob seus cuidados com limitações parecidas para o "monstro dos outros" começar a aflorar também nela. Quando nos apiedamos diante da miséria alheia nos sentimos pessoas melhores, a questão é se estando na pele dos algozes nos manteríamos tão elevados. Sempre achei repugnante o modo como são tratados os valores e conceitos sociais, como a crueldade humana pode levar pessoas fora dos padrões aceitos como normais à execração e infelicidade.
Mas, infelizmente já paguei a língua algumas vezes e resolvi nunca julgar alguém sem saber seus motivos, dores e dissabores. Se consegui? Não, mas tenho me esforçado. Abrarços
 
Acredito que todas as colocações realizadas neste tópico interpretam de maneira correta "A Metamorfose". Ainda assim, acho que não conseguiremos atingir tudo o que o autor quis dizer com o livro.

Isso porque cada um terá sua própria interpretação da situação vivida pelos Samsa. No meu caso, enxerguei em Gregor um indivíduo como qualquer outro, excluído da sociedade e do convívio da própria família por uma doença.

Em maior ou menor intensidade todos já excluímos ou conhecemos alguém que excluiu um doente de seu convívio. Não porque deixamos de gostar daquela pessoa, mas porque a visão de alguém doente não nos faz bem. Preferimos viver em "um mundo perfeito" idealizado segundo padrões coletivos e individuais, nos quais, muitas vezes, pessoas incapacitadas não fazem parte.

Gregor foi excluído, pois sua doença o diferenciava dos demais habitantes da casa. Era um corpo estranho que deveria ser ignorado. Vida que segue.

Li "A Metamorfose" há muitos anos. Passei semanas pensando no texto após terminá-lo. É uma leitura rápida, mas nem um pouco fácil. É difícil analisar a obra e ser obrigado a confessar para o nosso íntimo que, de uma forma ou outra, nos encaixamos um pouco no exemplo de família criado por Kafka.

Um abraço!
 
Eu só lembro de Garcia Marquez. Para ele, A Metamorfose é apenas um livro de um rapaz que virou insento, nada mais além disso. Hahaha

Mas foi um livro que adorei - só tenho uma reclamação sobre a edição da L&PM, os comentários de rodapé às vezes são desnecessários e mais atrapalham do que ajudam - e pretendo reler em breve. Tenho uma cena muito forte gravada na memória
Gregor delicadamente vai para frente da porta do quarto, para sinalizar que não quer confusão, então o pai joga maçãs nele. Uma acerta, fica alojada, e Gregor, duplamente ferido, volta para o seu canto, para ficar quieto e não ofender ninguém...
 
-Arnie- disse:
Tenho uma cena muito forte gravada na memória
Gregor delicadamente vai para frente da porta do quarto, para sinalizar que não quer confusão, então o pai joga maçãs nele. Uma acerta, fica alojada, e Gregor, duplamente ferido, volta para o seu canto, para ficar quieto e não ofender ninguém...


Essa parte é muito triste mesmo!! Gente, como fiquei pasma com isso ser possível!!!
 
Sil disse:
Muito interessantes as observações aqui colocadas. Mas me ocorreu algo novo: quem está fora do contexto da realidade humana, Gregor ou sua família? O genial autor nos mostra de forma extrema o "kitch" citado em "A insustentável leveza do ser" de Milan Kundera que nos faz sentir tão bonzinhos... Como ficamos horrorizados diante do comportamento dos Samsa!!! Mas, como cada um de nós trataríamos a questão caso ocorresse conosco? Infelizmente tive em minha família um exemplo de máscaras caindo. Minha mãe sempre ficou horrorizada com a maneira desumana que sua irmã tratava meus avós já idosos e com pouca autonomia para realizar atividades vitais. Porém bastou meu pai ficar por poucos dias sob seus cuidados com limitações parecidas para o "monstro dos outros" começar a aflorar também nela. Quando nos apiedamos diante da miséria alheia nos sentimos pessoas melhores, a questão é se estando na pele dos algozes nos manteríamos tão elevados. Sempre achei repugnante o modo como são tratados os valores e conceitos sociais, como a crueldade humana pode levar pessoas fora dos padrões aceitos como normais à execração e infelicidade.
Mas, infelizmente já paguei a língua algumas vezes e resolvi nunca julgar alguém sem saber seus motivos, dores e dissabores. Se consegui? Não, mas tenho me esforçado. Abrarços

Pois é, é aquele típico fácil julgar quando não é com a gente e está olhando de fora. Mas se estivéssemos na mesma situação a nossa reação poderia nos surpreender.

-Arnie- disse:
Tenho uma cena muito forte gravada na memória
Gregor delicadamente vai para frente da porta do quarto, para sinalizar que não quer confusão, então o pai joga maçãs nele. Uma acerta, fica alojada, e Gregor, duplamente ferido, volta para o seu canto, para ficar quieto e não ofender ninguém...

Tadinho do Gregor, duplamente ferido.
 
Alguém sabe me dizer de qual escola literária é essa obra de Kafka? Se alguém souber tb de algum livro que se aprofunde no assunto ou site, vou agradecer muito!!! :pray:
 
[align=center][size=medium]Os posts a seguir terão spoiler, portanto leia por sua conta e risco![/size][/align]

[align=justify]Sobre o fato de Samsa ter ou não asas, bem, acho que o que o -Arnie- lembrou de um momento que pode dar uma luz a uma possível interpretação:

Gregor delicadamente vai para frente da porta do quarto, para sinalizar que não quer confusão, então o pai joga maçãs nele. Uma acerta, fica alojada, e Gregor, duplamente ferido, volta para o seu canto, para ficar quieto e não ofender ninguém...

Ele estava tão desacreditado, tinha internalizado de tal forma seu status de marginal, de corpo estranho, de indesejável, que nem sequer revidou ou procurou de alguma forma remediar o tratamento hostil do pai, assim como dos outros familiares ou moradores da casa (quando esses lhe dirigiram hostilidades). Gregor se sente tão incapaz de buscar a integração, que simplesmente abdica de outras possibilidades e recolhe-se ao seu canto escuro e solitário.

Se levarmos em consideração que ele tinha asas que lhe possibilitariam voar, mas mesmo assim não o fez; essa passagem pode nos fazer entender: a chance de ele levar uma vida "normal" podia até existir, mas a sensação de rejeição e irreversibilidade de sua condição era tamanha, que simplesmente não adiantaria sair voando, ia ser sempre a mesma coisa.[/align]
 
[align=center][size=medium]O post a seguir terá spoiler, portanto leia por sua conta e risco![/size][/align]

Se Samsa tinha asas, porque não voou? É porque a metamorfose de Samsa atingiu os alicerces familiares, no nível de que Samsa passou a ficar dependente da família e não a família dele. Quem voou foi a família: seus integrantes seguiram a vida, passaram a conseguir sustentar-se sem Samsa. O único voo que Samsa faz é circular e vicioso, e faz com que ele não saia do lugar, pois seu voo é inverso, atingindo reminiscências passadas. Samsa, o caixeiro viajante que sustentava a família, indivíduo do presente, acorda encarcerado numa carapaça dum besouro gigante e gordo: agora ele está preso ao seu passado. A carapaça dura de besouro de Samsa é a carapaça de seu passado, e as asas que ele possui, tênues como a de qualquer besouro, nada mais são que a metáfora de seu futuro dependendo de seu passado, ligado a ele, sendo empoeirado pelo tempo que as asas de sua família faz e despeja em sua existência...
 
A metamorfose sempre me pareceu muito mais introspectivo. Não acredito que o Kafka tenha escondido insinuações de que ele tinha asas e que poderia ter voado para longe da família se quisesse; e por mais sofisticadas as explicações e conclusões que alguém possa construir a partir disso, me parece um exercício de especular por especular. De qualquer forma, não acho que o Gregor quisesse voar pra longe da família. Ele não iria se "libertar" se fizesse isso. Ele queria justamente o contrário, ele queria estar inserido na família, mas se vê em uma situação impossível. Reli agora o trecho em que ele morre, e ele tá completamente resignado em "desaparecer completamente", mas o que o motivava a pensar assim não era nem nunca foi uma necessidade de liberdade pessoal, a própria forma dele de pensar durante a novela é a de se ver como uma peça indissociável do sistema familiar, e eu não consigo imaginar o final de forma diferente do que uma esperança de redenção pra família do Gregor e pro próprio Gregor já morto e, de certa forma, também pro Kafka.
 
[align=justify]Não tinha pensado dessa forma, mas, de fato, Samsa não quis se separar da família, embora a família tenha aos poucos de afastado dele e aprendido a viver sem ele. Não sei, a angústia parece ter um papel primordial nesse livro, a angústia por ser um inseto, por se ver fora do círculo familiar, por ser estranho, por ser indesejado, por causar asco nas outras pessoas, por praticamente não vislumbrar qualquer tipo de esperança das coisas voltarem a ser como eram antes (o que, levando em consideração os pensamentos de Samsa no começo do livro já não eram nada atrativos) etc.

Samsa tinha uma vida sofrida e sem atrativos como caixeiro-viajante, o que era, pelo tom com que ele dela fala, ruim. Mas nada é tão ruim que não possa piorar, então ele ainda se vê transmutado em um inseto execrável, que perde de vez a esperança de que algum dia pudesse novamente ter algum tipo de relação social saudável, por conta de sua aparência. Acho que um dos objetivos do Kafka era mesmo causar esse mal estar no leitor que, ao se pôr no lugar de Samsa, vive a angústia de ser estranho ao mundo que o rodeia.[/align]
 
Hum... É como se o leitor fosse o único que realmente compreendesse Samsa... A esperança de Samsa, focalizada no interior do livro (aka família), tem correspondência apenas no exterior do mesmo (aka leitor)...

Mas, dando uma viajada, que é sempre bom para os cabelos, será que o emprego do Samsa não tem uma relação com isso aí não? Samsa é caixeiro-viajante, logo, trabalha com viagens, conexões. Muito bem. Nesta teoria do caos, o emprego de Samsa é uma metáfora, pois que ele liga o interior do livro para com o seu exterior. Samsa é quem liga o leitor com a história, evidente e metaforicamente...

Mas, se é Samsa o conectivo, vocês não acham que fica estranho que depois da metamorfose de Samsa o conectivo tenha acabado? Sendo assim, o que nos liga com a história? Continua sendo o próprio Samsa, mas a diferença é que dessa vez ele não faz viagens; o que nos liga com a história é o próprio Samsa. O conectivo exterior-interior sofreu uma metamorfose recôndita, intrínseca, e passou a ser apenas um conectivo interior. Nós, leitores, somos Samsa, e estamos dentro de sua pele execrável de inseto vendo sua família, mais execrável ainda (olhem só que ironia! Apenas Frankestein consegue uma ironia tão paradoxal quanto esta: a metamorfose da família de Samsa é mais execrável que a dele), expurgá-lo e marginalizá-lo pouco a pouco...

Até que um belo dia, Samsa morre. Acabou-se o conectivo. E agora? Estamos presos no enredo? Ou saímos? Seja lá qual opção, as metamorfoses do texto kafkiano passarão a ocorrer em nossas vidas, e agora, nós, leitores pós-a-metamorfose, estaremos aptos para ver o meio ou nós mesmos sofrermos uma metamorfose, e aos poucos vamos percebendo que a história de Samsa não é uma exceção: é uma metáfora da pós-modernidade, onde o homem está preso em si mesmo, em sua individualidade, pois esse homem, tão egocêntrico, acaba sendo execrável... (e a família de Samsa ocuparia uma posição ou de sociedade passadas onde o encarceramente humano era menor [e onde as pessoas sabiam viver em sociedade, coisa que estamos desaprendendo], ou então representa outras pessoas pós-modernas que também pensam apenas em si mesmas e trancam-se em si mesmas...)

Deu pra entender a teoria?
 
[align=justify]:sim: deu sim. Esse conectivo que o Samsa representa não é exclusivamente kafkiano, mas a metamorfose dele sim (pelo menos em relação a especificidade dessa transformação nessas circusntâncias dentro da literatura). Textos em primeira pessoa costumam gerar efeito parecido, pois acabamos vendo a partir de um prisma limitado e mais fortemente subjetivo do que seria em terceira pessoa (acho que não necessarimente, mas relevem algumas digressões e digam que entenderam o que eu quis dizer, OK? XD ).

Concordo com tudo o que disseste Mavericco, e isso vem de encontro ao que eu tinha dito anteriormente, quando falei sobre a angústia. O fato de Samsa perder sua carapaça humana, não significa que ele deixou de ser humano, embora não seja morfologicamente um. E como humano, vivencia do prisma do inseto (um exemplo típico de criatura execrável, o mosquito é o arquétipo da execrabilidade, hehe) sua condição de não-humanidade. Como soa paradoxal e bizarro isso, não? Essa contundência é o que o texto de Kafka nos causa, e creio ser esse estranhamento o mote do texto, a intenção de seu criador.

Sendo Samsa um corpo estranho, e tendo o autor a mostrar seus motivos, suas infelicidades e suas peripécias soturnas de refúgio angustiado, estranhomo-nos a nós mesmos, forçando, por choque (com um golpe de picareta, usando a terminologia do próprio Kafka) que o "mar de gelo", sombrio e quase insondável, de nosso âmago. Aliás, o termo "kafkiano" traduz bem isso, é a evidência de que o estranhamento, o bizarro, o absurdo etc. estão entranhados na sua literatura.

Poxa, o GGM que me desculpe, mas A Metamorfose é bem mais do que um livro sobre um garoto que se transforma em inseto, hehe.

Deixa eu só ligar o modo mimimi um pouco para tirar uma dúvida que está me incomodando um pouquito aqui Mavericco, sobre o uso da expressão pós-moderna: sou obrigado a concordar que de acordo com o que você expôs a reação a Samsa tenha rasgos pós-modernos, mas não é anacrônico falar em pós-modernismo na época de Kafka? Afinal, até onde sei, pós-modernismo, na acepção mais usual da palavra, é algo que remonta a década de 60 mais ou menos, não?

Mavericco, viagem por viagem vamos chegando mais longe (ou não!), então é minha vez:

me chamou a atenção que Samsa despendeu pensando sobre as implicações de sua nova condição "entomológica", ele pensou sobre as aparências, as implicações financeiras, a reação de sua família etc., mas queimou muitos neurônios pensando sobre seu trabalho, sua carreira, sua condição de acordo com as convenções sociais etc. Pensei em algo como a burocratização incômoda em que ele estava enquadrado e as convenções acabrunhantes (ou é acabrunhadoras? não sei) em que ele e sua família estavam enredados. Será que é isso?

Pensando nisso ainda, será que esse "parecer inseto-ser humano" não seria resquício de uma noção de Kafka acerca da realidade burocratizada e superficial, que usa critérios insuficientes para saber o que é ou não-humano?

(não sei se deu para entender...qualquer coisa me diga que reformulo as colocações)[/align]
 
Eu não acho que a explicação mais simples seja sempre a mais correta, mas acho que geralmente é a menos incorreta. Quando a gente para pra analisar um livro, a gente tem que ter em mente que a gente tá fazendo um exercício externo ao livro. E por mair acuradas que sejam as informações de que dispomos a respeito do livro, a gente nunca vai chegar a visão pessoal do autor, assim como a visão de cada um nunca vai ser a correspondete exata da visão do outro, mesmo que partam e sigam o mesmo raciocínio, até porque isso significaria expurgar completamente a persona de cada um.

Mas seguindo a brincadeira: não acho que o Gregor seja um conetivo. A gente lê praticamente toda a novela a partir do quarto dele, mas isso não significa que a família dele não esteja em uma situação tão impossível quanto a dele. E por mais que o Gregor seja o foco do livro, a gente deveria ser capaz de enxergar que cada personagem da história é o centro pra si mesmo.

Não sou fã de alegorias, sempre detestei autores que infestam suas obras de subtextos tão óbvios geralmente pra fins que não vão além da simples sensação ao leitor de "ver através" da ironia daquelas alegorias. E não vejo o Kafka como um autor alegórico. E não vejo as metáforas dele como esses sistemas quase exclusivamente racionais e lineares de que isso significa isso que significa isso. Por mais absurda e bizarra que seja, acho A metamorfose uma obra muito mais sincera do que metafórica. E acho que Kafka criou imagens com fins bem menos instrumentais do que simplesmente significarem exatamente tal coisa. A metamorfose não é uma obra perfeita, onde tudo se encaixa (ainda bem, porque perfeição depreende um sistema fechado em si), então eu acho que quanto mais complexas as respostas que a gente conseguir, mais longe a gente vai estar da obra em si.
 
Lucas_Deschain disse:
Deixa eu só ligar o modo mimimi um pouco para tirar uma dúvida que está me incomodando um pouquito aqui Mavericco, sobre o uso da expressão pós-moderna: sou obrigado a concordar que de acordo com o que você expôs a reação a Samsa tenha rasgos pós-modernos, mas não é anacrônico falar em pós-modernismo na época de Kafka? Afinal, até onde sei, pós-modernismo, na acepção mais usual da palavra, é algo que remonta a década de 60 mais ou menos, não?

Tem razão... Acho que meu post deu a entender esse anacronismo mesmo... Acho que acabei dando a entender que Kafka escreveu o texto com esse propósito... Eu estava era propondo novas análises para o texto kafkiano tendo como luz a crise da pós-modernidade! Não é algo que ele pensou (quer dizer, acho que não); mas é algo que pode ser retirado do texto, então...

Lucas_Deschain disse:
Mavericco, viagem por viagem vamos chegando mais longe (ou não!), então é minha vez:

me chamou a atenção que Samsa despendeu pensando sobre as implicações de sua nova condição "entomológica", ele pensou sobre as aparências, as implicações financeiras, a reação de sua família etc., mas queimou muitos neurônios pensando sobre seu trabalho, sua carreira, sua condição de acordo com as convenções sociais etc. Pensei em algo como a burocratização incômoda em que ele estava enquadrado e as convenções acabrunhantes (ou é acabrunhadoras? não sei) em que ele e sua família estavam enredados. Será que é isso?

Deixei-me ver se entendi: você diz que o enclausuramento de Samsa é mais antigo, visto que ele estava preso antes numa "carapaça social e burocrática"?

Lucas_Deschain disse:
Pensando nisso ainda, será que esse "parecer inseto-ser humano" não seria resquício de uma noção de Kafka acerca da realidade burocratizada e superficial, que usa critérios insuficientes para saber o que é ou não-humano?

Como se a sociedade visse Samsa como de fato sendo um inseto pelo fato dele ser um reles caixeiro-viajante? Porque se foi isso o que você quis dizer, acho que ainda dá pra enveredar em mais uma hipótese:

E se na verdade, considerado que existem inúmeros Samsa's ao longo do mundo, do ponto de vista empresarial, a metamorfose de Samsa fosse praticamente nula? Samsa vira um inseto um belo dia... Mas... Será que ele já não era um inseto? Isso daria inclusive um tom meio estranho ao livro, pois daria uma ideia de que a metamorfose do Samsa foi inútil, e que no final das contas nem isso ele cnsegue fazer :hahano:
 

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