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A Metamorfose, Franz Kafka

lipecosta

Usuário
Então, acabei de ler a Metemorfose, do kafka e achei muito foda:gira:. Vcs já devem ter lido, então eu vo postar aqui o que eu achei do livro e depois eu comparo com a opinião do pessoal.:uhum:
•Na verdade, eu achei, o título pode ser encarado como um trocadilho, pois a metamorfose que o personagem sofre é apenas física, enquanto o a metamorfose que sofrem as pessoas aos seu redor é mental.
•A família de Gregor Samsa não o amava , propriamente, e sim o que ele era. Ele sustentava a família e dava-os a condição de ter uma vida tranqüila . Quando essa “ mordomia” que ele proporcionava acaba eles passam a tratá-lo de maneira diferente. A prova disso é que gregor diz que a primeira conversa que sua famíla teve sobre a situação econômica da casa foi logo no primeiro dia da sua metamorfose.
•O humor está na tranqüilidade de Gregor, dando a impressão de que é tudo muito natural, e isso foi o que mais me chamou a atenção no texto.
•O fim, que o próprio kafka considerava “inteligível”, demonstra o frio arrependimento de seus familiares, e o seu rápido esquecimento do ocorrido.
Enfim, achei o livro um dos poucos que merece a fama que tem, pois realmente é espetacular. È um daqueles livros que quando você acaba de ler você fica extasiado deitado na cama sem conseguir se levantar.:wall:
 
Realmente o livro é muito foda. Concordo que o tom tranqüilo e um pouco confuso de Gregor ao longo dele é genial. Um dos livros que a gente lê rápido e logo já tem vontade de reler. Aliás, ele é curto mas tem conteúdo o suficiente para ser discutido por um ano!

•A família de Gregor Samsa não o amava , propriamente, e sim o que ele era. Ele sustentava a família e dava-os a condição de ter uma vida tranqüila . Quando essa “ mordomia” que ele proporcionava acaba eles passam a tratá-lo de maneira diferente. A prova disso é que gregor diz que a primeira conversa que sua famíla teve sobre a situação econômica da casa foi logo no primeiro dia da sua metamorfose.

Sabe, eu achoque a família até gostava dele, mas não foi capaz de aceitá-lo uma vez que ficou diferete. Eu interpretei isso como sendo muito relacionado às expectativas que as pessoas têm das outras e as decepções que sofrem quando há mudanças ou coisas inesperadas...


Btw, vocês sabiam que Kafka fez muito do que há em seus livros como uma metáfora da opressão que sofreu do pai? Em "Carta ao Pai", ele escreve uma longa (e meio chatinha) carta onde usa verbos e passagens semelhantes aos dos seus livros*. Quando diz que tinha de rastejar (não me lembro exatamente se era essa a palavra) para ser aceito pelo pai, usa uma mesma forma verbal que quando Gregor rasteja em em "A Metamorfose". Parece que seus livros partiram muito da raiva do pai, da tentativa de mostrar o que ele sentia e taus...

*Essas comparações de formas verbais do original são mostradas em notas do tradutor, no livro da L&PM.
 
A Metamorfose realmente é ótimo. É um livro curto por que é conciso, e tem o tamanho perfeito para passar as idéias pretendidas.

As construções que Kafka elabora para satirizar e criticar a realidade são ótimas, e acho que O Processo é ainda melhor nisso.
 
Fëanor disse:
A Metamorfose realmente é ótimo. É um livro curto por que é conciso, e tem o tamanho perfeito para passar as idéias pretendidas.

As construções que Kafka elabora para satirizar e criticar a realidade são ótimas, e acho que O Processo é ainda melhor nisso.


Concordo, ainda mais nas situações bizarras que são alegorias perfeitas da burocracia, quando ninguém sabe lhe dizer afinal do que ele é acusado.
 
Eu reli A Metamorfose no ano passado, depois que li uma matéria falando de um problema de tradução - no caso, Kafka nunca teria dito que Gregor se transformou em uma barata, mas sim em uma "monstruosa sevandija" (tipo um verme, parasita). Embora eu ache que no final das contas Kafka queria deixar por conta do leitor imaginar no que Gregor se transformou, uma vez que pediu pelo responsável pela capa que não desenhasse Gregor transformado.

Mas enfim, quando reli - pela curiosidade dessa questão da tradução - acabei na verdade encontrando um novo livro em mãos. Várias coisas que eu tinha deixado passar batido quando li na primeira vez ficaram mais claras, inclusive eu confesso que tinha muito de humor que eu não via ali (incluindo a reação dos familiares dele).
 
Bagrong disse:
Btw, vocês sabiam que Kafka fez muito do que há em seus livros como uma metáfora da opressão que sofreu do pai? Em "Carta ao Pai", ele escreve uma longa (e meio chatinha) carta onde usa verbos e passagens semelhantes aos dos seus livros*. Quando diz que tinha de rastejar (não me lembro exatamente se era essa a palavra) para ser aceito pelo pai, usa uma mesma forma verbal que quando Gregor rasteja em em "A Metamorfose". Parece que seus livros partiram muito da raiva do pai, da tentativa de mostrar o que ele sentia e taus...

*Essas comparações de formas verbais do original são mostradas em notas do tradutor, no livro da L&PM.

Muitos não. Acho que todos eles têm algum tipo de rancor para o pai. Conheci um ex-estudante da USP que fez um projeto sobre o Kafka, ele falava sobre todas as alusões que eram feitas sobre pais. Nada mais do que uma analogia com a opressão de um poder maior, acho que por isso ele gostava muito das formas de justiça/poder.

Fëanor disse:
A Metamorfose realmente é ótimo. É um livro curto por que é conciso, e tem o tamanho perfeito para passar as idéias pretendidas.

As construções que Kafka elabora para satirizar e criticar a realidade são ótimas, e acho que O Processo é ainda melhor nisso.

Na Colônia Penal a construção é muito forte.

Entretanto acho que as grandes alegorias do Kafka têm muito mais do que representam, precisam de uma análise mais profunda. Apesar de serem claras, muitas delas podem ter mais de uma interpretação ou uma interpretação mais completa.
 
Ronzi disse:
Fëanor disse:
A Metamorfose realmente é ótimo. É um livro curto por que é conciso, e tem o tamanho perfeito para passar as idéias pretendidas.

As construções que Kafka elabora para satirizar e criticar a realidade são ótimas, e acho que O Processo é ainda melhor nisso.


Concordo, ainda mais nas situações bizarras que são alegorias perfeitas da burocracia, quando ninguém sabe lhe dizer afinal do que ele é acusado.

Concordo... o mais impressionante do livro pra mim foi que, em poucas páginas e com uma linguagem extremamente simples o Kafka conseguiu fazer um texto com muito conteúdo.
Quando li o livro eu achei que a família dele o amava, pelo menos a irmã e a mãe, mas lendo o início do tópico já não tenho tanta certeza. Aliás, preciso reler esse livro, é realmente muito bom. :mrpurple:
 
Li recentemente a tradução de Modesto Carone e confesso que a obra me arrebatou. Há um mês li "O Processo" da L&PM Pocket e a tradução me pareceu muito ruim, porque já tinha lido o original em alemão. Espero ler em breve a tradução do Carone para "O Processo", que inclusive ganhou o Prêmio Jabuti de tradução em 1989.

A tradução de Carone para a primeira frase do livro é "Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranqüilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso". Nada de barata, como citado anteriormente.

Bem, "A Metamorfose" é literatura no mais alto grau, cada frase, cada trecho pode ser relido de maneira meticulosa com a intenção de se apreciar a arte da palavra. E isso contece quando a atenção recai sobre "como" o autor relata, e não "o que". É o caso de "A Metamorfose".
 
O que mais me impressionou quando li "A Metamorfose" é o desespero que senti durante todo o livro. E que na verdade é um desepero tão interior quanto ao espaço mínimo que Gregor tem para se expressar... é agoniantemente bom!
 
lipecosta_ro disse:
•Na verdade, eu achei, o título pode ser encarado como um trocadilho, pois a metamorfose que o personagem sofre é apenas física, enquanto o a metamorfose que sofrem as pessoas aos seu redor é mental.

A minha leitura é de que o título e o livro como um todo são uma grande ironia ácida, visto que a metamorfose do Gregor nada mais seria do que a exteriorização do modo como ele sempre se sentiu e de como a socidade como um todo o tratava: como um inseto/verme.

A partir do momento em que o indivíduo tratado como um ser desprezível de fato de transforma nesse ser desprezível, tanto ele, através das situações tragicômicas pelas quais passa, como os familiares (= reflexo em miniatura da socidade) têm a "verdade" esfregada em suas caras: da parte de Gregor, isso se dá na manifestação física de sua pequenez e fragilidade de caráter; da parte de seus familiares, eles são confrontados e contemplados com a visão monstruosa manifesta de suas atitudes mesquinhas e ignóbeis, repetição grosseira do que acontece com a socidade em um nível maior.

É uma crítica severa e amargurada de Kafka que apenas incidentalmente reflete a sociedade de sua época, mas que no fundo busca salientar como o ser humano, quando confrontado com o que há de pior dentro de si, age da maneira mais patética e deplorável possível.
 
A questão do inseto, é transmitir para gente uma forma bizarra, talvez até nojenta e então fazer toda a trama a partir disso!

Eu creio que por isso relacionaram a barata na tradução!
 
Alguns pontos a considerar acerca da obra A Metamorfose:

1. Kafka expõe, através da descrição das relações trabalhistas referentes a Gregor Samsa, a forma como o trabalho "massifica", fragiliza e degrada a identidade do indivíduo como ser humano e pleno agente transformador da sociedade na qual está inserido, reduzindo-o a uma condição de mera engrenagem descartável do maquinário capitalista. Trata-se, portanto, de uma crítica incisiva, porém sutil, contra o capitalismo e a submissão passiva – ou inevitável – do homem às regras do supracitado sistema. Sob uma ótica mais abrangente, abarca não só a exploração, mas a opressão da qual o homem está sujeito, decorrente do acondicionamento e subjugação ditados pela sociedade (representada pela família) e seu convencionalismo/moralismo hipócrita.
2. O modo frígido e pobre de caráter humano com que os parentes de Gregor Samsa o tratavam pode não ser necessariamente falta de amor, porém um reflexo conseqüente do próprio comportamento "descaracterizado" dele – como uma resposta a um estímulo externo –, ou fruto direto do próprio capitalismo desumanizador.
3. Há múltiplas interpretações acerca da metamorfose sofrida por Gregor Samsa, de natureza alegórica. Lembrando que Kafka "traduziu" – ou codificou – de maneira impar e densa, por meio de metáforas, a complexidade do homem moderno – ou também de qualquer época, daí sua atemporalidade –, mergulhado num abismo inexorável de incertezas, absurdos, perturbações e questionamentos de toda ordem.
4. Interpretação 1: O monstruoso inseto no qual Gregor Samsa se transforma, decorrente de uma metamorfose, decodifica-se como a deficiência física ou mental, tornando o indivíduo incapaz e/ou desacreditado para o cumprimento de certas tarefas, portanto tido como imprestável para o trabalho e, conseqüentemente, para o capitalismo. Também é visto como um ser estranho e inepto aos olhos da família e da sociedade, isolando-se gradativamente. Aliás, quero atentar-lhes para um detalhe que denota intensamente a genialidade bizarra e sensiblidade peculiar de Kafka: Gragor Samsa transmuta-se num inseto. Ora, qual sensação um inseto nos causa de imediato? Estranheza ou repulsa. Exatamente o que causa um ser humano nessas três condições aqui apresentadas. A interpretação de que o inseto é a manifestação física do estado em que o ser humano se sente (inseto = insignificância) também é ótima, mas contraditória às interpretações exibidas abaixo (inseto = diferença, desajustamento social). Entretanto, Kafka, dentre outros grandes autores, possibilita amplas versões, "traduções" de sua literatura.
5. Interpretação 2: A mutação de Gregor Samsa seria a transformação moral e psicológica de um indivíduo que adquire novas crenças e/ou ideologias, não se enquadrando nos padrões da sociedade em que vive e sendo rechaçado.
6. Interpretação 3: Essa transmutação grotesca de um homem em inseto simboliza especificamente a conversão ao marxismo, ideologia político-econômica em voga na época, condenando assim o capitalismo e recusando-se a trabalhar. Em conseqüência, é demasiado rejeitado pelos seus e tido como um "encostado" na família.

Outras interpretações são igualmente aceitáveis e coerentes. A literatura sempre é carregada de metáforas e subjetividade.
 
Tu quis dizer Gregor Samsa, já que Joseph K. é o protagonista de O Processo.

É isso mesmo, Gabriel. Troquei as bolas! Obrigado pela orientação. Tratarei de editar o texto agora.
 
E uma das grandes vantagens é que o Kafka foi extremamento sintético nesse livro.
Sem muita enrolação o dilema do homem-inseto é apresentado e a história, mesmo sendo curta, é envolvente.
 
Pra ser sincero, a primeira vez que eu li eu não gostei muito não, não tinha entendido qual era o grande lance do livro, mas faz muito tempo isso...

Hoje, lendo aqui as opiniões de vocês deu até vontade de ler de novo...
 
Acabei de lê-lo. Tradução de Modesto Carone.

Achei a leitura bem concisa e engajante, dotada de um humor bem orgânico propiciado pela maneira indiferente com a qual Samsa encara a sua nova condição. A mim pareceu que ele se encontrava tão imerso no trabalho que se alienou completamente do que realmente significava ser humano, sintetizando-se à sua função.

Aliás, não só ele; a sua família também se desprendeu dele como pessoa, encarando-o meramente como uma fonte de renda, acomodando-se nessa situação. Uma vez Gregor transformado e impossibilitado de suprir suas necessidades, eles "despertam" do marasmo em que se encontraram, tornaram-se independentes e trataram com uma ingratidão atroz aquele que tanto os assistiu.

Acho que um dos pontos do livro é expôr a hipocrisia das pessoas, criticando o nosso costume de valorizar o indivíduo proporcionalmente à "utilidade" dele, como se os seus feitos e intenções de nada significassem. É indignante como o trataram com tamanha ingratidão, e irônico que a única pessoa que o tenha compreendido/aceitado tenha sido a empregada, ela mesma provavelmente vítima de muito desdém em virtude da sua condição social.

Achei o desfecho genial, minado de uma ironia cortante.

Por fim, achei impresisonante como Kafka conseguiu narrar uma história tão sólida em tão curto espaço. A Metamorfose foi, ao mesmo tempo, um dos menores livros que já li e um dos que mais me satisfizeram.
 
Bom exemplo que o livro não precisa ser "grosso" para ser interessante =D

Depois que li "O Processo" no clube, gostei muito do estilo do Kafka, a princípio me debati muito para ler, mas depois me acostumei =]
Esse é o próximo dele que quero ler e parece ser tão bom quanto "O Processo".
 
Li Metamorfose e achei um livro maravilhoso. É curto e direto e ao mesmo tempo faz vc se sentir triste pelo desprezo da familia, sua vida no que se transformou e sua morte solitária. Só de lembrar sinto um nó na garganta. É um livro marcante e vi no começo do tópico que ele não foi caracterizado por Kafka como uma barata (eu o imaginava uma barata e a edição que peguei tinha uma barata na capa) e tem uma parte que alguém da familia tinha medo de ele voar na sua cabeça. MAs pretendo comprar esse livro. Ele é um que não pode faltar em uma estante.
 

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