Bump.
Eu já "desconfiava" que esse filme ia ser bem fraco, mas vi ele na prateleira e pensei "bom, no mínimo o Depp vai fazer valer à pena". Sabe aquelas horas onde você percebe que está absolutamente certo, mas isso é uma coisa ruim? Pois é, foi lá por meados do segundo ato.
Até então o filme tinha me passado a irritante sensação de que aquela história já tinha sido contada, mas o terceiro ato pegou essa sensação e transformou ela numa certeza indubitável. De fato, a gente já viu esse filme antes, e ele era bem melhor.
Stephen King não é exatamente um escritor de "conteúdo" (fato que o próprio é o primeiro a admitir), então pra transformar uma história dele em algo interessante, cinematograficamente falando, o diretor em questão tem que ter bastante talento. A única exceção que eu consigo lembrar é Um Sonho de Liberdade, que por ser provavelmente a melhor história que o King já escreveu não precisou de uma direção fenomenal pra se tornar um bom filme. Mas A Janela Secreta está longe de ser uma história brilhante, e, como diretor, David Koepp é um ótimo roteirista.
Apesar de não explorar os temas que a premissa dá praticamente de bandeja e se concentrar quase que exclusivamente na trama, o roteiro é redondo, bem econômico e tem ritmo e estrutura bem planejados. Mas a direção é meio burocrática e sem sal, sem atmosfera, sem estilo, etc.
John Turturro cumpre bem o papel de parecer um caipira maluco e violento, mas isso acaba se tornando um problema. Se eu consigo acreditar nele como um caipira maluco e violento, então como eu posso acreditar nele como um escritor criativo? É lógico que ele não escreveu aquela história, então toda a sensação de dúvida que poderia ser desenvolvida por um bom tempo é desperdiçada desde o começo.
É por isso que é tão fácil matar a charada. Se não há dúvidas quanto a essa questão, alguma revelação bombástica sem qualquer ligação direta com ela não poderia tardar a vir, e como a gente já viu muita história parecida com essa, não é difícil imaginar o que realmente está acontecendo.
Apesar de todos os problemas, o Depp consegue carregar o filme nas costas por um bom tempo - se a coisa se mantivesse naquele nível até o final, o filme poderia vir a ser um thriller razoável; mas no terceiro ato a vaca vai pro brejo e leva tudo com ela, até o roteiro. A cena da revelação teve um gosto terrível de plot twist for dummies, levando a um clímax clichê do tipo "vamos esticar essa situação muito além dos limites do bom-senso".
Os últimos momentos foram bons, mas e daí? Aparentemente o Koepp acredita que um desfecho não-convencional é suficiente pra salvar um filme completamente convencional, e eu desconfio que ele disse isso na nossa cara.