bem, tenho que discordar um pouco do k!&& me. Wicca É sim uma religião, que usa também a denominação de neo-paganismo. Os pagãos antigos cultuavam um Dei Pater, ou Deus-Pai, que eles não gostavam de nomear, mas que era conhecido por Baal ou Cernunnos. Ele tinha uma contra-parte feminina, De-Mater (ou Deusa-Mãe, ou Dana). A diferença é que o neo-paganismo cultua em primeiro lugar a Dé-Mater, que tem Cernunnos por consorte.
A Magia é uma coisa à parte, e essa coisa de "livros de Wicca levam pro lado negro" me soou meio Yoda.
Não sei se me seria permitido fazer maiores esclarecimentos, serei cauteloso à medida do possível:
A Magia, também chamada Sanctum Regnum (ou "Reino de Deus", ou "Grande Obra", ou "A Sagrada Arte", etc) não tem cor, nem rótulo, nem cheiro. Não existe magia vermelha, azul, rosa, cor-de-burro-quando-foge, roxo com bolinhas verdes e listas bege, etc. Existe magia com ética e magia sem ética - e a isso chamamos, por razões associativas, magia "branca" e "negra", respectivamente. E magia não é soltar bola de fogo, nem raios pelas mãos. Magia é interferir no plano físico através do plano espiritual. Logo, uma oração é uma magia, de um determinado ponto de vista - o que leva rapidamente ao raciocínio de que as práticas religiosas (de todas as religiões) são mágicas, deste ponto de vista (ou seja, ignorando o conceito estereotipado/hollywood da palavra "magia").
Existe um princípio de que é impossível causar o mal através do plano espiritual. Ou antes, é impossível causar o que você acredita que é o mal. Por quê? Porque tudo tem uma origem, um meio, e um fim. A origem é a pessoa que está criando a causa (não gosto de dizer "fazendo magia", soa muito RPG), o fim é a pessoa que é alvo dessa causa, ou seja, a consequência. Mas qual o meio? Oras, já foi definido: o plano espiritual. Um meio cósmico, por assim dizer; celeste. Parece óbvio - e parecerá ainda mais óbvio para os cristãos - que esse meio celestial não permita a passagem/transmissão de nada que seja "mal". Mas o que é "mal" para uma pessoa não é "mal" para outra; é relativo. Logo, como poderia haver distinção? Simples: a distinção é feita por você mesmo, antes mesmo de criar a causa. Você acredita que aquilo é o mal, logo essa informação vai junto com o efeito que você quer criar. É como se você rotulasse "maldade" no pacote que você está mandando - e aí o pacote não chega. Se você acreditar piamente que aquilo que você está tentando causar é o bem, vai dar certo. Por isso as religiões estão sempre desesperadamente preocupadas com a moral e a ética: precisamos fazer os habilidosos saberem o que é o mal para nós, pois assim eles mesmos se bloquearão.
Surge quase imediatamente uma pergunta: se não é possível utilizar o meio espiritual (a.k.a. magia) para causar o mal, como pode existir magia negra?
Bem, magia negra (magia sem ética) não é dita "sem ética" só por querer causar o mal. Frequentemente, se quer causar o bem, mas sem respeitar o meio. Por exemplo, você quer que dois amigos façam as pazes. Para isso, você tenta um ritual esquisito, matando uma galinha preta. Isso é magia negra, porque a coitada da galinha não tem culpa de ter as penas escuras, e não merece morrer por causa de uma briguinha de dois amigos seus. Isso é anti-ético de quase qualquer ponto de vista. Ou você acredita que passar numa universidade americana é o bem para determinada pessoa - mesmo que essa pessoa não queira morar nos EUA. Nesse ponto, você acredita estar fazendo o bem, mas estaria agredindo a vontade da pessoa.
Por isso é recomendável só fazer uso do Sanctum Regnum (seja através de reza, círculo de oração, grupo ritualístico, sabbat, ou qualquer religião - já que está na base de todas) quando se está de acordo com a vontade da pessoa por quem agimos, e nós mesmos também acreditamos ser o bem, sem que o processo cause mal a qualquer um. Já dizem os Wiccans: "faça o que quiser, desde que ninguém seja prejudicado". Isso os caracteriza como magia branca, não?