Ringil disse:
Eu ando lendo Novos X-Men. É até bom, mas não vi nada que justifique tantos elogios. E a motivação dos X-Men não deixou de ser simples. É querer fazer a coisa "certa", consertar o mundo. Não é mais apresentada da forma que antes, mas não houve mudança na base.
Eu acho que pelo menos
uma história da fase Morrison até agora foi
PERFEIÇÃO: trata-se de "Silêncio: Resgate Psíquico em Andamento", a história muda dos Novos X-Men durante o mês do silêncio.
Foi brilhante. Sensacional. Incrível. A narrativa foi tão perfeita como a mais perfeita das histórias mudas que eu só tinha visto nos meus sonhos. A arte foi tipo YOWZA!, etc. E a história deu um nó em todo o conceito que a gente tinha do Xavier, foi o Morrison falando "Ei, saca só: dá pra revolucionar a coisa sem ter que matar ninguém ou algo assim".
Essa saga que está sendo publicada agora, "Riot At Xavier's", começou já com uma história
muito foda (eu comentei sobre ela no tópico dos X-Men), e só tende a melhorar. Tipo, as histórias do Morrison são mais bem escritas do que qualquer coisa anterior. Tem muito mais conteúdo, explora muito mais os temas. Antigamente era só X-Men x Vilão 1, X-Men x Vilão 2, X-Men x Grupo de Vilões, etc.
Claremont & Byrne fizeram história, mas Morrison & Quitely tem mais valor artístico, IMO.
Watchmen é genial, mas não é o único modo de fazer quadrinhos que existe. Nem tudo precisa seguir esse modelo para ser bom, ou inteligente. Nem uma coisa precisa ser inteligente para ser boa.
Uh-oh, eu acho que a coisa precisa ser inteligente pra ser boa
sim. Até coisas infantis devem ser inteligentes, por que não? Procurando Nemo não é um filme inteligente? Afinal, qual é a graça de uma coisa estúpida?
E existem inúmeras HQs com alto valor artístico que não seguem nem de longe a fórmula de Watchmen (aliás, a maioria que tenta seguir acaba fedendo).
As cores (assim como tudo que é percebido) é modificada pelo ser que as captam. Pode até haver um gosto ou opinião majoritário, mas ainda é somente um conjunto de opiniões individuais. Dez mil opiniões individuais não valem mais que uma única. Há diversas coisas que influenciam na transformação do objeto quando o homem se apropria dele. O emocional, por exemplo.
Um exemplo, o Verde e Rosa da Mangueira. A maioria das pessoas acha em geral bem feinho, mas muitos acham lindo, sublime. A maioria por gostar da escola. Não é hipocrisia, é gosto mesmo. Gosto é tão influenciado como qualquer outro aspecto de nós mesmos.
Outro exemplo, daltônicos vêm as cores diferentes. As cores são diferentes e funcionam de forma diferente para eles. E nem por isso a opinião deles é inválida.
Isso é muito bonito, esse lance do gosto. Eu só sei que se um cara vier me dizer que gosta do uniforme do Triatlo eu não vou poder deixar de achar que ele tem um tremendo
mau gosto.
Pode ser. Cueca por cima da calça não é essencial ao gênero, mas nem por isso é crime capital. O gosto atual a dispensa, mas não deixa de ser uma alternativa.
Tipo, se tirarem a cueca vermelha do uniforme do Superman pra mim ele vai deixar de ser o Superman, mas é um dos poucos casos em que eu tolero esse tipo de visual.
Justamente. Algo que um velocista usaria.
É, mas é meio esquisito. Não me agrada.
Por que?
Não é apenas estratégia, claro. Não é só o consumo que determina a produção, o contrário também. A criação dos autores atuais direciona e é direcionada para um público mais velho. Nenhum crime nisso. Nesse quadro há inclusive mais liberdade para o autor criar. Só não é superior aos quadrinhos direcionados para os mais novos. As mesmas relações mercadológicas que existem em um estão também no outro.
Dá pra fazer quadrinhos de qualidade para um público mais jovem
também. É perfeitamente possível fazer uma coisa simples e inteligente.
A questão aqui não é direcionamento, entenda. É
qualidade.
Fui longe demais, reconheço. Vou deixar de lado esse papo de pretensão, que é meio beco sem saída. O meu ponto na verdade é que as HQs atuais não são melhores por serem mais realistas, nem de maior valor artístico por estarem direcionadas para um público mais velho.
Primeiro vamos estabelecer que por "HQs atuais" você na verdade está dizendo "Marvel e DC atuais".
Olha, existem certos
títulos direcionados a um público mais velho, mas a maioria dos regulares continua tendo como público-alvo os adolescentes.
A questão é que o público hoje não é mais o de 20 anos atrás. Considerando que a maioria das HQs de super-heróis nos anos 90 foram
lixo, abordagens diferentes se tornaram necessárias pra manter o público e continuar produzindo.
Foi só no final da década de 90 que surgiu Astro City, na época em que todo mundo percebeu que a coisa não precisava ser necessariamente
realista, só bem-escrita. Eu não chamaria os títulos atuais da Marvel de "realistas". O tom das histórias só evoluiu para algo mais complexo, acompanhando os leitores que estavam cansados daquela mesma merda de sempre.
Você pode dizer que a Marvel de Lee e Kirby era tão boa quanto a atual, e eu não vou poder negar isso. Mas aquilo nunca funcionaria hoje em dia. O fato é que a Marvel de hoje em dia está
muito melhor do que a de meados dos anos 90, época do surgimento da Image, marcada por
merdas de proporções épicas.
Assim sendo, entre o presente e o passado recente, o presente ganha de lavada. Entre o presente e o passado remoto, no entanto, não pode haver comparações, pois ambos estão em pontos muitos distantes da história, e a comparação não faria sentido. Os leitores não são mais os mesmos, o mundo não é mais o mesmo.