Nível de precisão : de fazer inveja ao Ibope.
Acontece que:
Só pra constar: o número que o Fea postou do site
http://fivethirtyeight.com era a probabilidade de vencer de cada um deles. A comparação com margem de erro e precisão do Ibope não se aplica.
Além disso, o FiveThirtyEight não faz ele mesmo pesquisas de intenção de voto. Ele coleta as inúmeras pesquisas, feitas por diferentes institutos, e aplica uma metodologia estatística para analisar conjuntamente essas pesquisas, conjugando também fatores circunstanciais e de eleições passadas. É atualmente o modelo mais preciso de predição de eleições. Naturalmente não é perfeito, como nenhum modelo de previsão do comportamento humano poderia ser. Mas se você comparar com outras pesquisas de probabilidade do tipo, verá que o FiveThirtyEight era o que dava maiores chances para o Trump. no NYT, por exemplo, as chances dele eram de 15%.
E se você ler esse artigo que postei:
Esse gráfico aí é bacana mesmo. Tava vendo um artigo do Nate Silver que fala justamente sobre as perspectivas estaduais:
Election Update: The State Of The States
Verá que o Nate Silver declara:
"But even if Clinton’s win probability inches up by another percentage point or two, she’ll still be the probable but far-from-certain winner. That means tomorrow is going to be very exciting — not only because the result is uncertain but because an unusually large number of states will potentially have a say in the outcome."
Afinal, 30% de chances está muito longe de ser algo impossível.
E ainda há muitas coisas que as pesquisas não conseguem refletir. Um exemplo é o que mencionei num post que fiz no facebook:
Vitória do Trump um tanto inesperada, visto que a grande maioria das pesquisas apontava que suas chances giravam em torno de 15% a 30%. Do ponto de vista das estatísticas eleitorais, essa vitória traz algumas questões interessantes para investigação.
Uma dessas questões diz respeito ao que se chama de "social desirability bias", ou algo como "viés da desejabilidade social", onde as pessoas respondem as pesquisas não de acordo com o que realmente pensam (ou intencionam votar), mas sim de acordo com o que acreditam que será bem visto pelas outras pessoas. Assim, nas pesquisas eleitorais é possível que muitos futuros votantes em Trump não declararam essa sua intenção de voto, por medo de serem mal vistos por sua escolha.
Esse tipo de viés não é novo em eleições. Um exemplo é aquilo que foi chamado de "Bradley effect", quando nas eleições de 1982, o democrata Tom Bradley era o grande favorito para vencer o governo da Califórnia, mas acabou inesperadamente derrotado, contrariando todas as projeções. Neste caso, cogita-se que o "efeito Bradley" ocorreu pelo fato do democrata ser negro, e muitas pessoas terem declarado votar nele apenas para não parecerem racistas. Em pesquisas pós-eleitorais, observou-se que a proporção de votos de pessoas brancas em Bradley foi consideravelmente menor do que se esperava com base nas projeções de pesquisas de intenção de voto.
Na Inglaterra, um caso desse viés é o "Shy Tory Factor", onde, em 1992 e em 2015, as pesquisas de intenção de voto no partido conservador apontavam valores muito menores do que aqueles que se observaram na prática. O "Fator Tory Envergonhado" sugere que muitos conservadores tiveram vergonha de se declarar como tal através das pesquisas.
É possível que dessa vez tenha ocorrido em solo americano um "Shy Trump Factor", mas que é preciso ser levado em consideração junto com as peculiaridades do sistema eleitoral americano (como o voto indireto, e a sua não-obrigatoriedade). De toda forma, desejo muito boa sorte aos EUA nesses próximos anos - assim como desejaria caso Hillary fosse eleita -, pois eles irão precisar. E o mundo todo também.