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Ratos e Homens (John Steinbeck)

Lucas_Deschain

Biblionauta
[size=medium][align=center]Ratos e Homens (John Steinbeck)[/align][/size]

[align=justify]Of Mice and Men (Ratos e homens na tradução) é um livro escrito por John Steinbeck, publicado originalmente em 1937 e que conta a história trágica de George e Lennie, dois trabalhadores rurais na Califórnia durante a Grande Depressão (1929-1939). A história se passa em um rancho a algumas milhas de Soledad no Salinas Valley.[/align]

Fonte: Wikipedia

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Abrindo a discussão dessa belíssima e sucinta obra. Li esses dias em uma edição que juntava essa história com O Potro Vermelho (The Red Pony), que achei fantástica. Mas voltando para Ratos e Homens, posso dizer que é um dos melhores do Steinbeck, top3 da obra dele para mim. A história é tocante, você simpatiza com o George de cara e fica tenso com toda a situação que eles vivem. Muito bom.[/align]
 
Li ontem e gostei bastante, até me empolguei em resenhar, acho que após voltar de viagem sai alguma coisa.

No final, quando o George mata o Lennie, eu vi um paralelo com a morte do cachorro do Candy. Até a forma de matar foi a mesma com o tiro atrás da nuca, que o Slim ressaltava tanto.

Não sei se é possível encarar dessa forma, mas a morte do Lennie foi até um pouco de altruísmo do George, eles jamais conseguiriam aquela vida que sonhavam, e verdade ou não, o Lennie não era nada "adaptado" para esse mundo, para essa vida. Iriam viver de fazenda em fazenda, com o Lennie fazendo uma série de burradas, e o fim, inevitavelmente seria o mesmo, talvez não pelas mãos do George, mas de algum outro estranho qualquer.
 
Na wiki, fala sobre um tal de Robert Burns, que teria um poema com o seguinte trecho: "São vãos os sonhos de ratos e homens". Não sei se Steinbeck chegou a conhecer o poema de Burns, mas achei que o trecho cai perfeitamente sobre "Ratos e Homens"

O Lennie, apesar do tamanho e da força descomunal tinha a cabeça de uma criança, e como tal gostava de animais e sempre tentava cuidar deles, por isso aquela fixação nos coelhos, sempre que podia pegava algum rato, e até ganhou um filhote da cadela do Slim.

Na década de 30, mais precisamente na sociedade agrícola Californiana, George e Lennie eram os "ratos" da sociedade, plenamente dispensáveis em seu trabalho, muitos como eles chegavam no sábado para o trabalho, usufruiam da comida e iam embora no dia seguinte, ninguém se importava. Era muito díficil haver qualquer mobilidade social, e por mais que eles se esforçacem, seus sonhos não deixariam de ser apenas sonhos.

Do mesmo jeito que Lennie brincava com os ratos, a vida brincava com eles, e numa dessas brincadeiras, acaba que o fim de ambos era o mesmo.
 
Diego disse:
Do mesmo jeito que Lennie brincava com os ratos, a vida brincava com eles, e numa dessas brincadeiras, acaba que o fim de ambos era o mesmo.

[align=justify]Minha percepção pendeu bem para esse lado que tu apontaste mesmo. Ratos e Homens, juntando assim, numa frase, quase a mesma coisa, separados apenas pelo "e". Naquela dura realidade de tremenda recessão econômica a situação de penúria era tanta que provavelmente não seja exagero dizer que pessoas eram tratadas como animais, seja pelas condições de trabalho, seja pelo descaso da sociedade (não toda, obviamente). As Vinhas da Ira mostra bem isso, como as pessoas eram obrigadas a fazerem coisas absurdas para conseguirem trabalho ou o que comer. Steinbeck demonstra uma sensibilidade absurda ao tratar disso, já que durante a carreira jornalística dele, ele andou por grande parte dos Estados Unidos, passando dias com essas pessoas, em acampamentos de beira de estrada e tudo o mais. Não a toa que seus livros tenham essa temática recorrente, vide Luta Incerta, As Vinhas da Ira, Boêmios Errantes etc.[/align]
 
li ratos e homens ontem. então percebi que já tinha visto o filme. então não foi muita surpresa. tirando que eu tinha visto esse filme a muito tempo atrás, quando eu era criança. não tinha entendido muito.

me identifico muito com essa história porque eu tenho um irmão com um leve retardo mental. ele tem 19 anos e uma idade mental de uma criança. está cursando o segundo ano do ensino médio aqui em açailândia. no ensino público, o difícil é não passar de ano.

ok. sobre ratos. meu próprio irmão era obcecado por ratos. e muitos animais. ele queria um zoológico em casa. ele tinha uma crueldade inocente, como da felícia, de tiny toons. amava os animais até matá-los. ele já teve uma obcessão em que queria ratos de laboratório pra poder ficar girando-os pelo rabo. os últimos hamsters que tivemos morreram dentro da gaiola por insolação, esquecidos em cima da mesa sob o sol forte de paragominas.

o significado dos ratinhos, que apareceram logo no começo da narrativa, não foi exatamente comparar homens e ratos. foi definir a obcessão de lennie por coisas macias. depois vem o relato sobre o acontecido em weed. essa definição precisa ser precisa para não ter sombra de dúvidas sobre a inocência de lennie no final. lennie é o personagem principal da história, é a vida dele sendo narrada.

george fez o melhor que pôde, mas ele tem uma parcela de culpa. queria manter lennie afastado de curley, mas não evitou que ele arrebentasse com o curley. sabia que a mulher de curley ia causar encrenca e achou que só dizendo pra lennie não tocar nela seria o suficiente. o certo seria não esconder a demência de lennie. talvez ele teria uma chance de trabalhar carregando cevada mesmo assim. um lugar com um negro aleijado e um velho maneta, com certeza haveria espaço pra ele. o problema era que ninguém confiava em ninguém. por isso quase ninguém viajava junto, muito menos faziam planos juntos.

de uma forma, tenho um fascínio pela vida boêmia. mas aqueles peões não tinham futuro, e acho que nem satisfação. a vida deles me lembra a de garimpeiros. para tornar sonhos realidade deve-se estar sóbrio. eles sabiam muito bem que nunca guardariam dinheiro se gastassem tudo no fim de semana num puteiro, tinham consciência disso e nunca levavam a sério. pelas minhas contas, um ano de salário como peão, daria pra comprar uma terra lá. e pra quem sobrevive bem com uma lata de feijão com molho de tomate como um banquete, comer um coelho ou galinha por fim de semana seria colossal.
 
[align=justify]E o George? O que acham dele? No início ele parecia ser um cara gente boa, preocupado com o Lennie e tudo o mais, uma espécie de irmão mesmo. Mas, com o desfecho começam as perguntas (ao menos para mim):
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[align=justify]George matando Lennie seria um vilão ou uma simples vítima daquele meio extremamente adverso em que eles viviam? Poeticamente falando: a aridez e as agruras da vida moldaram George daquele jeito? A amargura daquele cenário teria conduzido seu dedo ao gatilho?
1 - George vilão: matou a sangue frio, traiçoeiramente, não se importando de estar tirando a vida de uma criatura inocente ou que não tinha exata noção do que havia feito.
ou
2 - George vítima: dentro das circunstância o ato dele não é tão condenável assim, afinal, naquela vida dura e árdua, de poucas condições e muito trabalho, a morte pode ser um consolo. Matando Lennie George estaria poupando-o de viver coisas muito piores.
Lembrando, são meras hipóteses, nada mais. O que acham?[/align]
 
george não atuou como vilão. slim deduziu tudo e não o censurou.

george não simplesmente assassinou lennie. ele o sacrificou. façamos um paralelo com o cão de candy. o bicho só sofria, e ainda sim candy não queria sacrificá-lo por causa do apego à ele, e por causa do dilema moral. soa como traição, matar um fiel companheiro, que não tinha como se defender, nem mesmo como pedir pela morte. no final das contas, foi carlson quem sacrificou o cão. candy ficou muito pesaroso porque não foi ele quem deu o golpe de misericórdia. depois, refletindo mais sobre a própria situação, candy desejou que alguém o sacrificasse caso ele estivesse velho demais pra trabalhar e fosse despejado na rua.

então, voltando a george e lennie. depois que lennie matou acidentalmente a mulher de curley, ele não tinha solução. george pensou que poderia simplesmente internar lennie, e um manicômio não é lá um bom lugar pra ficar o resto da vida. lennie não conseguiria sobreviver numa caverna, e mesmo que conseguisse, mais cedo ou mais tarde seria descoberto e seria linchado pela população e curley. afinal, ele seria acusado de estupro seguido de morte. então, george poderia esperar que os outros encontrassem lennie e o matasse com a maior crueldade possível, ou ele poderia sacrificar lennie, como candy gostaria de ter feito com o velho cão.

chega enfim ao desfecho, uma bela cena. george repete pela enésima vez o discurso que os mantinha juntos. que eles não eram uns fodidos porque apesar de não terem nenhuma riqueza, nem mesmo um lugar pra cair morto, eles tinham um ao outro. ele disse que estava tudo bem, que tudo ia dar certo, que eles conseguiriam a terrinha deles e lennie poderia cuidar dos coelhos. lennie delirava ao imaginar isso tudo no espelho d'água. enquanto isso george ouvia os passos dos outros se aproximando com suas armas. hesitou ao atirar, mas então descobriu que era tarde de mais parou de hesitar. um tiro na nuca de um sonhador.

slim chega e deduz tudo. e concorda, com pesar. candy ainda tinha esperança de conseguir a terra pra eles. e seria bem possível. o dinheiro que lennie contribuiria poderia ser conseguido com mais um mês de trabalho. mas george recusa. pra ele, abandonar o sonho deveria ser uma forma de penitência. sempre dizia que sem lennie ele poderia ter uma vida livre, não se preocuparia com as encrencas em que ele entrava, e gastaria todo seu dinheiro com comida, bebida e mulheres. o sonho de ter a própria terra já não fazia mais sentido sem lennie.
 
[align=justify]Também pendi muito mais para essa explicação, afinal a vida de agruras que os dois vinham tendo só traria sofrimento, sofrimento esse que era agravado pela condição de Lennie.
Isso se torna mais plausível também se levarmos em conta a marca do escritor, que sempre procurou mostrar como a situação desses trabalhadores e pessoas de pouca condição material era difícil e marcada por dificuldades e tristezas todo o tempo. Esse livro é muito bom, pois não encontra sentido somente naquele momento histórico específico, mas é de uma universalidade e considerações filosóficas (veladas) muito mais abrangente.[/align]
 
Diego disse:
Do mesmo jeito que Lennie brincava com os ratos, a vida brincava com eles, e numa dessas brincadeiras, acaba que o fim de ambos era o mesmo.

[align=justify]Acho que é bem isso. Para mim, desde o começo o fim deles já está definido pelo destino. Há vários indícios disso: quando eles chegam Lennie diz que não gosta do lugar e quer ir embora e George até concorda, mas diz que precisam do dinheiro... George diz em algum lugar no começo que o Lennie sempre mata os ratos... Há o esconderijo. E há a mulher de Curley que é descrita como uma ratoeira (se eles são os ratos...)
É por isso que George mata Lennie: não há opção, como para o cachorro. Entre ser internado para definhar, ser preso ou ser linchado, é melhor ter a coragem que Candy não teve.


A solidão de todos é muito triste. Solidão que como dizem Slim e George torna os homens maus, faz com que não se importem uns com os outros. É por solidão, por exemplo, que a mulher de Curley procura os homens.

A questão dos sonhos é muito forte também, casa bem com o trecho do poema: o sonho de todos é ter um pedaço de terra. A descrição que George faz várias vezes para Lennie dessa terra é a descrição do Paraíso. É inatingível. Crooks, o negro, diz que já viu muitos tentarem antes de traírem uns aos outros e gastarem todo o dinheiro com bebida ou prostituição. Ele mesmo demonstra querer sonhar por um momento (um momento de fraqueza), mas a coragem falta. Melhor continuar sendo um negro solitário, desprezado, mas empregado, do que se atrever a sonhar, a desafiar a realidade, como faz Candy quando a mulher de Curley os contesta. Crooks prefere abaixar a cabeça e dizer "Sim, senhora". Como diz o narrador: "Crooks se reduziu a nada. Não havia mais personalidade, não havia mais ego." Vejo muito disso em O Deserto dos Tártaros de Dino Buzzati também.

Se é verdade o que o -Arnie- disse aqui, há muito de Lennie em John Coffey de "À Espera de um Milagre", sendo que o "poder" de ambos é oposto. Sempre me lembrei dele durante a leitura. Além do físico, há o contexto da Recessão e o Coffey até ressuscita um ratinho.[/align]
 
[align=justify]Vou aproveitar que reli O Grande Gatsby e pegar o Ratos e Homens de novo, esse livro tem muito pano pra manga ainda.

Assim que reler vou postar aqui minhas opiniões.[/align]
 
Lucas_Deschain disse:
[align=justify]esse livro tem muito pano pra manga ainda.

Assim que reler vou postar aqui minhas opiniões.[/align]

Sim! Acho que seria um bom livro para o Clube de Leitura por causa disso.
 
Eu li, mas ainda não tenho palavras para falar sobre ele, é algo sobre solidão e sonhos que nunca se realizaram.
Muito bom..é para refletir.
 
[align=justify]Estou estreiando (ou é estreando?) meu Kindle com Batalha Incerta, do Steinbeck. Creio que quem porventura gostou da leitura de Ratos e Homens, certamente irá gostar da leitura desse livro. Ele foi escrito em 1936, um ano antes da publicação do romance que dá título a esse tópico.
[/align]
 
Manu M. disse:
Alguém sabe me dizer se a versão da LP&M Pocket é texto integral?

Manu, que eu saiba é o texto integral sim. Tenho a versão em inglês também e são exatamente iguais.
 
Manu M. disse:
Alguém sabe me dizer se a versão da LP&M Pocket é texto integral?

[align=justify]Estou com ela na minha frente agora, e é texto integral sim. Aliás, acho que todos os livros da coleção L&PM Pocket são texto integral. Alguém confirma?[/align]
 
Lucas_Deschain disse:
[align=justify]Estou com ela na minha frente agora, e é texto integral sim. Aliás, acho que todos os livros da coleção L&PM Pocket são texto integral. Alguém confirma?[/align]

Não, tem uma série dela cujo nome não lembro que só lida com adaptações. Não tenho certeza se vingou, mas sei que foi lançada ano passado. A Izze chegou a fazer um post sobre isso no blog dela.
 

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