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As Vinhas da Ira (John Steinbeck)

Alguém sabe se aquela edição da abril em dois volumes em capa dura azu tem uma boa tradução?
to querendo comprar pois além de ser bonita é barata...
 
Hum, sei não. Li uma tradução portuguesa. Em vez do cara se meter em encrenca, o tipo se metia em sarilhos e cenas do género. =)

Passo a bola pro Lucas, rs.
 
[align=justify]Não conheço essa edição Gabriel Cezar, a que tenho aqui tem tradução de Ernesto Vinhaes e Herbert Caro, que é a edição que saiu pela Abril Cultural na coleção Imortais da Literatura Universal, volume 34.[/align]
 
Ok. Mas essa ediçao é boa?
porque talvez seja a mesma tradução já que essa também é da abril...
 
Gabriel Cezar disse:
Ok. Mas essa ediçao é boa?
porque talvez seja a mesma tradução já que essa também é da abril...

Tenho essa edição. Não li ainda, então não dá para saber se a tradução é boa. Mas a tradução é a mesma da outra coleção citada pelo Lucas.
 
[align=justify]Essa coleção Imortais da Literatura Universal já compilei com a ajuda da Denise Bottmann, um artigo no blog do Meia Palavra, sendo que ela, que manja muito das traduções e de quem é quem nas traduções brasileiras, que pesquisou e me passou o nome dos tradutores dessa coleção. Se passou pelo crivo dela eu assino embaixo.

Além do mais, já li essa versão e, dentro da minha ignorância em avaliação tradutória, posso dizer que gostei bastante.[/align]
 
Estou lendo. Estou na metade mais ou menos, e não li o tópico pra não correr o risco de ter spoiler.(e pelo tamanho dele, acho que não tenho mais nada de relevante a acrescentar, rs)
Pra mim livro bom faz eu me importar com os personagens. A família Joad acabou de chegar na Califórnia e ver toda aquela paisagem linda, na parte onde eu parei... é angustiante pensar na provável miséria que terão de passar.
Estou gostando do livro, mas ficando angustiada... pra mim a figura mais interessante por enquanto é a da mãe. Impressionante a força que o autor conseguiu colocar na personagem, ou pelo menos eu a percebi assim. Nossa, quando

ela fala que a avó morreu e ficou lá a noite toda ao lado dela é triste demais.


Eu não consigo pensar nas partes onde ela diz que quer ter uma casinha branca, com árvores em volta, nem nessa parte nem no resto dos sonhos da família. Me dá muita pena, sério. Steinbeck me deixou sensibilizada. Até quando o narrador não fala da familia Joad, mas sim dos meeiros em geral, da miséria da época, dos comerciantes passando a perna nas pessoas, sem se referir a nenhum personagem especial, ele consegue passar uma sensação angustiante. Estou aqui me lembrando dos trechos onde ele diz como as pessoas eram ligadas à sua terra, aonde sempre viveram e trabalharam, a própria familia Joad paralisada sem coragem de sair... quando ele compara os esforços do homem ao "esforço" de um trator, algo morto, sem vínculo à terra... esse livro realmente mexeu comigo!
 
[align=justify]Esse livro é realmente épico, e chocante sim, espere até você chegar no fim, é de dar engulhos. Steinbeck conviveu com esse pessoal migrante que acampava na beira das estradas, principalmente na beira da rota 66, então ele conheceu as agruras desse tipo de vida, o drama de deixar suas terras de lado e a esperança que eles depositavam na Califórnia, tanto que os personagens, tanto desse livro como também de outros, a vêem como uma terra prometida, um lugar onde serão felizes e não terão que se preocupar com o que há para comer.

A narrativa é realmente cruel, mas somente porque a realidade foi cruel, a agricultura estava toda planificada de acordo com as "diretrizes" do mercado mundial, ou seja, com a Crise de 29 elas sofreram de forma mais intensa do que jamais haviam sofrido, já que agora elas estavam diretamente ligadas ao "jogo" da economia mundial. Quando a superprodução foi atravancando o consumo, os agricultores tiveram que estocar seus produtos (que não vendiam de jeito algum, era tempo de recessão e vacas magras, os preços não estavam nem um pouco atrantes e não pagavam nem os dividendos) e pegar empréstimos nos bancos para poder continuar produzindo e, para isso tiveram que dar suas terras como garantia.

Quando, no livro, os banqueiros vem pegar as terras e expulsar de lá os agricultores, é justamente a execução da dívida. Junte a perda dessa ligação com a terra (que Steinbeck explora e delineia tão bem) com o despedaçamento dos sonhos e anseios por uma vida confortável e dá para ter uma noção de quão cruel é essa história, tanto a ficcional quanto a real.[/align]
 
interessante saber desses detalhes, pq hj é o Brasil que tem sua agricultura firmemente atrelada ao mercado internacional (aliás, acho que o resto do mundo também), com os preços fixados em dolares e etc.
 
Não dá para desempregar as máquinas. Um novo romance, As Sojas da Ira, os operadores de colheitadeiras seriam expulsos do campo depois que o Google entra no ramo da agricultura com a automatização das máquinas. O Google já inventou carros que andam sozinhos.

A realidade é muito mais angustiante do que qualquer livro. A contemplação do sofrimento alheio... analfabetos sofrem ser ler o que dizem sobre eles.

Assisti o filme baseado nessa obra. A mãe Joad tem um papel ainda mais destacado. Uma volta ao poder matriarcal. Não é a toa que subiu o número de mulheres chefes de família. Houve uma reviravolta no século XX, pra variar.

E o resultado é Hollywood. A Califórnia é o sonho de muita gente. Hoje os filhos dos Okies já devem ter se misturado tanto que poucos devem saber o que é um pé de algodão ou ter visto uma galinha viva. Até mesmo aquele sofrimento foi esquecido. Mas imagino o tanto de raiva e ódio que foi inserido naquela população, herdado de geração em geração. Ou a criminalidade.
 
[align=justify]Pois é, aquela hora que o Tom ameaça se separar deles novamente (depois de ter passado um bom tempo na cadeia) e a Mãe pega um ferro na mão (acho que é) e começa a falar que ele não vai ir, senão ela vai bater nele ou algo assim. Caraca, aquilo é realmente assustador, a força da mulher catalisada pelo seu desespero de perder o filho e fazer a família se separar, tudo isso levando a condição de nervos a flor da pele que os Joad passaram ao longo da rota 66. Isso vem bem a calhar nessa questão que tu falaste, lhrodovalho, agora Luís Henrique Rodovalho.

Um comentário que acho que ainda não fiz mas que me lembrei agora e acho interessante: Quando Tom fala que ficou na cadeia todo mundo fica pesaroso e com pena dele, manifestando seus pêsames por ele e tudo o mais, e ele sempre responde que gostava de lá, que eles tinham o que comer, tinha rádio, amigos, mais tranquilidade etc. Isso é interessante porque mostra que a situação dos trabalhadores agrícolas no turbilhão da crise era tão desgraçada, que até viver recluso parecia uma boa opção (isso vem a calhar também se pensarmos Ratos e Homens, afinal, esses homens sofredores são realmente tratados como homens ou como animais?

Duas questões que gostaria de saber o que vocês pensam:

1. Quando Tom está chegando a terra dos Joad, bem no início do livro, antes de encontrar o Casey, ele se depara com uma tartaruga virada com o casco para baixo, sem poder se desvirar e seguir seu curso normal. Estive pensando sobre o significado disso e queria saber o que vocês pensam (depois posto o que pensei senão meu post fica muito comprido)

2. Aquele negócio de que, em cada barricada policial os Joad eram questionados sobre o fato de estarem ou não carregando mudas de plantas, o que era aquilo? Pensei (sem nenhum fundamento mais concreto) que talvez fosse porque, das duas uma:

2a) ou que, com aquela muda, os Joad (representando os trabalhadores de um modo geral) poderiam fazer um pomar e se tornarem produtores ou no mínimo auto-suficientes, não podendo assim engrossar as fileiras de mão-de-obra a ser explorada pelos proprietários;

2b) ou que, como a economia pós-crise (ou mesmo no olho do furacão, ou seria no olho do dust bowl?) passou a ser gerida de maneira direta pelo Estado, o trânsito de mudas poderia alterar os planos para recuperação econômica;

e aí, o que acham? (desculpem o tamanho do post)[/align]
 
Sobre a cadeia, assista Tempos Modernos. Acho que as cadeias daqueles tempos não eram tão perigosas quanto as de hoje. As de hoje têm mais narcotráfico, crime organizado. Devia ter muita gente lá que roubava pra matar a fome mesmo, ou presos políticos. E alguns serial killers. Mais adiante, quando Tom acha um emprego pra construir uns dutos e ele precisa cavar, ele mesmo fala da sensação boa que é trabalhar depois de tanto tempo ocioso ou procurando trabalho. Trabalho que ele fazia na cadeia.

Acho que as tartarugas, ou cágados, é a velha estória do muleque que pegava estrelas-do-mar encalhadas secando na praia e as jogava de volta na água. Seres indefesos que só precisavam de uma mãozinha pra sobreviver. Ainda acho que essa explicação é forçação de barra. Por mim, ele só encontrou o animal e quis levá-lo consigo pra fazer uma sopa, ou dar de presente pros irmão mais novos. Digo isso porque já vi muito tatu e jabuti de estimação. São bichos muito quietos e não dão trabalho.

Sobre a treta das mudas, primeiro pensei que eles queriam era achar uma desculpa esfarrapada para evitar os imigrantes. Aquilo teria um respaldo legal, e um imigrante a menos é menos fardo pros locais. A idéia das mudas pode ser por causa de pragas também. Uma variedade de laranja, por exemplo, pode conseguir se reproduzir melhor mas não teria a mesma eficiência das variedades locais. Lavouras têm um controle rígido de qualidade genética. Duvido que eles precisassem trazer mudas de Oklahoma. Mudas são muito fáceis de fazer. Quem estivesse disposto a roubar terra pra plantar, com certeza teria falta de escrúpulos o suficiente para roubar espécimes locais.
 
[align=justify]
Luís Henrique Rodovalho disse:
Putz, Lucas_Deschain! Sua numeração foi um tanto infeliz! 1 1 2 a b

Nem tinha percebido, escrevi o post meio rápido e não prestei atenção, acho que agora está mais organizado. :dente:[/align]
 
[align=justify]Bá, Rodovalho, estava assistindo exatamente esse filme hoje de manhã quando me lembrei dessa questão e resolvi postar. Perspicaz você, hein? XD

Apesar da cadeia não ser tão sinistra naquela época como o é hoje em dia, não se pode tirar o peso de que é uma privação da liberdade de qualquer forma, ou seja, comparado ao que ela é hoje em dia ela pode ter sido mais amena, mas ainda assim se está preso ali contra a vontade. A própria manifestação de pesar das pessoas é uma evidência de que cadeia não era (nem é) algo tão "tranquilo" como pode parecer de forma análoga.

Quanto a questão da tartaruga, sabe o que eu pensei? OK, OK, pode ser divagação minha ou a velha história de "ver chifre em cabeça de cavalo", mas lá vai: acho que a situação da tartaruga virada com o casco para baixo serve de ilustração para a situação dos trabalhadores agrícolas como os Joad e seus vizinhos. Eles também estão desnorteados, meio perdidos, sem um referencial, que era a sua terra (lembre daqueles trechos mais pra frente em que o Steinbeck fala da relação do homem com a terra e a ligação forte que eles mantém com ela). Desse modo, embora possam se mover (ao contrário da pobre tartaruga, esturricando no sob o sol no asfalto escaldante), eles estão com a "vida de pernas pro ar", para usar um lugar-comum.

Sobre a questão das mudas, pode bem ser isso o que você falou, mas acho que talvez isso venha de uma conjunção de fatores. A muda representa a possibilidade de emancipação desse sistema brutal, já que o mote do livro é a denúncia dele e a exploração do drama desse pessoal migrante. Penso que todas as proposições estão certas de alguma forma, com exceção daquela sobre a planificação econômica, que carece de algum dado para corroborá-la.[/align]
 
Hoje em dia é difícil encontrar uma lavoura onde não se compram as sementes. As sementes compradas não são como os grãos vendidos ou mesmo as sementes encontradas nos frutos. Era comum os agricultores reservarem um pouco da safra para poder plantar novamente. Hoje não.

E os Joad tinham a intenção de plantar. Mas eles sabiam muito bem o que aconteceria se eles tentassem. Da mesma forma que os locais derrubavam e queimavam os assentamentos, eles fariam o mesmo com as lavouras, mesmo que fosse apenas para subsistência. O problema não era exatamente que eles competissem com a produção de frutos comerciais, mas que após plantarem suas lavouras e fixarem residência, eles não seriam expulsos facilmente. Acho que li nesse livro mesmo que após um tempo morando na Califórnia os okies teriam direito a voto e a assistência do poder público, mas muitos iam embora muito antes de serem considerados cidadãos.

Outro fato era a comunidade dos imigrantes onde eles viveram por um tempo. O próprio governo financiava um pouco os custos, mas a comunidade não provia renda. Pelo que entendi, os imigrantes só poderiam utilizar aquela terra para habitação. Sem contar que a Califórnia é predominantemente desértica. Toda sua agricultura é sustentada pela irrigação. Não adiantava dar terra infértil para eles. Ainda assim, putz! Pelo menos terra ruim pra subsistência dava. Xenofobia é uma desgraça mesmo.

Recomendo o filme Chinatown, com o Jack Nicholson. O título do filme pode desorientar, mas de oriental o filme tem quase nada. O tema central é especulação imobiliária e irrigação, bem ao estilo 007 Quantum of Solace, mas na Califórnia.
 
[align=justify]Só, já vi esse filme, é do Polanski, muito bom mesmo. Se for ver, ele se assemelha bastante sim, sob aspectos diferentes. A manipulação no intuito de lucrar mais ou manter o poder econômica na mãos dos grandes proprietários é a mesma.[/align]
 
Lucas, quando li tb pensei na tartaruga como metáfora. Ela vivia normalmente até que um carro a atirou pra fora da estrada etc. Mas acho que o mais importante dessa metáfora era a persistência irracional, instintiva. Era só o Tom dar uma brecha que ela já tentava se escapulir de volta pro seu rumo, que ele não entendia mas admitia. É só reler o trecho que dá pra perceber que ela faz uma síntese desinteressada da história dos Joad.

Quanto às mudas, não poetizei muito não. Pensei em prevenção do tráfico (lembra que ele cita botânicos e químicos e o escambal pra aperfeiçoar os frutos?) ou mesmo as leis peculiares de cada estado, já que cada federação funciona de um jeito diferente nos EUA.
 

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