Mesmo antes disso, o Deus do judaísmo é todo poderoso, o Deus cristão, num segundo momento na Idade Média (por volta dos séculos XII e XIII, ainda ligado a idéia de "Deus Pai", que puni e castiga, mas flertando com as teorias de Gioachhino da Fiore, de "Deus Filho") é "todo poderoso". Ele não é bom, nem mal, podemos constatar na visão primeva de um judaísmo arcaico, que Javé puni, entra em cólera, e mesmo assim cuida de seus "filhos".
Exatamente como no mito "tolkieniano", lúcifer é uma parte de Deus, um dos Anjos que sofreu uma queda moral. É claro, a idéia se transformou até chegar num conceito cristão atual, com idas e voltas nas concepçãoes.
A príncipio, a questão de demônios, e do mal, era discutida como sendo parte da Criação, e a idéia de que o homem deve afastar-se de todas as coisas terrenas para salvar-se dos demônios, das impurezas, é Agostiniana. Agostinho fará uma leitura platônica do cristianismo, e colocará (uma vertente pessoal sua) o maniquéismo, com o qual teve muito contato, nesta noção, que por sua vez iria se difundir por todo mundo do medievo.
Com outros pensadores, e em outros momentos da cristandade, as concepções ganham novas roupagens, ora se aproximam da inicial, ora tendem a um radicalismo da idéia agostiniana, e assim temos até um momento de ruptura com a Idade Média, século XIX, como diria Le Goff.
A Revolução científico tecnológica, ou Segunda Revolução Industrial (termo não mais plausível), muda completamente o rítimo e a forma de vida da humanidade. Em poucos anos invenções e mais invenções aceleram de forma grotesca um rítimo que já havia sido acelarado na Revolução Industrial, com as máquinas a vapor.
Agora o tempo é subordinado ao capital, os conceitos cristãos (ainda vivos) vão se desfigurar, e conceitos, como o judaíco, de divindade voltam mais uma vez a tona; o homem busca uma racionalidade que ele descarta (de forma errônea) no homem medieval, e sem compreender segue os mesmos rumos, com a única diferença que neste momento, o ceticismo, o atéismo, não são mais figurativos.
Afirmar Deus, como "bom" e "mau" trazia problemas para os teóricos cristãos que pretendiam defender a idéia da existência de Deus perante um número crescente de céticos. É por isso que, neste momento, mais uma vez essa concepção de um Deus "todo poderoso" é buscada.
Tolkien flerta com essa concepção exatamente por isso, ele não pode mais ter o "Bom Deus" da Idade Média, porém ainda pode ter o "deus imparcial", "todo poderoso", do passado cristão, que advém do judaísmo, e era repudiado pela cristande há muito.
É desta forma que Eru é caracaterizado, pelo meio social e moral no qual Tolkien viveu, e suas concepções, como um erudito, acerca do assunto.
Quanto a colocação de minha amiga Pê, infelizmente, pensando numa fluidez do debate que tenho de ostentar essa negação pelo
doxa, as idéias pobres, vazias.
Se todos simplesmente lerem todo debate, e disserem "é", "não é", em nada estarão nos ajudando, e apenas floodando. Já, caso a "opinião" seja ao menos embasada, temos novos caminhos, ou mesmo novas vertentes de idéias perante nós, que aí então podem ser lapidadas dentro do princípio da dialética, e nos ser útil.
Caso assim não o seja, viveríamos de "acho", "não acho", e tudo seria "pós-moderno", relativo!
Abraços.