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Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

A relação entre essa implementação no curso de medicina com o estágio de licenciaturas me soa bem distante, já que é consenso que o estágio das licenciaturas são elementos indispensáveis para a formação do professor, já no caso de medicina é uma mudança que nunca se pensou realmente necessária por aqueles que realizam e administram os cursos de medicina (fosse realmente necessária, teriam toda a liberdade de requerer isso de seus alunos), no fundo é nada mais nada a menos do que um serviço obrigatório implementado pelo governo em sua incompetência de atrair profissionais e de assim estabelecer um sistema de saúde minimamente satisfatório.
 
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Reactions: Pim
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

@Cantona

Não sou contra ações afirmativas (socio-econômicas), apenas não confio na capacidade do Estado de prover soluções de longo prazo para o problema. Nesse caso, acho improvável que as cotas sejam algum dia extintas, de modo que sempre vai vigorar o argumento da injustiça histórica. Sobre o liberalismo, seria necessário termos realmente vivido uma experiência liberal para fazer esse tipo de afirmação. Infelizmente esse não é o assunto central tópico, mas topo continuar o debate em qualquer outro espaço do fórum.

@Tópico

Obrigar médicos a trabalhar no SUS é autoritarismo e privação de liberdade individual. É jogar para a esfera individual algo que é atribuição da esfera pública. Acho errado falar que quem é contra a medida não tem consciência social. Os indivíduos tomam as melhores decisões individuais e é até possível que alguns sejam mais altruístas do que outros.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Acho interessante essa nova medida. Os médicos prestes a se formar ter que conviver com as dificuldades de hospitais públicos, em lugares mais afastados dará mais crédito/experiencia a formação deles. Será um novo aprendizado a acrescentar a formação. É bom também, por outro lado, porque estarão enviando mais médicos para que mais pessoas possam ter atendimento médico de qualidade. E isso tem muito valor.
Porém acho que mais dois anos na formação médica torna o curso muito cansativo. Por isso acho que antes de tudo, certos detalhes deviam ser repensados.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Eu acho que essa foi uma das melhores medidas políticas que eu me lembro de ter ter visto no Brasil durante a minha vida. Vou explicar alguns pontos

1 - Segundo dados da OMC, aproximadamente 80% dos casos de medicina se resolve com atendimento básico, sem infra, e não com grandes hospitais e CTI

2 - Os médicos estrangeiros (cubanos ou não, agora parece que serão de outros paises) tem apenas licenças provisórias, de 3 anos e limitada a região a qual foi designado. Mesmo para conseguir essa licença, ele será avaliado e supervisionado por uma universidade federal que é a mesma que revalidaria o programa

3 - Paralelamente, 2 anos de serviço no SUS (remunerado com salários que serão entre 3 e 8 mil - mais que a bolsa de residência) aliado a ampliação de 12 mil vagas em faculdades e medicina irão melhorar o problema no longo prazo, quando talvez, os médicos de fora não serão mais necessários e as licenças, por serem temporárias, não renovadas. É uma das primeiras vezes que eu vejo na vida um Governo pensar em uma solução de curto e longo prazo

4 - Se remunerado de forma adequada (Entre 3 a 8 mil, digamos que seja 5 mil) um recém formado, que combinemos, médicos conseguem ganhar mais mas nem de longe pode se reclamar de ser um salário ridiculo para alguém que acabou de sair da faculdade, eu concordo que o bem social é mais importante que o bem individual. Acho que, se fosse necessário fazer com outras profissões, incluindo a minha, também seria OK. O exemplo da Joy da professora pública, será que eles seriam contra se o salário fosse um salário justo, de digamos, 3 mil reais que fosse pra um recém formado em letras por exemplo.

5 - A medida, com certeza não resolve o problema da saúde. RJ, SP, CTB, BH, etc não tem falta de médico como principal problema, tem falta de estrutura. Mas talvez se as pessoas tivessem acesso a mais médicos, precisassem menos de utilizar as estruturas dos hospitais. Agora, quando se vai para o interior, é diferente. Conheço cidades que sim, não tem estrutura, lazer, educação para o filho, mas ficam a 50 minutos de uma cidade que tem, e nenhum médico quer ir pra lá pois é uma profissão que em geral paga-se bem mesmo nas cidades onde há muitos médicos.

6 - O fato de não resolver o problema de forma definitiva, não invalida o fato de que gera uma melhora considerável no sistema, e isso pra mim é mais importante do que qualquer choramingo da classe.

7 - E mais importante. Sim, cidades no Jibrocó do Norte não tem escolas, lazer, sei lá, saneamento básico. Isso significa então que eles não terão direito a médico até o dia em q isso mudar? Pq o Brasil não vai virar Suécia do dia pra noite. E até lá, além dos médicos brasileiros não quererem ir, não querem que outros médicos vão?

Os médicos reclamam da saúde, da estrutura e de tudo mais e estão certos. Mas qual a solução? Na prática, qual a proposta de vocês para melhorar a saúde? Investir mais, equipar hospitais, melhorar as estruturas da cidade até chegar num bom nível vai demorar pelo menos uns 20 anos se começassem agora. E até lá?

Li um texto que achei com trechos excelentes (outros nem tanto), de um médico (colombiano mas com diploma validado no Brasil) criticando inclusive o sistema de validação, notando que em um texte do CRMESP com médicos brasileiros menos de 50% foram aprovados no teste do Conselho. E que não há em todo estado de SP nenhuma instituição para revalidar o diploma. Corporativismo? Barreiras? Ein?

No final, que me desculpem os médicos daqui. Embora tenho inúmeros amigos médicos de quem gosto muito, quando se fala em reclamações classistas e trabalhistas, sempre me pareceram uma reinvidicação burguesa de uma classe alta triste com o fim das suas mordomias. Médico trabalha muito sim, principalmente os que dão plantão etc e merecem ser recompensados por isso. Mas se tiver o dobro de médico no país a tendencia é que precisem menos de jornadas de 60/70 horas das quais sempre reclamam para dar conta da saúde.

Colocam a culpa no sistema de quotas para os vestibulares dizendo que quem paga educação não tem mais chance de entrar na faculdade por serem Brancos ou de Escolas Privadas, como se tivessem direito a educação superior por ter dinheiro para pagar por ela. Se esquecem que eles sim, tem a opção de estudar em escolas públicas ou privadas, mas que o inverso não é válido. Declarações de que agora a vantagem é ser negro é de um racismo de classe A que não tem a MENOR IDÉIA do que é ser negro para saber que a nossa sociedade não os permite ter vantagens, tem-se no máximo, compensações.

O impacto da falta de algo tão básico quanto saúde pra mim a uma parte da população está acima da vontade de uma classe. Seja ela qual classe for.


**********

Editando:

Por ultimo, só respondendo para o Grimmir sobre a função do estado em "obrigar"

Bem, na minha opinião, de uma pessoa sem conhecimento científico de teorias sociais, é uma obrigação em parte. Em parte por que não obrigam aos atuais médicos a fazerem isso, em parte por que não obriga as pessoas a fazerem medicina e portanto trabalhar para o governo. As regras valem para estudantes que ingressam a partir de 2015 que já estão cientes, com 2 anos de antecedencia disso, deixando a eles, a liberdade de escolher outro caminho, embora sim, seja uma limitação de liberdade. Mas pra mim, é uma liberdade acordada com a sociedade, ou no mínimo, avisada, que dando a ela ainda a liberdade de fazer suas escolhas dali pra frente. Se vale de algo, temos uma eleição governamental antes da implantação desta lei, e cada a todos, num estado democrático, eleger alguém que não é a favor dessa regra.
 
Última edição:
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Fingol, a impressão que tenho ao ler a sua opinião é que você é favorável pq essa medida, do ponto vista pragmático, tem grande chance de resolver o problema. A questão é se o custo de privar os médicos do direito de escolher é maior ou menor do que o benefício social. Num primeiro momento a resposta pode parecer um óbvio "sim", só que eu acho que essa decisão abre um precedente perigoso do ponto de vista das liberdades individuais. Não estou dizendo que quem mora nas cidades do interior tem que morrer de desidratação ou qualquer outra condição solucionável com atendimento básico. É claro que não. Só que a partir do momento que foi definidido que a saúde é um direito de todos e o Estado deve garanti-lo, isso significa que o Estado, como gestor público, deve gerir os recursos público e prover soluções públicas. O que essa medida faz, no entanto, é obrigar os indivíduos a serem parte da solução público. Se isso parece um grito desesperado da classe média, bem, eu não acho que seja o caso. É um grito pela liberdade individual. Sem dúvida devem ter médicos cheios de opiniões preconceituosas, mas isso não significa que a medida do governo seja menos autoritária.

A pergunta que fica é pq até hoje o governo não conseguiu levar os médicos para interior. Será que faltam recursos? Até onde eu me lembro (não se estou confundindo as coisas ou falando besteira), o governo normalmente não gasta tudo o que está orçado para a Saúde. Isso significa que tem dinheiro sobrando? Na verdade, não. Isso significa que o falta capacidade de gestão pública desses recursos. Volto a perguntar: Pq faltam médicos no interior? Antes de querer resolver o problema, é preciso entender a sua causa. A medida que estamos discutindo aqui resolve o problema, é claro. É uma solução pragmática, no entanto. Eu não sei dizer, por exemplo, se o salário que o governo oferece pra trabalhar no interior é baixo ou se o risco de calote é tão alto que ninguém acredita nos salários oferecidos. Honestamente, eu acho uma loucura ignorar a questão do calote na análise. Esse risco só pode ser ignorado se for mínimo e para ter certeza disso, precisaríamos de uma opinião mais estruturada, né?
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Grimmir, vamos lá em partes...

1 - Eu não acho que a solução RESOLVE o problema. Eu acho que ela MELHORA o problema e é somente por isso que eu a defendo. Acho ainda que o Brasil cobra muito a solução final e sempre que há uma solução que resolve 50% ela é criticada simplesmente pq não resolve o todo. Na falta de soluções incrementais, ficamos sempre parados no mesmo lugar. Para mim a evolução é gradativa e incremental, não revolucionária e de ruptura. É o ditado que diz "O Bom é inimigo do ótimo". Se quisermos sempre ir na causa raiz e resolver o problema de uma vez por todas acabamos por quase nunca resolve-lo devido ao tamanho esforço para isso enquanto se optarmos por soluções mais simples que melhoram o GAP entre a solução atual e ideal diminui até o ponto que a solução ótima fica mais viável.

Isso não tira a responsabilidade do governo em ver as causas para as pessoas não quererem ir lá e trabalhar no que dá para melhorar. Uma delas, o calote das prefeituras, teve uma possível solução. Pagamento direto por verba da União via Ministério do Planejamento para evitar repasses e desvios de prefeituras.

A solução em mais longo prazo foi sugerida também. Dobrar o número de vagas em escolas de medicinas. Talvez em um mercado mais competitivo e menos "rico" como hoje, os salários do interior sejam mais vantajosos. Pedir mais estrutura no meio da Amazonia não é uma condição válida para médicos irem pra lá. Isso não vai mudar hoje nem amanhã. Temos q aceitar isso pq condicionar isso a ida de médicos ao local é decidir que não iremos resolver nada nos próximos 50 anos.

E por isso, colocar médicos lá, cubanos, portugueses, espanhois, angolanos ou de onde sejam, é para mim, a melhor medida de todas uma vez que preenche vagas que hoje são vazias e não mudam EM NADA a vida dos médicos atuais que prostestam, nesse caso, por puro corporativismo e reserva de mercado.

No que tange a obrigação do estagio no sus é uma discussão que eu admito ser sim mais delicada. Mas aqui também, não estamos falando de que você será obrigado a ir para Canaã dos Carajas. Há hospitais publicos nas grandes cidades e há sim, entre muitas outras coisas, falta de médicos ali. Na verdade, uma das coisas que mais ouço meus amigos médicos relatarem é o absurdo que é o número de atendimento de pessoas q tem de fazer para 1 ou 2 médicos, as vezes 1 médico e uns 2 academicos e olhe lá.

No entanto, há cerceamento de liberdade individual em praticamente qualquer lei. Nós homens somos obrigados a alistar para Serviço Militar Obrigatório e fica a cargo do governo dispensarmos ou não. Um governo pode ainda desapropriar um terreno que é seu para uma construção necessária por exemplo (abrir uma rua, fazer uma hidroelétrica, transpor um rio para levar água a população, etc).

Existe nesse caso, 2 direitos contraditorios, o direito a não só a Saúde, mas a Vida contra a liberdade individual. Hoje uma clinica já é obrigada por exemplo a atender alguém em emergencia ainda que não haja condições de pagar por se achar que o direito a Vida é superior a qualquer outro direito. Nesse caso para mim é uma situação dessa. A saúde, a vida, está acima da liberdade individual nesse caso, ainda mais que se as condições (salário e critério para escolhas em qual unidade trabalhar) para minimizar esse dano forem aceitáveis.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

A minha crítica não é pq essa não é uma solução final. Aliás, eu realmente imagino que essa medida represente uma melhora do problema, mas eu volto a perguntar: a que custo? Eu consigo imaginar uma dezena de medidas autoritárias que mitigariam vários problemas no país, mas todas com elevado custo do ponto de vista das liberdades individuais. Eu concordo plenamente com você: As soluções normalmente (pelo menos no mundo democrático) são lentas e graduais. E eu volto a perguntar: Pq nunca vimos uma solução lenta e gradual nos últimos anos (e não estou só falando do governo PT, antes que venham me chamar de tucano)? Pq os governos não conseguiram de forma eficiente convencer mais médicos a desalocarem pro interior. Acho sim que esse tipo de "raíz do problema" pode e deve ser questionada.

Fingol, eu não estou nem debatendo a questão da falta de estrutura em locais como o interior da Amazônia. Como você mesmo disse, "segundo dados da OMC, aproximadamente 80% dos casos de medicina se resolve com atendimento básico, sem infra, e não com grandes hospitais e CTI". Logo, a falta de estrutura nem é o problema mais crítico, pois o que falta mesmo é médico. E mais uma vez eu pergunto: Pq o Estado não consegue atrair médicos para esses locais? Será que é pq o salário não é alto o bastante? Será que é pq o salário é alto, mas ninguém acredita que ele será pago?

Eu não sou contra soluções de curto prazo não. Sou contra, isso sim, medidas de curto prazo que mascarem os problemas que impediram que política de longo prazo fossem implementadas no passado. Além disso, também sou contra políticas de curto prazo que transfiram para a esfera particular as responsabilidades da esfera pública. Você disse que essa obrigatoriedade de trabalhar no SUS não constitui uma privação da liberdade de escolha. Tenho sérias dúvidas sobre isso. Agora você diz para o estudante que se ele quiser ser médico ele pode, mas será obrigado a trabalhar no SUS. Se o sujeito não quiser, então ele não poderá ser médico. Parece sim um cerceamento de liberdade.

Ainda sobre a obrigatoriedade de trabalhar no SUS, você tem razão quando diz que há espaço para médicos nos hospitais das grandes cidades. Só que então não entendi nem a própria lógica da medida. Se as grandes faculdades estão nas grandes cidades e há necessidade de médicos nos grandes hospitais, então como o Estado pretende suprir a necessidade de médicos no interior? Se a medida diz que os médicos deverão trabalhar nos hospitais públicos de suas regiões, como que estados carentes e com poucas universidades se beneficiarão dessa medida? A não ser que eu tenha entendido alguma coisa errada, além da medida ser autoritária, ela também não faz muito sentido.

Finalizando, você também tem razão quando diz que toda lei gera alguma perda de liberdade individual. Eu preciso dizer que sou contra o alistamento obrigatório? Acho que não. Enfim, a questão é se os indivíduos estão dispostos a abrir mão de determinadas liberdade pelo benefício obtido por determinada lei. É óbvio que a vida é um bem precioso e, olha só, esse é justamente o trabalho dos médicos - salvar vidas. Só que acho que é injusto cobrar que o médico salve vidas sem ter condições de cuidar da própria. Por fim, volto a perguntar: Se a vida é um bem tão precioso, pq o Estado não conseguiu pensar em formas mais eficientes de levar médicos para o interior do país?
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Grimmir,

respondendo suas perguntas

Questão 1
Pq o governo não consegue formas mais eficientes pra levar médicos pro interior?

Bem, são vários motivos, muitos delas a Pim já disse aqui. Vamos listá-los

- Há falta de infraestrutura para os médicos trabalharem
- Há falta de educação e locais que os médicos desejam morar ou que seus filhos morem/estudem
- Há problemas de pagamento
- Há falta de segurança
- Há o fato de por serem locais mais pobres, o médico não queira morar lá.

E eu defendo q o médico tem o direito de não querer ir. Mas pq ele tem o direito de não querer que o Cubano, Espanhol ou Portugues que tope ir apesar disso tudo vá? Eu não quero nem quero q ninguém queira?

Desses fatores o calote está sendo resolvido, com a medida de pagamento direto via governo federal sem repasse as prefeituras. Pra mim o próximo foco deveria ser a segurança que é um pouco mais dificil. Hj tem se TENTADO fazer isso levando unidades do exercito junto com os médicos. Vamos ver se dá certo.

As demais variáveis não vão mudar. Não dá pra pensar que agora Santo Amaro do Maranhão vai ter investimentos mil e ser um lugar bom de morar, não vai. Logo, continua o fato de q não vai haver infra, educação ou boa moradia por lá. E apesar disso tudo, é preciso levar saude de alguma maneira.

A questão é, vc conhece algum médico q é fudido de grana? Q ganha tipo menos de 3 mil reais e não consegue pagar as contas da familia direito? Eu não conheço. Digamos que, baseado no pagamento do Programa Mais Médicos de 10mil esse seja um salário médio de um médico. Vc acha q ele vai preferir ganhar 10 mil em São Bernardo do Campo ou 20 mil em Santo Amaro do Maranhão? Vai ser preciso mudar toda infra de toda cidade brasileira pra atrair médicos pra esses lugares?

Será q com mais oferta de médicos não haveria um equilibrio maior na oferta e na demanda?

******
Questão 2

Se faculdades são nos centros, como levar esses médicos pra lá?

Bem, o governo anunicou a aberturda de 60 novos cursos em cidades q hoje não tem escolas de medicina.

*************

Bem, por ultimo mais dois dados apenas pra reforçar.

1 -
Qualquer pessoa que disser q não resolve mais médicos sem infra... tem um report da OMS aqui ó http://www.who.int/whr/2008/en/index.html. Fala de como o Irã por exemplo abaixou de 80 mortes por 1000 crianças pra menos de 20 mortes por 1000 crianças só com medicina básica.

Agora meu trecho favorito é

Caixa 4.1, pagina 69 "Em Cuba, a esperança média de vida à nascença é a segunda mais alta das americas. 78 anos. E somente 7,1 a cada 1000 crianças morriam antes dos 5 anos de idade. Cuba conseguiu isso apesar das dificuldades economicas significativas. Mesmo hoje, o PIB per Capita é somente 4,500 dolares por ano. (...) Cuba é o pais com maior proporção de médicos na população. A formação é priorizando o atendimento primário dando atenção específica aos determinantes sociais da saúde. Trabalham-se em equipes multidisciplinares em unidades de cuidado primario e presta serviços curativos e preventivos em proximade com a comunidade e o serviço social, intervendo na educação e em conjunto com os professores analisando TODAS as crianças 2x por ano."

2 -
O governo brasileiro tb assinou no dia 16 um acordo para implementar até o final do ano, a validação automática dos Engenheiros portugueses para aumentar a oferta de profissoinais técnicos em área de carencia no Brasil. Alguém viu algum engenheiro, algum CREA por aí protestando?

- - - Updated - - -

Uma correção pra fazer justiça. Esse relatório é de 2008. Esse ano Cuba ultrapassou o Canadá e tem o MENOR INDICE de mortalidade infantil das Américas: 4,6 mortes a cada 1000 crianças. Canadá tem 5 e EUA tem 7.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Sobre a questão 1:

A maioria dos fatores é de responsabilidade do governo e consequência da má gestão dos recursos públicos. De qualquer forma, eu concordo quando você diz que não necessariamente dá pra esperar que todos os problemas de infra sejam resolvidos primeiro. Isso, na prática, significa que o prêmio salarial deveria ser maior, justamente para compensar a falta de estrutura. Se o governo é incapaz de pagar os salários prometidos, isso é uma falta grave e demorou muito até surgir alguma tentativa de resolver isso (que também é um problema de gestão). Espero que as soluções que você citou ajudem a mitigar esse problema.

Sobre a questão da importação de médicos, eu realmente não tenho uma opinião totalmente formada. Eu penso o seguinte: Se o governo entender que já está oferecendo o máximo possível (e supondo inexistência do risco de calote), mas mesmo assim ninguém quiser ir pro interior, então a importação pode sim ser uma solução viável. O que é duro de aceitar é a importação de médicos antes de saber se o governo está realmente pagando o que promete e se esse valor é razoável.

Fingol, eu não conheço nenhum médico fudido de grana, mas todos os médicos que conheço trabalham nas grandes áreas do RJ. Não sei se essa sua pergunta pode ser extrapolada para a conclusão: Os médicos do Brasil vivem bem de grana, por exemplo (não que você esteja insinuando isso, é claro). Considerando o exemplo que você citou (São Bernardo e Santo Amaro), a minha resposta é: Depende do perfil do médico. Talvez um médico que já saiu de sua cidade pra estudar em outro estado e que não seja casado prefira Santo Amaro. Sei lá, parece que não temos muita base de comparação em função dos calotes. Eu apenas acho que faz sentido imaginar que médicos com perfis diferentes farão escolhas diferentes. Para alguns ganhar mais e trabalhar num lugar "pior" é a melhor escolha. E isso faz parte de deixar os indivíduos tomarem suas decisões livremente.

Eu também concordo contigo que com o aumento da oferta de médicos esse efeito seja reduzido.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Vai ser preciso mudar toda infra de toda cidade brasileira pra atrair médicos pra esses lugares?
Não. Qualquer cidade que queira atrair profissionais qualificados (não apenas médicos) terá que prover infraestrutura e qualidade de vida. Não tem muito choro aqui:
quem tem opção, trabalha onde tiver as melhores condições.

Questão tangencial: vocês perceberam como o nome do programa é hipócrita? Chamar de "Mais médicos" a algo que cria dificuldades adicionais, sem justificativa acadêmica, para a formação e torna a carreira médica menos atraente...
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Quando eu vejo gente formando em medicina e reclamando de salário, eu fico muito nervoso, pois o salario inicial de medico e praticamente o dobro do salario médio do brasileiro.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Não. Qualquer cidade que queira atrair profissionais qualificados (não apenas médicos) terá que prover infraestrutura e qualidade de vida. Não tem muito choro aqui:
quem tem opção, trabalha onde tiver as melhores condições.

Vc acha que o caminho é deixá-las sem saúde básica até elas proverem infra adequada?

Questão tangencial: vocês perceberam como o nome do programa é hipócrita? Chamar de "Mais médicos" a algo que cria dificuldades adicionais, sem justificativa acadêmica, para a formação e torna a carreira médica menos atraente...

Bem, isso é uma crença sua. Pois a meu ver, a procura dos cursos de medicina é tão elevada chegando muitas vezes a mais de 100 candidatos por vaga, que se dobrar as vagas cai pra 50, e se 80% disso desistir pelas barreiras, ainda dá 10 candidatos por vaga. Então me parece, que a profissão ainda será suficientemente atraente.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Questão tangencial: vocês perceberam como o nome do programa é hipócrita? Chamar de "Mais médicos" a algo que cria dificuldades adicionais, sem justificativa acadêmica, para a formação e torna a carreira médica menos atraente...

Tende ao populismo e pisa em necessidades técnicas. Se a comunicação lá em cima funcionasse (estão despreparados até para usar um sistema telefônico que é pouco seguro e com medo da espionagem) ele viria através do MEC (com dinheiro de vários ministérios) ou da Saúde (com dinheiro da vários ministérios) e seria um projeto elaborado sem pressionar diretamente o CNE. Nessa conta chama a atenção que algo fica faltando porque se for só pelo que fala a notícia alguém vai ter que obrigatoriamente abrir a carteira independente dos salários. Em razão de a simples liberação de salários ser um orçamento insuficiente. A bem da verdade até um projeto mínimo de mobilização municipal prevendo alguns litros de gasolina para os novos médicos já é considerado estruturação do município. Municípios que não tem nem ambulância para "dar carona" ao médico, nem farmácias 24 horas para dar conta dos pacientes...

Pela notícia, se o orçamento (ou fundo) prevê apenas um salário então vai furar o bolso de alguém igual o da copa. Começa sendo X, depois X + Y, até virar outro sangramento com médicos turistas, paramédicos de luxo que ficam em casa recebendo sem atender por medo de meter a mão em um hospital quebrado que pode dar em processo devido a responsabilidade que o médico assume publicamente... Quer dizer, o fantasma do calote ronda.
 
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Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

A vez dos pobres

Decisão de obrigar estudantes de medicina a servir ao SUS não é só correta e necessária - é fundamental para o processo civilizatório brasileiro

Em meio às atabalhoadas reações do governo às manifestações de rua, da constituinte exclusiva ao plebiscito natimortos, a presidenta Dilma Rousseff se saiu muito bem ao mexer na estrutura de dominação social brasileira com essa história de botar os formandos em medicina para trabalhar no Sistema Único de Saúde, a partir de 2015. Trata-se de uma discussão antiga e necessária, mas que, até agora, ninguém tinha tido coragem de levar adiante. Pela reação das corporações de médicos e da nação de coxinhas de jaleco que se manifesta nas redes sociais, sem falar nos suspeitos de sempre da mídia, tudo leva a crer que Dilma mandou muito bem nesse assunto.

Todo mundo sabe que, no Brasil, as universidades públicas sempre foram um privilégio da classe média e dos ricos, quadro que só foi levemente modificado na última década graças às políticas de cotas raciais e sociais implementadas, sobretudo, no governo Lula. Lembro que, durante os governos do professor, sociólogo, intelectual, PhD e, agora, imortal da Academia de Letras Fernando Henrique Cardoso, a criminosa expansão do ensino superior privado levou essa distorção ao paroxismo.

Na Era FHC, nenhuma universidade federal foi criada, mas, em contrapartida, milhares de fábricas de diplomas se espalharam pelo território nacional para, paradoxalmente, abrigar os estudantes pobres e trabalhadores. Pior, com um sistema de crédito estudantil bolado por uma tecnocracia cruel, neoliberal, que comprometia a renda do infeliz até pelo menos quatro anos depois da formatura. Nos anos 1990, chegou-se ao cúmulo de que, em certo momento, nas universidades federais, a grande discussão dos estudantes não era sobre a qualidade do ensino, mas a falta de vagas nos estacionamentos das faculdades!

Na contramão de muita gente, sou favorável ao serviço militar obrigatório, pois se todos usufruem da pátria, é também dever de todos defendê-la. Li e vivi o suficiente, em quase meio século de vida, para saber que a paz é um muro de cristal e o preço da liberdade, como diz o velho axioma, é a eterna vigilância. Acho, apenas, que a doutrina militar brasileira, encapsulada ainda na Guerra Fria, tem que ser revista e refeita para que o conceito de defesa nacional não esteja arraigado apenas ao uso da farda. No mais, não é justo que a massa de recrutas brasileiros continue formada quase que exclusivamente por meninos pobres e negros.

Também gosto de lembrar que o voto não é obrigatório no Brasil, mas, sim, o comparecimento às urnas. O cidadão pode ir lá, no local de votação, e não votar em ninguém, simples assim. As restrições a essa obrigatoriedade de deslocamento se parecem muito com a banalização da crítica aos parlamentos, baseada em palavras de ordem que escamoteiam o efeito manada embutido nesse tipo de manifestação. Isso porque não há um único parlamento brasileiro (municipal, estadual e federal) que não seja composto por políticos escolhidos em eleições livres. Se são todos corruptos e ladrões, o são, também, aqueles que os elegeram.

Não sei se a presidenta foi correta ao estender a obrigatoriedade de serviço ao SUS para os estudantes de medicina das faculdades privadas, embora não veja nisso nenhum bicho-de-sete-cabeças. Talvez fosse o caso de impor a regra somente àqueles que estudaram com bolsa do Estado, como os beneficiários do Prouni.

De qualquer maneira, o fato é que esse poderá ser o primeiro passo para a construção de uma nova e essencial cultura de solidariedade cidadã com resultados óbvios para o processo civilizatório nacional. Mais à frente, espero, será possível estabelecer regras para que todo formando de universidade pública seja obrigado, em algum momento de seu curso, ou mesmo depois de receber o diploma, a prestar algum serviço para a sociedade que financiou seus estudos.

Ah, e que venham, também, os seis mil médicos cubanos.

Fonte
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Pô, que texto ruim, hein, Morfs?

Pela reação das corporações de médicos e da nação de coxinhas de jaleco que se manifesta nas redes sociais, sem falar nos suspeitos de sempre da mídia, tudo leva a crer que Dilma mandou muito bem nesse assunto.

Olha a avaliação que o cara faz da medida. Nenhum argumento, nada que sustente seu ponto de vista. Nação de coxinhas? Corporações de médicos? Suspeitos de sempre da mídia? Usar isso pra justificar que a medida é boa?

E o texto segue num samba de crioulo doido danado, misturando um monte de assuntos, sem se aprofundar em nenhum.

Fala pra galera na Carta Capital que, se quiserem defender a medida, façam como o Fingolfin fez aqui, apresentando argumentos, ideias, dados - e não misturando um monte de coisas e se apoiando em argumentos tão rasos e sem sentido como o daí de cima.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Fraquíssimo esse texto da Carta Capital.

Todo mundo sabe que, no Brasil, as universidades públicas sempre foram um privilégio da classe média e dos ricos, quadro que só foi levemente modificado na última década graças às políticas de cotas raciais e sociais implementadas, sobretudo, no governo Lula.

A pergunta relevante aqui é: Pq as universidades públicas são privilégio da classe média e dos ricos? Pq eles pagam por fora pra entrar? Não. Pq eles usam do tráfico de influência pra entrar? Não. Pq eles estudam em escolas privadas que são melhores do que as públicas? Sim. A classe média e dos ricos está fazendo alguma coisa errada em colocar seus filhos em escolas melhores e aumentando a chances deles entrarem nas faculdades públicas? Não. Se é pra culpar alguém, culpe o Estado que não oferece ensino básico e fundamental de qualidade para os pobres.

Lembro que, durante os governos do professor, sociólogo, intelectual, PhD e, agora, imortal da Academia de Letras Fernando Henrique Cardoso, a criminosa expansão do ensino superior privado levou essa distorção ao paroxismo.

Como já disse, acho ótima a iniciativa de expandir o ensino superior privado (obviamente mediante controle de qualidade). Primeiro pq o Estado não tem que monopolizar o ensino (ou doutrinação) do ensino superior. Segundo (e muito mais importante) o Estado gasta mal em Educação, pois o gasto público por aluno é muito menor no ciclo básico do que no superior. Aliás, curiosamente, esse argumento guarda uma relação direta com o primeiro problema: Se o Estado gastasse melhor o dinheiro da Educação, talvez os pobres tivessem um ensino público de melhor qualidade e consequentemente mais chances de entrar na faculdade pública.

Gasto público por aluno é muito menor no ciclo básico
Naercio Menezes Filho: Mais Gastos com Educação?

Não sei se a presidenta foi correta ao estender a obrigatoriedade de serviço ao SUS para os estudantes de medicina das faculdades privadas, embora não veja nisso nenhum bicho-de-sete-cabeças. Talvez fosse o caso de impor a regra somente àqueles que estudaram com bolsa do Estado, como os beneficiários do Prouni.

De qualquer maneira, o fato é que esse poderá ser o primeiro passo para a construção de uma nova e essencial cultura de solidariedade cidadã com resultados óbvios para o processo civilizatório nacional. Mais à frente, espero, será possível estabelecer regras para que todo formando de universidade pública seja obrigado, em algum momento de seu curso, ou mesmo depois de receber o diploma, a prestar algum serviço para a sociedade que financiou seus estudos.

Se valesse apenas para as faculdade públicas, o efeito óbvio (e tido como "indesejável", não sei pq) é que os melhores alunos e professores gradualmente migrariam para o ensino superior privado para fugir desse autoritarismo.
 
Última edição:
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Fraquíssimo esse texto da Carta Capital.

A pergunta relevante aqui é: Pq as universidades públicas são privilégio da classe média e dos ricos? Pq eles pagam por fora pra entrar? Não. Pq eles usam do tráfico de influência pra entrar? Não. Pq eles estudam em escolas privadas que são melhores do que as públicas? Sim. A classe média e dos ricos está fazendo alguma coisa errada em colocar seus filhos em escolas melhores e aumentando a chances deles entrarem nas faculdades públicas? Não. Se é pra culpar alguém, culpe o Estado que não oferece ensino básico e fundamental de qualidade para os pobres.

Como já disse, acho ótima a iniciativa de expandir o ensino superior privado (obviamente mediante controle de qualidade). Primeiro pq o Estado não tem que monopolizar o ensino (ou doutrinação) do ensino superior. Segundo (e muito mais importante) o Estado gasta mal em Educação, pois o gasto público por aluno é muito menor no ciclo básico do que no superior. Aliás, curiosamente, esse argumento guarda uma relação direta com o primeiro problema: Se o Estado gastasse melhor o dinheiro da Educação, talvez os pobres tivessem um ensino público de melhor qualidade e consequentemente mais chances de entrar na faculdade pública.

Se valesse apenas para as faculdade públicas, o efeito óbvio (e tido como "indesejável", não sei pq) é que os melhores alunos e professores gradualmente migrariam para o ensino superior privado para fugir desse autoritarismo.

O Estado não investe em educação básica porque não está preocupado com o saber, só com a escolarização e formação de mão de obra. O ensino, vou insistir, repete a divisão social do trabalho. Ele é ao mesmo tempo homogêneo, na medida que precisa reproduzir a ideologia dominante, e heterogêneo, já que a formação tem o intuito de criar as forças que alimentarão os diversos cargos no mecanismo de produção capitalista. Assim, é necessário tanto o executivo que saíra do Colégio Bandeirantes, quanto o encarregado de estoque, que virá de alguma escola estadual distante (é claro que com isso, devemos levar em consideração o sujeito, sob o risco de cairmos num fatalismo: o jovem da periferia tem condição de superar o ciclo de pobreza. Mas as estatísticas mostram uma relação muito grande entre condição social familiar e sucesso escolar).

Assim, o Estado é culpado, realmente. Porém muito mais é o mercado, a quem ele se submete. E se submete a tal ponto, que além da doutrina - que é a do mercado -, larga na mão dos empresários da educação o ensino que é sua responsabilidade.


Trata-se de uma discussão antiga e necessária, mas que, até agora, ninguém tinha tido coragem de levar adiante. Pela reação das corporações de médicos e da nação de coxinhas de jaleco que se manifesta nas redes sociais, sem falar nos suspeitos de sempre da mídia, tudo leva a crer que Dilma mandou muito bem nesse assunto.

Eu considerei essa a melhor sacada do texto. Basta uma medida de cunho social para a Veja, Folha de São Paulo, UOL, Globo, etc, - juntamente com as classes dominantes a que respondem -, dourarem o discurso para garantir os privilégios.

No mais, os argumentos que o autor apresentou ou deixou de apresentar foram tão "profundos" quanto as negativas da classe médica.
 
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Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Não sei quais são as negativas da classe média e honestamente não estou muito interessado em saber de onde vem os argumentos para criticá-los. Estou interessado em argumentos e os meus continuam os mesmos.

Obrigar médicos a trabalhar no SUS é autoritarismo e privação de liberdade individual. É jogar para a esfera individual algo que é atribuição da esfera pública. Acho errado falar que quem é contra a medida não tem consciência social. Os indivíduos tomam as melhores decisões individuais e é até possível que alguns sejam mais altruístas do que outros.

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Aliás, se o governo realmente acredita que tem esse direito, que exerça esse autoritarismo apenas nas faculdades públicas (e para todos os cursos, é claro, por uma questão de justiça), mas que esteja preparado para uma debandada para faculdades privadas.
 
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Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

O Estado não investe em educação básica porque não está preocupado com o saber, só com a escolarização e formação de mão de obra. O ensino, vou insistir, repete a divisão social do trabalho. Ele é ao mesmo tempo homogêneo, na medida que precisa reproduzir a ideologia dominante, e heterogêneo, já que a formação tem o intuito de criar as forças que alimentarão os diversos cargos no mecanismo de produção capitalista. Assim, é necessário tanto o executivo que saíra do Colégio Bandeirantes, quanto o encarregado de estoque, que virá de alguma escola estadual distante (é claro que com isso, devemos levar em consideração o sujeito, sob o risco de cairmos num fatalismo: o jovem da periferia tem condição de superar o ciclo de pobreza. Mas as estatísticas mostram uma relação muito grande entre condição social familiar e sucesso escolar).

Assim, o Estado é culpado, realmente. Porém muito mais é o mercado, a quem ele se submete. E se submete a tal ponto, que além da doutrina - que é a do mercado -, larga na mão dos empresários da educação o ensino que é sua responsabilidade.

O Estado não fornece educação/saúde de qualidade, e o culpado por isso é o mercado? :think:

O Estado cria privilégios, distorce o mecanismo de preços, é extremamente ineficiente nos gastos e é capturado por interesses particulares (o que é muito diferente de mercado, veja bem) e a culpa disso é.... do mercado?


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Mais diretamente sobre o tema do tópico: é aquilo que o Grimnir já explanou muito bem. O Estado, em sua incapacidade de fornecer serviços de saúde de qualidade fora dos grandes centros, resolve usar de uma medida autoritária para forçar uma solução, sem compreender a causa do problema.

Aliás, fechar os olhos para as causas é prática recorrente na definição de políticas públicas. Querem um exemplo? Recentemente fiz um breve levantamento sobre as características dos domicílios do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul quanto à estrutura de saneamento. E descobri que apenas 35,8% dos domicílios têm acesso à saneamento adequado (rede geral de esgoto ou pluvial e fossas sépticas). Os outros 64,2% utilizam fossas rudimentares, valas ou despejam diretamente em rios/lagos. Some-se a isso o ponto de que o investimento em saneamento poupa mais do proporcionalmente os gastos em saúde, e fica evidente o que eu quero dizer.


Outra coisa: essa ideia toda tem ares de medida imediatista, mas na real só vai entrar em prática daqui quase uma década. Ora, nesse período de 8, 9 anos tem tempo suficiente pra investir em melhores estruturas e fornecer condições mais atraentes aos profissionais. Mas bem, com as ideias de austeridade fiscal batendo forte na porta dos governos, qualquer corte de gastos é bem-vindo. E pra quê gastar tanto pra fornecer melhores condições se é mais barato forçar o pessoal a ir trabalhar lá, né?


Se fala em uma justificativa do tipo "retorno do investimento que o governo fez no indivíduo". Ora, uma vez que o governo decida fornecer educação pública, ele está investindo em todos os indivíduos dentro desse sistema. Logo, dentro dessa lógica, a ideia de obter uma contrapartida deveria ser aplicada a todos. Mas não é, por que certamente o governo não tem interesse nos serviços de todos os ramos profissionais dos futuros formandos. Aí ele resolve atacar a liberdade daqueles profissionais cujo serviço lhe é mais desejado, sob essa pretensa justificativa. Se fosse pra seguir uma lógica moral, valeria para todos, não apenas a uma classe. Ou seja: é mais uma vez o governo querendo consertar um problema tomando atalhos, usando de paliativos e ferindo a liberdade individual.

Ainda sobre o ponto do tal "retorno do investimento": engraçado como o fato de se ter o profissional formado e atuando no mercado de trabalho, pagando impostos e muitas vezes empregado outras pessoas não é encarado como um retorno, né?
Some aí o que um médico paga só de imposto de renda ao longo da vida e eu lhes garanto que mais do que cobre os gastos que o governo teve com a educação ele.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Perfeito, Fëanor.

Encontrei uma notícia relacionada com algo que falei anteriormente.

Até onde eu me lembro (não se estou confundindo as coisas ou falando besteira), o governo normalmente não gasta tudo o que está orçado para a Saúde. Isso significa que tem dinheiro sobrando? Na verdade, não. Isso significa que o falta capacidade de gestão pública desses recursos.

Ministério da Saúde executa apenas 50% do orçamento de 2012 (Esse problema é recorrente, apenas do título da matéria falar sobre o orçamento de 2012)

Enfim. O Estado é deficiente na gestão pública e portanto não consegue gastar o que orçou para a Saúde (mas o valores orçados continuam elevados, pois isso gera boa propaganda). Além disso, é incapaz de oferecer os incentivos corretos para os médicos com o perfil adequado optarem pelo setor público (especialmente no interior do país). A solução, portanto, é o autoritarismo mascarado sob a égide do "bem maior para a Nação".
 

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