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Programa Mais Médicos

Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Cantona, achei seu post generalista e preconceituoso.

Não é todo (sequer a maioria) médico que entra na profissão pensando em dinheiro, como também é balela dizer que "Medicina é um sacerdócio". Acredito piamente que as intenções estejam equilibradas; cerca de 60% dos meus colegas de turma (estou neste grupo) exercem a Medicina com prazer/cuidado, mas também se preocupam com remuneração adequada, 20% são mais administradores financeiros que médicos e os outros 20% são só coração e doação em detrimento deles próprios e suas famílias. Vejo este padrão se repetindo em turmas abaixo e acima da minha, pelo menos na UFF. Nas faculdades particulares essas porcentagens mudam, mas não fica tão diferente assim não. Ao taxar os estudantes de Medicina como "tanto faz USP ou Unip, eu quero é ser médico" você mostrou completa ignorância do que realmente acontece e do perfil dos ingressos nas faculdades públicas e particulares.

Sobre cotas, estava conversando domingo com um professor da Uerj que me disse que lá o nível do pessoal caiu muito com a implantação das cotas, e não era por serem negros ou pardos e sim por não conseguirem de fato acompanhar a quantidade avassaladora de informações novas e complexas ministradas. Lá existem cotas há 10 anos e ele disse que, no começo, via a galera mais fraca, achava que era preconceito e forçava um up regulation, mas que as outras turmas vieram pra confirmar suas impressões. Uma amiga passou este ano para a residência de Clínica Médica lá e disse que tem muita gente muito boa ao lado de aluno que tá no último período da faculdade e não sabe interpretar exames complementares básicos. A culpa disso é gente entrando com 50% da prova de vestibular enquanto pessoas com 80% ficam de fora, só pro governo pagar uma 'dívida social'. Hellow, né, dá bônus pra escola pública, tem gente boa ali subaproveitada, mas cor de pele é sacanagem.

Pim,não foi minha intenção ser generalista ou preconceituoso. Lembro de me referir a maioria dos médicos, o que não quer dizer todos. E digo maioria, também, quando me refiro aos vestibulandos de medicina e suas intenções. Óbvio que não formulei nenhum dado estatístico, afinal não cursei medicina, de modo que sua percepção é maior. Porém, como a grande maioria aqui, sou paciente e, misturando minhas impressões com a sua porcentagem, posso dizer que acontece alguma coisa depois que o sujeito pega o diploma. Afinal, se nas graduações cerca de 80% tem uma visão humanista da coisa, em que parte se tem a guinada pra esnobação monetária e de posição? Acredito que aqueles que usam hospital, público ou privado, concordem comigo: a maioria dos médicos são de uma má vontade enorme, além do jeito esnobe de quem paira acima do bem e do mal. São médicos de diploma e só. Tudo bem, tudo bem, o sistema é falido, ele acaba com qualquer boa vontade. Só que a responsabilidade é de todos os envolvidos, a autocrítica, como já disse, está aí.

E também não acredito em sacerdócio, pois pra viver se paga boleto. Mas, calma lá, nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

Sobre as cotas... a cor da pele não é sacanagem. Ela virou sacanagem quando resolveram (por meio de conquista dos movimentos negros e indígenas, não de dádiva governamental) sair do discurso burguês de democracia racial e atuar concretamente nas oportunidades. Mexer com privilégios dá isso, chororô.

Na boa, vejam os videos abaixo. Não dá para vivermos eternamente de argumento históricos.




Já eu digo o contrário: É triste imaginar um mundo em que o ensino superior é monopolizado pelo Estado. O que não quer dizer, obviamente, que o ensino superior privado não seja regulado, com o objetivo de garantir a qualidade e evitar a criação de vendedores de diplomas.



Em qual parte do Juramento de Hipócrates é dito que o médico deverá sacrificar as suas próprias necessidades para salvar o mundo? No mais, a Pim falou tudo.

Todo argumento ou o que quer que seja, quando social, é histórico. Até a falácia de que o cotista não acompanha o rendimento dos demais é histórica, pois resgata a mentalidade das elites de antes - que em sua grande maioria são as mesmas de hoje - , quando vomitavam que o atraso nacional se devia, não a sua sanha, mas a indolência do negro e do índio. Tudo é História. Inclusive as argumentações dos vídeos que você postou: possuem lastro e não são naturais.

Na questão do ensino, o mercado visa lucro, não formação. Tirando algumas poucas, todas as particulares são caça-níqueis vendedoras de diplomas e tablets.

Sobre Hipócrates, é o que já comentei: nem tanto ao céu, nem tanto à terra.
 
Última edição por um moderador:
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Cada estado regula de uma forma distinta. Aqui no RJ considera-se estágio não remunerado. Seja em pública ou particular. Entenda, vc pode conseguir estágio remunerado, mas é mais difícil.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Pode mesmo? Eu não conheço ninguém que fez, e mesmo como estágio, na rede pública se você pega vaga como atribuinte vc recebe por hora-aula (depois de 3 meses dando aula de graça, recebe tudo retroativo, mas recebe). Pelo menos é assim na rede do Estado de SP

Pode sim. Antes de Medicina eu fiz um ano de Matemática na Unesp e minhas veteranas faziam estágio tanto no cursinho do próprio IBILCE (o câmpus da Unesp), público e meio que voltado pra ingressar na Unesp, quanto nos cursinhos particulares como Anglo e COC.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

O que me irrita é que ninguém ataca a causa, sempre as consequências.
Isso!

Entendi....entao a solucao eh transformar o Brasil inteiro em uma metropole unificada, com estrutura em cada centimetro quadrado.

Como nunca pensamos nisso antes? :D
É triste reconhecer a isca e mordê-la mesmo assim mas, não, o que falta é estrutura para estes médicos, que pode muito bem existir fora das metrópoles. Coisas como um hospital dimensionado para a demanda de atendimento local, equipamento e suprimentos disponíveis conforme a necessidade, laboratório para os exames comuns, equipes auxiliares (a necessidade vai de enfermeiras, farmacêuticos e motoristas de ambulância ao pessoal da limpeza), estrutura de comunicação adequada, uma rede de postos de saúde para cuidar de casos mais triviais evitando sobrecarga no hospital (com todas as suas próprias necessidades) e possibilidade de encaminhar a centros especializados os casos mais complexos -- e só os complexos: não deveria haver transferências por mancadas como "o hospital da ponte que partiu não tem gaze".

Nada disso precisa de uma metrópole para existir; a atitude "forçar os médicos a trabalhar onde o governo quiser pelo salário que ele definir" não resolve nada disso.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Todo argumento ou o que quer que seja, quando social, é histórico. Até a falácia de que o cotista não acompanha o rendimento dos demais é histórica, pois resgata a mentalidade das elites de antes - que em sua grande maioria são as mesmas de hoje - , quando vomitavam que o atraso nacional se devia, não a sua sanha, mas a indolência do negro e do índio. Tudo é História. Inclusive as argumentações dos vídeos que você postou: possuem lastro e não são naturais.

Na questão do ensino, o mercado visa lucro, não formação. Tirando algumas poucas, todas as particulares são caça-níqueis vendedoras de diplomas e tablets.

Sobre Hipócrates, é o que já comentei: nem tanto ao céu, nem tanto à terra.
:yep:


Faltam médicos em várias regiões do país (fato) e o governo federal precisava tomar a iniciativa e fazer algo. Se agradou ou não cabe debater e propor alternativas e não apenas criticar raivosamente. Até agora vejo muitas argumentações por parte da classe médica (nem todos, claro) que dão a entender mais como uma preocupação de reserva de mercado do que realmente propor medidas que visem realmente melhorar a saúde pública.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Todo argumento ou o que quer que seja, quando social, é histórico. Até a falácia de que o cotista não acompanha o rendimento dos demais é histórica, pois resgata a mentalidade das elites de antes - que em sua grande maioria são as mesmas de hoje - , quando vomitavam que o atraso nacional se devia, não a sua sanha, mas a indolência do negro e do índio. Tudo é História. Inclusive as argumentações dos vídeos que você postou: possuem lastro e não são naturais.

Tudo é História. E daí? Se tudo é História, isso significa que podemos usar eternamente o argumento da "dívida histórica"? Esse é o meu ponto.

Na questão do ensino, o mercado visa lucro, não formação. Tirando algumas poucas, todas as particulares são caça-níqueis vendedoras de diplomas e tablets.

Acho que ninguém aqui vai negar que há faculdades privadas que exatamente o que você falou. Só que isso não significa que permitir a criação de faculdades privadas tenha sido má ideia. Como qualquer outro negócio, é preciso regulação e controle de qualidade.

Agora, esse papo de só falar que o mercado visa lucro é muita miopia na argumentação. Se você pensar que uma empresa ou uma faculdade querem maximizar o lucro não apenas hoje, mas futuro, vai chegar a maravilhosa conclusão que existe uma coisa chamada "reputação". No caso das faculdades privadas, isso significa que há o incentivo para elas garantirem a melhor formação possível, de modo a colocar os seus estudantes nas melhores posições possíveis no mercado. Tudo isso em nome do terrível lucro. Quanto pecado! O horror, ó, o horror!

Há faculdades privadas boas e ruins e talvez o governo não seja ainda tão eficiente para evitar que que as ruins se criem. O mercado certamente faz a sua parte, reduzindo o valor dos diplomas dessas faculdades.

Sobre os videos que postei, apenas acho que são uma forma de refletir sobre o assunto das ações afirmativas sem ficar na mesma lenga-lenga de "dívida história do homem branco". Ninguém duvida que o negro foi oprimido por séculos. Só que o debate pode ir um pouco além disso.

Enfim, esse nem é o assunto do tópico, mas achei relevante falar isso.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Para completar a licenciatura, muitos alunos vão dar aulas em escolas publicas.

mas você concorda que "muitos alunos" não implica em "todos os alunos", nem em obrigatoriedade, né. meu problema é com a obrigatoriedade da coisa, ainda mais considerando que vale para o brasil todo e, pior, com peso de diploma. uma coisa é você estagiar porque quer alguns créditos no currículo (mas tendo a opção de ignorar 'x' opções e estagiar em outras 'y'). outra completamente diferente é o governo te dizer que para você se formar você TEM QUE fazer x horas de estágio no lugar y, desconsiderando a diferença gritante que se dá de uma região para outra em termos de educação e mesmo da suposta necessidade de estudantes no sus.

das tretas que podem dar eu fico pensando no que aconteceu quando eu era caloura de jornalismo: a puc pr tinha um acordo com a gazeta do povo (jornal local) e para os calouros era ofertada essa possibilidade de estágio já no primeiro ano. só que eram 70 alunos no curso. lógico que a gazeta não tinha lugar pra toda essa gente, no máximo cinco conseguiam lugar lá. e aí? bom, dane-se, não era obrigatório, era só para experiência mesmo. mas e se teu diploma depende disso? se numa cidade tiver lá uns cinco cursos de medicina, com 70 alunos em cada. vai ter lugar pra tanta gente que vai sair precisando desses dois anos de trabalho no sus?

outra, pensando no que poderia acontecer se o modelo fosse aplicado aos professores. aqui no paraná (e provavelmente em outros lugares, mas vamos tomar o paraná como exemplo porque sei do que estou falando), o governo não tem professor concursado o suficiente para atender a demanda nas escolas públicas. aí criam vagas temporárias. você chega lá com 'x' horas de aula na disciplina que pretende lecionar e buenas, fica com a turma. lógico, vai ficar com as piores escolas, porque os concursados vão ficar com o biscoito fino, escolas da região central, deusolivre dar aula em colombo etc etc etc. "ah, novato tem mais é que se ferrar, para ficar calejado". eu discordo, mas vamos continuar que o problema não é esse. o problema é que, DE NOVO, a demanda é grande, mas é finita. então quem quer dar aula como pss passa por um processo seletivo onde currículo e experiência são avaliados. aqui o problema de novo, se de repente fosse uma obrigatoriedade para ter o diploma: quem não "passar" nesse processo seletivo, fica pra se formar no ano que vem?

enfim, como disse antes, meu problema é o caráter obrigatório da coisa. se fosse algo que funcionasse como bônus (sei lá, trabalhar no sus vale o dobro e vc precisa passar menos tempo na residência ou algo assim), veria alguma vantagem. mas desse jeito eu só prevejo treta. isso para não falar da insatisfação dos estudantes de medicina, filhinhos de papai ou não (ou vcs acham que o cotista vai ficar feliz por saber que tem dois anos a mais na formação agora?).
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Entendi....entao a solucao eh transformar o Brasil inteiro em uma metropole unificada, com estrutura em cada centimetro quadrado.

Como nunca pensamos nisso antes? :D

@grim
Chegando em casa eu respondo com mais tranquilidade

Não precisa ser uma metropole unificada, e sim ter pelo menos infra-estrutura, como por exemplo, estradas asfaltadas, casas com rede de esgoto, ate mesmo uma boa forma de comunicação. Ja tentou usar internet no norte de Minas? Tem lugar no Brasil que mal tem energia elétrica direito, isso eu chamo de infra-estrutura básica, veja bem, não estou falando de shoppings centers, ou mega teatros não, é básico mesmo.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Acho impressionante como essa questão da obrigatoriedade é subestimada nesse tópico. Como se fosse pouca coisa você tirar a liberdade de escolha dos indivíduos em nome do "interesse nacional" ou do "bem social". Na primeira página do tópico foi dito o seguinte pelo Amon:

As decisoes individuais das pessoas nao necessariamente sao as decisoes mais prosperas para o grupo. O estado existe, inclusive, pra administrar esse problema que remonta o inicio da existencia do ser humano como ser social.

Realmente, você tem razão. As funções básicas do Estado passam por "protecting each of us from coercion by our fellow citizens, adjucating our disputes, and enabling us to agree on the rules that we shall follow" (Milton Friedman). Em nenhum momento isso significa que o Estado pode administrar os problemas como um grande Planejador Social que aloca as pessoas onde quiser e achar melhor. Se o Estado tem um plano de trabalho, deve oferecer os incentivos corretos para que as pessoas tomem as decisões que ele julga que sejam as melhores. Obrigar? Jamais. É um princípio democrático e libertário muito simples.

Acho difícil alguém defender que o pobre não tem direito a saúde (infelizmente eu tenho que falar essa obviedade, antes que alguém venha falar "coitada da classe média"), mas isso não significa que o Estado tenha de forçar as pessoas na direção do que julga como certo. O objetivo final é correto, mas a execução é lamentável. O próximo passo, é claro, será obrigar engenheiros a trabalhar nas obras do PAC, economistas a fazer análises apoiando as políticas econômicas do governo, professores de educação física a treinar os atletas para as Olimpíadas e etc. Tudo pelo bem do coletivo.

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Claro, essa solução do governo não tem nenhuma relação com a crescente desaprovação das políticas de saúde, né? Tudo faz parte do plano.
 
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Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

É como eu disse, ataca a consequência e não a causa.

Não existe uma vontade de se estudar a pergunta por que médicos não querem ir para o interior? e muito menos o complemento, mesmo com salários tão altos.

O problema na saúde, é a mesma na educação, a mesma na comunicação e etc, não se faz nada sem estrutura, não adianta ter os melhores médicos e professores, se o sujeito tem um esgoto correndo correndo do lado da casa dele, e tem que fazer seus filhos andarem quilômetros em estradas de terra para ir numa escola que mal ter carteira pra sentar.
 
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Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Uma coisa, eu (ênfase no eu) não vi nenhum medico falando em melhorar infra-estrutura de lugar nenhum, eles não querem os médicos cubanos e nem querem ir lá pra pqp no sertão dos nordeste ou no meio da floresta amazônica. Só começaram a falar em melhorar infra-estrutura das cidades periféricas quando quiseram ser contra os médicos cubanos (mas o engraçado é que ninguém fala nos portugueses, espanhóis e argentinos) irem para esses lugares. Pois um dos argumentos é que se tiver estrutura eles vão, e até os cubanos vão voltar quando chegarem num lugar sem infra-estrutura, mas os médicos cubanos vão pra zona de guerra, pra lugar que não tem sistema de esgoto etc. Eles fazem o trabalho deles em situações sem infra-estrutura, então eles sabem no que vão se meter. Cuba não tem o lucro como alvo. Eles tem que se virar por causa do embargo e olhem pra saúde de lá. Eles não tem infra-estrutura.

Os médicos brasileiros têm medo de quê?

Médico colombiano e com diploma devidamente revalidado no Brasil escreve sobre a postura reativa da categoria à vinda de profissionais cubanos

A exploração por parte do capital é uma novidade para o grêmio médico no Brasil. Recentemente um dos setores mais conservadores da sociedade viu sua condição de profissão liberal ser extinta pelos operadores dos planos de saúde que exploram a mais-valia obtida através da prestação dos serviços. Assim, aqueles que foram selecionados através de provas excludentes nas escolas de medicina e que sonham algum dia virar burgueses estão hoje na rua para lutar por reivindicações trabalhistas. Sim, os médicos agora fazem parte da classe trabalhadora, mesmo que não tenham consciência dessa nova relação com os meios sociais da produção.

No site dos Conselhos Regionais e do Conselho Federal de Medicina aparecem destacados apelos mais apropriados para sindicatos que para órgãos fiscalizadores de uma profissão, hipertrofiando sua função secundária de zelar “pela valorização do profissional médico”.

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Mobilizações para exigir aumento dos honorários pagos pelos planos de saúde e campanhas para promover carreira de Estado são pautas frequentes nesses órgãos durante os últimos meses. Isso demonstra que os temas trabalhistas ganharam uma notoriedade insuspeita dentre os médicos.

Mas a última dessas batalhas do grêmio médico é, de longe, a mais complexa: o convite a médicos estrangeiros para trabalhar no território nacional. Esse assunto é particularmente sensível porque atinge ao mesmo tempo o status outorgado pelo ingresso às escolas médicas, posturas políticas, questionamento da liderança e o temor de concorrentes novos no mercado de trabalho.

O ingresso às escolas médicas no Brasil acontece através de um penoso processo que visa excluir aqueles provenientes de camadas com menores recursos e oportunidades. Na visão oposta, trata-se da seleção dos “melhores”, como se nessa lógica inversa a qualidade de um médico fosse garantida pela seleção que teve para entrar, e não pela formação adquirida dentro da escola médica.

Os médicos estrangeiros representam um desafio a esse paradigma: muitos países têm processos de seleção muito mais acessíveis para o ingresso. A seleção real acontece dentro da escola de medicina. Os alunos são constantemente avaliados, reprovados e jubilados, se necessário, durante o processo de formação médica. Diferentemente do que acontece no Brasil, entrar na escola de medicina não significa que o aluno será médico seis ou sete anos mais tarde.

A ênfase em outras latitudes é dada ao resultado final da educação; mais que o exame de ingresso, a avaliação crucial está na saída. Aqui, só o Conselho Regional de Medicina de São Paulo, CREMESP, avaliou os formandos de forma obrigatória em 2012. Menos da metade dos médicos foi aprovada nesse exame.

Mas não há consequências. O exame documentou a falsidade do mito de seleção dos “melhores”, inclusive com um terço dos egressos de faculdades públicas reprovados, mas o mito permanece intacto. As paixões exacerbadas contra médicos brasileiros formados no exterior, particularmente em Cuba, estão relacionadas ao fato de eles encontrarem um atalho para ultrapassar a barreira de entrada nas faculdades de medicina.

A seleção de candidatos brasileiros para ingressar nas escolas de medicina para estrangeiros em Cuba foi canalizada no Brasil por movimentos sociais e partidos políticos ligados à esquerda. A ascensão do governo comandado por Luiz Inácio Lula da Silva foi a esperança dos egressos de Cuba que queriam regularizar sua situação no país.

A resposta dos médicos não se fez esperar: as portas desses que não foram submetidos à seleção das faculdades brasileiras foram fechadas pelas próprias faculdades via revalidação.

Com algumas exceções, as universidades públicas, obrigadas por lei a atender essas revalidações, se omitiram, não respondiam ou criavam penosas vias sacras para quem ousasse seguir em frente com o processo.

Os médicos formados no exterior formaram um curioso bando de peregrinos que se encontravam em cada estado que finalmente voltava a receber a documentação ou realizava uma prova. A pressão dentro dos próprios aliados de esquerda do governo fez com que os ministérios da Saúde e da Educação criassem uma alternativa à qual podiam se adequar às universidades públicas para padronizar a revalidação.

O viés da primeira edição do exame, em 2010, foi vergonhoso. Chamado de Revalida, o exame acontece em duas etapas, uma teórica e outra prática. O nível de dificuldade foi tão grande que só dois, entre mais de 600 inscritos, formados em diferentes escolas médicas do mundo, foram chamados para a segunda fase. Os organizadores reconheceram que o nível de exigência foi além do necessário e prometeram reformular o exame.

Não existe nenhum critério para estabelecer algum grau de isonomia, como testar previamente o nível de dificuldade das perguntas em formandos de escolas brasileiras ou fazer um exame de igual teor ao realizado pelo CREMESP em 2012.

Cabe anotar que a peregrinação para os que queiram fazer o Revalida continua: por exemplo, o exame não é oferecido no estado de São Paulo porque nenhuma universidade pública paulista aderiu a ele, mas o CREMESP obriga ao formado no exterior a ter seu diploma revalidado por esse exame numa norma prescrita para atender o clamor de seus fiscalizados nas ruas.

Nesse panorama, aparece um novo elemento: a distribuição desigual dos médicos na geografia nacional atinge níveis insustentáveis e se transforma em elemento político. Os médicos do Brasil, assim como os dos Estados Unidos ou outros países, se desinteressam pelo serviço nas cidades do interior e nas periferias das grandes cidades.

Há muitas razões para esse desinteresse: a formação médica acontece em ambientes tecnologicamente complexos muito diferentes da realidade desses locais carentes de recursos; as possibilidades de retorno financeiro parecem ligadas a especialidades que demandam mais recursos técnicos; e o atrativo natural que exercem as grandes cidades em sociedades individualistas em detrimento da vida bucólica do interior pode ser contada entre outras causas.

Mas a realidade da falta de atendimento médico fala mais alto. Os prefeitos se organizaram para pressionar por uma solução que trouxesse dividendos eleitorais e finalmente o governo comprou a causa.

Houve várias tentativas. Inicialmente o governo ofereceu aos médicos recém-formados dinheiro e pontos a mais para os disputados exames de acesso à residência médica no programa Provab.

O estamento médico criticou a iniciativa, colocando argumentos como o de que o uso de pontos no exame seria uma chantagem para deixar um médico recém-formado abandonado à sorte no interior e sem nenhum tipo de supervisão.

Talvez estejam certos.

O problema pode ser deixar os pacientes abandonados a um médico recém-formado que não tem capacitação adequada para esses locais de atenção básica de baixa tecnologia. Locais em que a medicina cubana é especialista.

A medicina em Cuba usa um modelo diferente ao brasileiro. Está fundamentado em atenção básica e prevenção, com médicos acessíveis morando nas mesmas comunidades e um avanço tecnológico quase congelado após a queda da Cortina de Ferro.

Combinação contrastante que consegue atender a maioria de pacientes e obter excelentes estatísticas de saúde, comparáveis a qualquer país desenvolvido, a custo muito mais baixo. Mas, para a minoria dos pacientes, aqueles casos que requerem maior tecnologia, a receita pode ser insuficiente. A formação em grande escala de médicos permitiu que o país criasse as chamadas “Missiones” internacionais, que levaram atendimento médico a regiões carentes e remotas em dezenas de países.

Nos últimos anos, a exportação de serviços médicos se tornou a primeira fonte de divisas da ilha, principalmente pelas ações na vizinha Venezuela. A solução parece conveniente para todas as partes, médicos cubanos que estão dispostos a trabalhar no interior do Brasil e nas periferias para ajudar seu país e a população, que veria fim em sua espera por atendimento médico e estaria disposta a votar por quem fez isso acontecer. Mas há um obstáculo a vencer: a resistência do grêmio médico brasileiro.

Como vimos antes, os médicos brasileiros estavam ocupados em questões trabalhistas com seus principais empregadores, os planos de saúde e o governo. Em sua nova condição de classe trabalhadora, relativamente bem paga, mas trabalhadora, sua condição de fonte de ideias e de liderança dos tempos de classe média se extinguiram sob sua nova classe.

Em papel reativo, os médicos não conseguem elaborar contrapropostas para solucionar os problemas de falta de atendimento de saúde que sofre a maior parte da população.

A sua única resposta é que não trabalham no interior porque não tem plano de carreira nem condições de trabalhar. Uma continuação do repertório trabalhista anterior. Nenhuma proposta real para contrastar com as ideias do governo, que continua na liderança através de uma organizada campanha de mídia para angariar apoios e anunciando que estenderá os convites também a médicos espanhóis, portugueses e argentinos.

A própria presidenta empenha sua palavra de trazer os médicos como parte de sua estratégia para melhorar a saúde e acalmar as manifestações que tomaram conta do país.

O ministro da Saúde promete que as vagas só serão oferecidas a estrangeiros após serem recusadas por médicos brasileiros, promessa de quem tem certeza da recusa. As vagas, há tempos, aguardam por médicos brasileiros que as ocupem. Nesse cenário saem os médicos às ruas para protestar.

Os médicos estrangeiros a serem importados são o principal alvo em um protesto com pesado caráter trabalhista, de proteção de mercado. Porque a pior ameaça que os cubanos representam é que podem dar certo. Porque os cubanos podem demonstrar que a população não necessita de grandes hospitais de alta tecnologia, mas de médicos acessíveis que estejam ao seu lado.
 
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Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Não existe uma vontade de se estudar a pergunta por que médicos não querem ir para o interior? e muito menos o complemento, mesmo com salários tão altos.
Isso ja esta respondido: pq paga mal e nao tem uma estrutura basica para trabalho.

Lembrando que eh possivel ter estrutura basica para exercicio da profissao medica, sem tem uma estrutura legal para o convivio social.

Ainda n parei em casa pra poder responder direito xD
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

ó lá o que eu falei.

Formação de dentistas e psicólogos também pode exigir trabalho no SUS

A criação de um ciclo obrigatório de trabalho no Sistema Único de Saúde (SUS) não deve ficar restrito ao curso de medicina, como definido no programa Mais Médicos, anunciado nesta segunda-feira, 8, pelo governo. O Conselho Nacional de Educação (CNE) estuda a adoção da medida para outras carreiras da área de saúde. O plano prevê que estudantes de odontologia, psicologia, nutrição, enfermagem e fisioterapia também concluam a formação com atividades na rede pública.

“Isso já vem sendo pensado”, informou nesta terça-feira o secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), Paulo Speller. Não há prazo para a conclusão da análise, que começou antes mesmo dos estudos sobre o caso da medicina. A administração federal anunciou nesta segunda-feira a edição de medida provisória (MP) para ampliar de seis para oito anos a duração de medicina em instituições públicas e privadas.

A decisão vale para estudantes que ingressarem na faculdade a partir de 2015. O ciclo complementar será feito em locais indicados pelas instituições de ensino, que formarão rede com serviços públicos de assistência. Durante os dois anos do ciclo suplementar, o aluno não pagará mensalidade. Pelos serviços prestados, receberá uma bolsa com valor ainda não definido. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que a remuneração deverá variar entre R$ 2,9 mil e R$ 8 mil. A verba virá da saúde.

Remuneração

As instituições de ensino receberão pela supervisão feita ao trabalho do aluno na rede do SUS. A forma como isso será feito também ainda não está decidida. “Há tempo ainda para se pensar”, justificou Speller. “Estamos falando em algo que terá impacto apenas em 2021.”

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, não descartou a possibilidade de o aluno ser enviado para uma cidade diferente daquela onde ele cursou a graduação. Para isso, no entanto, é preciso que a instituição de ensino tenha um vínculo com a unidade básica de saúde ou o hospital para onde o estudante será enviado. A regulamentação do texto pelo CNE deve demorar seis meses.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Tudo é História. E daí? Se tudo é História, isso significa que podemos usar eternamente o argumento da "dívida histórica"? Esse é o meu ponto.

Acho que ninguém aqui vai negar que há faculdades privadas que exatamente o que você falou. Só que isso não significa que permitir a criação de faculdades privadas tenha sido má ideia. Como qualquer outro negócio, é preciso regulação e controle de qualidade.

Agora, esse papo de só falar que o mercado visa lucro é muita miopia na argumentação. Se você pensar que uma empresa ou uma faculdade querem maximizar o lucro não apenas hoje, mas futuro, vai chegar a maravilhosa conclusão que existe uma coisa chamada "reputação". No caso das faculdades privadas, isso significa que há o incentivo para elas garantirem a melhor formação possível, de modo a colocar os seus estudantes nas melhores posições possíveis no mercado. Tudo isso em nome do terrível lucro. Quanto pecado! O horror, ó, o horror!

Há faculdades privadas boas e ruins e talvez o governo não seja ainda tão eficiente para evitar que que as ruins se criem. O mercado certamente faz a sua parte, reduzindo o valor dos diplomas dessas faculdades.

Sobre os videos que postei, apenas acho que são uma forma de refletir sobre o assunto das ações afirmativas sem ficar na mesma lenga-lenga de "dívida história do homem branco". Ninguém duvida que o negro foi oprimido por séculos. Só que o debate pode ir um pouco além disso.

Enfim, esse nem é o assunto do tópico, mas achei relevante falar isso.

"Dívida histórica" é um termo perigoso, a meu ver. Os estragos causados pela violência da escravidão e o extermínio de negros e índios no continente americano, além das frias estatísticas de tantos milhões de morto, são imensuráveis. O que se perdeu ficou pra conta, ninguém vai pagar. Outro ponto: ao classificarmos como "dívida histórica", tiramos a dimensão de conquista e caímos novamente no mesmo discurso abolicionista que inundaram a imprensa da época como "bondade branca". O que é fruto de luta e revindicação vira concessão e, por consequência, sutilmente alimenta a superioridade entre as raças: negros e índios, inferiores, guiados por uma sociedade branca que sabe - como sempre soube - o que é melhor para eles. Portanto, nesse sentido, "dívida histórica" me soa falso, tanto por esta ser impagável quanto por ser prática discursiva que aleija. O que se pretende, pelas conquistas, são ações no presente que mitiguem o abismo - construído historicamente, daí o "tudo é História" ser tão importante - de oportunidades existente entre as classes e principalmente entre as raças, para que as atuais gerações tenham condição de romper o ciclo de pobreza que muito se quis, pela fé e pela ideologia, se vender como natural.

Sobre a "maravilhosa conclusão de reputação" e "terrível lucro, horror, horror", a gente não pode negar que a escola faz parte do corpo social. De modo que atente, reflete e reproduz o meio em que está inserida. Numa sociedade liberal e técnica, a demanda será por mão de obra e as políticas educacionais atuarão nesse sentido. Nesse contexto, educar, que significa muito mais do que qualificação para o mercado, e sim formação crítica, reflexiva e atuante, perde-se. O mercado vai se auto regular com base nessa premissa errôneo do que é educação. Reputação terá a faculdade que mais empregar, aquela que melhor repedir, no processo de formação, a divisão social do trabalho:

“Educá-los, mas não demasiadamente, o bastante para que aprendessem a respeitar a ordem social, mas não tanto que pudessem questioná-la. O suficiente para que conhecessem a justificação de seu lugar nesta vida, mas não ao ponto de despertar neles expectativas que lhes fizessem desejar o que não estavam chamados a desfrutar”.


A educação passa ser o meio pela qual a sociedade renova as condições de sua existência. Reproduzindo constantemente, arrastando a falência social que traz o liberalismo, constrói-se a ideia de naturalidade. Esse, a meu ver, é o problema da educação vista como mercadoria e entregue nas mãos de empresários. É claro que o problema vai além da participação privada na educação, mas a lógica de mercado por eles aplicada e o descaso do Estado com a ensino médio e fundamental retiram do processo de aquisição de saber sua essência emancipatória.

Tá fora do assunto, mas não tão fora assim, já que discutimos formação e tal.
 
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Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Portanto, nesse sentido, "dívida histórica" me soa falso, tanto por esta ser impagável quanto por ser prática discursiva que aleija. O que se pretende, pelas conquistas, são ações no presente que mitiguem o abismo - construído historicamente, daí o "tudo é História" ser tão importante - de oportunidades existente entre as classes e principalmente entre as raças, para que as atuais gerações tenham condição de romper o clico de pobreza que muito se quis, pela fé e pela ideologia, se vender como natural.

Tudo bem, chame como preferir. Apenas acho que há formas melhores de argumentar sobre o assunto do que falando sobre a questão racial. Até pq, como vc disse, o prejuízo que o branco causou ao negro é irreparável. Isso quer dizer que não pode ser reparado ou que será reparado eternamente? De qualquer forma, qual é a maior injustiça aqui: A questão racial ou indivíduos pobres que estudam em escolas inferiores e não competem em igualdade por uma vaga nas faculdades? Quando o assunto migra pro racial, parece todo contra-argumento é necessariamente racista.

Aliás, até agora não entendi pq os videos que postei "possuem lastro e não são naturais".

Sobre a "maravilhosa conclusão de reputação" e "terrível lucro, horror, horror", a gente não pode negar que a escola faz parte do corpo social. De modo que atente, reflete e reproduz o meio em que está inserida. Numa sociedade liberal e técnica, a demanda será por mão de obra e as políticas educacionais atuarão nesse sentido. Nesse contexto, educar, que significa muito mais do que qualificação para o mercado, e sim formação crítica, reflexiva e atuante, perde-se. O mercado vai se auto regular com base nessa premissa errôneo do que é educação. Reputação terá a faculdade que mais empregar, aquela que melhor repedir, no processo de formação, a divisão social do trabalho:

“Educá-los, mas não demasiadamente, o bastante para que aprendessem a respeitar a ordem social, mas não tanto que pudessem questioná-la. O suficiente para que conhecessem a justificação de seu lugar nesta vida, mas não ao ponto de despertar neles expectativas que lhes fizessem desejar o que não estavam chamados a desfrutar”.

E eu imagino que as faculdades públicas tenham essa missão. Tudo que é privado é ruim, tudo que é público é bem-intencionado. Eu também poderia dizer que toda educação pública é doutrinação. Enfim, acho que já deu pra entender o quão generalista está essa conversa...

arrastando a falência social que traz o liberalismo

Não entendi.

@Lovejoy

Tô falando...
 
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Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Grimnir, a dívida é impagável. Acho que ficou clara a minha posição. Quanto a questão racial ou indivíduos pobres, basta passar os olhos pela periferia e ver a relação intrínseca que existe entre cor da pele, descendência e condição social (lembrando que as cotas são raciais e sociais). Sobre a falência do liberalismo, a mesma periferia te responde. Quando digo que os vídeos possuem lastro e não são naturais, refiro-me que a argumentação de ambos são construções históricas, portanto, a meu ver, a crítica de que "não dá para vivermos eternamente de argumento históricos" não se sustenta.
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Sobre a "maravilhosa conclusão de reputação" e "terrível lucro, horror, horror", a gente não pode negar que a escola faz parte do corpo social. De modo que atente, reflete e reproduz o meio em que está inserida. Numa sociedade liberal e técnica, a demanda será por mão de obra e as políticas educacionais atuarão nesse sentido. Nesse contexto, educar, que significa muito mais do que qualificação para o mercado, e sim formação crítica, reflexiva e atuante, perde-se. O mercado vai se auto regular com base nessa premissa errôneo do que é educação. Reputação terá a faculdade que mais empregar, aquela que melhor repedir, no processo de formação, a divisão social do trabalho:

“Educá-los, mas não demasiadamente, o bastante para que aprendessem a respeitar a ordem social, mas não tanto que pudessem questioná-la. O suficiente para que conhecessem a justificação de seu lugar nesta vida, mas não ao ponto de despertar neles expectativas que lhes fizessem desejar o que não estavam chamados a desfrutar”.

Utilizando esse trecho do post do Cantona pra convidá-los a ler e participar do Clube de Leitura Valinor, que nesta edição traz o livro "Amirável Mundo Novo" de Aldous Huxley. :yep:
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

"SAÚDE PÚBLICA

Médicos em suas fronteiras

Por Luciano Martins Costa em 09/07/2013 na edição 754



Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 9/7/2013


Os jornais de terça-feira (9/7) trazem um teste interessante para as convicções ideológicas de muitos brasileiros, com questões que podem definir os limites da fidelidade corporativa e da solidariedade de classe, ou revelar o nível de consciência social de cada um.

O projeto que pretende obrigar os estudantes de medicina a cumprir dois anos adicionais de formação em postos do Sistema Único de Saúde põe à prova as verdadeiras intenções dos manifestantes que desfilaram de jaleco branco pelas ruas de São Paulo, há duas semanas, em protesto contra a importação de médicos estrangeiros.

Não será preciso esperar muito para avaliar o impacto da iniciativa entre os líderes das entidades corporativas, como a Associação Médica Brasileira, o Conselho Federal de Medicina e os centros acadêmicos das principais faculdades: os jornais já trazem, com a notícia, a repercussão junto aos representantes dos profissionais e estudantes – e a reação é predominantemente negativa. Mesmo alguns médicos que se destacaram em movimentos de resistência à ditadura militar e que exibem lustrosas biografias em favor de causas sociais se rendem aos seus interesses específicos e tratam de criticar a proposta.

Se a circunstância representa uma prova para as convicções ideológicas de quem apostou a vida em políticas progressistas, imagine-se a convulsão que deve produzir nas conservadoras redações da imprensa tradicional.

As reportagens trazidas pelos diários deixam pouca margem a dúvidas, para quem estiver disposto a compreender os objetivos da Medida Provisória anunciada pela presidente da República. Os jornais anunciam o projeto de formação complementar de médicos como se fosse uma medida de emergência, criada no fogo das manifestações de protesto, o que ajuda a insuflar opiniões precipitadas.

A informação de que o programa vem sendo discutido há mais de um ano foi destacada apenas pelo Estado de S.Paulo, no quadro chamado “Bastidores”, o que explicaria o fato de a Folha de S. Paulo parecer um pouco mais favorável aos interesses corporativos.

Espera-se agora que uma daquelas pesquisas-relâmpago do Datafolha venha a esclarecer o que pensa a população brasileira sobre a iniciativa do governo.

Interesses corporativos

Uma leitura cuidadosa do que trazem os três principais jornais de circulação nacional permite uma análise bastante diversa daquela colhida das entidades que representam médicos e estudantes de medicina.

O projeto não é uma resposta emergencial, mas resultado de longas conversações e grupos de estudos, que incluíram a Associação Média Brasileira. O projeto responde de maneira eficiente à necessidade de internalizar os serviços de saúde, diante da resistência da maioria dos profissionais a se deslocar para os grotões do país.

Quanto aos aspectos legais, o projeto de Medida Provisória cumpre o que manda a Constituição, corrigindo distorções produzidas no serviço de interesse público pela mercantilização e elitização do ensino da medicina e do próprio exercício da atividade.

Se as ações e serviços públicos de saúde formam um “sistema único”, de acordo com o texto constitucional, e se compete ao sistema público, de acordo com o artigo 200 da Constituição, “ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde”, há pouco a ser discutido quanto à legitimidade da proposta.

A alegação de que não basta mandar médicos para a periferia da sociedade, porque faltam condições de segurança, é uma confissão de que a solidariedade corporativista se sobrepõe ao interesse social, uma vez que não se deve diferenciar o médico do paciente em termos de seus direitos essenciais.

Se o jovem estudante de medicina busca a profissão apenas para se realizar financeiramente, com certeza em poucos anos de exercício terá se transformado em mais um mercenário. Se, como exigência para a obtenção de sua licença, ele for submetido à dura realidade social brasileira, terá uma oportunidade de compreender melhor para que finalidade deve ser dirigido o conhecimento adquirido na faculdade.

Essas são algumas reflexões que faltaram nos jornais de terça-feira (9), mas há muito ainda a ser pontuado. A imprensa lembra que a proposta se parece muito com o sistema britânico de saúde, considerado um dos mais avançados do mundo, mas o alcance da iniciativa vai muito além do que dizem os jornais. Trata-se de recuperar o sentido da saúde pública no Brasil"



Fonte:www.observatoriodaimprensa.com.br
 
Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Eu concordo com todos que enfatizaram o grave problema de falta de infraestrutura.

De nada adianta na base de um decreto aumentarmos enormemente o contingente de médicos, se há lugares como já foi mencionado na mídia que não há sequer uma pia pra lavar as mãos, ou seja condições mínimas pra se poder trabalhar e as consequências disso a Pim exemplificou muito bem.
 
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Re: Estudantes de medicina terão que trabalhar 2 anos no SUS para ter diploma

Eu sou plenamente a favor da vinda de médicos de fora e todo o argumento que vi em contrário até agora tem em sua base simplesmente o preciosismo da classe médica. Mas ainda não sei se concordo com a medida do trabalho compulsório na rede pública, pelo menos não da forma como foi estabelecida.

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No mais... Cantona, tu é foda, mano! :clap:
 

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