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Pixies

Phantom Lord

London Calling
Tópico em homenagem a Valentina,que foi a responsável pelo fato de eu estar viciado em Pixies.
A banda é realmente sensacional,não sei como fiquei tantos anos sem prestar atenção neles.
Todos os quatro álbuns de estúdio deles são ótimos,o meu preferido é o Doolittle(1989),mas venho escutando demais o Bossanova(1990),que é absurdamente viciante.


Um pouquinho da história da banda:



BIOGRAFIA

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O Pixies é, sem dúvida alguma, uma das bandas mais originais e influentes que apareceram nos anos 80. Junto com Hüsker Du e Sonic Youth, o grupo capitaneou o renascimento do circuito de Rock alternativo norte-americano. Com um som que mesclava elementos básicos do punk rock, surf music, noisy guitar, passando mesmo pela suavidade da música pop, o Pixies fez história e ficará para sempre na memória daqueles que se achavam meio deslocados entre os hard rock farofas que reinavam nos anos 80.

A banda foi formada em Boston, Massachusetts, no começo de 1986, por Charles Thompson – que depois mudaria seu nome para Black Francis – nos vocais e guitarra base, e seu companheiro de quarto na universidade Joey Santiago na guitarra base.

Através de um anúncio nos classificados encontraram Kim Deal, uma baixista de Ohio, que tocara antes em sua cidade natal numa banda chamada Breeders com sua irmã, Kelly. Pouco depois recrutaram o baterista David Lovering (amigo de Deal), e assim formaram os Pixies. Reza a lenda que o nome da banda foi tirado aleatoriamente do dicionário por Joey (o nome significa "fadas", "duendes"). Foi também nessa época que Charles resolveu, inspirado por Iggy Pop, mudar seu nome para Black Francis.

Em 1986, os Pixies estavam tocando em Boston, num show com a banda co-irmã Throwing Muses da guitarrista Tanya Donnevy – que mais tarde participaria das Breeders. O empresário dos Muses, Gary Smith, que estava na platéia e gostou muito do som do Pixies, ofereceu-lhes a gravação de um disco. Em março de 1987, a banda grava 17 músicas (em 3 dias!). Essa demo ficaria conhecida como "The Purple Tape". A demo acaba caindo nas mãos de Ivo Watts, um dos donos do selo inglês 4AD Records, que na época também era gravadora das Throwing Muses. Impressionado com o material, Watts contrata os Pixies e lança um EP chamado "Come On Pilgrim", que possui 8 das 17 faixas da demo original de "The Purple Tape".

No ano seguinte, a banda entra em estúdio para a gravação do seu primeiro LP, ao lado do produtor Steve Albini. O álbum "Surfer Rosa" é lançado na primavera de 1988 e recebe ótimas críticas. A banda passa a ficar mais conhecida e acaba trocando de selo, indo para a Elektra Records. Curiosidade nos dois primeiros álbuns dos Pixies: a baixista Kim Deal assinava seu nome como Mrs. John Murphy. Inclusive, a única música composta por ela em todo repertório do álbum "Sufer Rosa", "Gigantic", é assinada por Murphy. Kim Deal só usaria seu próprio nome a partir de "Doolittle", já pela Elektra.

No final de 1988, a banda volta ao estúdio. Dessa vez, o produtor escolhido foi o Inglês Gil Norton. O disco "Doolitle" é lançado na primavera de 1989, e é, certamente, o melhor da banda, além de ser um dos melhores discos de Rock alternativo de todos os tempos. Puxado pelo forte apelo comercial de "Monkey Gone to Heaven" e "Here Comes Your Man", o disco faz bastante sucesso e acaba indo parar no Top 10 inglês. Importante frisar que, apesar de algumas músicas mais comerciais, o som da banda continuava o mesmo: músicas simples e curtas, excelentes melodias e sonoridades inusitadas, como a nítida influência latina em várias canções. A turnê "Sex and Death" é muito bem sucedida, principalmente na Europa. As apresentações ao vivo da banda eram marcadas pela performance de Black Francis, que quase nunca se dirigia a platéia. Deixando que a baixista Kim Deal apresentasse as canções e divertisse o público. A banda também ficou conhecida por algumas extravagâncias como, por exemplo, tocar o set list dos seus shows em ordem alfabética. E claro, pela extravagância maior: o próprio Black Francis.

Em 1989, a banda resolve dar um tempo e alguns dos integrantes resolvem levar adiante alguns projetos paralelos. Kim Deal, ao lado de Tanya Donnevy (Throwing Muses) e Josephine Wiggs (Perfect Disaster), ressuscita o The Breeders e lança o álbum "Pod" em 1990. Esse disco tem a produção de Steve Albini e foi lançado pelo ex-selo do Pixies, o 4AD Records. Black Francis parte para uma pequena turnê solo.

Ainda neste ano, a banda volta a se reunir para a gravação de mais um disco. Sob a produção de Gil Norton, "Bossanova" é lançado no final de 1990 e segue a mesma linha dos discos antecessores. Talvez a única diferença seja que esse álbum tenha uma influência maior de surf Rock, gerando hits como "Allison", "Dig For Fire" e a instrumental de abertura "Cecilia Ann". Nas músicas "Velouria" e "Is She Weird" ouvimos um Theremin (instrumento que ficou conhecido nas mãos de Jimmy Page, do Led Zeppelin, introduzido no rock por Brian Wilson dos Beach Boys no álbum "Pet Sounds"), tocado por Robert Brunner. Ainda neste ano, o grupo é um dos headliners do Reading Festival, na Inglaterra.

Nessa época não dava mais para esconder que Black Francis e Kim Deal não se davam mais muito bem. No disco "Bossanova" a participação nos vocais de Kim Deal foi bastante reduzida. A baixista chegou a dizer publicamente que a banda estava no fim.

Apesar dos boatos de sua desintegração, a banda se junta uma vez mais para a gravação de um novo disco, novamente com a produção de Gil Norton. O disco "Trompe Le Monde" é lançado em 1991, fazendo bastante sucesso. Dessa vez, as músicas possuem um acento mais hard-rock, sem deixar de lado a sonoridade que já era a marca registrada da banda. Muitos chegaram a dizer na época do lançamento que essa influência hard rock vinha da presença de Ozzy Osbourne em um estúdio próximo. Novamente Deal é deixada de lado nas composições e nos vocais. O álbum trás também uma cover da banda inglesa Jesus and the Mary Chain, "Head On".

Depois de abrir os shows do U2 na turnê ZooTV, a banda resolve dar uma nova parada. Deal aproveita para gravar um EP com o The Breeders (chamado "Saffari" e lançado na primavera de 1991). Nesse período Black Francis aproveita para gravar um disco solo.

Um pouco antes do lançamento desse disco solo (o disco iria se chamar "Frank Black"), em 1992, Francis dá uma entrevista a BBC dizendo que o Pixies tinha terminado. Os outros membros da banda ainda não sabiam disso, mas tampouco desmentiram o fato, provando que a relação entre Deal e Francis realmente não era mais suportável.

Após o fim, foram saindo regularmente discos póstumos, destacando-se as coletâneas "Death to the Pixies" (1997) e "Complete B-Sides" (2001), e em 2003, surgem boatos de que o grupo poderia se reunir para uma turnê mundial. O que era boato torna-se oficial no ano seguinte, com o grupo inclusive passando pelo Brasil, para um show memorável em Curitiba.


Pixies
Formação: Boston, MA em 1986

Black Francis: guitarra, vocal
Kim Deal: baixo, vocal
Joey Santiago: guitarra, vocal
David Lovering: bateria


DISCOGRAFIA

1987 Come On Pilgrim[EP]
1988 Surfer Rosa
1989 Doolittle
1990 Bossanova
1991 Trompe Le Monde
1997 Death to the Pixies[Coletânea]
1998 Pixies at the BBC[Ao Vivo]
2001 Complete 'B' Sides
2004 Wave of Mutilation: Best of Pixies[Coletânea]


Fonte



RESENHAS/VÍDEOS


SURFER ROSA(1988)


Dizer que os Pixies foram a maior banda do final da década de 80 é chover no molhado. E se eu te dissesse que "Doolittle" é a obra máxima do quarteto, estaria sendo redundante de novo, certo? I don’t think so...

Em "Surfer Rosa", o crossover sônico de surf music, punk rock, violência lírica, country music e "mariachismos", brilhantemente esboçado pela banda na estréia "Come On Pilgrim", adquiriu uma massa sonora impressionante. Tal aperfeiçoamento, deve-se principalmente à tosca, tosca, tosca produção do animal Steve Albini, que "engordou" o som do grupo com toneladas de sujeira. Albini desconstruiu os vocais psicopatas de Black Francis, os solos tortuosos da guitarra de Joey Santiago, as linhas de baixo vigorosas de Kim Deal (na época Mrs. John Murphy) e a bateria "pegadora" de David Lovering e os embrulhou numa antiprodução, desleixada até o pâncreas, que definiu o som dos jovens de Boston em sua forma mais intensa.

Claro que você vai me dizer: "Pô, mas e o Doolittle? Apesar de sua candura, também é violento, perturbador, e espetacular!". Assim te respondo: Claro. "Doolittle" é um puta disco, que indiscutivelmente possui o leque de composições mais variado e consistente da carreira dos Pixies. Para o disco, quando decidiram vestir suas canções com uma roupagem mais requintada, a produção de Gil Norton caiu como uma luva.. Mas imaginem os rompantes furiosos de "Doolittle" ("Debaser", "Dead", "Tame", "Crackity Jones", "There Goes My Gun") produzidos pelo desbocado Albini. Urros de prazer só de imaginar como seriam.

Sangue, suor, lágrimas, destruição. Grandes discos de rock n’roll resultaram da soma desses ingredientes. Mas os Pixies não se contentaram em só seguir a cartilha. Ao adicionar traços esquizofrênicos muito particulares à equação, tornaram seus discos muito mais do que grandes. Tornaram-os clássicos. "Surfer Rosa", como um diamante bruto, tão valioso quanto se fosse lapidado, é pedra fundamental para compreender, não só o rock alternativo, e sim o rock como um todo. Um espetáculo sincero e puro em sua brutalidade. Mas vamos parando por aqui porque, afinal de contas, todo e qualquer superlativo é esmagado aos primeiros acordes dessa obra-prima. Enjoy!!!

Reconheço que é tarefa árdua tentar descrever as indescritíveis canções do disco, mas vamos lá:

Bone Machine​
O disco já começa com uma das músicas mais "afudê" de todos os tempos. David Lovering abre os trabalhos com um assalto percussivo, seguido de uma simples e emblemática linha de baixo. Então, para o delírio da torcida, cavalgando em distorção, as guitarras entram em campo acompanhando os demais e completando essa maravilha. Berros estremecedores, backing vocals celestiais, êxtase coletivo. Os vocais de Black Francis assustam: "I was talking to the preachy-priest about kissy-kiss. He bought me a soda, he bought me a soda and tried to molest me at the parking lot".

Break My Body​
O baixo comanda a canção, com guitarras improvisando uivos elétricos. A letra baixo-astral e o refrão fundo-de poço acompanham o tom soturno da melodia e culmina com Deal e Francis repetindo o verso "Somebody got hurt" até se autodestruir de forma brusca.

Something Against You​
A faixa inicia com uma guitarrinha ligeira antecipando a melodia. Ao fundo, sente-se a bateria chegando, e junto com ela as guitarras apitam. Você sabe que será inevitavelmente atingido por uma pancada sonora devastadora. Mas mesmo assim você não sai. Por quê? Porque é muito bom. Em meio ao caos sonoro, Black Francis manda versos enlouquecidos: "I’ve got something against you. And I’m gonna use it!!".

Broken Face​
Uma faixa com um título desses não poderia ser ruim. Curta e grossa. Black inicia com um falsete estranho, sucedido por um atropelo regado a microfonias, quebras de ritmo e uma letra bizarra. Urgência e dinamismo levados às últimas conseqüências.

Gigantic​
As batidas da baqueta de Lovering marcam a entrada da emblemática linha de baixo de Kim Deal. A bela voz da baixista leva a canção calmamente, sendo ameaçada pelos riffs de Santiago até que no refrão, a banda simplesmente ARRANCA O CHÃO DEBAIXO DE SEUS PÉS E FAZ VOCÊ DESPENCAR NUM ABISMO DE BARULHO, mas de alguma maneira sedutor e angelical em sua paixão. Brutalidade e doçura casadas no céu.

River Euphrates​
Aqui nada parece ser como é. Capaz de fazer o ouvinte se sentir tocado pelos deuses enquanto escuta os maravilhosos la-la-lás da Mrs. John Murphy, como faz se sentir espancado pelos demônios ao ouvir o refrão com os vocais ensandecidos de Black Francis duelando com a pixie. Uma canção demolidora.

Where Is My Mind​
Em Surfer Rosa está contido o hino da juventude perdida: "Where is My Mind" (aquele som que rola nos créditos finais de "Clube da Luta"). O que se pode dizer dessa faixa? O QUE SE PODE DIZER? Que "Debaser" o cacete! Essa é a canção-símbolo da banda, uma sinfonia fantasmagórica, com o dilacerante riff de Joey Santiago e Black Francis colocando o coração no microfone, mandando versos tão confusos quanto belos: "Saída na água. Veja-a nadando".

Cactus​
A crueza da bateria e baixo tecem a colcha para os versos perversamente apaixonados do vocalista: "Ensangüente sua mão num cacto, limpe no seu vestido e o mande para mim...". No meio da canção é possível escutar gritos soletrando o nome da banda: P-I-X-I-E-S. Acabou de ganhar uma versão de David Bowie em seu mais recente álbum, "Heathen". Não a toa, é a melhor música do disco de Bowie...

Tony’s Theme​
O baixo inicia e Kim Deal dedica a canção a um superherói chamado Tony. Santiago dispara um riffzinho acelerado para acompanhar. Francis representa Tony, o aprendiz de herói, abusando da loucura nos vocais, para o deleite do ouvinte.

Oh My Golly!​
Começa com uma sucessão de pancadas na bateria. De repente um violão frenético invade a canção, junto com Francis mandando ininteligíveis versos em espanhol. Os hispanismos mancos de Francis contrastam com a melodiosa voz de Deal, criando um transe hipnótico e completamente fora de controle, tamanha a porra-louquice da faixa.

Vamos​
Um diálogo estranho antecipa a canção: ouve-se a voz de Black Francis ao fundo: "You Fucking Die!!!!". Alguém pergunta a ele o que estava fazendo... deixa pra lá, aqui está o diálogo na íntegra:
"You fucking die’ I said, to her
I said ‘YOU FUCKING DIE’, to her
Huh? What? No, no! I was talking to Kim
I said ‘you fucking die’
No, I was just- we were just goofing around
No, no. It didn't have anything to do with anything
She said: ‘Don't you- anybody touch this is my stuff’
And I said ‘You fucking die’ like that
I was finishing her part for her
You know what I mean?"

Legal, não? Segue-se então uma pequena microfonia, sinalizando o início da canção propriamente dita. Um violão estranho faz base para alguns versos em espanhol a cargo de Francis. David Lovering e Kim Deal mantém-se imutáveis durante a canção (exceto o refrão), que na verdade é um palco para um pesadelo guitarrístico promovido pelos apocalípticos efeitos de distorção de Santiago e os gritos implacáveis do vocalista. Apenas quatro minutos e pouco, mas com a maior pinta de épico. Grande canção.

I'm Amazed​
Começa com uma conversa entre os dois vocalistas (Black e Deal), para desaguar em um rockzinho turbinado, uma letra estranha (muito estranha), e novamente Santiago temperando o arranjo com efeitos ensurdecedores ao fundo, principalmente no refrão.

Brick Is Red​
A última faixa do álbum carrega consigo o clima de despedida necessário para finalizar o espetáculo. Uma guitarrinha surf cuspindo riffs estilosos, enquanto Deal e Black descrevem o prazer lânguido da morte: "Hang me. It’s not time for me to go, it’s not time for me to go". Bah!!
Ano passado, a Sum Records, num louvável serviço de utilidade pública, lançou "Surfer Rosa" em terras brazucas, optando pela versão européia (ueba) do álbum que acompanha de uma grata recompensa para quem foi paciente: "Come On Pilgrim", o EP de estréia da banda. O EP sozinho já vale pelas maravilhosas "Isla de Encanta" e "Nimrod’s Son", mas não é só isso. Ainda tem "Come On..." (a primeira versão de "Vamos", um pouco menos insana), a orgásmica "Caribou", a "surfy" "Holiday Song" e a surpreendentemente pop "Ed Is Dead". Também está no disco "I’ve Been Tired", uma das melhores performances vocais de Black Francis. Mas essas eu deixo pra você descrever.

Fonte


VÍDEOS

Bone Machine

Where Is My Mind?

http://www.youtube.com/watch?v=LK0CJqMK6f0
Gigantic



DOOLITTLE(1989)

Antes dos Pixies eu já conhecia Nirvana, Beach Boys, Ramones, David Lynch, um pouco de Buñuel e um tantinho da Bíblia. Mas, ainda assim, eu não estava pronto para Doolittle.

Porque o álbum me parecia bizarro, só que de uma forma agradável. Ou, virando a frase de ponta-cabeça: agradável, só de que uma forma bizarra. Diante da criatura deformada (e bela), passei um tempo coçando a cabeça.

Eu conseguia, por exemplo, me identificar com a ansiedade de Black Francis (o homem, o personagem, o ogro, o serial killer, o comediante). E Doolittle é um disco ansioso. Ansiedade, esse sentimento que todo menino de 15 anos compreende intimamente.

Ao mesmo tempo, Doolittle soava como um disco que se esforçava para soar degenerado. Um jogo calculado para nos chocar. Trata de morte, surrealismo, suicídio em massa, macaquinhos mortos, Sansão & Dalila. Mas tudo acabava soando cômico, divertido. O horror convertido em farsa. “O conceito é entreter”, dizia Black, meio que para confundir as coisas.

Não sei ainda se entendo o cinismo do disco (ainda que me pareça muito clara a influência sobre Nevermind, outro álbum punk ultrasarcástico e juvenil, adulterado para soar pop), mas, mesmo polido, ele soa tão psicótico, tão esquizofrênico e lúdico quanto os versos de Black.

É um daquelas discos em que a produção colide (de propósito) com as melodias. As melodias, por sua vez, espelham as letras — que, por sua vez, compõem um território muito específico. É uma coleção perfeita, exatinha, de canções muito tortas. Um “tour” ordenado a uma mente caótica.

Começando pelo começo: descobri o disco em meados dos anos 90, numa época em que os CDs importados chegavam aqui a preços simpáticos (R$ 20, em média) e estavam disponíveis na lojinha da superquadra ao lado. Eu ia a pé (e, para isso, cruzava um terreno baldio, cheio de mato e barro) para visitar uma dessas lojas, quase todas as tardes.

Eu era um moleque enxerido e talvez curioso demais, que chegava mais cedo na Cultura Inglesa para ler os semanários de rock. Mas um moleque sem dinheiro. Um moleque tímido e sem dinheiro, mas enxerido e talvez curioso demais. Daí que, na loja de importados, eu pedia para ouvir os CDs antes de comprá-los. Pedia timidamente. Se eu gostasse dos discos, fazia anotações para pedir de presente de aniversário (ou de Natal).

Naquele período, anotei no caderninho: Slanted and enchanted, do Pavement, Mighty Joe Moon, do Grant Lee Buffalo, e Sister, do Sonic Youth. O balconista viu o papelzinho e soltou uma risada cruel. “Você só precisa de um CD. Este, irmão”, e apontou para Doolittle.

Não o levei muito a sério (o sujeito cantava numa banda de shoegazing, que na época eu detestava), mas, depois de ler um comentário muito positivo de Kurt Cobain sobre o disco, resolvi dar uma chance. Ouvi uma vez, achei engraçadinho, mas não comprei. Não me convenceu. Demorou para me convencer.

Alguns meses depois, cedi à insistência do amigo vendedor. E, graças a ele, a história começou.

Logo, fui fisgado. As músicas soavam imprevisíveis, cheias de surpresas, pecinhas de um quebra-cabeça genioso, o tipo de brincadeira que não cansa — e, claro, tão ansiosas quanto meu primo de cinco anos de idade. Mas o que me capturou foi o espírito enigmático da obra: decodificar o CD se transformou num hobby que ocupou praticamente um ano inteiro da minha vida.
Na pré-história da internet, antes do Napster e do Google, eu fuçava cada número amarelado des semanários à procura de informações sobre as músicas. Quando foi que Black Francis viu Um cão andaluz? O que representam as imagens fúnebres de Wave of mutilation? Monkey gone to heaven é mesmo uma canção ecológica? Perguntas e mais perguntas (algumas, resolvidas quase 10 anos depois).

Acabou que o disco foi perdurando enquanto outros passavam. Slanted and enchanted, apesar de fatal, passou. Mighty Joe Moon, que amo, não me intrigou de tal forma. E, aos poucos, fui criando uma relação com o Pixies que equivale ao fã de futebol: eu queria ter todas as camisas autografadas, todas as figurinhas (repetidas ou não), os singles, os pôsteres.

E, se o Nirvana era uma banda que me afetava na catarse, o Pixies alegrava minha imaginação. Era a trilha para Pierrot le fou, do Godard, que eu descobriria alguns anos mais tarde. Um e outro me pareciam obras aventureiras, destemidas, que iam ao inferno e voltavam com um sorriso e uma flor. E que, talvez contra minha vontade, soavam agradáveis. De um jeito louco que não consigo explicar. Top 3: Gouge away, Debaser, Tame.

Fonte


VÍDEOS

Debaser

Wave of Mutilation

Here Comes Your Man


BOSSANOVA(1990)

Se a bossa nova de João Gilberto foi a música urbana do Rio de Janeiro dos postais, ainda intocado pelo lixo mutante, o álbum Bossanova, dos Pixies, é o fogo do inferno que os turistas ignoram existir além da América hollywoodiana. A turnê britânica de lançamento deste disco, no ano passado, foi uma avalanche de mutilação sônica, com nuvens densas e negras descarregando afiados acordes de navalha contra a pele branca, despreparada, do público. O show do ano, para inglês nenhum botar defeito.

Este mesmo Bossanova estava às moscas - as duas pedras anteriores do grupo tiveram vendagem medíocre no Brasil -, e só está sendo lançado agora, um ano depois, graças ao anúncio da vinda dos Pixies ao país. Coisas do mercado nacional. Há quatro anos, Pixies reina como a banda americana favorita da imprensa musical britânica. Seu novo single, "Planet Of Sound", entrou no Top 50 da parada oficial inglesa à frente dos novos hits de Living Colour e Sinéad O´Connor.

Kim Deal, a baixista, tem o sorriso mais lindo do showbiz e faz um backing vocal plácido, docinho, que destoa completamente do resto do grupo. Black Francis, o líder, raramente diz coisas doces; é obsceno mesmo quando sussurra, pois o faz como um Hannibal Lecter do rock. Gordo, feioso, sem o menor carisma, a ponto de partir suas cordas vocais cantando as maravilhas da automutilação, ele é o Johnny Rotten dos anos 90. Junto aos urros de Francis, a coisa mais barulhenta do grupo é a guitarra punk do filipino Joey Santiago. Sua histeria é a melhor picada nos tímpanos a sair da América desde Hüsker Dü.

Bossanova pode ser considerado levezinho comparado aos dois álbuns anteriores e ao EP de estréia dos Pixies. Entretanto, mesmo a música mais lenta, "Havalina", soa rock´n´roll.
Há muitas referências à surf music, mas nenhuma coerência na louca criação de Charles, vulgo Black Francis. Há desde um baixo pulsante à Midnight Oil a guitarras que lembram Santo & Johnny - brothers chicanos que fizeram sucesso nos anos 50. Os Pixies já renderam homenagem aos bros, num lado B de compacto: a música "Santo".

O hit do álbum é "Velouria", uma colisão entre The Damned e punk gótico, sobre uma menina sombria perdida num verão da Califórnia, mas o repertório de Bossanova ecoa ainda influências tão diversas quanto Ritchie Valens e Shocking Blue. Guinchos de sexo distorcido, sem tempo para solos românticos. "Você está procurando outro amor?/ Não, criança, não é este o meu desejo... Eu estou cavando atrás de fogo", resume a letra de"Digging For Fire". "High" é o mantra mais repetido, entre uma ou duas referências a discos voadores e ficção científica. E sua música vai cada vez mais alta, em todos os sentidos. Sempre drogados e possuídos, prometem um álbum heavy metal para setembro. Só pode ser outra ironia, como o título Bossanova. Pixies é punk como não se faz mais. Mesmo que soem lentos para os fãs de hardcore e thrash metal, para os demais padrões há poucos que possam ser tão atordoantes.


MARCEL PLASSE

Revista BIZZ Edição 73 - Agosto/1991


VÍDEOS


Velouria

Is She Weird?

The Happening


TROMPE LE MONDE(1991)

Em tempos internéticos onde a banda mais visitada no myspace no Brasil é uma que se chama Cine e o mais esperado filme do ano é um amontoado de efeitos especiais sem um roteiro decente, é sempre bom dar uma olhada para alguns anos atrás. Lugares que sabidamente evocam a necessidade de se conhecer o sempre novo velho, pelo puro simples ato de manter a sua cabeça em ordem.

E dentro de uma dessas criptas sagradas, é que se encontra o estertor final dos PIXIES, o disco que ficou conhecido apenas como o último, mas na verdade foi a pedra filosofal de onde nasceu quase tudo o que se viu um termos de música independente que o mundo assistiu depois.

TROMPE LE MONDE é de 1991. Nesse ano os filhos de Massachusetts já haviam sido opening act da turnê do U2, lançado o seminal Doolittle e se consolidado como uma das mais barulhentas e sensacionais bandas de seu tempo. As letras sobre alienígenas, religião, doenças mentais e incesto já eram as marcas consagradas, assim como as melodias pesadas e grudentas que os Pixies produziam, que eram exaustivamente copiadas por quase todos os músicos iniciantes dos anos 90 (leia-se aí bandas grunge ou indies).

Não é de graça que “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana é segundo o próprio Cobain, uma tentativa quase que desesperada de fazer algo do calibre dos Pixies.

Mas no mesmo ano de 1991, a banda já não era a mesma no quesito entrosamento. Black Francis, Kim Deal, Joey Santiago e Dave Lovering mostravam sinais de que nem mais um hit como “Here´s Comes Your Man” salvaria a relação que quase sempre foi conturbada entre a porra louquice de Deal e a sistemática de Francis.

Mas como todo bom gigante abatido dentro do campo de batalha, a banda em um movimento de picardia barulhenta lançou o disco que marcaria o fim de uma era dentro da música. E a importância de Trompe Le Monde é muito menos pelo seu sucesso e muito mais pela história.

O início da década de 90 ainda era terreno por onde andavam falsos deuses roqueiros fantasiados com permanentes encaracolados nas cabeças e lápis de olhos marcando um rosto mais do que parecido com qualquer boneca Barbie. Terreno arenoso e movediço onde apenas alguns poucos ousavam desafiar. Os Pixies já estavam mais do que avançados no terreno inimigo.
Obrigatório lembrar que nesses tempos onde o rock estava ameaçado de virar um dinossauro manequim, a má vontade com as bandas maquiadas já estava em fase de repúdio. E uma onda de mudança devastaria a música em poucos meses. Os tempos eram de olho de furacão e o barulho que viria depois nunca mais deixaria as notas pelo meio do caminho. Mas antes da explosão do grunge com as bandas de Seatlle e o Nirvana, as bandas indie já rasgavam o útero podre do rock.

A cabeça do monstro parido pelas arredias veias de seis cordas tem seus genes cravados todos em Trompe Le Monde.

O título do que muitos consideram o primeiro trabalho solo de Black, veio de uma possível expressão francesa que significa “engane o mundo”. E suspeitas de que o último disco dos Pixies marcava o início da carreira solo de seu fundador foram ainda mais evidenciadas depois que Francis, em seus dois primeiros álbuns solo deixou clara a vocação de ficção científica que em Trompe escorria pelos poros. Outra evidência nítida de rompimento dentro do quarteto era a quase zero participação de Kim Deal nos vocais seguido bem de perto com o fato de que apenas uma música não era de autoria de Francis Black: uma cover de Jesus And Mary Chain.

“TROMPE LE MONDE”, que abre o suspiro final dos Pixies já tem distorção de sobra para pelo menos mais dois discos. Os vocais em quase falsete dessa canção com fraseados intensos de bateria e guitarras derretidas, mostram o resumo de um minuto e quarenta e seis segundos, do que a banda foi dentro da história do rock. Rápida e ponto final, apenas apara as arestas da pancadaria que começaria já nas primeiras notas de “PLANET SOUND”.

E é nessa canção que os seres reptilianos de outras dimensões começam a dar as caras no disco. A estória de um alienígena que desce em nosso planeta é como uma perseguição entre dois caças interestelares com direito a artilharia pesada de Kim Deal mostrando um peso tal em seus dedos, que muitas vezes é tenebrosa a sensação de que em qualquer momento o baixo vai sair pelas caixas de som e decapitar sua cabeça sem piedade.

A melodia mais doce (do modo Pixies de fazer canções pop) de “ALEC EIFFEL”, não se esconde atrás dos sorrisos de quem ouve a canção pela primeira vez. É sim uma aula de como se faz rock para dançar. Com a clara influência na melodia dos Ramones, essa música se fosse lançada hoje em qualquer banda considerada “muderninha” seria considerada a canção do ano.
Melodia pegajosa? Confere.
Teclados esquisitos? Confere.
Distorção no refrão? Confere.
Rock para dançar em pistas? Confere.
Muito antes dos Strokes e dos Arctic Monkeys, os Pixies já tinham escrito a cartilha do que seria hoje considerado indie.

“THE SAD PUNK” até que engana no início, porque a introdução da bateria lembra muito as músicas das bandas de space-rock. Mas é apenas uma questão de milésimos de segundos até que seu cerebelo seja submetido à uma pancadaria que despenca em gritos alucinados. Uma das maestrias dos Pixies sempre foi fazer canções onde quem ouvia era deslocado por quilômetros e não mais que de repente estacionado em uma calmaria nervosa. E essa música é assim.

Atropelamento de trem seguido de afagos maternos embalados em canção de ninar de terror.

Se Surfer Rosa é fundamental para se entender o que foi o rock dos anos 90,” HEAD ON” do Jesus And Mary Chain gravada pelos Pixies é pedra fundamental para quem quiser ter uma banda que queira gravar uma cover. Suja, rápida e completamente diferente da original é força propulsora para que a audição do disco se torne uma esperiência sedimentada em bases de riffs explosivos. Por mais apelo pop que os Pixies tenham colocado dentro dessa cover, a guitarra estridente e o desespero colocado por Francis nos vocais elevam o jogo à um patamar pouco alcançável por muitas bandas que se metem a fazer uma canção assim.

Muito mais original do que qualquer bandacine por aí……..

Quando você escuta “U-MASS” uma sensação de já ouvi isso antes abala um pouco a confiabilidade do disco. Mas quando você lembra o ano de lançamento da bolacha essa sensação é de que alguém depois dos Pixies já fez um riff exatamente igual ao deles. E essa impressão não é falsa. EMF com “Unbelivable” e Modest Mouse com “Float On”, são “chupadas” dessa faixa dos Pixies. O riff grudento feito para embalar a letra sarcástica sobre a juventude universitária americana (público dos Pixies) e um refrão explosivo na medida certa para gastar a faringe de tanto cantar (“”It´s educationallllllllll!!!!!!!!!”") mostram com quantas notas se faz uma canção imortal.

A quase dobradinha “PALACE OF THE BRINE / LETTER TO MEMPHIS“, funcionam como uma canção só. A primeira com direito a mais um refrão duplicado pela beleza dos vocais de Kim, faz uma introdução mais tranquila para a pancadaria lisérgica que vem com “Letter To Memphis”. Uma canção mais puxada para o hard-rock do que para o independente, mas com uma parede de tijolos atirada em sua cabeça através das distorções produzidas por Santiago. É como sentir a vibração de um esmeril pulsando a milhões de rotações em seu ouvido.

“BIRD DREAM OF THE OLYMPUS MONS”, é propositalmente vagarosa. Mais uma vez a britadeira Kim Deal marca a força da distorção que segue aos vocais quase messiânicos de Francis. Os teclados são apenas uma nuance que envolve uma poeira cósmica de destroços melancólicos dessa canção.

Mais espaço e uma nova camada de aliens em “SPACE (I BELIEVE IN)”. O mais bacana dessa canção nem é falar sobre como a construção perfeita dela em camadas diferentes que colidem em um mosaico de pólvora. Mas sim prestar atenção ao detalhe da genética mãe do que foi feito alguns anos depois por uma outra banda fantástica que se chama Faith No More. A bateria e a percussão tem uma levada funkyadélica presente nas melhores faixas da banda de Patton. E a construção de vocais principais e backings vocals guturais ao fundo estão presentes por exemplo em “A Small Victory” do aclamado Angel Dust. Nesse momento já é possível ver a cabeça do monstro quase que inteiramente fora da abertura cesariana.

A primeira nota da bateria de “SUBBACULTCHA“, os Raimundos reproduziram anos depois em “I Saw You Saying”, mas as comparações acabam nessa nota.
Porque logo após esse começo mórbido e a sequência de esfriar a espinha da primeira parte da música, o riff autista e a serra elétrica de seis cordas que a acompanha pesam como lava petrificada transformada em rocha a cada virada de bateria. Hipnótica e falada é talvez a melhor música do disco, com uma melodia estraçalhada e pulsante.

“DISTANCE EQUALS TIMES TIME”, é assimétrica. Gritada e cantada em partes iguais tem a medida certa e o tempo certo. E precisa de mais alguma coisa???????

“LOVELY DAY” é a visão sessão da tarde dos Pixies. Tem a levada punk da banda , mas sem perder a ternura mórbida. Irmã separada ao nascer de “Head On”, com ecos de surf rock. Lado B de primeira linha em qualquer EP que se preze.
Definir “MOTORWAY TO ROSWELL” é uma tarefa absolutamente ingrata. Seja pela guitarra zunindo em seus ouvidos médios ou pelo piano com nuances de cabaret misturado com a qualidade épica dessa canção. Ela vai começando aos poucos e se tornando um ciclo cheio de sensações melodicamente confusas e deturpadas, até implodir novamente no piano. Como se fosse possível presenciar uma ataque epilético seguido de um sono profundo em forma de notas musicais.

“THE NAVAJO KNOWS” é um ato final com os pés inteiramente sedimentados nos anos 80. A fluência dançante dessa canção é tudo aquilo que o Franz Ferdinand conseguiu fazer depois. Sonoridade macabra com guitarras novamente em ritmo de surf. É abafada e mínima como se a banda estivesse realmente ali mostrando o fim do tunel depois da luz.

Trompe le Monde é considerado pelos “entendidos”, como o pior disco dos Pixies. Todo mundo torceu o nariz pois não era clássico como Doolittle nem seminal como Surfer Rosa.
Na verdade se o disco de estréia da banda mostrou o que fazer nos anos 90, o disco final dos Pixies fez nascer de vez uma geração de caras com camisas de flanela e calças jeans rasgadas e ainda por cima deu toda a carga genética para que o rock indie dos anos 2000 pudesse trilhar o caminho sem ter que tropeçar nas pedras.

Uma banda clássica não tem discos ruins ou melhores, ela tem discos que escrevem a história. E os Pixies tem quatro.
E Trompe Le Monde é um desses pilares………

Fonte


VÍDEO

Bird Dream of the Olympus Mons
 
Última edição por um moderador:
Where is my mind está no Top 10 de músicas da minha vida. Pixies é adorável! :grinlove:
 
Tópico lindo, Phantom! :joy:

Quero fazer um comentário mais detalhado aqui, depois, mostrando todo meu amor pela banda, porque ela é minha banda preferida e coisa e tal. Mas, por enquanto, não tem como eu clicar em curtir no post inicial uma vez por segundo, não?

Nossa, gente, gosto tanto da banda que não consigo nem falar sobre ela.
 

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