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Os anões e a imortalidade

Bekasobiskie

Usuário
Todos nós já ouvimos falar sobre a inveja dos homens pela imortalidade élfica (é só ver a história de Numenor...) e, talvez, da inveja dos elfos pela mortalidade humana. Mas não há nada (pelo menos eu nunca li ou ouvi) sobre os anões terem inveja tanto da imortalidade élfica quanto da mortalidade humana e olha que o destino dos anões após sua morte é estranha, diversa e enigmática.

Eu gostaria de saber a opinião de voçês sobre isso. Até porque é engraçado ver como os anões são um povo satisfeito consigo mesmo, bem na deles, não querem encomodar nem serem encomodados Talvez eles sejam os melhores vizinhos que alguém da terra-média poderia ter. É claro que eles tem seus defeitos, mas ninguém é perfeito.

Talvez, se os humanos fossem mais como os anões, Numenor ainda existisse não é?!
 
Pelo que se conta, os Anões foram feitos um pouco mais "resistentes" por assim dizer que os homens contra a maldade, já que Aulë planejava colocá-los no mundo antes dos filhos de Eru. Nessa época Melkor era muito forte e ele desejou se prevenir. Os anões acabaram por se tornar resistentes até mesmo aos anéis de Sauron feitos para eles. E sua única fraqueza era a grande escuridão (nas palavras de Barbárvore para o mal ancestral).

Com o passar do tempo, tenho a impressão de que todas as raças acabaram por serem contaminadas pela magia maligna de Morgoth, umas mais outras menos. Os homens foram os mais injustiçados de todos, pois seu destino de virem por último na contagem das raças foi transformado na pior das prisões dos povos livres.

No futuro são observados assassinatos cometidos por todas as raças e eu só não saberia dizer sobre os pastores Ents e suas "ovelhas". E mesmo elas, segundo barbárvore, podiam se transformar em coisas piores do que aquelas da floresta velha por causa do mal de Morgoth.

Eu imagino que o futuro dos anões esteja relacionado ao seu "status" de adoção por Eru. Que para eles, no futuro, também será adotado um lugar entre os filhos.
 
Interessante seu tópico Beka...

O Neoghoster respondeu ele muito bem.

O que eu acrescentaria a ele é o seguinte:

Sim, acho que se os homens fossem mais como os anões Númenor certamente ainda existiria e seria absolutamente inexpugnável.

Mas quis os deuses que os homens fossem homens e os anões fossem anões, e viva as diferenças, rs.

Agora sério: uma das coisas que eu sempre pensei sobre a imortalidade é o seguinte:

Acho que todas as raças desejam/possuem a imortalidade, mas cada uma delas desejam/possuem uma faceta da imortalidade. Explico.

Os elfos são imortais, claro, eternos e duram enquanto o mundo durar. E apesar de talvez cobiçar a mortalidade humana eles de fato não a compreendem. O caso em que isso pode ser visto com mais clareza é no leito de morte de Aragorn com Arwen surtando ao seu lado sentindo de fato o peso que é a dádiva de Eru, o peso que é ser mortal, e ter entes queridos mortais.

No fundo os elfos são imortais e gostam disso, eles gotam das coisas perenes, do imutável. Talvez por isso eles tenham uma relação tão próxima com as florestas e as estrelas. Árvores e estrelas são perenes (principalmente estrelas). Árvores vivem muito e quando morrem ainda continuam de pé, elas têm esse quê de imortalidade, de pertença, de imutabilidade que os elfos têm.

Se eu fosse resumir os elfos em uma única frase seria certamente: "Vamos manter o status quo". Os elfos não gostam de mudança, são completamente avessos à novidades, na terra deles o tempo praticamente não existe. O hobbits relatam frequentemente a dificuldade de ficar um tempo em Valfenda ou Lórien e saber exatamente a quanto tempo você está lá. Tudo isso porque em terras élficas o tempo parece não existir ou não se manifestar, parece que tudo sempre foi e sempre será, tudo é intocável e absoluto. Os elfos são absolutamente eternos e eles não compreendem a pressa e os corações flamejantes dos humanos que têm seus dias contados. Os elfos gostam de livros, cultura e tradição, porque? Por que eles são eternos e têm todo o tempo do mundo, e através desse tempo todo eles adquirem o que eles almejam mais: a sabedoria. Assim, a eternidade lhes provém sua maior cobiça, a sabedoria.

Os homens também buscam a imortalidade. Como não são eternos como os elfos e atacar os valar não deu certo, eles buscam a imortalidade de outra forma: a linhagem. Os homens adoram ter filhos e depositam neles toda a sua alma, pois sabem que em seus filhos e nos filhos de seus filhos, eles viverão para sempre. Seu sobrenome deve permanecer, sua casa, sua linhagem. Assim que os homens buscam a imortalidade.

Nas estendidas, Gandalf fala um pouco sobre a história de Minas Tirith a Pippin. Diz que a Casa dos homens caiu quando eles começaram a cobiçar demais a imortalidade élfica, e eles construíram torres altas para estudar as estrelas e buscar nelas o segredo da eternidade. Começaram a fazer casas maiores e mais suntuosas para seus mortos que para os vivos. Começaram a valorizar mais os nomes de seus antepassados que os de seus filhos. Começaram a se preocupar com heráldica, o estudo dos brasões. Os homens dedicaram todos os seus esforços na tentativa de reduzir o envelhecimento e buscar a imortalidade e assim, paradoxalmente foram vivendo cada vez menos.

Os homens fazem tudo isso até hoje, mas de outra forma: hoje nós vamos à academia e gastamos muito dinheiro com cosméticos que prometem a juventude eterna. Paralisamos a própria face com os botox da vida... tudo escondidinhos da morte, pois a transformamos em um tabu e hoje é mais fácil falar de sexo que da morte. O tabu do sexo é coisa do passado.

Os anões são diferentes: para cada anã existem 2 ou 3 anões e logo, os anões não buscam a imortalidade na linhagem como os homens. Mas eles a buscam e a desejam também: através da forja.

Os filhos dos anões são os filhos de sua forja, as coisas que eles criam, que eles constroem. Armas, instrumentos, reinos inteiros... os anões buscam a eternidade nas coisas que eles mesmos criam, a própria Narsil/Andúril (que tirou o Anel de Sauron) de Aragorn foi feita pelos anões. Os reinos élficos têm a mão dos artífices anões.

E veja que bonito isso, os anões são tão ligados à imortalidade que suas obras lhes provém que eles não se chamam de de ferreiros. Chamar um anão de ferreiro seria desmerecê-lo, insultá-lo. Os anões não são ferreiros e para eles, Moria não se trata de minas. O que para elfos e homens são minas e buracos escuros, para os olhos engenhosos dos anões são belíssimos salões.

Mas então, se os anões não são ferreiros, o que eles são? Artífices. Veja que bonito. Eles são artesões, autores... artistas. Isso é o que significa artífice. Essa palavra define bem os anões em sua principal atividade.

Até os hobbits buscam a imortalidade de certa maneira. Eles detestam estrangeiros, aventuras, tudo o que foge do normal. Gandalf é extremamente mal visto, Bilbo e os heróis hobbits da comitiva também são num primeiro momento. Os hobbits assim como os elfos, gostam de manter o status quo, rs.

Tudo isso em nome da imortalidade, acho que a finitude assusta a todos por demais, não lidamos bem com essa idéia. Por isso muita gente se apega nas religiões, para ter um lugar para ir depois que não fazer mais parte desse mundo, para ter um Mandos bonzinho esperando no fim do túnel. Uma vez vi uma reportagem sobre ONGs que tentam salvar animais em extinção e o interessante é que só tem idosos nessas ONGs, talvez eles se envolvam com isso como uma forma de entender melhor a própria finitude, pois sabem que eles próprios estão próximos de suas extinções pessoais.
 
Última edição:
Eu estava procurando algo para enviar a uma pessoa que ainda não entendeu muito bem o conceito de imortalidade nas obras de Tolkien. De repente me deparo com esse maravilhoso texto do Gerbur!

Merece um karma mesmo!
 
Pessoal, muito obrigado pelos elogios e tudo o mais.

Na verdade, quando se trata de Tolkien sou um eterno aprendiz, ávido para aprender sempre mais com nosso amado professor! ;)
 
Adorei o post aí de cima. Dei um Thanks. :joinha:

Caracterizou a maneira de pensar de todas as raças muito bem.

Certo, os anões buscam a imortalidade por meio de suas obras (eu nunca havia pensado dessa maneira), mas, o mistério que fica é o destino deles após a morte. Eu não sou a maior especialista em anões, mas já pensei/ouvi algumas teorias:

1° Há algum lugar no palácio de Mandos para eles (tenho muita certeza disso), mas, é possível que eles não fiquem para sempre lá e talvez venham morar junto com Aulë, o seu criador.

2° O destino deles é o sono eterno (ou pelo menos até o fim de Arda, onde acordariam na última batalha do mundo, contra bem e mal, conforme profetizado por Mandos...)

3° E tem ainda a hipótese de reencarnação levantada pela idéia do retorno de Durin, não sei se isso se aplicaria só a ele ou poderia ser aplicado em todo o povo, também.
 
Última edição:
Puta merda...
Depois da aula sobre imortalidade pelo Gerbur, nem tenho mais o que comentar, né?
E sabe o que é melhor?
É ver a galera da Valinor, assim como ele fez, participando com o coração. Sim, com o coração os posts ficam mais verdadeiros.
Em vez de mastigar o que Tolkien já mastigou, esse tipo de usuário faz o que deve ser feito:divagar e ser dono de suas próprias sabedorias.
Lindíssimo o que o Gerbur escreveu!
Profundo, consiso, tocante, verdadeiro, apaixonante... Simplesmente por ter sido um tópico escrito com o coração!
 

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