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O Xadrez e a literatura

Nossa, quantas referências interessantes! =) Eu mesma só consegui pensar em Harry Potter, hehe... mas eu acho que o xadrez deve ser muito, digamos, "valorizado" pelos autores que vocês citaram por ser um jogo que exige raciocínio, estratégia e afins, o que obviamente atrai muitos estudantes de matemática e ciências em geral. Como antigamente o conhecimento não era assim tão "específico" - digo, era mais comum alguém entender um pouco de tudo porque as matérias não tinham o nível de aprofundamento que têm hoje em dia - acho que o interesse no jogo era maior, e por isso tinha mais inserção em obras literárias em comparação do que tem atualmente.

Fora isso, as peças do jogo são fascinantes e podem inspirar histórias, pois são em si personagens... Será que algum autor já pensou em escrever uma história (mesmo que siga os padrões mais clichês de histórias de guerra) baseando-se no que aconteceu em uma partida de xadrez?

Fiquei inspirada agora, rs
 
É, Rodka. Li Dom Casmurro há muuuuito tempo, não me lembro.


Mas o Machadão manda xadrez no Esaú e Jacó, de chofre e com piparotes lol. Espia o trecho d'A Epígrafe, Capítulo 13. Nele Machado cogita usar os recursos da notação de xadrez para contar a história dos gêmeos, atribuindo cada personagem a uma peça. O cara insinua uma transgressão narrativa das mais iluminadas e loucas, não faz, e deixa uma dica pros escritores pós-modernos! Machado rulez.


"Talvez conviesse pôr aqui, de quando em quando, como nas publicações do jogo, um diagrama das posições belas ou difíceis. Não havendo tabuleiro, é um grande auxílio este processo para acompanhar os lance..."
 
É, Rodka. Li Dom Casmurro há muuuuito tempo, não me lembro.


Mas o Machadão manda xadrez no Esaú e Jacó, de chofre e com piparotes lol. Espia o trecho d'A Epígrafe, Capítulo 13. Nele Machado cogita usar os recursos da notação de xadrez para contar a história dos gêmeos, atribuindo cada personagem a uma peça. O cara insinua uma transgressão narrativa das mais iluminadas e loucas, não faz, e deixa uma dica pros escritores pós-modernos! Machado rulez.


"Talvez conviesse pôr aqui, de quando em quando, como nas publicações do jogo, um diagrama das posições belas ou difíceis. Não havendo tabuleiro, é um grande auxílio este processo para acompanhar os lance..."

Cara pior que pirei mesmo no Xadrez,no Dom Casmurro é GAMÃO que ele cita muitas vezes.
 
Tem mais uma que lembrei enquanto assistia ao filme que é o "Amanhecer" da Stephenie Meyer:

Ver anexo 10661

Eu não entendi o que tem a ver com a série, apesar de eles aparecerem jogando xadrez no filme, mas segundo a Wikipédia a autora disse ou escreveu por aí:

Meyer described the cover as "extremely meaningful" and said that she was "really happy with how it turned out". The cover is a metaphor for Bella's progression throughout the entire series; she began as the physically weakest player on the board, the pawn, but at the end she becomes the strongest, the queen. The chessboard also hints at the conclusion of the novel "where the battle with the Volturi is one of wits and strategy, not physical violence."
 
Achei outra referência ao xadrez em A Cartomante de Machado de Assis:

Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal[...]

Só não tem muita relevância para a história...
 
Machado sempre no xadrez.. lembro que essa artimanha de ensinar xadrez também aparece em Iaiá Garcia.... o cara usa as aulas de xadrez para se aproximar da garota.


Dá-lhe Machado.
 
No quinto ato, cena I de "The Tempest", do Shakespeare, a Miranda e o Ferdinando estão jogando xadrez:

[The entrance of the Cell opens, and discovers

FERDINAND and MIRANDA playing at chess.]

MIRANDA.

Sweet lord, you play me false.

FERDINAND.

No, my dearest love,
I would not for the world.

MIRANDA.

Yes, for a score of kingdoms you should wrangle,

And I would call it fair play.

ALONSO.

If this prove
A vision of the island, one dear son
Shall I twice lose.

SEBASTIAN.

A most high miracle!

Existem vários quadros acerca dessa passagem... Alguns dizem que essa passagem é um caligrama, composto de 64 palavras em 8 versos completos, correspondentes às oito divisões do tabuleiro de xadrez e com uma subdivisão em trinta e duas palavras cada (conforme eu deixei sublinhado).

O Shakespeare é conhecido no campo do xadrez graças a um de seus retratos, onde ele aparece jogando xadrez com o Ben Johnson:

cn5699_shakespeare2.jpg

(retrato atribuído a Karel van Mander)

O jogo está assim (as pretas são Shakespeare):

cn4051_dia01.jpg


Outros veem essa partida como uma forma algo mais alegórica, conforme o F. Dickens e o G.L. White:

shakespeare.jpg
 
Achei uma referência perdida no Ulysses, no capítulo 10, mas é meio irrelevante (quer diz, acho que é, mas provavelmente estou errado já que como diz o Mavericco, tudo são detalhes em James Joyce) já que quem está jogando não chega nem a ser personagem secundário.
Ulysses e Bernardina Pinheiro disse:
Eles [Buck Mulligan e Haine] escolheram uma mesinha perto da janela, do lado oposto a um homem de rosto comprido cuja barba e olhar se curvavam sobre um tabuleiro de xadrez.[...]

John Howard Parnell moveu tranqüilamente um bispo branco e sua garra cinzenta se elevou até a testa onde repousou. Um instante depois, por baixo deste anteparo, seus olhos lançaram um olhar rápido, fantásmico e brilhante, para seu adversário e baixaram mais uma vez sobre um canto de manobra.
A citação tá nas páginas 294 e 295 da tradução da Bernardina pela Alfaguara.

Tem também uma novela de Stephan Zweig chamada The Royal Game que foi publicado pela Penguin como Chess. Parece ser bem interessante e é bem barato.

Já conhece o tropo Smart People Play Chess, Vinnie? :lol:
 
Achei uma referência perdida no Ulysses, no capítulo 10, mas é meio irrelevante (quer diz, acho que é, mas provavelmente estou errado já que como diz o Mavericco, tudo são detalhes em James Joyce) já que quem está jogando não chega nem a ser personagem secundário.

A citação tá nas páginas 294 e 295 da tradução da Bernardina pela Alfaguara.

Tem também uma novela de Stephan Zweig chamada The Royal Game que foi publicado pela Penguin como Chess. Parece ser bem interessante e é bem barato.

Já conhece o tropo Smart People Play Chess, Vinnie? :lol:

Conheci agora. Valeu, kra.


Lendo o Livro de Areia - um Borges fraquinho, chamou a minha atenção o conto "Utopia de um homem cansado". É Borges falando de imortalidade com sabor de requentado, mas ele põe o xadrez nessa, dizendo que os imortais (lá da história)...

"Completados os cem anos, o indivíduo pode prescindir do amor e da amizade. Os males e a morte involuntária não o ameaçam. Exerce alguma das artes, a filosofia, as matemáticas ou joga um xadrez solitário. Quando quer, ele se mata. Dono de sua vida, é também dono de sua morte."

É... xadrez é bom pra quem tem tempo de sobra mesmo....
 
Gosto muito desse tópico. Em parte porque sou um enxadrista fracassado (mas gosto mais de Damas) e em outra porque é um prazer maravilhoso encontrar um trecho e correr aqui pra registrar.

No Dossiê Machado, e tomando como base as deixas do SenhorK, encontrei algumas passagens referentes ao livro Machado de Assis: Um Gênio Brasileiro, do saudoso Daniel Piza:

Entre as relíquias da casa velha das laranjeiras está a mesinha de xadrez, jogo de que Machado gostava muito desde a juventude, como provam várias passagens de sua obra (embora uma delas, do conto "Antes que cases", aletre que "a vida não é um jogo de xadrez") e os testemunhos dos que o viram até participar de competições no Clube Beethoven, do qual chegou a ser diretor, e na casa do então campeão brasileiro, Artur Napoleão, seu amigo pianista. O tabuleiro em marchetaria e as peças entalhadas em madeira são raridades; da mesma época, consta que existiriam apenas mais cinco conjuntos como esse no mundo, nenhum outro na América do Sul.

Pg. 44 (na pg. 45 há uma foto da mesinha).

E lembrando que jogar xadrez era um dos passatempos do Rio de Janeiro da época...

Agora, abrindo também o Dossiê Fernando Pessoa, duas passagens de Álvaro de Campos:

"Ou uma partida de xadrez no convés dum transatlântico,"
Do poema "A Passagem das Horas", e
"Onde, aos meus ouvidos, acabara a partida de xadrez"
Do poema "Encostei-me para trás da cadeira (...)"

E o poema ortônimo "Xadrez", de 1-11-1927:

XADREZ

Peões, saem na noite sossegada,
Cansados, cheios de emoções postiças,
Vão para casa, conversando em nada,
Sob peles, e casacos, e peliças.

Peões a que o destino não concede
Mais que uma casa por avanço e* sorte,
Salvo se a diagonal lhes outra cede,
Ganhando o** novo, com a alheia morte.

Súbditos sempre da maior mudança
Das nobres peças que ou Bispo ou a Torre
Subitamente a sorte lhes alcança
E no isolado avanço o peão morre.

Um ou outro, chegando ao fim, consegue
O resgate do que é outro do que ele;
E o jogo, alheio a cada peça, segue,
E a inexorável mão por junto impede.

Depois, coitados, sob peliça ou renda***,
Mate! Se finda o jogo e a mão delgada****
Guarda as peças sem nexo da contenda,
Que, como tudo é jogo, o fim é nada.

* Var. sobrep. a "avanço e [sorte]": direita [sorte]
**: Var. subpt. a "Ganhando o [novo]": E ganham [novo]
***: Expressão dubitada: sob peliça ou renda.
****: Var. subp. a "delgada": cansada.
 
Dia desses vi na livraria um livro do Faulkner em que o xadrez tem importância no enredo.... mas esqueci a pomba do nome. Alguém sabe?


***********


Mavericco? Amigos? Vamos jogar uma partida por correspondência?


"Challenge accepted".. anyone?
 
Xadrez Epistolar? Mas naquele lance de mandar cartas e tudo mais? Gostei da ideia, apesar de nunca ter jogado... Aí a gente manda a carta, e o outro devolve, e manda de novo e zás e zás!
 
Lendo o "Antes das Primeiras Histórias" (Nova Fronteira, 2011), encontrei João Guimarães Rosa escrevendo um bom conto SOBRE XADREZ.

Chronos Kai anagke (tempo e destino; "tempo" era mole) conta a história de um promissor jogador de xadrez que se envolve num torneio para desafiar os grandes mestres. O tempo e o destino são, na história, entes que influenciam a trajetória do jovem enxadrista.

À maneira do Aleph, de Borges e do Hipopótamo de Brás Cubas, o xadrez mostra ao jogador toda a história da humanidade.

Contém drogas, "capeta" e o escambau. Puta conto.
 
O xadrez faz uma participação especial no "Sagarana" também, no conto "Minha gente". Um trechinho da segunda página:

Porque o seu fraco, e também o seu forte, é o "nobre jogo" de xadrez. Em tal grau, que ele sempre traz consigo, na mala de viagem: um tabuleiro grande; uma coleção de peças grandes; outros trinta e dois trebelhos de menor formato; mais outro jogo, de reserva, dos de bordo, com os escaques perfurados para se atarraxarem os pinos das figuras; blocos-diagrama, para composição de problemas; números de "L'Échiquier" e de "La Stratégie"; recortes de jornais, com partidas dos grandes mestres; e alguma roupa, também.
 
estou lendo hj o as cidades invisíveis, do ítalo calvino, e tem duas páginas narrando marco polo jogando xadrez com kublai khan. mas como com calvino nunca 1 jogo d xadrez é só 1 jogo d xadrez, ele dá 1 jeito d transformar as peças, os movimentos e o próprio tabuleiro em uma forma dos 2 jogadores se comunicarem sobre as particularidades das cidades q polo precisa relatar d suas viagens ao rei. é meio doido, mas mto legal, heheheh.
 
estou lendo hj o as cidades invisíveis, do ítalo calvino, e tem duas páginas narrando marco polo jogando xadrez com kublai khan. mas como com calvino nunca 1 jogo d xadrez é só 1 jogo d xadrez, ele dá 1 jeito d transformar as peças, os movimentos e o próprio tabuleiro em uma forma dos 2 jogadores se comunicarem sobre as particularidades das cidades q polo precisa relatar d suas viagens ao rei. é meio doido, mas mto legal, heheheh.

O xadrez, desde sempre, foi usado para ensinar... Calvino leu bem isso... descrever a cidade através do xadrez.. essa é nova!



Lendo "Estrela Distante", Roberto Bolaños, tropecei numa menção discreta ao xadrez:

Prisioneiros políticos jogam xadrez para passar o tempo.

Pode ser que esse seja o mais recorrente uso do xadrez na literatura.
 

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