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O Grande Gatsby (F. Scott Fitzgerald)

Lucas_Deschain disse:
Mas, pensando segundo o que apontaste aqui sobre remeter-se simbolicamente a algo, fiquei pensando sobre a personalidade do Gatsby e a Daisy (a mulher que ele deseja reaver, certo? também sou fraco com nomes), e como eles simbolizam ao mesmo tempo uma preocupação com status e dinheiro, mas se vêem às voltas com realizações e não-realizações amorosas. Será que Daisy simboliza o interesseirismo matrimonial e como a riqueza, esse objeto de amor e ódio que inquieta a alma de Fitzgerald, deforma as perspectivas das pessoas que se rendem a retórica perversa do materialismo?

Tive essa mesma impressão :sim:, afinal, ela não esperou o retorno do Gatsby e se casou com um jogador de futebol americano rico e famoso.

Lucas_Deschain disse:
Sinceramente não sei dizer. O que o Gatsby (personagem) representaria para você? Quem sabe um atormentado alter-ego de Fiztgerald...[/align]
Tive a impressão que o Gatsby buscou a riqueza como meio de conquistar a Daisy. Não sei se ele dava tanto valor à riqueza em si, mas buscou a riqueza porque queria a Dayse (como já faz um tempo que li e li em uma sentada pode ser que tenha me enganado, mas foi a impressão que tive).

Lucas_Deschain disse:
Gatsby não seria então a nostalgia de um tempo que não mais volta? De um amor que remonta ao passado e que, na sua tentativa de resgatá-lo e fazê-lo o que era antes, ele acabe somente evidenciando como sua vida tinha de fato se tornado sem sentido depois que renunciou ao amor, por quaisquer que fossem os motivos?
Acho que vc resumiu muito bem :sim: . A Daisy era para o Gatsby o que a madeleine representou para o Proust. As festas badaladas em que compareciam pessoas que sequer conheciam o Gatsby, tudo era um simples pretexto, uma tentavia de recuperar algo que no entender de Gatsby valia compensava (=Daisy), uma forma de preencher um vazio que a riqueza não preencheu.

Mavericco disse:
gora o que é o Gatsby pra mim? Isso é complicado... Gatsby é ambíguo e extremamente vazio, a meu ver. De tão vazio ele acaba demonstrando alguma profundidade, como se fosse um buraco negro que matasse até mesmo a luz. Mas, se Gatsby é um buraco negro, ele é a morte de uma estrela... Essa estrela é provavelmente a antiga sociedade que definhou com a Primeira Guerra Mundial... E essa luz que Gatsby devora é a luz que dá a um livro, a qualquer livro, um enredo menos vazio... Eu diria que é qualquer traço de enredo próprio, que fizesse de O grande Gatsby um livro menos inquietante, um livro menos morto-vivo. Tanto é que depois da morte de Gatsby o livro ganha até mesmo um tom de suspense, e chega até mesmo a se dirigir para esse suspense! Gatsby é o livro mas ao mesmo tempo impede o desenvolvimento desse livro...
Numa visão talvez um pouco viajada, eu diria que Gatsby é uma antítese do narrador do livro. O narrador quer continuar a história, quer ter uma história... Mas Gatsby quer anular essa história.

Acho que é o contrário. Gatsby tem um objetivo (=Daisy)... Nick é que parece não ter.... Como faço pra colocar um spoiler ?


Mavericco disse:
Isso sem contar a vista do luar da casa de Gatsby... Dava inclusive pra ver a casa de Daisy, se não me engano... Isso pode ser uma alegoria do presente vislumbrando o passado (como é nítido), ou então a Europa de hoje, arrasada, visualizando a Europa de antes... E aqui a personagem de Daisy, a Europa de ontem, paira pelo livro todo sem sucumbir à Gatsby, a nova Europa etc.

Ele comprou a casa por causa disso... Por enquanto estou com o Lucas, mas não deixa de ser interessante a sua perspectiva....
 
Lucas_Deschain disse:
Gatsby não seria então a nostalgia de um tempo que não mais volta? De um amor que remonta ao passado e que, na sua tentativa de resgatá-lo e fazê-lo o que era antes, ele acabe somente evidenciando como sua vida tinha de fato se tornado sem sentido depois que renunciou ao amor, por quaisquer que fossem os motivos?

Isso mesmo. Acho que nostálgico é uma boa palavra pro Gatsby! =D

Lucas_Deschain disse:
O vazio parece ser uma constante nos nossos posts, acho que ele realmente é um elemento-chave para compreender a mentalidade e os sentimentos da época, talvez até a palavra zeitgeist seja aqui utilizável (sempre quis usar essa palavra \o/ ). Isso me lembra que o Carpeaux define o zeitgeist ( \o/ x2) da época com a palavra "waste-lander", aludindo a poesia de T.S. Eliot. Ela parece ter sido extremamente relevante para a época, algo de peso mesmo, hein?

Mas voltando ao foco, seria Gatsby um 'waste-lander'? Vou ter que recorrer novamente ao grande Carpeaux para refinar o conceito 'waste-lander' para sabermos melhor que tipo de características ele mantém em seu bojo

Waste-Lander?... Mas acho que isso tem algum sentido com fragmentário, com uma sociedade fragmentada no meio duma linguagem fragmentada, como as poesias do Eliot...

Quer dizer. Julgo sê-lo.

Kelvin disse:
Lucas_Deschain disse:
Gatsby não seria então a nostalgia de um tempo que não mais volta? De um amor que remonta ao passado e que, na sua tentativa de resgatá-lo e fazê-lo o que era antes, ele acabe somente evidenciando como sua vida tinha de fato se tornado sem sentido depois que renunciou ao amor, por quaisquer que fossem os motivos?
Acho que vc resumiu muito bem :sim: . A Daisy era para o Gatsby o que a madeleine representou para o Proust. As festas badaladas em que compareciam pessoas que sequer conheciam o Gatsby, tudo era um simples pretexto, uma tentavia de recuperar algo que no entender de Gatsby valia compensava (=Daisy), uma forma de preencher um vazio que a riqueza não preencheu.

Interessante essa comparação com o Proust... :think:
Talvez Gatsby fosse uma forma mais vazia do narrador de Em Busca do Tempo (...)

Kelvin disse:
Mavericco disse:
gora o que é o Gatsby pra mim? Isso é complicado... Gatsby é ambíguo e extremamente vazio, a meu ver. De tão vazio ele acaba demonstrando alguma profundidade, como se fosse um buraco negro que matasse até mesmo a luz. Mas, se Gatsby é um buraco negro, ele é a morte de uma estrela... Essa estrela é provavelmente a antiga sociedade que definhou com a Primeira Guerra Mundial... E essa luz que Gatsby devora é a luz que dá a um livro, a qualquer livro, um enredo menos vazio... Eu diria que é qualquer traço de enredo próprio, que fizesse de O grande Gatsby um livro menos inquietante, um livro menos morto-vivo. Tanto é que depois da morte de Gatsby o livro ganha até mesmo um tom de suspense, e chega até mesmo a se dirigir para esse suspense! Gatsby é o livro mas ao mesmo tempo impede o desenvolvimento desse livro...
Numa visão talvez um pouco viajada, eu diria que Gatsby é uma antítese do narrador do livro. O narrador quer continuar a história, quer ter uma história... Mas Gatsby quer anular essa história.

Acho que é o contrário. Gatsby tem um objetivo (=Daisy)... Nick é que parece não ter.... Como faço pra colocar um spoiler ?

É só usar :
Código:
[spoiler][/spoiler]

A questão é que eu não sei ao certo se o Gatsby gostava tanto assim da Daisy... Não sei! Às vezes penso nele como vendo a Daisy apenas como algo: "a última coisa que falta para eu ser completo" ou algo do tipo.

A verdade é que eu não confio no Gatsby XD

Kelvin disse:
Mavericco disse:
Isso sem contar a vista do luar da casa de Gatsby... Dava inclusive pra ver a casa de Daisy, se não me engano... Isso pode ser uma alegoria do presente vislumbrando o passado (como é nítido), ou então a Europa de hoje, arrasada, visualizando a Europa de antes... E aqui a personagem de Daisy, a Europa de ontem, paira pelo livro todo sem sucumbir à Gatsby, a nova Europa etc.

Ele comprou a casa por causa disso... Por enquanto estou com o Lucas, mas não deixa de ser interessante a sua perspectiva....

Eu entendo. Estou tentando adicionar essa perspectiva alegórica pra ver se completo o sentido do livro... Não quero aceitar que é só isso aí. Que o livro é só isso: uma história de amor não correspondida numa sociedade arrasada...

Porque se for só isso mesmo, não conigo entender o porque diabos de colocarem tanto o Gatsby em cima de um pedestal!
 
[align=justify]O Grande Gatsby pode até ser

uma história de amor não correspondida numa sociedade arrasada...

mas certamente não é só isso. Há a questão da elegância da linguagem, que, creio eu, é reflexo da pompa e da festividade extravagante que o Fitzgerald cultivou em vida e que transparece no modo de vida de seus personagens, sejam eles Gatbsys ou outros, já que estão sempre envolvidos em jantares, coquetéis, eventos sociais, jazzes em salões opulentos com conversas fúteis que embora vejam a high society (babbitista, empresarial, capitalista de senso prático que quer encerrar em seu modus vivendi eflúvios de uma Bélle Époque aristocrática obliterada pelo horror da guerra) como o empobrecimento espiritual, também a vêem como o exemplo de potencialidades pecuniárias, das possibilidades e do conforto que o dinheiro pode proporcionar.

Também vejo o retrato que fez de uma época, e o livro, como seu autor, se vê atormentado pelas possibilidades que lhe são apresentadas. É o conflito espiritual x material (resumindo de modo grosseiro), será que vale a pena ser um hedonista aos moldes capitalistas ou renegar a essa realidade como forma de protesto a sua futilidade ou superficialidade? Creio que esses foram alguns dos conflitos que o próprio Fitzgerald vivenciou na sua existência e que em alguma medida se instilaram nos seus personagens e suas histórias.

A experiência da Primeira Guerra Mundial alterou profundamente os espíritos, como o fez com os escritores dessa época, que, vale lembrar, é chamada de "Geração Perdida" (deve haver uma forte ligação desse epíteto com 'waste-lander', não?). Os Estados Unidos passaram a ser credores do mundo, tinham uma economia absurdamente forte e em vertiginoso crescimento (alguns chamam a década de 20 como os 'loucos anos 20'), mas que caminhava rumo ao "abismo econômico" (usando as palavras de Hobsbawm). Só que esse crescimento era material, regado a competitividade e realização financeira postas acima de quaisquer outras categorias espirituais (quando digo espirituais não pensem que é uma muleta conceitual, é a forma que decidi usar para resumir: humanístico, intelectual, artístico, filosófico, metafísico, que se interessa pelas grandes questões da humanidade) era, para usar o acertado termo do Mavericco, 'vazio', profundamente vazio pela fugacidade e pseudo-segurança que apresentava e que viria a ser revelada com a crise de 29.

Essa discussão está me fazendo gostar cada vez mais de O Grande Gatsby, que discussões legais estão saindo, hein? Valeu pessoas, vamos lá, quero "ouvir" o que você tem a me dizer.[/align]
 
O Grande Gatsby como sendo uma obra autobiográfica do Fitzgerald ou de toda uma geração :think:
Realmente, realmente. Outras obras tiveram esse caráter, como o Ardil-22 do Joseph Heller durante a Guerra do Vietnam e etc.

Creio que para melhor entrarmos nessa perspectiva seria interessante dar uma lida na biografia do Fitzgerald... Não é uma opção tão ruim de todo. É provável que ele tenha se baseado em alguém de sua vida para compor o Gatsby :sim:
 
[align=justify]Talvez não como autobiográfico de cabo a rabo, mas penso que ele deve ter conseguido captar, até certo ponto, obviamente; as questões que marcaram uma geração, os dilemas, as questões, os comportamentos, os modelos, os ideais (ou a falta deles) e transformar isso em literatura, em arte. Reitero, o valor de O Grande Gatsby está justamente por ele ser um emblemática retrato de sua época, mesclando realidade e ficção, conteúdo e arte de uma maneira elegante e interessante. Na minha opinião ele não é daqueles livros que te fazem ficar mal, que te "atingem como uma desgraça", como o Kafka dizia, mas consegue manter-se como um clássico por uma porção de motivos, que tentamos entender (e continuamos a tentar, desconstruindo-o) ao longo desse tópico. Legal é que os ceticismos se encontraram e construímos nossas análises baseadas no questionamento de 'porque ele é um clássico?' ou 'seria ele supervalorizado?'.

Enfim, de qualquer forma é um dos mais famosos representantes da literatura norte-americana, que conseguiu com sua literatura traduzir os dramas de sua época que, aliás, se mostram cada vez mais interessantes a medida que vou respondendo esse tópico, hehe.

Sobre as possíveis opções de biografia, achei três que me pareceram interessantes:[/align]

[align=center]F. Scott Fitzgerald - Uma Biografia (Jeffrey Meyers)
[/align]

[align=center]
SCOTT_FITZGERALD__1276550990P.jpg
[/align]

[align=justify]
Saiu pela José Olympio em 1996. 424 páginas, tem uma porção de opções na Estante Virtual. Jeffrey Meyers é inclusive biógrafo de Edmundo Wilson, célebre escritor e crítico literário norte-americano dessa época, responsável inclusive por organizar a coletânea de escritos presentes em Crack-Up.[/align]

[align=center]Mentiras Íntimas - F.Scott Fitzgerald e Shelah Graham (Robert Westbrook)[/align]

[align=center]
8501045284.jpg
[/align]

[align=justify]Confesso que não botei muita fé nessa capa aí, mas quem sabe revele detalhes legais sobre a vida dele. 492 páginas, saiu pela Editora Record em 1997.[/align]

[align=center]Zelda e F. Scott Fitzgerald: o casal dos sonhos da era do jazz (Kyra Stromberg)[/align]

[align=center]
Imagem0247.jpg
[/align]

[align=justify]Saiu pela Gryphus em 1999 na coleção Casais. Tem só 165 páginas e encontrei uma resenha bem legal do livro aqui. Todas devem conter informações valiosas para compreender mais sobre a vida do Fiztgerald.

Recentemente terminei de ler O Diamante do Tamanho do Ritz e outros contos e posso dizer que embora não sejam grandes contos, vale a pena por evidenciar escancaradamente o deslumbramento do Fitzgerald pela riqueza e opulência e o tormento que ele sofria por essa vida que o fascinava e causava repulsa.[/align]
 
[align=justify]Ah, esqueci de dizer no tópico anterior, mas tem também uma coletânea de contos (24) que saiu pela Companhia das Letras (com capas naquele padrão bacanudo). Normalmente essas coletâneas vem com informações valiosas tanto sobre a escrita como sobre a própria vida do autor.[/align]
 
Lucas_Deschain disse:
A experiência da Primeira Guerra Mundial alterou profundamente os espíritos, como o fez com os escritores dessa época, que, vale lembrar, é chamada de "Geração Perdida" (deve haver uma forte ligação desse epíteto com 'waste-lander', não?). Os Estados Unidos passaram a ser credores do mundo, tinham uma economia absurdamente forte e em vertiginoso crescimento (alguns chamam a década de 20 como os 'loucos anos 20'), mas que caminhava rumo ao "abismo econômico" (usando as palavras de Hobsbawm). Só que esse crescimento era material, regado a competitividade e realização financeira postas acima de quaisquer outras categorias espirituais (quando digo espirituais não pensem que é uma muleta conceitual, é a forma que decidi usar para resumir: humanístico, intelectual, artístico, filosófico, metafísico, que se interessa pelas grandes questões da humanidade) era, para usar o acertado termo do Mavericco, 'vazio', profundamente vazio pela fugacidade e pseudo-segurança que apresentava e que viria a ser revelada com a crise de 29.
Acho que uma das coisas que gostei no livro foi isso. Ele retratou uma época, e acho que foi bem retratada pelo seu vazio. Os Estados Unidos não sofreram tanto as consequencias da guerra como a Europa. Mais, a sociedade que foi retratada é muito próxima à nossa (no Brasil os grandes esportistas só começaram a ficar ricos de verdade em um momento bem recente...). Também estamos vivendo uma certa euforia econômica e um excesso de consumismo, como os EUA viveram antes da crise de 29 .... O que os vendedores de bebidas representavam daa época da Lei Seca (drugstores) traz uma correspondência com a vida atual dos traficantes de drogas, que aliás buscam o mesmo estilo de vida tanto no aspecto luxo como no aspecto vazio....

Mavericco disse:
Creio que para melhor entrarmos nessa perspectiva seria interessante dar uma lida na biografia do Fitzgerald... Não é uma opção tão ruim de todo. É provável que ele tenha se baseado em alguém de sua vida para compor o Gatsby
Interessante mesmo ! Sei muito pouco da vida pessoal dele. Li apenas algo sobre o fato da esposa ter enlouquecido e ele ter passado dificuldades com isso......

Lucas_Deschain disse:
Talvez não como autobiográfico de cabo a rabo, mas penso que ele deve ter conseguido captar, até certo ponto, obviamente; as questões que marcaram uma geração, os dilemas, as questões, os comportamentos, os modelos, os ideais (ou a falta deles) e transformar isso em literatura, em arte. Reitero, o valor de O Grande Gatsby está justamente por ele ser um emblemática retrato de sua época, mesclando realidade e ficção, conteúdo e arte de uma maneira elegante e interessante. Na minha opinião ele não é daqueles livros que te fazem ficar mal, que te "atingem como uma desgraça", como o Kafka dizia, mas consegue manter-se como um clássico por uma porção de motivos, que tentamos entender (e continuamos a tentar, desconstruindo-o) ao longo desse tópico. Legal é que os ceticismos se encontraram e construímos nossas análises baseadas no questionamento de 'porque ele é um clássico?' ou 'seria ele supervalorizado?'.
Acho que parece ser esse o grande mérito do livro (servir como retrato de uma época cuja influência sobre a nossa época é enorme). Lucas, valeu demais pelas biografias :sim: !. Pelo que passei o olho parece que a do Jeffrey Meyers é a melhor. Tenho aqui a do Edmundo Wilson dele, mas como também não li não dá pra falar sobre o estilo redacional do autor. Acho que vou tentar a do Meyers ou então o volume de contos. Vou ver se tento separar os livros que tenho dele aqui pra ver se tem alguam informação que possa auxiliar também.

Agora, voltando ao livro e tendo em vista o comentário do Mavericco sobre a questão da ilha (piscina), me veio à cabeça algo que me influenciou para gostar do livro. Antes de ler o livro, já tinha ouvido falar uma frase do Fitzerald que afirmava algo sobre o romance ter proporções épicas. Não me lembro se ficou latente durante a minha leitura ou se chegeui a formular, mas o fato é que os paralelos do Gatsby com a Odisséia (o épico que ao lado da Ilíada fundaram o ocidente do qual o Gatsby é um subproduto) são enormes. Minhas idéias seguem em spoiler para não atrapalhar a surpresa de quem não leu Gatsby ou a Odisséia.

Os dois são separados da mulher amada por causa da guerra, os dois após essa guerra tem que atravessar uma ilha para alcançar a mulher amada e reconquistar seu lugar (tanto no sentido geográfico como social e até mesmo antropológico). Enquanto Odisseu enfrenta monstros (Sila, Caribdes, o ciclope), Gatsby tem de enfrentar o próprio Leviathan (= O Estado = a legalidade). A diferença é que enquanto Odisseu não sucumbe aos pretendentes (talvez por causa dos laços familiares que já tinha, talvez por causa do próprio comportamento de Penélope, que manteve a perseverança na luta contra os pretendentes), Gatsby sucumbe à astúcia do jogador Tom (mas a diferença não está em Gatsby, a diferença está em Deisy ou Dayse não me lembro, que ao contrário de Penélope não resistiu, mas foi tragada pelo vazio da sociedade que a circundava: busca de riqueza, de status). Assim, Gatsby não alcançou sua Ítaca, mas ficou perdido numa ilha, representada pela piscina na forma citada pelo Mavericco (=mesmo local em que Odisseu se encontrava preso no começo da Odisséia).
Outrossim, uma questão que fica é a seguinte ?

Será que aquele momento epifânico com Deyse não foi suficiente para justificar a vida de Gatsby. Será que ele não se eternizou até o infinito mesmo com a morte de Gatsby, apesar da postura inadequada de Deyse. Será que Gatsby não foi mais heróico que Ulisses ? A verdade é que o corpo boiando na piscina traz à tona não só o começo da Odisséia, mas também o final da Ilíada. Ao contrário do herói Heitor que por gesto também heróico de seu pai (=família) teve seu corpo resgatado para ser enterrado com as honras fúnebres, ninguém foi ao enterro de Gatsby (afinal, Gatsby não tinha família...), não tinha Penélope, não tinha nada, vivia em uma sociedade vazia....

Acho que tirei daí o caráter épico do livro. Talvez isso fez com que eu o tivesse como um clássico, até porque sou um fã incondicional dos épicos e os considero em sua maioria clássicos. Sendo a Odisséia e Ilíada clássicos, nada impede que sua recontagem a partir dos parâmetros vazios de uma época, mantenha íntegros seus contornos clássicos ? Principalmente se o enredo é alterado para se adaptar e captar uma época .... Bem, não sei se conseguir explicar bem minhas idéias, pois o tempo está curto... Bem, pelo menos estou conseguindo me lembrar o que me agradou no livro...
 
Eita! Muito boa esse paralelo com a Odisseia! Não ficou algo tão radical quanto o paralelo joyceano; mas, de fato, podemos ver muito disso...

E inclusive, se formos puxar o tapete, podemos colocar inclusive Gatsby como sendo Aquiles e não Odisseu... O rapto aqui talvez fosse o de Daisy por Tom; mas quando nos aproximamos do final fica difícil acompanhar esse paralelo na medida que quem morre é o Gatsby e não o Tom....

Se bem que Myrtle morre e isso poderia de certa forma representar a morte, digamos, "espiritual" ou amorosa de Tom... Como Tom num corpo de Heitor humilhado nos jogos fúnebres ao redor de Troia...

(ainda sobre o paralelo com a Odisseia, é importante também nos lembrarmos de que Ulisses aparece no Inferno XXVI, contando de sua morte e de sua busca incessante por conhecimento-- até padecer por julgo divino:

“Já do outro polo a noite levantada,
Via os astros brilhar: o nosso, entanto,
Na planície imergia-se salgada:

“Cinco vezes a luz do etéreo manto
A lua difundira e após minguara,
Depois que arrosto do oceano o espanto,

“Quando imensa montanha se depara:
Envolta em cerração, longe aparece;
Na altiveza outra igual nunca avistara.

“O prazer nosso em pranto se esvaece:
Da nova terra eis súbito irrompendo
Contra o lenho um tufão medonho cresce.

“Vezes três em voragens o torcendo,
A quarta a popa levantou-lhe ao alto,
E a proa, ao querer de outrem, foi descendo”.


Marco Lucchesi num prefácio pra edição do Inferno da Divina Comédia traduzida pelo Jorge Wanderley (a melhor tradução -- não esta acima, que é a do Xavier Pinheiro) fala desse capítulo e da saga ulisseana como sendo uma "mini-Divina Comédia", com a história de Dante e sua busca pelo conhecimento sendo concominante com o relato do heroi grego...)
 
[align=justify]Bá, vou ter que ficar devendo essa, mas achei os paralelos que tu fizeste, Kelvin e Mavericco, deveras pertinentes. Não posso dizer que concordo com eles 100% nem que os tomaria como meus, mas eles não deixam de serem possíveis e plausíveis.

Pensar o Gatsby como Ulisses me pareceu mais acertado, ainda mais levando em consideração que ele tem que atravessar uma porção de água para chegar aonde quer chegar, ambos vivem epopéias para estarem nos braços da amada. Minha ressalva, subjetivíssima, é que eu gosto tanto da Penélope e me custa associá-la com a Daisy, que me dá a impressão de ser uma interesseira fútil que arrepende-se tardiamente de suas escolhas passadas. Enfim, continuem, continuem.[/align]
 
Lucas, também sou fã da Penélope e me custa associá-la a Daisy que não teve coragem e persistência para esperar, mas talvez a mensagem do Fitzerald seja essa, no mundo moderno, vazio e acelerado no qual Gatsby vivia, Penélopes talvez não fossem possíveis... o que também torna impossíveis heróis como Ulisses.... ou talvez Gatsby tivesse procurado no lugar errado.... Vou pensar com mais calma sobre o tema e depois posto....
 
Talvez Fitzgerald quisesse uma paródia da Penélope, como Joyce, que a recriou como uma adúltera preguiçosa e gorda...

Paródia. Depois do trabalho eu tento desenvolver essa ideia no livro :think:
 
Assisti o filme de 1974 com Robert Redford no papel de Gatsby. Adorei o filme! Achei legal na hora das danças nos bailes eles focam os dançarinos, as pernas, era uma dança bem doida! O filme é bem fiel ao livro e o final, apesar de eu já saber pelo livro, fiquei torcendo pra não acontecer. A Dayse é retratada como uma riquinha metida e tola e não gostei dela (como não gostei da Dayse do livro), e fico até confusa em como um homem como o Gatsby pôde gostar dela!!
 
Acho que da mesma forma estranha que ela pôde gostar do Gatsby, um quase-gangster quase-sentimental XD

(quer dizer... Ela pôde?)
 
Eu gostei de O Grande Gatsby. Achei despretensioso, sucinto, com uma história bela (apesar do final que me deixou triste).

Quanto ao Gatsby ser rico por questões ilicitas, no livro fala que o pontapé inicial veio de um cara que gostava muito dele e deixou uma herança, e depois ele aumentou a quantia em negócios que não eram tão lícitos. Não deixa claro bebida, mas acredito que seja algo do tipo sim.

Já a Daisy, pra mim ela não desejaria perder o conforto. Isso fica claro quando ela se casa com outro, mas acho que torci tanto pelos dois que esperava que ela mudasse a postura.
 
[align=justify]Acho que o que corrobora a hipótese do Gatsby ter arrumado sua fortuna de forma ilícita é também a própria aura de mistério que existe em torno dele, desde suas origens até o fato de ele ter modificado seu nome.

As drugstores que são citadas por algum personagem (acho que é o Tom Buchanan) como sendo negócio dele bem podem ser pontos de venda de bebidas alcoólicas. Não sei não, acho que essa dúvida deixada pelo Fitzgerald é proposital, aí mais um elemento que ajuda a construir a bruma que circunda Gatsby e sua personalidade magnética.[/align]
 
Jordan era bem mais interessante que Daisy. Mas veja so, ela nao era a garota mais desejada da cidade interiorana. Gatsby poderia ter qualquer mulher que o dinheiro pudesse pagar, mas precisou se abrir para um vizinho aleatorio. Um vizinho mais amigo que seus colegas de negocios. Lucas Deschain poderia estar bebado numa festa do Grande Gatsby, se enfurnar na biblioteca e entao dizer: Uau! Sao livros de verdade mesmo! Porem, passaria pelos livros de Fitzgerald sem folhea-los.

E minhas impressoes de Gatsby estao misturadas com as de Breaking Bad. Nao existe gente boa que recuse cometer crimes, dada a situacao. Ate mesmo vender drogas ilicitas.

Gatsby nao era um mentiroso. Mentiam por ele. Matavam por ele. Nao os nazistas, mas as amantes dos traidos.

No final das contas: "You said a bad driver was only safe until she met another bad driver? Well, I met another bad driver, didn’t I?"
 
Me atrevo a dizer que até a Myrtle com toda sua loucura é mais interessante que a Dayse.

Pelo que li sobre o contexto histórico do livro, a época do clima descrito no livro de Fitzgerald é a época da Lei Seca, quando os bebedores de plantão se encontravam em bares clandestinos e muitos “Gatsbys” faturavam com isso. Mas eu não tenho certeza se no caso do nosso Gatsby o contrabando é verdade, porque para que então aquela história de herança de um amigo que morreu? Parece desnecessário.

Muita gente diz que idolatra o Gatsby, que ele amava Dayse de verdade e tudo o que ele fez para encontrá-la novamente era digno de um amor de verdade. O problema é que na minha opinião Gatsby era um grande babaca. Ele levou anos juntando uma fortuna e dando festas na esperança de que Dayse aparecesse. Porque? Porque ele sabia que o que interessava a Dayse era isso, conforto e dinheiro. Ele sempre soube como Dayse era, ele terminou daquele jeito porque quis. A única vítima nessa história toda é o marido torturado, Wilson, que tem a sua vida devastada por causa da vontade de Myrtle de ser uma Buchanan. Terminei o livro com raiva uahauhuahua.

Já assisti a adaptação para o cinema com o Redford, e apesar das críticas contrárias, achei muito boa. A Dayse de Mia Farrow me dá tanta raiva quanto a do livro com aquela vozinha estúpida. Ansiosa para a nova adaptação com o DiCaprio!
 
terminei de ler este livro ontem.
Estou com preguiça de ler as 3 páginas do tópico. O que posso dizer é que o Gatsby é aquele cara que você pode idolatrar ou odiar.
Que a vidinha dos Buchanam é movida apenas pelo dinheiro e que a Daisy é uma p*ta folgada.
O livro é pequeno e a leitura flui bem, então quero re-lê-lo (wtf?) pois li nessa época de final do ano meio tumultuado para fechar meu ano, rs.
 

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