utopia1408
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Gostaria de saber o que acham deste trecho inicial, se tem impacto o suficiente para um prólogo.
[align=center]Prólogo[/align]
Afastes-te. Creio que não há ordem mais adequada que um pode deixar cortar-lhe a boca do que esta. Qualquer moça bem nascida seria advertida ao ver-me. Não que seja fácil simplesmente ignorar-me. Uma das belas falhas de criação de minha mãe, tornei-me tão impregnável quanto um pode ser. Enquanto olhas-me escondo-me sob tua pele, percorro-te o sangue e teu pensamento me agarras com tanta força que tu achas, e às vezes concordo, que estas enfeitiçada. Não te culpes, fui criado para causar-te tal efeito. Fazer-te querer-me. Mas não sejamos superficiais, há mais do que a aparência. Creio que os gestos e o comportamento de meus olhos figuram entre os principais. Estranhos olhos, convenhamos, um azul outro verde, partes da aberração que sou. E os suspiros que acariciam os lábios das belas mulheres... Oh, Rafaello! Soam como música aos meus ouvidos.
Don Juan? Oh, não, não, não... De patético espanhol que se apaixona por qualquer fêmea que lhe cruze o caminho meu peito é vazio, estupidamente vazio. Menino de meretriz não acredita nessas coisas. Amor, já não lhe foram dedicadas as mais belas melodias e palavras? Dois jovens enamorados cujas sombras se beijam no parque, bela cena para papel. Amar, a meu ver, é um ato demasiadamente divino. E eu, mero humano, imperfeito em tudo que me é impossível, julgo-me digno e capaz de amar? Ou sou tão prepotente ao ponto de assemelhar-me ao divino, ao grande Baco, por exemplo?
Devo estar a chatear-te, importunando-te com estes devaneios sem rumo. Mas entenda-me, a mente de um bastardo não segue roteiros. Ela corre de um canto a outro, ricocheteia nos becos e tropeça nas poças do fétido esgoto que me torna o que sou. Incapaz de desejar uma mútua troca de sentimentos. Ser altruísta, sacrificar-me por outro? Meu coração bate em seu próprio ritmo funesto e único, inabilitado de assemelhar sua batida àquela de outro coração. E parte do magno sentimento não é tornar-se um?
Ah, como invejo os ingênuos apaixonados! Enganam-se ao assim se julgarem, mas como me parecem tão felizes! Privar-se da vida por alguém, caber-me-iam os trajes de Romeu? Creio que não. Minha pele sob o tecido, minha face sob a máscara, meu sangue tingido de nobre azul... Há encaixe de corpos, não de almas! E, claro, um vil humano, criatura rastejante e amoral, carece deste singelo artefato.
Então, bela dama ou nobre senhor, tu que até agora me lestes pacientemente, desejo que não te assustes com as seguintes histórias. Conto-te os pérfidos e pecaminosos detalhes de minha existência, mas alerto-te: priva as mentes inocentes de minhas confissões. Dito isto, abandonemos o monólogo e entremos em cena!
[align=center]Prólogo[/align]
Afastes-te. Creio que não há ordem mais adequada que um pode deixar cortar-lhe a boca do que esta. Qualquer moça bem nascida seria advertida ao ver-me. Não que seja fácil simplesmente ignorar-me. Uma das belas falhas de criação de minha mãe, tornei-me tão impregnável quanto um pode ser. Enquanto olhas-me escondo-me sob tua pele, percorro-te o sangue e teu pensamento me agarras com tanta força que tu achas, e às vezes concordo, que estas enfeitiçada. Não te culpes, fui criado para causar-te tal efeito. Fazer-te querer-me. Mas não sejamos superficiais, há mais do que a aparência. Creio que os gestos e o comportamento de meus olhos figuram entre os principais. Estranhos olhos, convenhamos, um azul outro verde, partes da aberração que sou. E os suspiros que acariciam os lábios das belas mulheres... Oh, Rafaello! Soam como música aos meus ouvidos.
Don Juan? Oh, não, não, não... De patético espanhol que se apaixona por qualquer fêmea que lhe cruze o caminho meu peito é vazio, estupidamente vazio. Menino de meretriz não acredita nessas coisas. Amor, já não lhe foram dedicadas as mais belas melodias e palavras? Dois jovens enamorados cujas sombras se beijam no parque, bela cena para papel. Amar, a meu ver, é um ato demasiadamente divino. E eu, mero humano, imperfeito em tudo que me é impossível, julgo-me digno e capaz de amar? Ou sou tão prepotente ao ponto de assemelhar-me ao divino, ao grande Baco, por exemplo?
Devo estar a chatear-te, importunando-te com estes devaneios sem rumo. Mas entenda-me, a mente de um bastardo não segue roteiros. Ela corre de um canto a outro, ricocheteia nos becos e tropeça nas poças do fétido esgoto que me torna o que sou. Incapaz de desejar uma mútua troca de sentimentos. Ser altruísta, sacrificar-me por outro? Meu coração bate em seu próprio ritmo funesto e único, inabilitado de assemelhar sua batida àquela de outro coração. E parte do magno sentimento não é tornar-se um?
Ah, como invejo os ingênuos apaixonados! Enganam-se ao assim se julgarem, mas como me parecem tão felizes! Privar-se da vida por alguém, caber-me-iam os trajes de Romeu? Creio que não. Minha pele sob o tecido, minha face sob a máscara, meu sangue tingido de nobre azul... Há encaixe de corpos, não de almas! E, claro, um vil humano, criatura rastejante e amoral, carece deste singelo artefato.
Então, bela dama ou nobre senhor, tu que até agora me lestes pacientemente, desejo que não te assustes com as seguintes histórias. Conto-te os pérfidos e pecaminosos detalhes de minha existência, mas alerto-te: priva as mentes inocentes de minhas confissões. Dito isto, abandonemos o monólogo e entremos em cena!