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Lolita - Vladimir Nobokov

Mavericco disse:
Na capa do livro é possível se ver claramente as ordens de Nabokov para com o texto: clare, delete, wipe out, obliterate. Era o que ele queria... Nabokov tinha horror em sequer pensar em ver seus livros publicados sem seu ponto final definitivo. Sebastião Knight pede ao irmão que queime seus textos não concluídos após sua morte... A esposa de Nabokov guardou os textos e depois os deixou a cargo do filho deles, Dmitri, que, de forma vil e barata, mandou publicarem o livro "em respeito aos fãs". Fico me perguntando que tipo de fã é esse que só passou os olhos nas partes "picantes" de Lolita e provavelmente se decepcionou quando viu que as "cenas de sexo" tornar-se-iam rarefeitas...

P.S.: nunca abri esse O Original de Laura e também nem quero. Não vou perder meu tempo lendo um livro inacabado de um autor que detestava coisas inacabadas...

Mavericco, chega uma hora em que a obra transcende o autor e qualquer opinião dele sobre como devemos encarar suas produções é irrelevante. Lolita é muito maior do que o próprio Nabokov, mas ele ainda é parte da arte, o que automaticamente faz com que qualquer obra dele, termina ou não, seja interessante para o leitor.

Já dei uma olha em O Original de Laura, mas foi tão superficial que não posso dar uma opinião sobre o livro, porém o importante aqui é saber que antes de morrer ele estava trabalhando em algo e ler ou estudar essa produção nos ajuda a entender como a morte estava afetando a mente do autor.

Eu conheço um pouco sobre o Nabokov e fica claro que ele mesmo não curtia as coisas que escrevia. Lolita quase foi para o fogo. E não vou mentir, entendo perfeitamente o pensamento dele, porque Lolita e O Original de Laura são livros que mostram uma face que ninguém quer ver, mas sabe que existe. Escrever algo que pode denunciar a existência de um monstro dentro de você é perturbador, mesmo que esse monstro não exista.

Agora não me vem com esse papo de que o filho do cara foi "vil" em publicar o livro, porque qualquer argumento que ele possa usar sempre vai ter o respaldo da idéia de que um pai faz de tudo pelos seus filhos.

Te dou a dica, procure pel'O Original de Laura e leia como um estudante tentando entender o que seu objeto de pesquisa estava fazendo antes de morrer.
 
Eu deixo essa pesquisa Menardiana e sem sentido para pesquisadores que não tenham nada melhor para fazer. Prefiro estudar a obra publicada e completa do Nabokov ao invés de ficar tendo lapsos "what if" duma obra dum escritor que tinha repulsa em coisas do tipo...

E continuo com meu argumento de que a decisão dele foi vil. Foi tão vil a ponto dele argumentar isso:

No início de 2008, Dmitri dizia estar "próximo de uma decisão". Até que em fevereiro, usando seu histórico de visões sobrenaturais, se apropriou da imagem hamletiana de Rosenbaum. Em um e-mail enviado à produtora de um programa de TV australiano que discutia a questão - inclusive com a presença de Boyd e Rosenbaum -, ele afirmou ter sido visitado pelo fantasma do pai em Palm Springs. Em sonho, imaginária ou metaforicamente, Nabokov teria dito: "Você está empacado na mesma confusão de sempre. Vá em frente e publique". Radicalizando no cinismo, Dmitri acrescentou: "Com um sorriso irônico e amoroso, ele poderia, diante da minha situação, dizer: 'Bem, por que não unir o útil ao agradável? Faça o que quiser, mas por que você não faz algum dinheiro com a maldita coisa?'".

Em sua próxima entrevista pública, Dmitri irá provavelmente mostrar em frente às câmeras um cheque psicografado por Nabokov com lágrimas no canto dos olhos.
 
Acabei de ler tem um tempo e esqueci de comentar.Lolita é uma montanha-russa, você vê o narrador principal corrompido pela paixão e luxúria no começo, depois que a sorte lhe sorri e ele assume a guarda de seu objeto de desejo ele passa a privá-la de uma infância normal e a mantém presa em seus delírios carnais viajando de país em país, no meio, e depois, abandonado por fim, vê que embaixo de sua fachada ciumenta,devassa e monstruosa havia um amor mais forte que qualquer tipo de material feito pela humanidade.É um daqueles livros que te faz criar um vínculo, nem que seja de ódio, com os personagens, um livro que te obriga a encarar o que está acontecendo por mais repulsivo que seja, um livro que te faz pensar em quais são os valores de verdade.
 
Mavericco disse:
Eu deixo essa pesquisa Menardiana e sem sentido para pesquisadores que não tenham nada melhor para fazer. Prefiro estudar a obra publicada e completa do Nabokov ao invés de ficar tendo lapsos "what if" duma obra dum escritor que tinha repulsa em coisas do tipo...

E continuo com meu argumento de que a decisão dele foi vil. Foi tão vil a ponto dele argumentar isso:

No início de 2008, Dmitri dizia estar "próximo de uma decisão". Até que em fevereiro, usando seu histórico de visões sobrenaturais, se apropriou da imagem hamletiana de Rosenbaum. Em um e-mail enviado à produtora de um programa de TV australiano que discutia a questão - inclusive com a presença de Boyd e Rosenbaum -, ele afirmou ter sido visitado pelo fantasma do pai em Palm Springs. Em sonho, imaginária ou metaforicamente, Nabokov teria dito: "Você está empacado na mesma confusão de sempre. Vá em frente e publique". Radicalizando no cinismo, Dmitri acrescentou: "Com um sorriso irônico e amoroso, ele poderia, diante da minha situação, dizer: 'Bem, por que não unir o útil ao agradável? Faça o que quiser, mas por que você não faz algum dinheiro com a maldita coisa?'".

Em sua próxima entrevista pública, Dmitri irá provavelmente mostrar em frente às câmeras um cheque psicografado por Nabokov com lágrimas no canto dos olhos.

Cara, você tem noção de que está falando de um pai e de um filho. Você acredita mesmo que o Nabokov está se remoendo no túmulo pelo filho querer ganhar uma grana com as obras dele? Desculpe ai a sinceridade, mas é pensar de forma "infantil".

Adoro livros e a literatura, mas esse idealismo baseado nas vontade de um cara que já queria queimar obras que estavam completas é irreal de mais. Veja como é funciona de uma forma simples: Seu pai é um dos escritores mais brilhantes do mundo, ele morre. Você acaba ficando com várias coisas dele, ai um belo dia você precisa de dinheiro... foda-se que sei pai era maluco e não queria obras incompletas sendo publicadas, afinal de contas você precisa de dinheiro e ele está morto. Entendeu? Pode não ser bonito, pode não ser legal, mas é bem mais "realista" do que "aaa meu pai disse que não pode publicar esse livrinho".
 
Eu li Lolita há muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito tempo atrás. Lembro de tê-lo achado massante. Mas está na hora de ler novamente. Ainda não sei quando vou pegá-lo novamente, mas espero que brevemente.

Quanto à polêmica de "publica e não publica", não sei se concordo com a opinião do Mavericco, mas ele argumentou muito bem. E eu não consigo respeitar qualquer ser humano que tenha visões sobrenaturais e não assume logo que faz a coisa pela grana. Mas não quero me estender em polêmicas...

Eu gosto muito da versão cinematográfica do Kubrick. Destaco a atuação de Shelley Winters, que faz a mãe de Lolita. Atriz talentosíssima da "era de ouro" de Hollywood.
 
Comprei hoje esse livro numa feira de livros aqui em compo grande, RJ, daquela edição da folha, está novo(com apenas alguns desgastes), capa dura verde e ainda tinha a sobrecapa, sabem por quanto?
R$3,00!!!
http://biblioteca.folha.com.br/1/01/
 
Publicado originalmente em 1955, Lolita do escritor russo Vladimir Nabokov chega com nova tradução no Brasil pelo selo Alfaguara. São aí mais de 50 anos que dividem o momento da primeira publicação (após a recusa de diversos editores) para essa tradução de Sergio Flaksman. E mesmo com todo esse tempo, Lolita ainda é um livro moderno, que mais do que sobrevive ao tempo: consegue se moldar de acordo com o momento em que o leitor tem o livro em mãos.

Isso porque para quem passa da primeira parte do romance, fica mais do que óbvio que ele vai muito além do suposto teor erótico que marcam os primeiros momentos do livro. Nabokov chega a zombar no artigo "Sobre um livro entitulado Lolita" (escrito em 1956 e presente nesta edição da Alfaguara) que alguns dos leitores que abandonaram a obra o fizeram levando em conta a primeira parte, achando que a narrativa seguiria esse caminho. E complementa: "Se acharam ou não que seria pornográfico não me interessava. Sua recusa em comprar o livro baseava-se não em meu tratamento do tema, mas no tema em si, pois existem pelo menos três temas que são totalmente tabu no entender dos editores americanos."

LEIA O RESTO DO POST NO BLOG DO MEIA-PALAVRA
 
Assim como Aielicram vou ler e depois comentar o que achei. Fiquei interessada em ler depois do post no meia. Abs

Aielicram disse:
Uma ótima dica de leitura para essa semana. Vou ler e depois edito aqui o que achei...
 
Acabei de ler a obra hoje, recomendo aos que apreciam um bom livro. Confesso que tinha um certo preconceito contra ela em função do tema abordado, no entanto tambem nutria curiosidade para entender em que contexto o tema se inseria. Me surpeendi em determinado ponto do livro sentindo pena do personagem principal Humbert apesar dos atos munstruosos praticados por ele. Posso dizer que foi muito impactante apreciar essa estória.
 
Perdoem-me a situação algo estranha que vou relatar: Como descrito na obra a história se passa no final da década de 40, fiquei imaginando se nessa louca viagem o Humbert e lolita não teriam esbarrado com Sal Paradise e sua louca trupe (on the road do Jack Kerouac), quem sabe dado até carona a ele, pois a época da historia é semelhante. Brincadeirinha para descontrair!
 
Excelente livro.

É interessante como o autor conseguiu tratar de um tema tão forte, que é um tabu, rodeado de preconceitos. Utilizando um modo sutil, um estilo único para abortar o assunto, sem apelar para uma linguagem erótica e "pesada".
 
Perdoem-me a situação algo estranha que vou relatar: Como descrito na obra a história se passa no final da década de 40, fiquei imaginando se nessa louca viagem o Humbert e lolita não teriam esbarrado com Sal Paradise e sua louca trupe (on the road do Jack Kerouac), quem sabe dado até carona a ele, pois a época da historia é semelhante. Brincadeirinha para descontrair!

Como não li o On the Road não posso dizer, mas estou contigo Aureliano quando coloca os Estados Unidos, o modo de vida e as idéias pululantes nessa época nesse país como uma das preocupações de Humbert Humbert. Isso é uma das coisas que mais lembro a respeito de Lolita: a forma como parece estarem se chocando a Antiga Europa e a Nova América. Humbert é europeu até o último fio de cabelo, tanto seu ideal de existência, seus modos, sua cultura e sua visão de mundo, são todas tipicamente velho-mundistas. Já Lolita, que passa a ser o centro das vontades do Humbert², mascando chiclete, gostando das coisas que gosta e agindo como age, é tipicamente americana. Ainda mais quando posta diante da sisudez de Humbert.

Não sei dizer até que ponto isso é verdade e até que ponto se sustenta, mas é uma hipótese bastante interessante para se aprofundar. Tu pensou algo nesse sentido ou não?
 
Perdoem-me a situação algo estranha que vou relatar: Como descrito na obra a história se passa no final da década de 40, fiquei imaginando se nessa louca viagem o Humbert e lolita não teriam esbarrado com Sal Paradise e sua louca trupe (on the road do Jack Kerouac), quem sabe dado até carona a ele, pois a época da historia é semelhante. Brincadeirinha para descontrair!

Como não li o On the Road não posso dizer, mas estou contigo Aureliano quando coloca os Estados Unidos, o modo de vida e as idéias pululantes nessa época nesse país como uma das preocupações de Humbert Humbert. Isso é uma das coisas que mais lembro a respeito de Lolita: a forma como parece estarem se chocando a Antiga Europa e a Nova América. Humbert é europeu até o último fio de cabelo, tanto seu ideal de existência, seus modos, sua cultura e sua visão de mundo, são todas tipicamente velho-mundistas. Já Lolita, que passa a ser o centro das vontades do Humbert², mascando chiclete, gostando das coisas que gosta e agindo como age, é tipicamente americana. Ainda mais quando posta diante da sisudez de Humbert.

Não sei dizer até que ponto isso é verdade e até que ponto se sustenta, mas é uma hipótese bastante interessante para se aprofundar. Tu pensou algo nesse sentido ou não?
 
Só um pequeno palpite: Humbert Humbert, sendo um representante do velho mundo acaba criando uma nova geografia em seu percurso pelo interior americano. Não seria uma maneira de dizer como o europeu chegou ao novo mundo e abandonou valores e tradições? Uma descoberta de uma nova terra (cuja simbologia feminina é fato bastante conhecida), de novos valores e, assim, Lolita poderia ser uma metáfora da violência que o novo mundo sofreu. Só uma provocação...
 
Sim, inclusive cheguei a ler algumas criticas sobre a obra que tratavam exatamente desse contexto: Antigo mundo (Europa) "corrompendo" a nova América. O que me surpreendeu não só nesse livro mais tambem em outros que retratavam as primeiras décadas do século passado nos E.U.A. como as obras do F. Scott Fitzgerald e depois com Kerouac foi a inquietação social, pois a imagem que eu fazia da época era de uma sociedade retrógrada e tradicionalista.
 
Sim, inclusive cheguei a ler algumas criticas sobre a obra que tratavam exatamente desse contexto: Antigo mundo (Europa) "corrompendo" a nova América.

Sobre essa interpretação, ver a referência que o Nabokov faz dela no posfácio "Sobre um livro intitulado Lolita", geralmente incluído com a tradução do Dauster. Como o Nabokov tinha uma enorme ojeriza com interpretações simbólicas de livros, onde personagens (ou outros elementos narrativos) são símbolos disto e daquilo, essa interpretação acabará tendo um respaldo maior por parte do leitor e não do autor... O que não a anula, é claro, desde que ela seja logicamente construída.

Mas eu acho essa interpretação um pouco furada: de modo geral, Humbert não está corrompendo Lolita ou a Nova América; o que ele faz é procurar uma correspondente para aquela Lolita primordial, para aquela experiência de infância que lhe incutiu os primeiros desejos. É antes um processo de busca e de autocontentamento que poderia ocorrer em qualquer outro lugar.
 
Concordo com você Maverico, inclusive cheguei a ler esse posfácio, acredito que Nabokov não teve esse objetivo. No entanto não deixa de ser um exercício de imaginação esta hipótese. Percebi que você aprecia muito o autor, como foi meu primeiro contato com sua obra e me senti impactado com o livro resolvi tambem me aprofundar mais. Aproveitei seus posts anteriores e comprei dois outros livros do autor: A verdadeira vida de Sebastian Knigth e a defesa Lujin, gostaria se possível um comentário seu a respeito. Grato.
 
O Sebastian Knight é o primeiro romance em inglês do Nabokov, um verdadeiro tour de force para um autor que só escrevia em russo, apesar de possuir uma consolidada formação em língua inglesa. Assim, muitos procedimentos linguísticos refinados e encontrados no Lolita você não vai encontrar aqui: de modo geral, Sebastian Knight é um romance de um Nabokov enfraquecido, consideravelmente longe de sua produção de maior escala. Não digo que o livro seja inteiramente ruim; o próprio Nabokov se impressionou com o trabalho que fizera nesse livro, e esse é um dos livros nabokovianos que possuem um teor dos mais autobiográficos (e que pode se ligar de forma interessante ao "Fogo Pálido", romance posterior e substancialmente superior, pela tônica de narrativa em primeira pessoa voltada a um artista isolado, um tanto quanto misantrópico, e com ares de gênio [ainda que nem o poeta Shade e nem Sebastian Knight, a meu ver, sejam esses gênio aclamados pelos narradores])...

Receio que o livro, além de agradar a um fã de Nabokov por ser, é claro, do Nabokov, possa "agradar" também a quem já é mais familiarizado com a obra do escritor Thomas Mann, dado o fato que Nabokov joga algumas doses bem cavalares de críticas ácidas em cima do escritor alemão. Talvez a estrutura narrativa, com um toque de narrativa policial, seja uma constante forma de deixar o leitor preso à história..;

Já o "A Defesa Luzhin" é um excelente romance ou para quem se interessa por xadrez, ou pelos meandros da história de toda criança considerada como um "prodígio" e que naturalmente envelhece, possuindo sempre a forma dialética básica nabokoviana da perda: em outras palavras, daquelas pessoas que usufruíam de um reino de cristal e o assistiram esvanecer-se. Traçando uma linha geral dos protagonistas de Nabokov, a maioria deles possui uma experiência avançada quando estavam na infância, a notar a experiência sexual do Humbert ou as experiências sexuais de Ada e Van, entre outros. Consideravelmente melhor que o Sebastian Knight, é também um dos melhores livros do Nabokov escritos em terceira pessoa, além de ser uma história cativante e com alguns dispositivos bem interessantes, como o da passagem do tempo que ocorre num piscar de olhos.
 
O único problema é que se formos nos limitar ao que os autores afirmam sobre seus livros, nunca chegaremos a lugar algum. E tendo a negar interpretações psicologizantes da literatura porque "todas" as obras viram uma busca pelo autoconhecimento e um relato íntimo do autor. Além disso, se levarmos em conta o prefácio científico do livro, que Nabokov faz com o óbvio intuito de se defender de acusações de apologia à pedofilia, mas que direciona o leitor para uma interpretação obviamente psicológica, me parece pouco provável que entregaria a chave de leitura de seu texto logo nas primeiras páginas. E considero fundamental lembrar que eles estão construindo um mapa subjetivo da América, o espaço é importante sim e deve contar na leitura que fazemos da obra. Porque se a viagem é uma busca pelo autoconhecimento e pelo objeto primeiro de desejo então sim tanto faz onde se passa, mas se fosse assim Nabokov não se preocuparia tanto em mostrar esse mapa...
 

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