Olha... Eu particularmente não gosto muito dessa edição tomando em conta o que os tradutores escreveram no final, que é aquele velho papo de "omitimos certas partes (...) que não atrapalharão na leitura". É a velha história de cortar pedaços à torto e à direito, tentando adaptar para o leitor brasileiro quando uma nota de rodapé seria mais eficiente. A tradução do poema "Fogo Pálido" dessa edição é também apenas metrificada (decassílabos); o que entra em confito com o poema original que é metrificado e rimado...
A melhor edição, digo e repito, é a da Companhia das Letras traduzida pelo bom Jorio Dauster (o Meia inclusive entrevistou-o), que não omitiu partes e traduziu o poema de forma metrificada e rimada.
Mas não quer dizer que você não deva pegar essa edição do Círculo do Livro. Nabokov, a meu ver, sempre compensa... Foi um dos maiores romancistas do século XX, ao lado de James Joyce, Virginia Woolf, Marcel Proust, William Faulkner... Tinha opiniões fortes, como diz o título dum livro que compendia entrevistas feitas com ele, a ponto de por exemplo execrar e humilhar Freud, Thomas Mann, comunistas e outros em seus livros.
Mas a questão é que Nabokov possui um estilo mágico... É o que o Lucas disse na resenha dele:
O preciosismo com que Nabokov escolhe as palavras e as dispõe no texto encerram um lirismo que congrega uma miríade de sentidos e explorações estéticas e semânticas, criando uma narrativa da mais alta significação literária. Mas não termina por aqui, pois toda essa circunstância, digna de cânone, é feita com perspicácia e humor, um humor tipicamente ácido e sarcástico que remonta da amargura pela perversão das tradições e das mudanças que se operavam a nível mundial.
(...)
O lirismo com que ele pontua cada frase, com que sublinha cada opinião do Humbert Humbert e descreve os efeitos que Lolita causa nele é sublime, é de um preciosismo único, da mais fina lavra, que deixa o leitor saboreando cada palavra.
Nabokov é o escritor do século XX que elevou o estilo ao nível mais alto... Nem mesmo Joyce tinha um estilo tão refinado quanto o de Nabokov. Nabokov é paralelo a Flaubert, escolhendo suas palavras, passando semanas, dias, quinzenas procurando um advérbio ou um adjetivo... Você percebe isso bem em Lolita; mas Lolita não é o melhor deles, e aí vem a minha birra... Já cansei de ler listas e ver pseudofãs querendo me fazer engolir que Lolita é o melhor dele. Fogo Pálido, além de mais engenhoso (um poema e posteriormente comentários fictícios sobre o mesmo!), tem um tratamento mais preciosista...
Leia sim Fogo Pálido. Você vai gostar. Mas esteja preparado pra ler mais de uma vez. Senão você não leu; passou os olhos...
(agora, é claro, que se puder, leia no original. É lirismo puro: Lolita, light of my life, fire of my loins...)