Pondo de lado as razões pessoais do Nabokov em situar sua narração na América, o que remete novamente ao seu posfácio e à "relação de amor" citada no final, devo lembrar que algumas partes de Lolita são quase que distantes de tudo, distantes do espaço e situadas em cidades do interior que são localizáveis na América assim como poderiam o ser em qualquer outro lugar.
Ramsdale e Beardsley são americanas, é fato: mas o fato de serem americanas é puramente uma necessidade narrativa não apenas para que se deixe a narração mais límpida (qual o sentido de que se mudasse o continente ou país, com todas as implicações psicológicas que isso iria acarretar, se Lolita é construído num crescendo?), mas também para que se preserve a estrutura irônica e paralelística da obra: o livro começa no Velho Continente, passa por um momento de peregrinação de Humbert, para em Ramsdale, passa por outra peregrinação de Humbert e Lolita, para em Beardsley, passa por uma nova peregrinação mais policialesca que é interrompida no final do romance.
A única passagem, aliás, que poderíamos dizer ser genuinamente americana é o começo da segunda parte, com todas as descrições de hoteis, monumentos, museus e etc. Mas mesmo esta passagem, a meu ver, tem como objetivo a inserção de uma nova forma de estilo ao longo do multifacetado panorama de Lolita, que comporta consigo desde diários até alguns lapsos policialescos (acentuando também o rito de passagem que é o da primeira para a segunda parte, de uma vida "hipócrita" para uma vida "livre" [cf. o tour ao longo de prostíbulos por Humbert e o turismo da segunda parte]).
De resto, não vejo que a posição da narrativa na América seja algo assim tão arbitrário, nem que as interpretações devam se restringir apenas àquilo que um autor eventualmente se refere num prefácio, posfácio ou derivado. Pra mim, é evidente que Nabokov possuía razões para situar sua narração na América (razões estas que defendo como sendo predominantemente pessoais), mas me parece também evidente que Nabokov poderia, e sem grandes perdas de sentido, situar sua narrativa em qualquer outro lugar sem grandes mudanças na estrutura do livro, se apenas uma pequena parcela dele é específica.
Ramsdale e Beardsley são americanas, é fato: mas o fato de serem americanas é puramente uma necessidade narrativa não apenas para que se deixe a narração mais límpida (qual o sentido de que se mudasse o continente ou país, com todas as implicações psicológicas que isso iria acarretar, se Lolita é construído num crescendo?), mas também para que se preserve a estrutura irônica e paralelística da obra: o livro começa no Velho Continente, passa por um momento de peregrinação de Humbert, para em Ramsdale, passa por outra peregrinação de Humbert e Lolita, para em Beardsley, passa por uma nova peregrinação mais policialesca que é interrompida no final do romance.
A única passagem, aliás, que poderíamos dizer ser genuinamente americana é o começo da segunda parte, com todas as descrições de hoteis, monumentos, museus e etc. Mas mesmo esta passagem, a meu ver, tem como objetivo a inserção de uma nova forma de estilo ao longo do multifacetado panorama de Lolita, que comporta consigo desde diários até alguns lapsos policialescos (acentuando também o rito de passagem que é o da primeira para a segunda parte, de uma vida "hipócrita" para uma vida "livre" [cf. o tour ao longo de prostíbulos por Humbert e o turismo da segunda parte]).
De resto, não vejo que a posição da narrativa na América seja algo assim tão arbitrário, nem que as interpretações devam se restringir apenas àquilo que um autor eventualmente se refere num prefácio, posfácio ou derivado. Pra mim, é evidente que Nabokov possuía razões para situar sua narração na América (razões estas que defendo como sendo predominantemente pessoais), mas me parece também evidente que Nabokov poderia, e sem grandes perdas de sentido, situar sua narrativa em qualquer outro lugar sem grandes mudanças na estrutura do livro, se apenas uma pequena parcela dele é específica.