Meldannë Nimril disse:
e outra coisa, eu acredito que é bem mais fácil para alguém q começa a escrever um roteiro se basear em algo que leu, ou uma história que ouviu em algum lugar, para fazer sua história. A adaptação nesse caso, é um exercício inicial muito melhor do q fazer algo totalmente novo e ficar vendo repetidas vezes se ficou bom ou não. Vc acaba gastando o tempo em correções de conteúdo de um texto totalmente novo enquanto poderia gastar mto menos em um texto adaptado e ter mais tempo para iniciar um segundo, dessa vez sim, totalmente novo...
Discordo. É muito mais fácil fazer um roteiro a partir de alguma idéia original, porque você decide tudo que vai acontecer, e tem total liberdade. Adaptar um livro é uma tarefa muito árdua, você tem que levar em conta diversos fatores. Normalmente você vai ter que escolher o essencial da história, deslocar falas, cortar cenas, isso é tudo muito trabalhoso.
Se você não tem idéias, sinceramente é melhor nem se aventurar na escrita. Papo sério. Um roteirista pode até viver de adaptar livros, mas se ele não tiver capacidade de criar algo, vai ser sempre um roteirista medíocre, mesmo em adaptações. Adaptações envolvem criação também. Você tem que ter idéias sobre como vai resolver os problemas que eu mencionei no parágrafo anterior.
E idéias são coisas que simplesmente surgem. Uma pessoa que não lê, não vê filmes, etc, raramente vai ter idéias geniais, a não se que seja um gênio. E mesmo assim corre o risco de ter uma idéia que já foi explorada por outra pessoa. O Phillip Pulmann disse que não acredita em inspiração. Ele não espera a inspiração chegar para escrever. Ao invés disso, ele escreve
sem inspiração.
Isso é uma coisa que eu recomendo a qualquer um. Tente escrever mesmo sem ter uma idéia brilhante. A partir do momento em que você estabeleceu personagens, as reações destes aos acontecimentos devem fluir naturalmente. Se você não consegue imaginar o que o personagem faria em determinado momento é porque você não está envolvido o bastante e/ou não desenvolveu o personagem como deveria.
Além disso, livros têm um ritmo baseado na leitura. Roteiros tem um ritmo visual. É completamente diferente, e deve-se observar essa diferença com atenção. Isso nos traz de volta ao que eu falei no começo do post. Transpor o ritmo da leitura para um ritmo visual não é nada fácil, na maioria dos casos. Principalmente quando o livro é elaborado em aspectos principalmente não-visuais, como os do Dostoiévsky, por exemplo.
Se eu fosse adaptar alguma obra do Dostoiévsky, eu teria que escolher atentamente entre os trechos intermináveis de divagações e pensamentos e transformá-los em falas em momentos oporturnos. Ou então eu posso usar a saída mais pífia e recorrer a um voice-over atrás do outro, o que faria com que o meu roteiro ficasse uma merda.
Claro que seria muito mais fácil adaptar algo basicamente descritivo e pobre em idéias, como Harry Potter ou algo que o valha. Aí seria basicamente o caso de escolher as cenas mais importantes e dar fluência a elas (coisa que não conseguiram fazer em nenhum dos dois filmes do HP, diga-se de passagem).
Tomemos isto como exemplo, então. Se até em se tratando de um livro pobre e linear há a possibilidade de se fazer uma adaptação horrível, imagina com um livro complexo. Agora pegue a adaptação de SdA. Toda ela é feita tendo em mente o roteiro, e a fluência do roteiro. É por isso que os puristas reclamam. Eles não querem um roteiro com fluência, eles querem o livro em forma de roteiro, e isso é a única coisa que você
não pode fazer.
Como eu já disse, o livro tem um ritmo focado na leitura. Você pode ter uma cena em um livro onde um personagem passa páginas e páginas descrevendo alguma coisa que aconteceu. No livro isso funciona, porque enquanto o personagem conta a historinha dele, você vai imaginando. Muitos livros tem isso, normalmente é uma narrativa em primeira pessoa dentro de uma narrativa em terceira pessoa.
Num roteiro isso é inconcebível. Imagina uma cena de 15 minutos mostrando um cara contando uma história. Seria um saco. Tipo, em Crime e Castigo tem uma parte onde o protagonista lê uma carta escrita pela mãe dele. A carta ocupa
várias páginas do livro. Como adaptar isso? Com certeza você teria que resumir bastante as informações, e ainda assim dar a entender que havia mais coisa na carta.
Imagine uma cena de 15 minutos com um cara lendo uma carta, enquanto vai rolando um voice-over da voz dele. Eca. Tipo, em 1984 tem um trecho
imenso do protagonista lendo um livro, onde se explica a situação política do mundo. Não tem como colocar isso num roteiro. Seria melhor cortar essa parte e colocar um resumo em lettering no começo. Ou então adaptar de forma que as informaçõs sejam passadas através de diálogos que não estavam na obra original, diálogos retirados de trechos dissertativos contidos nesse livro que o personagem lê.
Mas aí tem o problema, diálogos não são como trechos dissertativos. Cada personagem tem uma maneira de se expressar, ou pelo menos deveria ter. Ao colocar esses trechos na boca de certos personagens, você teria que adaptar aquela informação à maneira como o personagem em questão a colocaria. Isso pode ser deveras problemático.
Bom, eu realmente recomendo pra qualquer um que se concentre em criar coisas novas ao invés de adaptar coisas já existentes, não porque criar seja mais difícil, mas sim por ser mais
fácil.