Se cenas de batalha não fazem falta em uma série chamada Guerra dos Tronos, cerveja no copo de quem gosta de beber é algo extremamente supérfluo.
Como foi dito, o nome
de facto é
Jogo de Tronos. O ponto da série é justamente mostrar que os MVP são quem se mexe influências nos bastidores, não os cavaleiros que lutam na frente da batalha ou mesmo, por vezes, quem se senta no trono. Os episódios desta temporada têm dado bastante ênfase a essa questão do poder: quem o detém, quem o move, como é ilusório, etc. As batalhas são uma consequência dos conflitos entre conselheiros, homens ricos, tipos carismáticos, ou mesmo eventos fora do controle de todo o mundo. Não digo que sejam um elemento supérfluo na história, mas se tiverem de fazer remendos à narrativa, é muito menos grave cortarem alguma peleja armada do que, por exemplo, qualquer interação entre os membros do conselho do rei.
Realmente, há pessoal implicando com as coisas erradas.
Rome, que citaram, teve uma (1) batalha na série inteira. Essa série pulava os confrontos em grande escala exatamente da mesma forma que
Game of Thrones o faz - e sem cobrar nada ao entendimento da história. É mesmo necessário explicar porquê? No hay grana. Cada episódio tem uns 5 milhões de dólares de orçamento. Uma grande produção de Hollywood gasta cerca de um milhão
por minuto de filme. Aliás,
Game of Thrones sofre com a falta de verba de formas mais sérias que a ausência de exércitos digladiantes. Por mais que se esmerem no departamento artístico não conseguem disfarçar algumas limitações, principalmente quando é preciso dar uma certa profundidade àquele universo; Winterfell por vezes parece uma aldeia, quando deveria ser um castelo imponente com centenas de habitantes; não temos a mesma percepção dos efeitos na guerra que existe no livro, onde se descrevem milhares de refugiados fugindo das cidades; e por aí fora. Agora imaginem, nessas condições, tentarem representar um embate entre dezenas de milhares de soldados...
Eu comecei a ler os livros há pouco tempo. Até agora, achei quase todas as mudanças em relação ao original perfeitamente justificáveis. A razão por que se têm desviado mais do texto que no passado é óbvia:
A Clash of Kings tem mais protagonistas, mais acontecimentos importantes, mais lutas, mais intrigas - e têm de colocar isso tudo na tela com o mesmo dinheiro e o mesmo número de episódios que tinham disponíveis para a temporada inaugural (exceto um pequeno aumento, segundo consta, para poderem mostrar a batalha importante que aí vem). Logo, vão precisar de condensar várias coisas. Os puristas que enxuguem as lágrimas no papel dos livros.
Acho que vocês, provavelmente, estão dando demasiado crédito ao material original. Os pontos fracos da série são responsabilidade do Martin; nomeadamente, a histórias do Jon Snow e da Daenerys, que ficam muito tempo deambulando sem rumo (literalmente). A série também ganha bastante por não estar presa ao
point of view, o que tem permitido explicar muita coisa de forma mais sucinta, e que acontecimentos que não se testemunham nos livros tenham mais impacto (como a morte mais notória do primeiro livro). Fora que certos aspetos da escrita do Martin são muito ruins. É um alívio não ter de aturar a repetição incessante de um monte de fatos (
Jon Snow é um bastardo, a mãe dele não é casada com o pai por isso é um bastardo, Jon Snow é um bastardo, ele tem uma espada bastarda e é um bastardo, ad infinitum), ou o detalhe nauseante com que ele descreve a comida nos banquetes, ou a forma
matter-of-fact para além de ridícula como relata atos sexuais.
Enfim, puristas são mais chatos que o Stannis. Espero que os roteiristas alterem o terceiro livro quase todo.