Faz sentido toda a explicação indivíduo = corpo + alma + mente, a necessidade de uma lei de conservação, e eventualmente uma exceção à regra universal, por conta de um modelo mais amplo que engloba a teoria antiga e explica fenômenos novos - Mecânica quântica e relativistica engloba a física newtoniana que engloba os antigos conceitos aristotélicos.
No entanto, na comparação com o mangá surgem outras interessantes ramificações, principalmente nas diferenças e no conceito de Universo Paralelo.
Chamo atenção a um princípio comum em ambos os universos, o princípio de conservação. Também a outro ponto em comum: para a exceção e quebra regras. Pois na verdade, não são REGRAS, mas sim modelos temporários que explicam o paradigma do momento.
Outro ponto interessante é a junção religião com ciência. As frases iniciais de Edward para Rose, sobre cientistas serem ironicamente aqueles mais próximos de Deus e ao mesmo tempo lembrando as asas de Ícaro, retumbam em toda a estória, numa interessante discussão contínua sobre ética científica. E que por isso mesmo, percebemos na figura dos dois irmãos, uma consciência religiosa e ética muito maior que podemos ver nos fiéis ou nos colegas alquimistas.
Por serem CRIANÇAS, esta consciência ética é muito mais interessante. É na figura de crianças (ainda no aprendizado sobre certo/errado) que o ser humano é capaz de admitir o erro, mais do que o adulto. Vide Hovenheim, que demorou séculos para entender seu pecado em criar Inveja(Envy), e as consequências que ele imputou a seus filhos.
Ao negar o dogmatismo religioso, afinal são cientistas, os Elric são mais religiosos strictum sensu, ou seja, no sentido real de pecado - penitência - redenção. O que resume toda essa dicotomia é o fato dos Elric juntarem suas mãos (palmas) para substituir o círculo alquímico tradicional, algo que eles aprenderam com sua mestra.
Aqui, é interessante notar que foram as figuras femininas - Dandi e sua discípula Izumi - representando duas facetas: criadora e destruídora, religião e ciência, as catalizadoras de todo o processo. No entanto, as figuras femininas são eliminadas (ambas morrem), porque estão desequilibradas. Izumi por perder seu filho, e Dandi por perder sua humanidade.
Hovenheim e seus filhos são a contraparte da redenção. O primeiro, podia trilhar o mesmo caminho de Dandi, mas escolheu ser feliz numa vida comum. E seus filhos deixaram de lado seus desejos pessoais (pecados) em prol de algo mais importante.
Percebi isto lendo o mangá, quando Ling aponta a semelhança das palmas dos Elric com a postura de fiéis orando. Há consciência nos meninos, que Dandi, Rose, Izumi, Hovenheim entre outros que praticam esta posição (não a alquimia no caso de Rose) não possuem ainda, e por isso digo que a nova geração superou a anterior.
Ironicamente, Dandi falando que é coisa de criança a Lei de Conservação, postura em que Hovenheim concorda, é em si uma postura infantil. Edward "teimosamente" se agarra ao princípio da troca equivalente é mais maduro se pensarmos bem.
O problema maior é que tudo isso encaixa-se muito rapidamente, para que a maioria das pessoas consiga enxergar o conteúdo por trás de tudo isso. Como Edward observou quando estudava as notas de Dr. Marcoh, muito está em formato de metáforas e comparações.
E se pensarmos que o conhecimento, o descobrir de uma nova teoria está diretamente relacionado a todo um esforço inicial moroso e lento, mas que uma vez adquirido, o processo de pensar e deduzir torna-se tremendamente rápido, o final rápido não apenas é adequado, mas reflete o caminho escolhido pelos irmãos. Assim como um médico que passa muitos anos estudando, chega um momento em que não pode se dar ao luxo de pensar demais para salvar uma vida: o conhecimento PRECISA ser um ato reflexo, senão aquela vida se esvairá na sua frente.