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[Ana-Lissë] O que acontece quando se "viaja" demais [L]

Ana Lissë

Nazgûl boazinha
Oi, pessoal!
Recentemente tive uma ideia meio maluca, mas resolvi colocar no papel mesmo assim. Por mais que as coisas ficassem meio semelhantes àquelas historinhas mais "teen" que volta e meia a gente lê por aí (com todo o respeito) ao logo do tempo mais ideias surgiram e a coisa foi crescendo até saltar para um outro plano, ainda mais interessante do que parece à primeira vista! :)

Bem, tudo vai começar quando uma garota muito fã de Tolkien se encanta com um personagem e fica "sonhando" em conhecê-lo. Garanto que muitos de nós já passaram por isso, não é? Eu mesma, quantas vezes não quis conhecer esses seres fantásticos criados pelo Professor? Mas o que aconteceria se esses sonhos fugissem do controle da protagonista dessa história e, por mais maluco que pareça, virassem realidade? :P

Segue primeira parte da fic. Espero que gostem!

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Eu sempre estive muito perto desse mundo de fantasia, porque, sinceramente, nunca fui muito fã da realidade. Isso não significa que eu não enxergue ou não me importe com o que se passa no mundo em que vivo, mas gosto muito mais de uma boa rodada de RPG ou de um bom livro de fantasia do que de ficar assistindo ao jornal.


Há algum tempo eu vinha participando de um RPG baseado no livro O Hobbit, de J. R. R. Tolkien, de quem eu sou grande fã, e no filme de mesmo nome. Neste game, estávamos indo até Erebor junto com os anões e Bilbo Bolseiro, a fim de ajudá-los a resgatar seu ouro e seu reino do domínio do terrível dragão Smaug. Meu amigo, que havia dado essa idéia, era o único de nós que interpretava algum personagem do livro. E seu personagem era ninguém menos que o príncipe Thorin Escudo de Carvalho, personagem admirável, incrivelmente semelhante a ele em termos de personalidade. Ambos eram bastante altivos e determinados, além de leais e corajosos ao extremo (para não citar também a teimosia fora do comum).


Ver meu amigo, que imediatamente recebeu o apelido de Thorin, interpretar aquele personagem foi uma experiência única. O herdeiro de Erebor ganhou vida de forma régia, verdadeira e única. Se eu já simpatizava antes com Thorin Escudo de Carvalho, agora estava decididamente encantada por ele.


Bem, antes que vocês perguntem, meu nome é Lilian, mas todos me chamam de Lily. Vivo em uma pequena cidade, daquelas onde todo mundo conhece todo mundo. Trabalho como todo mundo, tenho amigos como todo mundo, mas um dia algo aconteceu de diferente, que não acontece com todo mundo. Ou melhor, não acontece com ninguém.


Eu andava pela rua ladeada por belas arvorezinhas amarelas, pensando em como Thorin deveria ser se fosse real. Eu gostaria realmente de conhecê-lo, saber como ele era, conversar com ele, ouvir suas histórias sobre Erebor em seus dias de glória e, se pudesse, evitar que muitas tristezas caíssem sobre ele, principalmente sua morte na Batalha dos Cinco Exércitos. Mas, como isso era tecnicamente impossível, contentei-me em sentar em um banquinho na praça do meu bairro e ficar olhando para o pequeno lago à frente, e para as verdes colinas mais além enquanto deixava minha mente trabalhar.


Havia uma colina que se destacava entre todas, com seu pico mais alto e pontudo. Eu a chamava de Montanha Solitária, e sempre imaginava que estava em Esgaroth, a bela cidade construída no Lago Comprido, olhando para a lendária morada dos gloriosos Anões do povo de Thror, avô de Thorin e rei de Erebor. E, como sempre, me perdia em pensamentos, esquecendo muitas vezes da hora (e levando muitas broncas de minha mãe por me atrasar para o jantar).


Naquele dia não foi diferente. Lá estava eu, “viajando” de novo, sozinha na pracinha do meu bairro. Sozinha não. Havia mais alguém ali, mesmo que eu não tivesse notado. Era uma mulher, que me arrancou de meus sonhos com Erebor (e Thorin) com uma saudação calorosa:


- Lily! - disse ela, sorrindo de orelha a orelha, como se fosse uma velha amiga minha (e eu nem a conhecia) - É com você mesma que eu quero falar!


Eu olhei para ela surpresa e desconfiada.


- Conheço você? - perguntei a ela, que continuava sorrindo, ali parada à minha frente.


- Não, mas eu conheço você. E sei exatamente o que está pensando agora.


- Desculpe, como é? - perguntei ainda mais surpresa e agora bastante incomodada. - Quem é você e como sabe meu nome?


- Quem eu sou? - respondeu ela, agora rindo - Você perguntou quem eu sou? Se quer um nome, melhor não perguntar, porque eu mesma não sei como me chamo exatamente. Tenho tantos nomes que nem sei qual é o verdadeiro. Alguns me chamam de Fantasia, e esse é particularmente o que eu mais gosto. Se quiser, pode me chamar assim. Mas você perguntou como eu conheço você, não é?


- Sim, e...


- Muito bem - interrompeu-me Fantasia - Eu a conheço porque você me dá muito trabalho e, mesmo que não me importe com isso, estou um pouco cansada. Além disso, creio que poderei atender a um desejo seu. Por isso vim. Quero saber se você está disposta.


Aí mesmo é que eu fiquei perdida. Muito trabalho? Desejo meu? Milhões de perguntas fervilhavam em minha cabeça e eu não fazia idéia de qual eu escolhia para fazer primeiro. Estava assustada mas bastante curiosa, então decidi saber primeiro que história é essa de “desejo”.


- O que você quer fazer? - perguntei a ela.


- Eu? O que você quer fazer; essa é a minha pergunta. Vejo que anda sonhando com anões. Quer conhecê-los? Posso mandar você para lá.


Agora eu estava sem ar. Que espécie de história absurda é essa de me mandar para conhecer anões? Será que essa louca ia me dar alguma espécie de droga alucinógena? Ou será que ela era simplesmente maluca mesmo? De qualquer forma eu estava assustada e queria sair dali o mais rápido possível. Levantei-me de um salto e apenas respondi:


- Obrigada, não quero conhecer anão algum. Boa tarde.


- Thorin Escudo de Carvalho, na Terra Média, correto? - perguntou ela, como se não tivesse ouvido o que eu disse.


Aturdida como eu estava, soltei um “correto” sem pensar, mas imediatamente me arrependi e, virando as costas, fui indo para casa. Por isso não entendi como, de repente, eu havia ido parar dentro de uma espécie de redemoinho, que girava e girava sem parar, e nem como fui bater com a cabeça num chão de grama verde, em uma planície em frente a altas montanhas cobertas de neve.


- Droga, o que foi que aconteceu? - resmunguei ao levantar a cabeça e olhar para as tais montanhas, sem entender absolutamente nada a respeito do que me levou até ali.


- Bem vinda a Terra Média! - Fantasia falou com alegria quase infantil, ali a meu lado, de pé e com o maior dos sorrisos.

(Continua)
 
Nossa, me lembrou muito "A História sem Fim", onde o Bastian entra no livro e - pasmem - a terra se chama Fantasia mesmo!! :D

Gostei bastante!! ^^
 
Bem, aqui estamos nós de novo para continuar a história.

Como será que foi a chegada de Lily à Terra Média? E seu encontro com o lendário (e admirado) Thorin Escudo de Carvalho???? :)

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- Você! O que fez comigo? - levantei-me de um salto, olhando furiosa para aquela garota de roupas estranhas, que não parou de sorrir - Como vim parar aqui? E que lugar é esse?!

- Já disse - respondeu ela - é a Terra Média. Mais precisamente a planície em frente às Montanhas Azuis ou, Ered Luin. Conseguiu se localizar?

Terra Média! Que piada sem graça era essa? Ou... será que não era piada?

- Algumas regras antes de eu ir embora - voltou a falar Fantasia - Você, estando na Terra Média, fará parte de uma história. Pode fazer o que quiser enquanto estiver aqui. Só não poderá ficar aqui para sempre. Após o fim definitivo da sua história, você terá um prazo de quatro luas para permanecer. Após esse período, você será levada de volta a sua terra. Por isso cuidado com o que vai fazer, hein! Não se apegue demais a ninguém aqui ou terá problemas. Ah, esqueci de dizer: seu tamanho foi diminuído para que você possa se passar por uma anã, já que estará entre eles. Um detalhe desnecessário, mas acho que você gostará disto mais tarde. Ah, não posso deixar de alertar a respeito: MUITO CUIDADO com o que fala. Evite todo custo dizer às pessoas com quem você vai conviver o que acontecerá com elas no futuro. Se quiser evitar que algo ocorra, faça isso, mas não diga nada sobre ter lido isso em um livro. Não se esqueça que as pessoas são donas de seu próprio destino, e você não pode manipular suas vontades e nem coagí-las a agir segundo seus desejos. Adeus, e aproveite a estadia aqui! - e sumiu.

Eu bem que tentei interromper a tremenda falação de minha estranha interlocutora, mas ela não parou e nem me ouviu. Por isso eu estava ali sozinha, terrivelmente assustada e com milhões de perguntas. Por isso consegui dizer apenas uma palavra: “Ferrou!”

Muito bem. Eu estava na Terra Média, em frente ao antigo lar de Thorin Escudo de Carvalho. Fui andando enquanto pensava sobre a possibilidade (maravilhosa) de encontrar com meu personagem favorito. Mas logo sacudia a cabeça e voltava a duvidar de que isso fosse verdade, e a raiva fervia. Andava em frente, em direção às montanhas, totalmente distraída, e nem vi como comecei a andar em uma estrada estreita e bem pavimentada, e também não vi como um cavalo a toda velocidade de repente estava praticamente em cima de mim. Ele relinchou e alguém gritou um “Cuidado!” Levei um susto tão grande que tropecei e caí no chão, batendo novamente a cabeça em algo. Desmaiei.

Acordei em uma cama macia, em um quarto iluminado apenas pelo fogo de uma lareira bem em frente. Era um local aconchegante, com teto de madeira e as paredes de pedra lisa. Não havia janelas, apenas uma porta alta e entalhada de maneira elegante. Ao lado da minha cama estava um homem bastante alto (para os padrões dos anões), com barba cerrada e cabelos castanhos escuros. Seu rosto era austero, grave, porém belo. Não era uma beleza como a dos rapazes da minha terra, mas uma beleza diferente, como o rosto sábio de um grande rei.

Esperem aí. Rei? Será que ele era... Não, não podia ser. Era parecido demais com o Thorin de Richard Armitage, além de possuir muitas características daquele meu amigo que eu mencionei antes, só que aparentava ser mais velho. Mas, e se fosse ele mesmo?

- Como está, menina? - perguntou o homem, com sua voz grave e profunda e a testa franzida - Perdoe-me pelo susto, mas você não devia ficar andando distraída bem no meio da estrada.

- Eu que peço desculpas, senhor...

- Thorin Escudo de Carvalho, às suas ordens. - respondeu ele com gentileza, porém com uma boa dose de seriedade e uma ponta (bem grande, por sinal) de desconfiança.

Eu sorri sem acreditar. Então aquele homem belo e tão altivo era Thorin? Que maravilha! Isso fez minha raiva por Fantasia, que ainda me incomodava até então, desaparecer na mesma hora. Por alguma arte desconhecida e bastante admirável eu estava realmente na Terra Média, ao lado do próprio Thorin Escudo de Carvalho! Eu fiquei olhando para ele admirada, mas logo pensei que isso poderia incomodá-lo. Mas, nossa! Tão parecido com o Thorin do filme? Tão parecido com uma versão mais velha do meu amigo? Pode isso?! Bem, mas parecido não é igual. Mas ainda assim... Muito estranho...

- Quem é você, minha jovem? - perguntou-me ele.

- Lily - respondi eu, simplesmente.

- É um belo nome, a pesar de estranho. E de onde você vem, Lily?

- Sou de uma terra chamada Brasil. Fica bastante longe daqui. - respondi, tentando ser o mais direta possível e, com sorte, evitar novas perguntas.

Thorin infelizmente perguntou mais algumas coisas sobre minha terra, mas o que o intrigava é como eu consegui chegar até ali, vindo de um lugar tão distante. E eu respondi com a verdade. Não poderia mentir, porque não tinha a menor idéia de como me passar por uma anã verdadeira (e como explicar por que, ao contrário das anãs, não possuía barba). Bem, dizer a verdade sobre Fantasia e minha inesperada chegada podia ser bastante estranho, mas era melhor que inventar uma história e correr o risco de ser descoberta (e de ter sérios problemas com um anão furioso e enganado). .

Ele olhou-me por uns instantes, um pouco espantado e bastante desconfiado, fazendo mais alguns montes de perguntas. Notei porém que ele não estava totalmente incrédulo e aceitava relativamente bem minhas respostas. Ainda bem, pois assim eu não passaria por louca e conseguiria ganhar sua confiança. E enquanto eu não provasse a ele que não traria problemas, não conseguiria dele nada além de perguntas e olhares de lado. À medida que eu respondia, seu semblante ficava mais leve, e com um pouco de bom humor, consegui dele alguns leves sorrisos, até que finalmente ele encerrou o interrogatório e sorriu.

- Você tem uma história realmente estranha, Lily. - disse Thorin, um pouco divertido. - Mas há muitas coisas nesse mundo para as quais não se acha explicação. E você parece ser uma boa moça, a pesar de tudo. Muito bem, já que está tão longe de casa, convido-a para ser minha hóspede até que possa regressar.

- Obrigada, Thorin. Aceito o convite. - respondi feliz. - Nesse tempo poderei aprender muito sobre os anões, a quem admiro tanto, se é que vocês estão dispostos a me mostrar seu mundo.

- Será um prazer - respondeu Thorin, dessa vez sorrindo de verdade e acrescentando - Muito bem, Lily. Descanse mais um pouco e até o jantar estará melhor. Se precisar de algo, toque este sino (havia um sino em uma mesinha ao lado da cama). Até lá, passe bem. Mais uma vez, desculpe pelo susto.

- Não tem problema - respondi.

Thorin levantou-se e saiu, e eu coloquei novamente a cabeça (que ainda doía um pouco) no travesseiro. Estava um pouco cansada por causa do interminável interrogatório de Thorin, mas me sentia tranqüila. Estava, felizmente, entre amigos. Thorin parecia ser um anão em quem se poderia confiar de olhos fechados. E por falar em olhos fechados, fechei os meus tentando dormir. Acordei com as badaladas suaves de um sino. Já havia anoitecido

Pulei da cama e vi que havia uma tina ali perto, com água morna. Ótimo, precisava mesmo de um banho. Havia também algumas belas roupas, eu percebi quando vasculhava o armário. Aproveitei bem meu banho, vesti um dos lindos vestidos que gentilmente me cederam, e corri para fora do quarto, deparando-me com um amplo corredor cheio de portas. “Opa, para onde fica a sala de jantar?”, pensei eu. Voltei para o quarto e toquei o sino que Thorin me indicara. Uma anã bastante roliça, com o rosto sorridente e bastante vermelho, apareceu quase em seguida. Perguntei a ela onde ficava a sala de jantar e ela respondeu com simpatia:

- O Grande Salão? Fica por aqui. - e fez um gesto para que eu a seguisse.

Fomos andando pelo corredor até uma das portas mais ao fundo. Quando minha acompanhante abriu a grande porta de madeira, eu quase caí de espanto, pois aquele era o mais magnífico salão que eu já havia visto. Cada detalhe daquela sala, desde o rodapé até os grandes arcos e colunas, superava qualquer coisa que eu havia visto em termos de beleza. Ali estavam trabalhos realizados por mãos dotadas de habilidade inigualável. E quanto ouro! Quantas pedras magníficas! Nunca serei capaz de encontrar palavras que descrevam com mínima precisão o que eu sentia ao contemplar aquela maravilha sob a montanha.

- Impressionada? - ouvi a voz de Thorin, que estava sentado à mesa, no centro do salão, acompanhado por vários outros anões..

- Sim! - respondi comovida. - Nunca vi maravilha igual!

- E mesmo assim não supera a beleza dos salões de Erebor. - respondeu-me ele, e em seguida convidou-me para sentar. Após apresentar-me a seus companheiros, que eram ninguém menos que os famosos anões que formaram a Companhia que partiu rumo a Erebor, o jantar foi servido.

E, depois dele, novamente quase caí para trás. Aquela, conforme foi anunciado por um Thorin bastante pomposo em um de seus famosos discursos (intermináveis), era exatamente a véspera da partida de sua Companhia.

Minha aventura havia acabado de começar.
 
Pessoal, to sem net em casa. Assim que puder, posto a proxima parte, onde as coisas vao comecar a ficar interessantes...

Aguardem que vale a pena, isso eu garanto!!!
 
Uiaaaaaa, meo, mal ela foi pra lá e ja viu o Thorin!! :ahhh:

Mas meu... eles vão achar que o Brasil é Mordor, do jeito que as coisas tão aqui!! :lol: Desculpe a brincadeira... :mrgreen:

MAs tá mto legal, me lembra bastante as histórias com self inserction, já fiz algumas mas eram todas de comédia e com Saint Seiya, rssss!! Faz tempo que não faço nenhuma...

Abraços!! ^^
 
Claro que ela já ia conhecer o Thorin. Tadinha, pra que fazer a menina esperar? Kkkk

Que bom que vc está gostando da fic,

Mas o que é self inserction?
 
Olá, Pessoal! Depois de algum tempo, consegui postar a próxima parte da fic.

Pois é, agora as coisas vão começar a esquentar. O que parecia um sonho mágico, vai começar a revelar sua real natureza, e a menina deslumbrada com a Terra Média verá que está na realidade em uma experiência forte e diferente de crescimento pessoal. Lily agora terá de se superar, crescer como pessoa, para que encontre seu espaço neste mundo lendário.

Como essas coisas são um processo que ocorre dia após dia, veremos a primeira parte dos desafios apresentados a Lily. E junto com isso, teremos um pouco do que ocorreu antes dessa Jornada Mais que Esperada começar. Espero que gostem.

E comentem, por favor, ok? Não é fácil escrever não, viu! kkkk
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Eu estava sorrindo de orelha a orelha, encantada. Não podia descrever a sensação de estar ali, naquele salão maravilhoso, com aqueles personagens lendários, assistindo-os em seus preparativos para uma jornada épica. Como eu disse antes, todos aqueles anões iriam até o reino de Erebor, invadido muito tempo atrás por um dragão. Seria uma luta a cima das forças deles, talvez, mas sua causa era justa: queriam reaver tudo o que foi tirado deles. Desses anões, Thorin era o mais interessado, já que era o próprio herdeiro do trono. Além disso, por anos sem conta seus antepassados desejaram que chegasse esse dia, em que Smaug, o dragão, fosse enfrentado e derrotado. Esta era uma questão de honra para aquele anão. Deveria tornar real o desejo de seus antepassados, que faleceram sem ter a alegria de voltar a ver seu lar. Devia conduzir seu povo de volta ao lugar que era seu, o único em toda a Terra Média em que encontrariam felicidade, porque anões não foram feitos para vagar e refugiar-se em locais improvisados, por melhores que sejam. Se pertencem a algum lugar, só lá se sentem em paz Devia ainda derrotar uma fera, impedir que ela causasse mais mal do que já causara, porque Smaug era uma ameaça potencial a toda a Terra Média. E a hora de partir havia chegado. Se Thorin falhasse em sua missão, não haveria segunda chance. Era vencer ou vencer. Entendem a tremenda responsabilidade que pesava sobre os ombros de Thorin e daqueles anões?

Fiquei ali sentada, em estado quase hipnótico. Ouvia cada palavra dita, cada plano elaborado, e até cada piada, com atenção e muito respeito. Nenhum deles falava comigo, me incluía na conversa ou ao menos olhava para mim. Aliás parece que eles haviam me esquecido por completo. Creio que nem eu mesma me dei conta disso naquela hora, mas finalmente percebi isso e tratei de colocar a cabeça para funcionar, porque teria agora de convencê-los a me aceitar na Companhia. Meu objetivo era partir com eles, mas teria de provar que seria útil. Será que conseguiria? Nunca se ouviu falar das anãs, salvo por breves comentários referentes à mãe de Fili e Kili, e quem aparecia de fato eram os anões. O fato de ser mulher e, mais ainda, de ser desconhecida, poderia atrapalhar. Fiquei temerosa, e aquele friozinho chato na barriga, típico de quem está nervoso, começou a me incomodar.

A conversa acabou. Era agora. Pedi licença e pedi permissão para ir com eles.

Todos silenciaram. Thorin olhou-me de lado, com a testa franzida. Ao ver as caras deles meu entudiasmo foi morrendo aos poucos.

- Partiremos amanhã bem cedo, Lily - respondeu Thorin sério. Enfático, ele acrescentando - Mas esse “nós” não inclui você.

Como se diz na minha terra, putz véio! Que ducha de água fria. Vim especificamente para isso. Como era possível eu ser deixada para trás? Será que Fantasia me mandou aqui só para dar um "oi" para Thorin e nada mais? Revi minha conversa com ela. Aquela maluca me falou claramente sobre "participar de uma história"! Se não for a história da retomada de Erebor, não podia ser mais nenhuma! Mas o que fazer?

- Lily? - Thorin me chamou - Ouviu o que eu disse?

Thorin ainda falava enquanto eu ficava indignada e revia minha conversa com Fantasia. Não ouvi o que ele disse e pedi para que ele repetisse. O anão suspirou zangado, sendo o tipo de pessoa que detesta falar duas vezes a mesma coisa, mas ainda sim repetiu:

- Eu disse que esta jornada é perigosa mesmo para
anões como nós, sendo ainda mais perigosa para uma mocinha como você. Não posso me responsabilizar pelo seu destino. E você não parece ser de grande ajuda, principalmente ao entrarmos no ermo. Fique aqui. Haverá muitas coisas para você fazer enquanto não regressamos. Você aprenderá muito sobre os anões como deseja; mais ainda do que se partisse conosco. - e olhando para os companheiros - Vamos repousar, meus amigos. O dia começará cedo amanhã.

Todos levantaram-se ao mesmo tempo e puseram-se a conversar sobre a viagem do dia seguinte. Eu ainda estava sentada, olhando para eles, principalmente para Thorin, surpresa e muitíssimo desapontada. Num lance de coragem (já que ninguém ali estava com cara de quem gosta de ser retrucado) levantei-me também e tratei de insistir:

- Esperem. - todos olharam para mim. Como sempre acontecia, mesmo que eu tivesse ótimos argumentos, como estava bastante insegura com aqueles treze anões ali me olhando com as caras fechadas, não consegui falar nada que prestasse. Que raiva fiquei de mim mesma e dessa minha mania de ficar insegura sob pressão! Droga, eu era boa espadachim, treinava desde criança, e já fui escoteira, o que significa que eu seria de muita ajuda nessa missão. Mas quem falou que me lembrei de dizer isso? Como se diz em minha terra, me deu um branco! E que branco, por falar nisso!

- Quando eu disse não, menina, não abri espaço para réplicas. Não a levarei junto e fim de conversa. - disse Thorin taxativo.

Minha coragem me abandonou por completo, porque o tom de Thorin era o melhor tom de "fim de conversa" que eu já havia visto. Impossível discutir.

Eu balancei a cabeça correndo até a porta e fui andando pelo corredor, ao lado de Thorin. Volta e meia olhava para ele, reunindo coragem para uma segunda tentativa. Mais uma vez afundei em pensamentos, planejando uma nova abordagem, dessa vez mais convincente. Quando parei às portas do meu quarto, decidi tentar de novo:

- Thorin, por favor, diga uma coisa - comecei eu, bastante nervosa, temendo um outro não - por que você acha que eu seria inútil nesta viagem?

- Você já viu um dragão? Já viu um orc? Já passou dias nos ermos com poucas provisões?

- Não pessoalmente, mas...

- Exato. Por isso não irei levá-la. Preciso de companheiros corajosos e experientes. Já que você não é nem uma coisa nem outra, ficará aqui. Desculpe, Lily, mas não posso levá-la para depois ter que cuidar de você como se cuida de uma criança medrosa.

Abaixei a cabeça sem saber o que responder. Perguntei apenas se ainda havia como provar que eu era capaz de acompanhá-los. Thorin deu de ombros e disse que duvidava disso mas, se eu realmente fosse capaz de ajudá-los e se fosse meu destino partir com eles, havia ainda algumas horas até o amanhecer.

O anão virou-se e saiu após me desejar uma boa noite, deixando-me sozinha com meus pensamentos (e minha extrema indignação comigo mesma).

Entrei no quarto e me deitei. Fiquei furiosa pois, ao encostar a cabeça no travesseiro, uma série de argumentos indiscutíveis sobre o porquê de eu viajar junto inundaram minha cabeça. Dormi e acordei de supetão. Quantas horas havia dormido? Será que Thorin já havia saído? Pulei da cama e voei corredor afora, tentando achar algum sinal dos anões. Tudo estava silencioso e eu tive certeza de que estava ali sozinha e perdera uma chance única.

Sentei-me em um degrau e fiquei lembrando das várias vezes em que me imaginei em uma sala de jantar com todos os anões da Companhia de Thorin, rindo e conversando, depois de uma longa mas bem sucedida viagem. Lembrei também das vezes em que me imaginei ao lado de Thorin. Em meus sonhos ele era um grande amigo, que me respeitava e nutria carinho por mim. Pensar nessas coisas só me entristecia mais. Eu desagradei a todos aqueles anões. Como iria rir com eles em uma sala de jantar? E Thorin! Meu coração apertou e eu chorei. Thorin partiria amanhã para uma jornada da qual não regressaria nunca mais. Nunca seria meu amigo. E partiria com uma péssima impressão de mim!

- Lily, sua tola! - eu chorava. - O que você fez!

- O que você fez eu não sei, mas não deve ser algo que mereça tanta raiva de si mesma. - era a anã que me levara ao Grande Salão. Ela sentou-se ao meu lado e me ofereceu um lenço. Contei a ela tudo sobre o que me levara a ficar com tanta raiva e tristeza.

- Bem - disse ela quando eu terminei de falar - então você acha que nunca mais verá Thorin. Isso é possível, de fato, infelizmente. Mas não fique tão triste. O dia ainda não amanheceu. Você tem tempo para convencê-lo. Se não é o que aparentou ser, seja o que realmente é de agora em diante. Mas antes, venha descontar sua raia em algo que não seja você mesma.

Fomos até um salão aparentemente utilizado para treino com espadas e lá escolhi uma espada leve, perfeita para mim. A anã, que também sabia lutar, duelou comigo. Como eu sabia manejar uma espada, segurei-a com firmeza e me movimentei com precisão. Enquanto duelava, gritava e desabafava minha raiva. Dentre as coisas que disse, a que mais repeti era "por quê não disse a Thorin que sabia esgrimir?!" Garanto a vocês que foi um duelo lindo de se ver. Tanto é que, ao vencer, ganhei aplausos. E não eram de minha oponente. Eram de ninguém menos que Fili e Kili.

- Bravo! - sorriu Fili. - Você é boa, Lily! Por que não disse isso a Thorin ao invés de se comportar como um bicho acuado? Ele ficaria admirado se visse você lutar.

Então expliquei a eles sobre meu modo de agir ao me sentir insegura.

- Aquela não era eu, juro! Fiquei com medo, me sentia insegura. Perdi a razão. Eu fui uma tola, não é?

- Sim - respondeu Kili - mas não tem problema. Depois de conversar com você nós vemos que não é o que parecia. Entendemos você. Também sentimos medo às vezes.

- De fato - emendou Fili - O medo nubla a visão e entorpece os sentidos. Agora que está sóbria, gostamos mais de você. Mas há uma coisa que queremos saber: por que, afinal de contas, você quer tanto partir conosco? É apenas pela aventura?

- Não, este é o último de meus motivos. Desde muito tempo conheço Thorin Escudo de Carvalho porque já ouvi muitas histórias sobre ele. Meu desejo de conhecê-lo era tamanho que consegui vir até aqui justamente para isso. Admiro-o profundamente e tudo o que eu quero é estar com ele nessa jornada e ajudá-lo como puder. Queria ter dito isso a ele ao invés daquelas besteiras sem sentido. Queria ter dito a ele o quão importante seria para mim ajudá-lo. Queria que ele visse que me solidarizo com a sua Causa, que praticamente a adotei como minha. Sei bem que vocês não estão indo para uma simples caça-ao-tesouro, mas para uma jornada em busca de seu lar, de seu Reino e de tudo o que seu Povo um dia amou mas perdeu por causa daquele maldito dragão. Não sei se posso ser de grande ajuda, mesmo tendo habilidade com espada, mas minha lealdade a Thorin e sua Demanda é enorme! Queria tanto que ele soubesse disso... - eu já estava chorando de novo. Fili e Kili olhavam para mim com respeito e comoção.

- Garanto que Thorin ficaria imensamente feliz em ouvir isso, Lily. Você diz a verdade. Vejo seus olhos brilharem. - disse Fili. - Garanto que seu coração arde com mais entusiasmo que o de muitos de nós. Thorin tem de ver isso! Se ele diz que não levará você com ele, eu a levarei comigo Ele não a levaria, mas não impediu ninguém de levá-la. Virá conosco escondida. Levaremos a maior bronca de nossas vidas, isso eu garanto, mas valerá a pena.

- Não! - uma voz grave ecoou pelo grande salão. Era Thorin Meu coração deu um salto. - Não a levem escondida.

- Thorin - comecei eu, mas ele me interrompeu com um gesto. Vi que havia um sentimento diferente em seu olhar e em sua voz. Era respeito! Ele deve ter me visto duelar e mudou de opinião sobre mim. Quase chorei de novo, mas dessa vez de emoção. Ouvi com carinho o que ele me disse ao se aproximar:

- Lily, eu vi seu duelo com Lís e ouvi todas as coisas que disse a ela e a meus sobrinhos. Se eu soubesse disso antes, nunca teria impedido que viesse conosco. Sua habilidade com espada é impressionante, mas não é mais do que sua visível lealdade. Isto é tudo que preciso: um coração leal. Nada mais. Venha conosco.

Eu quase o abracei, e agradeci milhares de vezes.

-Thorin - eu disse comovida - não tenho qualquer garantia de que serei de grande ajuda. Nenhuma a não ser minha palavra. Se ela valer alguma coisa, peço que você a aceite. Prometo a você que serei leal e ajudarei tanto quanto puder. Minha lealdade é sua, Thorin Escudo de Carvalho, e, se você não me conhece, eu o conheço e o admiro. Sua causa é justa e eu a abraço como minha, se você me permitir. Além disso, ainda não citei, mas tenho uma ótima intuição. Poderei ajudá-los a perceber o perigo. Coloco minha intuição aos seus serviços e peço que a aceite.

Thorin, comovido com minhas palavras, colocou a mão em meu ombro.

- Lily, declaro-a oficialmente parte de minha Companhia. E que sua lealdade e intuição sirvam para o bem de nossa causa. Recomendo agora que se prepare para a viagem e durma mais um pouco. Ainda há tempo para descansar. Boa noite e até amanhã.

Agora sim minha aventura estava começando. Mas meu coração me alertava: Aquilo seria muito maior do que eu poderia imaginar.

Creio que o certo era dizer: A maior experiência de vida pela qual eu já passei estava acabando de começar. Ainda teria muito o que viver. E aprender.
 
Que algumas coisas vão mudar em relação à história original, isso é fato. a Lily vai contribuir de forma muito. Positiva para o sucesso na missão deles, além de conseguir talvez coisas
maiores. mas isso fica pros próximos capítulos...
 

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