Eu acho também que os livros escolhem a gente, mais que a gente escolhe os livros. Talvez eu esteja indo na contramão, mas desconfio que alguns clássicos não servem pra todos. É bom vc conhecer... mas daí a ser "obrigado" a passar por eles é meio relativo.
Por exemplo, entre 1984 e Admirável Mundo Novo, fique com o segundo. O mundo de hoje é muito mais "Huxleyiano" do que a gente pensa. Procure uma versão que tenha a introdução de Huxley sobre as escolhas que fez qdo escreveu o livro... Alguns clássicos são clássicos porque abriram caminhos na arte ou pelo contexto de sua publicação. Mas tirando a "casca", sobra pouco pra alma da gente, ela é que precisa de "comida".
(E esta "comida" pode vir de qualquer lugar, até - exagero? - dos quadrinhos da Mônica, desde que se tenha olhos/disposição pra isto)
Além disso, acho que há idade certa para alguns: Entre o Gabriel Garcia Marques e o Borges, eu prefiro o Borges. Mas acho que o Gabriel Garcia Marques pode ser mais tranquilo e "usufruível" entre a galera mais nova, porque não tem tantas referências assim. Tenta o "Crônica de uma Morte Anunciada" (impressiona como o tempo todo vc sabe o que acontece e não consegue largar o livro) ou os contos de "A Incrível e Trágica história de Cândida Erêndira e sua avó desalmada".
Vou sugerir dois livros com estilo "simples", mas que podem mostrar que não é necessário viajar em neologismos como o Joyce ou em um estilo pesado para falar de coisas difíceis e verdadeiras.
Saiu agora um livro pequeno, bom e adorável. Filhos de hippies, de Maxime Swann. É um livro para adultos, mas escrito de forma bem simples (quem conta a história são as crianças), relembrando a juventude com dois pais (quase) totalmente bicho-grilos... que nadam pelados nos rios, guardam lata de maconha sob a pia, falam TUDO (tudo mesmo) para os filhos... Muito bom. Parece (devia ser) outro planeta.
Pode ser só impressão, mas acho que muitos pais não encontraram o equilíbrio e criaram um tipo de controle "não-repressor" (Faço isto só pelo seu bem). Eu não acho que hippies sejam a "solução", mas talvez seja uma boa ler pra não levar estas regras e controles a sério demais.
Matadouro 5 de Kurt Vonnegut é outro livro legal. Revê o bombardeio de Dresden de uma forma absolutamente original e tragicômica.
Leia A Estrada de Cormac McCarthy.
E leia uns brasileiros também, até pra se sentir a diferença. Aquele dos Cem Melhores Contos do século XX é um bom começo pra separar autores interessantes.