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Entre a fantasia e o realismo

Parisio

Usuário
Prezados valinorin,

Desculpem-me por lançar esse tópico caso ele seja redundante, mas gostaria de debater o seguinte:

Para vocês, qual o limite, a fronteira que separa a literatura fantástica da literatura realista?

Há para vocês um elemento definitivo que possa enquadrar determinada história numa classificação ou outra?

Ou elementos parcias que possam fazer o mesmo?(Por exemplo: todas as histórias de fantasma são fantásticas, apesar de nem todas as histórias sem fantasmas serem realistas)?

Vocês acham, por exemplo, que Machado de Assis era definitivamente realista, e Edgar Alan Poe definitivamente fantástico?

Conto com respostas profundas, complexas e surpreendentes de todos! :D
 
Sua pergunta ficou no limiar da complexidade por um motivo: a amplitude da literatura é tão maior quanto maior for a criatividade do autor. A linha entre literatura fantástica e a dita "realística" é tão grande que já se torna um outro modelo literário.
Acho que quando um autor escreve um livro, ele tem uma preocupação só dele em escrever uma estória que se enquadre em um desses modelos. Mas é o próprio leitor que define se o livro se encaixe num padrão ou outro. Anyway, eu sou contrário á existência de um fator que faça com que tal livro se encaixe num ou noutro estilo. É claro que ninguém espera que um dragão apareça soltando fogo numa estória sobre um adolescente no centro de São Paulo. Daí, é o elemento diferente ao roteiro da estória , enquadrada num local X no tempo Y, que torna o livro fantástico ou real.

:o?: nem eu me entendi direito - ficou bem prolixo :o?:

Outra coisa é o conceito de real e fantástico. Poe é real quando coloca um orangotango matando mãe e filha no subúrbio de Paris - pois apesar de inédito, isso é plausível. Talvez essa característica, de conseguir provar por a+b que é possível, seja um parâmetro para definir em qual padrão um livro se encaixe.
Agora, toda a sombra e aquele quê estranho do Bentinho em Dom Casmurro, sugeriu a um fã machadiano que o Bentinho era um lobisomem. Isso já é um elemento fantástico, então vê-se que quem dita o elemento fantástico numa estória dita real é o próprio leitor. Diferente de quando você lê Tolkien e Ancalangon cai do céu e destroi uma cidade toda, ou surge um Balrog dentro de uma gigantesca Mina de Anões dominada a muito por orcs.
Mas além disso, temos que fazer uma análise de escola literária; pq Machado de Assis era definitivamente Realista, náo dizendo que isso significa que ele se baseava sempre num mundo real.
fui claro? nops, eu acho...


Aí gente, vamos agitar esse tópico porquê a idéia foi muito boa!
(boa jogada, Parísio) :wink:
 
A meu ver o fantástico é aquilo ao qual não estamos acostumados, ou que não há registros históricos.

Por exemplo: se você escreve sobre uma época que está bem documentada, que todos sabem e reconhecem que existiu, e sua história estiver razoavelmente dentro dos padrões dela, é realismo.

O mesmo vale para quando você escrever algo sobre sua própria época, e de uma maneira que seja "coerente" segundo os padrões vigentes daquela sociedade.

Se você sair de qualquer um desses padrões, mas colocar os personagens numa organização psicológica compatível com a qual estamos acostumados, ou colocar sua história de uma maneira que realmente seja verossímil, então é fantástico.

Tá muito errado ou dá pra engolir? :o?:
 
Eu concordo com vocês, mas o que talvez se possa questionar são esses padrões vigentes. Se Machado escreveu a história de um defunto em primeira pessoa, por que é realista? Se Poe contava casos estranhos, mas com tanto engenho e cuidado que obriga o leitor a pensar "isso bem que podia ter acontecido", por que não pode ser considerado também realista?

Na verdade, acho que a questão principal é: realismo e fantasia são reciprocamente excludentes? Por que um livro tem que ser realista OU fantástico se a realidade costuma ser fantástica e inverossímil?
 
Parisio disse:
Se Machado escreveu a história de um defunto em primeira pessoa, por que é realista?
Mera convenção para estudo literário; enquanto os demais autores se empenhavam em imitar o modelo vigente, Machado de Assis escrevia o que queria; foi um escritor à frente de seu tempo.

Todo e qualquer registro escrito é uma obra de ficção.

"Verdade é o fato em si, não a criação do artista. Mesmo que o escritor se aproxime da realidade, o que ele concebe é uma visão dele, que não é real. Pode até se aproximar bastante, mas não é realidade."
 
A literatura é complexa demais para uma resposta definitiva a essa pergunta,mas....
Bem,basicamente o que é fantástico é algo que ultrapasse a realidade de uma forma e com tal intensidade q vc(individualmente) possa classificá-la desse jeito.Tolkien é defiinitivamente fantástico,mas Poe gera controvérsias pq depende da opinião pessoal.

Ficou meio estranho,mas é isso :mrgreen:
 
Então faço uma pergunta difícil:

para cada um de vocês, o que é a realidade?

ou seja, peço a cada um de vocês que tente definir o que é a realidade.
 
Eu acredito que os maiores escritores de fantasia são donos de uma personalidade realista e lúcida. O universo fantástico tem um quê de subconsicente, o que faz com que nos identifiquemos com o absurdo de algumas de suas idéias.

A fantasia é mais do que a maneira infantil de enxergar os fatos, como fazem parecer. Ela é formada pela obscuridade da nossa mente, terrivelmente real e assustadora enquanto tentamos nos convencer de que aquilo não existe. A literatura fantástica nada mais é do que a narração de fatos subconscientes, jamais uma mentira.
 
Ela é formada pela obscuridade da nossa mente

Isso também acontece com a própria realidade, ela é modelada pelas nossas consciências. Isso faz dela uma obra de fantasia. É essa precariedade da delimitação entre realidade e fantasia, realidade e sonho, que tenho tentado levantar.

Um livro que se dedica a esse assunto, esse impasse, esse enigma, é "Breve Romance de Sonho", de Arthur Schinitzler, que inspirou o filme "De Olhos Bem Fechados" de Stanley Kubrick. Alguém já leu/viu?
 
Velho, dizer o que é Real é uma questão metafísica até hoje irrespondida... tem que ter muito cacife pra até discutir isso. Mas fazer o quê né, vamos tentar responder...

Bem eu arrisco a dizer (meu professor de Filosofia ia me matar se lesse isso) que Real é aquilo que vc, indivíduo, tem acesso a ele - esse acesso significa compreendimento, conhecimento. Pra mim não é real proibir tranfusão de sangue, nem que Tupã pegou um coco, rachou ao meio, nasceu assim Sol e Lua. Isso não é plausível. Da mesma forma que eu acredito em Deus, acho real, não por preguiça de pensar sobre (acreditem ou não, eu penso) mas pelo fato de tudo que faz parte da minha vida e caminhada culminar nessa conclusão.
Como vc exlpica que algo é Real, depois de assistir Matrix, ou Arquivo X? O filme Arquivo X é muito plausível, apesar de ser, para mim, que nunca fui abduzido nem vi disco voador, irreal.
A palavra chave, a meu ver, para exlplicar o que é Real, é pergutnar se é plausível. E se existe retórica pra poder exlpica sua existência. :mrgreen:
 
Glorwendel: :clap: :amem:

A Realidade é o seu mundo. É aquilo que você deseja que seja. E nessas muitíssimas realidade, uma (ou mais...) para cada humano existente nesta Terra, há traços semelhantes, que dizem respeito a uma família, um grupo, uma nação, etc.
 
Tópico interessante.

Me fez lembrar um texto que li certa vez de autoria de Todorov, para quem não conhece, ele é um francês que escreveu uma "introdução a literatura fantástica". Aliás, só conheci Todorov pq um conto de Lygia F. Telles me chamou imensamente a atenção certa vez, claro que me refiro "A Caçada", simplesmente fantástico e em determinado lugar encontrei a aplicação dos estudos de Todorov ao conto citado.

Segundo ele, o mundo fantástico está intimamente ligado a ambiguidade, a hesitação. A começar pela credibilidade que a mente de quem lê dá para o "universo" do livro, ou seja, a hesitação entre o sobrenatural e o real.

Basicamente existem dois extremos e um ponto intermediário.

Cada leitor pode buscar a explicação lógica que diminua o impacto do sobrenatural, ou seja, muitos atribuem essa ficção a loucura, aos sonhos, ou até mesmo a alucinógenos. O outro caminho é o extremo imaginário, aonde tudo é aceito dentro de uma postura mais que surreal, uma literatura simplesmente "maravilhosa".

Entretanto o fantástico é o "ecótono" desses dois extremos, sendo na verdade uma literatura perturbadora que deixa o leitor em conflito: ou se dá credibilidade ao fato ´como inexplicável pelas leis que conhecemos, ou admite-se que ele é uma ilusão. O leitor fica exitante e de certa forma perturbado e isso acontece com alguns contos de Lygia para quem quiser exemplos do que Torodov queria dizer...

Enfim, acho legal esse jeito de se especificar a leitura fantástica, a "maravilhosa" e o "estranho"...

Sendo que cada uma dessas distinções dependem de como o autor aborda e da interpretação do leitor.
 

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