The mental features discoursed of as the analytical, are, in themselves, but little susceptible of analysis.
[align=right]Edgar Allan Poe, in The murder in the rue Morgue.[/align]
Antes de Sherlock Holmes ter nascido, melhor, antes de Arthur Conan Doyle ter criado a sua famosa personagem, na Inglaterra vitoriana, do outro lado do oceano, nos USA, de primórdios do século XIX, Edgar Allan Poe escrevia "Os crimes da rua Morgue", onde, pela primeira vez, surge o detective Dupin. Este mora em Paris, com um amigo próximo que narrara as suas aventuras, lembra-nos Sherlock e Watson - pois Poe foi o precursor.
O primeiro género policial nasce nos USA, com a mente brilhante de Poe ao escrever "Os crimes na rua Morgue": duas mulheres - Madame L'Espanaye e a sua filha - são encontradas assassinadas na rua Morgue, em Paris, e, é nesse ambiente que entra C. August Dupin. Os métodos usados não se afastam de Holmes ou Poirot, o próprio autor (Allan Poe) referia-se ao seu livro como sendo "um conto de raciocínio".
A cidade de Paris entra em pânico ao saber dos assassinatos, inúmeras testemunhas apontam para um suspeito, no entanto levam a diferentes pistas.
Na cena do crime, Dupin, descobre amostras de pelos que não parecem ser humanos, assim sendo, o detective coloca vários anúncios em jornais perguntando se alguém perdeu algum orangotango, até receber a resposta de um vendedor. Assim, com as provas completas, Dupin explica como o animal cometeu os crimes na rua Morgue.
Numa carta a um amigo Poe descreve o livro : "Crimes na rua Morgue foi o exercício de uma ingenua forma de solucionar um crime". Dupin não é um verdadeiro detective, ele apenas começa a resolver os crimes na rua Morgue para divertimento próprio. Tem um forte desejo por descobrir a verdade e retirar as falsas acusações que caíram sobre um inocente. Os seus interesses não são financeiros, e chega até a recusar uma considerável soma de dinheiro.
Quando o livro foi escrito, não existia propriamente uma "ciência do crime". Em Londres, Inglaterra, surgia pela primeira vez uma força policial, e, nos USA, as cidades começavam pela primeira vez a concentrar-se-se num trabalho policial cientifico.
Se recuarmos mais no tempo, até ao Iluminismo, encontramos uma obra de Voltair: "Zadig".Conta a história de Zadig, um filósofo da antiga Babilónia, que realiza várias formas de análise. Que terá servido de inspiração ao escritor. Antes de iniciar os seus romances policiais, Poe, realizou vários trabalhos de análise, onde podemos encontrar o ensaio: "Maezel's Cess Player". O mundo à muito que está esquecido do famoso "Turco", um boneco automático que jogava Xadrez, diz a lenda que derrotou Napoleão num dos inúmeros desafios. Neste ensaio, Poe, tenta desmascarar o boneco fraudulento. O racional sobre a irracionalidade. A mente sobre o corpo. Anos mais tarde, Sherlock Holmes diria: "Elimine o impossível, assim, o improvável, por mais estranho que pareça, deve ser a verdade."
A razão pela qual Sherlock ou Poirot são mais famosos do que Dupin reveste-se no facto de Poe ter morrido precocemente, e apenas ter deixado três obras do grande detective:
- "Murder in the rue Morgue";
- "The mistery of Marie Roget"
- "The purloined letter"
Poe morreu em 1840 com apenas 40 anos.
"Meu nome é Sherlock Holmes, é meu negócio saber o que as outras pessoas não sabem." in A aventura do carbúnculo azul (1891-92)
Na Inglaterra vitoriana, um médico, Arthur Conan Doyle, cria uma personagem com base em Dupin: Sherlock Holmes. Dizer "baseado" é relativo, porque a personagem que levou Conan Doyle a criar Holmes foi o seu antigo professor de medicina em Edinburgo, o dr. Joseph Bell: "Era magro, vigoroso, com rosto agudo, nariz aquilino, olhos cinzentos penetrantes, ombros rectos e um jeito sacudido de andar. A voz era esganiçada. Era um cirurgião muito capaz, mas seu ponto forte era a diagnose, não só de doenças, mas de ocupações e caracteres." Tal como Holmes ou Dupin, Bell, solucionava crimes nos tempos livres, não aceitando qualquer recompensa ou reconhecimento. E Doyle apenas criou Holmes para ganhar uma pouca libras de modo a pagar algumas dividas, não imaginava o sucesso da sua obra, e quando esse sucesso se "descontrolou", o criador, mata a sua criação, nas cataratas de Reichenbach, na luta com o seu arqui-inimigo Moriathy. O público não gostou, e chegou ao ponto de desfilar nas ruas, numa manifestação pacifica com braçadeira negras, de maneira a tentar influenciar o autor a ressuscitar a sua mais famosa criação. Doyle, apenas falo ia anos mais tarde, quando voltou a necessitar de dinheiro.
Na viragem para o século XX, logo após a primeira grande guerra, Doyle deixou de escrever definitivamente as aventuras de Holmes, estas, foram reunidas em vários livros, Holmes pertencia a uma outra época, distante, e que o mundo apenas recordaria como mais uma página na sua história. Agora surgiria uma nova escritora Agatha Christhie, que apresentaria o seu detective em "Um crime em Styles" (ou, noutros títulos, "A primeira investigação de Poirot") onde o detective Belga é apresentado, pela primeira vez. A narrativa mantem-se ao estilo de Dupin e Holmes. Hastings é o fiel companheiro e narra a história.
Christie disse: "Dentro de alguns anos, só quero ser lembrada como uma boa escritora de casos policiais." Assim mesmo ficou imortalizada, a "rainha do crime".
Poirot distingue-se de Holmes. O detective belga é extravagante, usa bigode, tem uma aparência elegante e impecável, já para não falar na sua obseção por ordem e método. Sherlock usa os métodos já conhecidos do grande público, ciências como a dedução, a indução ou a abdução - as análises científicas, o método experimental, a observação, etc. No entanto, Poirot, afirma, que pode resolver um crime estando "apenas sentado na sua poltrona", comparando os seus colegas a "cães de caça humanos" por andarem à procura de pequenas pistas no chão, enquanto que, ele, Poirot ,apenas usa a psicologia humana. Como detective é mais dedutivo e teórico do que experimental.
Outros escritores se seguiriam Rex Stout, Edgar Wallace, Patrícia Highsmith, Mary Higgins Clark entre tantos outros.
Hoje o género policial prossegue misturando misticismo, historia e crime, como é o caso de "O código de da Vinci", e outros tantos que esgotam as vendas um pouco por todo o mundo.
O género policial parece ser um dos mais apreciados, tanto pelo mistério em que o leitor se vê envolvido, como pela acção que se desenrola. O velho dilema: existem ou não crimes perfeitos, subsiste nas nossas mentes. Oscar Wild tem melhores palavras, passo a citar: "Todo o crime é vulgar, exactamente como toda a vulgaridade é um crime".