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[align=justify]Naquela manhã de segunda-feira havia um pequeno e animado ajuntamento na sala do quinto andar dos escritórios do Banco. Era gente que costumava madrugar no trabalho.
- Rapaz, o Joca…
Quem ia chegando e era inteirado da brincadeira, invariavelmente ria, às gargalhadas.
- Se lá em casa eu falasse em comprar um carro esporte, conversível ainda por cima… minha mulher me matava, só por causa da idéia…
- Ela sabe o marido que tem…
- Ná! Meu nome está limpo. Mas, sentir vontade de ter um Miúra… ou um Puma… lá em casa, nem pensar! Seria levantar suspeitas sobre mim…
O grupo ia aumentando, conforme outros chegavam ao escritório. Estavam num canto da sala, perto de uma muralha de arquivos – e só havia homens. Tinha lá uma mesinha. Nela, numa pequena gaveta, oculto, um toca-fitas, encaixável, de bandeja – um Roadstar.
- Não condeno! Ninguém é de ferro… Mas também não precisava dar essa de puritano, de quietão, como o Joca sempre pareceu ser…
- Vocês arranjam cada uma… como foi que aprontaram essa?
- Foi só coincidência. E um nadinha de burrice… Um Miúra Targa vermelho, chama muito à atenção…
Um, que havia acabado de chegar e de saber da história perguntou:
- Mas, afinal, quem foi que pegou?
- Rapaz… fui eu. Mas, você sabe, eu sou solteiro… Cheguei ao estacionamento do motel e, bem ao lado da suíte que me calhou… o Miúra vermelho do Joca. Todo mundo conhece… Ele vai às nossas partidas de futebol, de Miúra, às festas, de Miúra… Nem todo mundo pode ter um. E a placa a gente já sabe de cor…
- Se um vigia do motel te flagrasse numa brincadeiras dessas… e chamasse a Polícia…
- Que nada… Aquilo é um lugar calmo, todo cercado, protegido. Não se vê quase ninguém. Foi tranquilo, a capota estava recolhida, para facilitar…
Risadas. Vinha chegando mais um, farejando novidades.
- E você vai devolver na frente de todo mundo?
- Mas claro que não! O Joca é gente boa, afinal… Devolvo para ele, discretamente… Melhor, vou enfiar na primeira gaveta da mesa dele. E a gente fica de longe, observando a surpresa…
Mais risadas. Então o pequeno grupo acaba se contendo, com esforço, porque a porta abre e Joca vem chegando para trabalhar…
- Morreu alguém?
- Não, mas quase. O teu Vasco perdeu, de novo!
- Enquanto aquele técnico burro não sair…
- Um caixa, na última sexta-feira, apostou o bigode. Eu vi. Perdeu. Quero vê-lo hoje…
- Para mim também foi uma droga. Me roubaram o toca-fitas do carro.
- Cidade violenta…
- Eu sempre tiro da bandeja. Carrego pela alça ou coloco na maleta, se estiver de maleta. Mas a minha esposa, num minutinho que estacionou em frente à casa da mãe, esqueceu… e levaram!
Silêncio. Constrangimento. Talvez mesmo uma ou outra expressão de dor.
No horário de almoço, o escritório estava quase deserto.
- Vai devolver, vai contar?
- Não sei, acho que não tenho coragem. Entrega isto por mim.
- Desculpe, meu velho, não fui eu quem tirou…
- Mas… o que eu faço? Sinceramente…
- Escolhe. Faz dele um marido infeliz, ou de você mesmo um novo Bom Ladrão…[/align]
[align=justify]Naquela manhã de segunda-feira havia um pequeno e animado ajuntamento na sala do quinto andar dos escritórios do Banco. Era gente que costumava madrugar no trabalho.
- Rapaz, o Joca…
Quem ia chegando e era inteirado da brincadeira, invariavelmente ria, às gargalhadas.
- Se lá em casa eu falasse em comprar um carro esporte, conversível ainda por cima… minha mulher me matava, só por causa da idéia…
- Ela sabe o marido que tem…
- Ná! Meu nome está limpo. Mas, sentir vontade de ter um Miúra… ou um Puma… lá em casa, nem pensar! Seria levantar suspeitas sobre mim…
O grupo ia aumentando, conforme outros chegavam ao escritório. Estavam num canto da sala, perto de uma muralha de arquivos – e só havia homens. Tinha lá uma mesinha. Nela, numa pequena gaveta, oculto, um toca-fitas, encaixável, de bandeja – um Roadstar.
- Não condeno! Ninguém é de ferro… Mas também não precisava dar essa de puritano, de quietão, como o Joca sempre pareceu ser…
- Vocês arranjam cada uma… como foi que aprontaram essa?
- Foi só coincidência. E um nadinha de burrice… Um Miúra Targa vermelho, chama muito à atenção…
Um, que havia acabado de chegar e de saber da história perguntou:
- Mas, afinal, quem foi que pegou?
- Rapaz… fui eu. Mas, você sabe, eu sou solteiro… Cheguei ao estacionamento do motel e, bem ao lado da suíte que me calhou… o Miúra vermelho do Joca. Todo mundo conhece… Ele vai às nossas partidas de futebol, de Miúra, às festas, de Miúra… Nem todo mundo pode ter um. E a placa a gente já sabe de cor…
- Se um vigia do motel te flagrasse numa brincadeiras dessas… e chamasse a Polícia…
- Que nada… Aquilo é um lugar calmo, todo cercado, protegido. Não se vê quase ninguém. Foi tranquilo, a capota estava recolhida, para facilitar…
Risadas. Vinha chegando mais um, farejando novidades.
- E você vai devolver na frente de todo mundo?
- Mas claro que não! O Joca é gente boa, afinal… Devolvo para ele, discretamente… Melhor, vou enfiar na primeira gaveta da mesa dele. E a gente fica de longe, observando a surpresa…
Mais risadas. Então o pequeno grupo acaba se contendo, com esforço, porque a porta abre e Joca vem chegando para trabalhar…
- Morreu alguém?
- Não, mas quase. O teu Vasco perdeu, de novo!
- Enquanto aquele técnico burro não sair…
- Um caixa, na última sexta-feira, apostou o bigode. Eu vi. Perdeu. Quero vê-lo hoje…
- Para mim também foi uma droga. Me roubaram o toca-fitas do carro.
- Cidade violenta…
- Eu sempre tiro da bandeja. Carrego pela alça ou coloco na maleta, se estiver de maleta. Mas a minha esposa, num minutinho que estacionou em frente à casa da mãe, esqueceu… e levaram!
Silêncio. Constrangimento. Talvez mesmo uma ou outra expressão de dor.
No horário de almoço, o escritório estava quase deserto.
- Vai devolver, vai contar?
- Não sei, acho que não tenho coragem. Entrega isto por mim.
- Desculpe, meu velho, não fui eu quem tirou…
- Mas… o que eu faço? Sinceramente…
- Escolhe. Faz dele um marido infeliz, ou de você mesmo um novo Bom Ladrão…[/align]