Nem! Luzinhas e afins no tópico dos formigueiros, por favor!
Andei vendo isso tudo e me veio uma dúvida... ou melhor pulga atrás da orelha... (desculpem os erros na caligrafia dos nomes!!!)
Me corrijam: no Silmarillion, quando Eru orientou (o que é diferente de mandar) os Valar para a canção em três tempos, sempre Melkor fazia birra/pirraça e atrapalhava tudo...
Mesmo assim Eru sorria... como se soubesse que Melkor fosse fazer aquilo. E que o mal cairia sobre Ea. E ele não achou ruim...
A seguir, vemos o despertar dos elfos (que nunca morrem) e dos homens (que morrem). No entanto, com o tempo os elfos voltam para Valinor enquanto o mundo torna-se palco para a supremacia dos homens.
Os elfos admiravam o belo, mas ao mesmo tempo não suportavam a idéia de que o belo um dia acabaria. Fosse a beleza na forma de um lugar, um palácio, uma coisa, ou uma amizade com homens mortais.
Existe sempre algo em torno de criar que eles nutrem carinho profundo. Mas todas as desgraças aconteciam quando esse apego às coisas (materiais ou não) era demasiado. Apego a lugares, apego a artefatos, etc. No caso das amizades, acabou por fazer os homens e elfos se afastarem.
Se existe criação no começo do mundo, com o tempo não sobra mais lugar para criar. Vem então a necessidade de destruição, para que novas belezas possam nascer.
Isso também Eru devia ter previsto. O imutável não quer dizer eterno. A Lua está imutável no céu mas é estéril. Se o nosso mundo fosse imutável como cristal seria morto. (foi Galileu quem disse isso eu acho)
Nos contos do Silmarillion também há referência das mortes dos homens mortais. De que quando eles começaram a se preocupar com isso, suas vidas eram longas ainda, mas a cada nova geração o medo da morte os aproximava dela. Muito semelhante aos contos bíblicos, com os filhos de Adão e Eva que viveram bastante tempo, mas que a cada geração vivia menos porque cada vez mais tinham medo da morte.
Voltando!!!! Os homens temiam a morte, mas na verdade no Silmarillion há uma declaração explícita de que é antes uma dádiva. Eru então já devia planejar que o domínio da Terra-Média seria primeiro dos elfos, mas depois passaria em definitivo para os homens, por estes encaixarem-se melhor para o trabalho posteriormente (seja lá o que Eru ou Deus estivesse pensando!)
Agora voltemos à sombra.
Deve existir uma forma de fazer a transição do mundo criado por Tolkien para a nossa história normal. Todas as mitologias apesar do fundo fantástico serviram como a história não-contada e altamente amplificada para ser transmitida a nós. É como se aumentassem mil vezes a estória de Lampião e Maria Bonita. Há um fundo de verdade, mas também há o fantastico.
Se Tolkien se propôs realmente a fazer uma mitologia para o povo britânico, tanto quanto um exercício linguístico, ele também deve ter se perguntado: como fazer a transição do fantástico para que seja aceito como real? Como começar algo Rei Arthur e continuar como uma cronologia ainda fantástica, mas mais perto da realidade do mundo que conhecemos como Idade Média?
O inimigo não seria algo fantástico como Morgoth ou Sauron... mas Tolkien mesmo disse que as sementes do mal foram espalhadas. O mal não seria fantástico na forma individual, mas espalhado seria muito mais difícil de combatê-lo.
E mesmo esse mal, às vezes não estava arraigado profundamente nas carnes daqueles que o serviam. Os homens do Leste ficaram espantados em ver que o povo de Gondor não era cruel como Sauron disse a eles.
Tolkien não conseguiu continuar, talvez porque essa continuação teria muito cara de messianismo e cristianismo. Com o afastamento dos deuses e elfos, restariam apenas lendas deles a serem contadas para os homens do leste.
Note que são homens: não podem ser simplesmente destruídos como o são os orcs e Uruk-Hais. Se eles oferecem rendição, os descendentes de Aragorn não podem simplesmente massacrá-los.
Creio que se o novo Mal paira como algo impalpável, é porque na verdade o é. Não é uma entidade, mas a dispersão da entidade original (Morgoth e Sauron) em povos ignorantes de outra coisa senão medo e ódio, mas não totalmente corrompidos que só consigam pensar em matar e não ter medo de morrer.
Outro ponto que se tornaria indispensável, seria o avanço dos povos da Terra Média para o Leste. O desbravamento do continente desconhecido.
Novamente, a analogia com as cruzadas seria fatal. E como ele odiava alegorias, ele parou por aí.