-Jorge-
mississippi queen
Quarto de despejo: diário de uma favelada é um livro publicado em 1960 de Carolina Maria de Jesus moradora da favela do Canindé em São Paulo. O livro é formado por trechos selecionados de seu diário anotado em 20 cadernos entre os anos de 1955 e 1959. O título do livro se explica pela teoria da autora de que a cidade seria formada pela "sala de visitas", o palácio de governo, a "sala de jantar", a prefeitura, o "jardim", os bairros ricos com suas mulheres e crianças bem vestidas, casas coloridas e com flores, e a favela, o quarto de despejo ou quintal, onde jogam o lixo.
A fome. A fome é o que mais vemos durante o segundo ano do diário de Carolina Maria de Jesus. Quase todos os dias, as mesmas dificuldades para conseguir um mínimo de comida para si e para os três filhos. Hoje, sopa de macarrão com cenoura, depois, feijão com arroz (conseguido com uma vizinha), depois, polenta. Mas assim sempre, uma refeição diária. Carne? Um sonho, como os que a autora descreve de vez em quando. Quando Carolina engorda é por estar usando três casacos por causa do frio. Como é possível que catando papel o dia todo e lavando roupas para dois clientes ainda esteja em falta (e passe fome)?
Mas a fome não é o único personagem dessas histórias. Há também os vizinhos de Carolina com suas infernais brigas diárias por qualquer motivo, alimentadas pelo álcool. Como anota a autora: "A única coisa que não existe na favela é solidariedade" e que "[...] aqui não há consideração mútua". Ao mesmo tempo ela contradiz isso quando mostra consideração pela menina de 15 anos que come salsichas do lixo ou pelo catador de papel de 24 anos que já "cansou da vida"; ou é contrariada por outros vizinhos ou pessoas que lhe dão comida ou dinheiro.
O retrato não é muito bonito. Ele inclui também os comentários sobre pequenos desgraças diárias, a constante falta de calçados dos filhos, a maledicência das mulheres na torneira da água, os políticos que só aparecem na época da eleição, prostituição, pedofilia, incesto. Carolina critica os políticos da época nominalmente, mas critica também o Estado de maneira indireta ao narrar seu encontro com dois jovens fugidos de uma instituição de cuidados para menores que narram os "cuidados" que recebiam; ou as visitas do serviço de saúde, por exemplo, que passa vídeos sobre a esquistossomose e diz para os moradores não usarem a água do rio, mas não lhes dá nenhuma outra opção no lugar.
Essas imagens só se tornam mais leves de vez em quando graças a certo humor da autora ou a alguma beleza que ela tenta acrescentar no relato narrando seus sonhos ou uma conversa que teve com a mãe ou falando da natureza. Infelizmente ela não fala muito sobre si mesma: como chegou ali, se sempre levou essa vida, quem foram seus pais... Apesar de não caber exatamente em um diário, a falta disso é um pouco frustrante.
Nos seus últimos dias o diário acompanha algumas mudanças que se deram com a publicação para Carolina: na verdade a situação dela na favela não ficou muito boa por alguns comentários sobre os vizinhos, ao mesmo tempo em que não mudou muito imediatamente, se ela esperava fama e fortuna. A fama viria depois, para desaparecer logo em seguida. A fortuna nunca veio.
Alguém foi obrigado a ler na escola ou para o vestibular ou conheceu de outra forma?
A fome. A fome é o que mais vemos durante o segundo ano do diário de Carolina Maria de Jesus. Quase todos os dias, as mesmas dificuldades para conseguir um mínimo de comida para si e para os três filhos. Hoje, sopa de macarrão com cenoura, depois, feijão com arroz (conseguido com uma vizinha), depois, polenta. Mas assim sempre, uma refeição diária. Carne? Um sonho, como os que a autora descreve de vez em quando. Quando Carolina engorda é por estar usando três casacos por causa do frio. Como é possível que catando papel o dia todo e lavando roupas para dois clientes ainda esteja em falta (e passe fome)?
Mas a fome não é o único personagem dessas histórias. Há também os vizinhos de Carolina com suas infernais brigas diárias por qualquer motivo, alimentadas pelo álcool. Como anota a autora: "A única coisa que não existe na favela é solidariedade" e que "[...] aqui não há consideração mútua". Ao mesmo tempo ela contradiz isso quando mostra consideração pela menina de 15 anos que come salsichas do lixo ou pelo catador de papel de 24 anos que já "cansou da vida"; ou é contrariada por outros vizinhos ou pessoas que lhe dão comida ou dinheiro.
O retrato não é muito bonito. Ele inclui também os comentários sobre pequenos desgraças diárias, a constante falta de calçados dos filhos, a maledicência das mulheres na torneira da água, os políticos que só aparecem na época da eleição, prostituição, pedofilia, incesto. Carolina critica os políticos da época nominalmente, mas critica também o Estado de maneira indireta ao narrar seu encontro com dois jovens fugidos de uma instituição de cuidados para menores que narram os "cuidados" que recebiam; ou as visitas do serviço de saúde, por exemplo, que passa vídeos sobre a esquistossomose e diz para os moradores não usarem a água do rio, mas não lhes dá nenhuma outra opção no lugar.
Essas imagens só se tornam mais leves de vez em quando graças a certo humor da autora ou a alguma beleza que ela tenta acrescentar no relato narrando seus sonhos ou uma conversa que teve com a mãe ou falando da natureza. Infelizmente ela não fala muito sobre si mesma: como chegou ali, se sempre levou essa vida, quem foram seus pais... Apesar de não caber exatamente em um diário, a falta disso é um pouco frustrante.
Nos seus últimos dias o diário acompanha algumas mudanças que se deram com a publicação para Carolina: na verdade a situação dela na favela não ficou muito boa por alguns comentários sobre os vizinhos, ao mesmo tempo em que não mudou muito imediatamente, se ela esperava fama e fortuna. A fama viria depois, para desaparecer logo em seguida. A fortuna nunca veio.
Alguém foi obrigado a ler na escola ou para o vestibular ou conheceu de outra forma?