Elrond Meio-Elfo disse:
Ou seja, a bondade de Deus é RELATIVA, certo? Para você esses foram atos de bondade mas para o pobre do escravo egípcio que passou sua vida inteira trabalhando que nem uma mula para o Faraó, para os animaizinhos coitados que não tinham nada a ver com os pecados dos homens, e para a pobre e inocente criança que brincava todos os dias na cidade de Gomorra, Deus era 'Bom'? Não, para eles Deus foi 'Mal'. Para eles Deus foi 'Punitivo'. Para eles Deus foi 'Vingativo'. Nunca 'Bom' e 'Misericordioso'.
Para mim, não, pois não sou cristão (na verdade, sou ateu.
).
E, realmente, essa bondade seria relativa sim, sem dúvida alguma. Tanto que Eru só era visto como "bom" pelos seus próprios Filhos (elfos e númenoreano fiéis - além dos descendentes destes últimos que não "desviaram-se" do caminho); ou seja, na obra, elfos e humanos fiéis (que, querendo ou não, podem ser vistos como os "cristãos fiéis" do nosso mundo) criaram os conceitos de "bem" e "mal", da mesma forma como a humanidade fez no nosso "mundo real".
Do ponto de vista do
próprio Eru, ele não era nem bom nem mau.. ele simplesmente
era.
A analogia com os egípcios e gomorreanos é muito válida, mas vale lembrar que, no caso dos egípcios, seu(s) deus(es) não era(m) o cristão; e, no caso dos gomorreanos, o Deus cristão havia sido seu deus, mas eles o abandonaram.
Passando tal cenário para a TM, os egípcios poderiam ser vistos (forçando a barra, claro, mas ainda assim logicamente) como os servos de Melkor, enquanto que os gomorreanos corresponderiam melhor com os númenoreanos negros (Ar-Pharazon e sua turma).
Ao meu ver o conceito de bondade não pode ser relativo. Um Deus bondoso nunca promoveria a bondade para alguns e a maldade para outros. Um Deus bondoso seria bondoso para todos. Por exemplo, Manwë. A bondade de Manwë é tanta que chega ao extremo de ser quase ingênua ou tola. Manwë não tem coragem de destruir os Númenorianos, então a quem ele convoca? Iluvatar e sua fúria divina. Iluvatar é o exemplo perfeito de Deus 'neutro'. Seus propósitos são maiores e mais importantes do que as vidas dos seus próprios filhos.
Concordo, concordo. Mas o conceito de
bondade não seria relativo se todos fossem cristãos (ou, na obra, fiéis a Eru); porém, não é isso que acontece: uns veneram Melkor, e outros abandonaram Eru completamente. Nesse contexto, o conceito de
bondade não deixa de existir, mas passa a ser relativizado inevitavelmente.
Contudo, do ponto de vista do
autor, não haveria porque haver essa relativização, motivo pelo qual os "infiéis" estariam "errados" quanto ao seu conceito de
bondade, e por isso sofreriam as consequências no devido tempo (como aconteceu com Ar-Pharazon, por exemplo).
Não se vê na obra nenhuma ação de Eru que esteja do "lado" das de Melkor, favorecendo o Vala, vê-se?
O motivo (mais lógico e, ainda assim, simplista) para explicar isso seria o de que o Silmarillion foi escrito pela ótica dos próprios elfos... e esses
nunca deixaram de ser fiéis a Ilúvatar. E, como Melkor representava para eles tudo o que era contrário a Eru, o Vala era visto como "mau", e todas as ações da parte de Eru com relação a Melkor e a seus seguidores eram vistas pelos quendi como não apenas "justas", mas também
boas (lembre-se que esse conceito foi criado pelos próprios elfos).
Ao meu ver, como observador externo da historinha da Terra-Média, Manwë era muito mais bondoso, misericordioso e paciente do que Iluvatar. Não que o Vala nunca tenha cometido erros (e cometeu), mas isso somente mostra que ele não era perfeito. Iluvatar sim.
De fato, mas isso deve-se ao fato de que Manwë
não entendia o conceito de "mal" (uma vez que esse conceito não era de origem Ainur); isso está no Silmarillion, inclusive; logo, ele também era essencialmente "bom", mas suscetível a falhas de julgamento e erros pelo simples fato de que ele
não era "perfeito" como Eru.