Você tá meio por fora do que acontece com os veteranos nos EUA, né, Seiko? O que não falta nos EUA é veterano sem teto.
Morfs, pare com a leitura seletiva. Volte
duas casas à parte do post onde eu cito isso e leia com atenção:
"Vários veteranos são vistos com desconfiança porque a brutalidade a que foram expostos mudou radicalmente o comportamento de vários deles. Alguns se tornaram violentos, soturnos, vários voltaram loucos - tanto que grande parte que não retornou mutilada será dependente do Estado pelo resto de suas vidas, porque são incapazes de se ressocializar."
Trabalhei com Assistência Social por 4 anos, e posso te afirmar que o que torna uma pessoa sem-teto nem sempre é falta de dinheiro. Há aí uma série de fatores, principalmente de fundo psicológico: já vi vários casos em que a assistente social ofereceu o abrigo e a ressocialização, e o indigente não quis porque
'tinha de tomar banho', e outros recusaram porque
'na rua ele poderia beber o dia inteiro, e no albergue, não'. Não é uma questão que se possa lidar de forma simplista, e não se resolve amarrando o cara com uma corda e levando para a ressocialização contra a vontade dele, entende?
No caso dos veteranos ianques, muitos voltaram tão destruídos psicologicamente que abandonam/são abandonados pelas famílias por muitas vezes desenvolver o vício por drogas ou bebidas. Enfim, não há como afirmar o que é o quê porque são casos individuais. E esses veteranos sem-teto certamente se enquadram na categoria dos que foram incapazes de se ressocializar.
Ao contrário do que se pensa, há uma
repartição governamental dedicada ao suporte de veteranos nessas condições, assim como o suporte assistencial feito aqui como no Brasil: indo a cada um, conversando sobre seus problemas e oferecendo soluções. Por que então muitos deles permanecem na indigência? Boa pergunta. Não sei responder. Muitos preferem continuar assim, e confesso que ignoro os motivos.
Mas acho que ambos os lados são posições ideológicas.
A questão de "obrigado por representar o país na guerra" tem lados e lados, seja defender o país de invasão, já é diferente no caso do seu país estar invadindo, ou em guerras como a maior parte das guerras americanas em que pouco tem a ver realmente com a segurança da sua população mas por questões de ideologia (guerra contra comunismo) ou econômicas.
Claro que nada disso tem a ver com os militares em si que foram em combate, eles só estão recebendo ordens. Mas tão pouco é obrigatório sentir-se mais agradecido a um soldado que foi para uma guerra por você, do que o professor que orientou bem seu filho durante um período dificil da adolescência, ou o médico que salvou a sua mãe de um derrame, ou o pedreiro que deu sangue pra levantar um abrigo pra gente necessitada, etc.
Opa, em momento algum eu afirmei que esse sentimento de gratidão é obrigatório. Na verdade,
é mais uma questão de senso comum inerente à cultura deles, já que a posição ideológica e o patriotismo norteamericano são forjados sobre as armas, como bem sabemos. Também citei em posts anteriores sobre as reservas da população em relação às investidas militares, cuja manutenção já se tornou uma despesa que muitos já não toleram. Há diferenças ideológicas claras surgindo ali, mas mesmo sendo contra esse ideal de patriotismo desgastado, eles têm o bom-senso de não direcionar isso aos combatentes, mas ao governo.
Mesmo que no final seja tudo marketing patrocinado por Hollywood, a grande maioria dos veteranos, velhos ou não, ostenta o pavilhão de seu país em frente à própria casa, como uma maneira de distinção:
'aqui mora um militar'. Esse ato, a meu ver, está carregado de simbologia. E o
senso comum, e não a obrigação, faz com que as pessoas os respeitem; mesmo que não os respeitem, ao menos não os molestam. Muito diferente do nosso país, infelizmente.
E esclarecendo: não,
não é pagação de pau para os ianques da minha parte.
É um impulso inevitável de comparação. Sou de uma família de militares, e acho muito triste que eles tenham de evitar falar sobre isso para evitar questionamentos constrangedores, ou até mesmo esconder o que são, e ver o quão diferente é o tratamento e a relação entre a população e militares em outros países.