Quando eu saí do show, eu tava satisfeito. Ouvi as músicas que queria, tive algumas surpresas, berrei a plenos pulmões no show quase todo e me emocionei com Invincible e Take a Bow (essa sim a mais grata surpresa do show). Supermassive Black Hole ao vivo é um orgasmo, Newborn foi o GRANDE momento, com um Matthew Bellamy começando calminho no piano e depois levantando enlouquecido com a guitarra, e Feeling Good foi... digamos... fofa
A abertura também foi sensacional, com Knights of Cydonia emendada com Hysteria.
Enfim, tudo ok, tudo ótimo, saí satisfeito. Mas eu tô mal-acostumado. Em primeiro lugar, pra não começar logo culpando a banda, a acústica do Vivo Rio é um cocô. Som alto demais, inteligível de menos. Saí quase surdo. Muito, muito quente, o que é bizarro, já que estamos no inverno. Pagar 5 reais por uma lata de cerveja NOVA SCHIN é pra acabar com o humor de qualquer um. A ausência de uma área aberta pra fumantes, idem. Todo mundo ignorou a lei e fumou lá dentro tranqüilamente, inclusive eu.
Mas eu fiquei com uma puta sensação de show burocrático. O Muse tem umas 25 músicas pra essa turnê. A cada apresentação, eles mudam 1/4 do repertório e modificam a ordem, o que faz com que todo show seja diferente. 'Diferente', porque se você conhece a estratégia, sabe o que esperar, e fatalmente fica decepcionado se eles deixam alguma de fora, como foi o meu caso com Soldier's Poem e City of Delusion, que eles vinham tocando direto nos últimos shows e deixaram de fora nesse.
Faltou aquela surpresa, aquela música que você pensa: 'pqp, eles tocaram essa no Rio, eles nunca tocam essa'.
Faltou interação com o público. Matthew Bellamy tem uma voz incrível, toca vários instrumentos, se envolve, 'transa' com o palco, mas é muito mais uma sensação de masturbação do que de sexo a 2. Ele transou com ele mesmo, e não com a gente, que tava lá esperando por uma bimbadinha. Ele se joga na guitarra, se descabela, se concentra, mas faz isso pra ele. Só pra ele. Me senti uma prostituta ao contrário. Eu paguei pro cara gozar.
O restante da banda está lá pra cumprir seu papel, de apoio a ele. Cumprem bem, diga-se de passagem, mas é o que eu falei.. show burocrático.
Daí eu lembrei de 2 dos melhores shows que já vi: Stones em Copacabana e Arcade Fire no Tim. Dois opostos, mas igualmente sensacionais. Mick Jagger estava lá, a 1 km de distância. Eu via um pontinho no palco, mas ele me satisfez como o melhor dos profissionais. Ele canta, ele seduz a platéia, é um prazer mútuo, uma troca. Quarenta anos de estrada ensinaram o cara a se doar, a surpreender, mesmo cantando aquele velho repertório de sempre. Ele tem mojo...
E o restante da trupe, os outros Stones, cada um tem seu brilho próprio. Eles são os acessórios, e funcionam muito bem. Ajudam a fazer uma tr*pada inesquecível.
Aí, do outro lado, temos o Win Butler e cia. Arcade Fire, banda novinha de estrada, 'desconhecida' no Brasil, com uma platéia de 3 mil pessoas que foram para ver...o Wilco. E eles chegaram detonando... nos primeiros acordes de Wake Up, os 3 mil se levantaram e acompanharam, em coro. Dava pra ver a cara de surpresa de cada um deles, surpresa e satisfação...
E o Arcade encarou de frente. Suando, arfando, cada um se dedicou ao máximo pra fazer aquele show foda. E sim, surpresas... tocaram Brazil, foram carinhosos, deram atenção. Dez músicas que valeram muito mais do que os 35 reais que eu paguei na época.
Enfim, já me alonguei demais. Sim, o show do Muse foi foda, valeu a pena, me senti satisfeito por ter ido. Mas Matthew, olha pra platéia mais um pouquinho, ok?

Dom, se enrolar na bandeira do Brasil qualquer um faz...