EM UM SÓ DIA, MST INVADE 15 PROPRIEDADES
06/03/2006
Ocupações fazem parte do ‘2006 Vermelho’ que o movimento deflagrou no fim de semana em Pernambuco
SÃO LOURENÇO DA MATA (PE). Cerca de 600 trabalhadores rurais ligados ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ocuparam o engenho São João, de propriedade da Usina Tiúma, a 22 quilômetros do Recife, em uma das 15 invasões realizadas ontem em Pernambuco. A operação Jornada de Luta pela Reforma Agrária, também chamada pelos militantes de 2006 Vermelho, envolveu 2.530 famílias.
A ocupação do engenho, acompanhada pelo GLOBO, foi a segunda invasão do MST às terras do grupo Votorantim naquele município, de onde foram expulsos no ano passado por ordem judicial. Os lavradores romperam as cercas do engenho e, no início da manhã, depois de fincarem a bandeira do movimento, começaram a erguer suas barracas.
Fonte: O Globo
09/03/2006 - 20h19
Prejuízo da Aracruz pode ser de milhões de dólares, diz empresa
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LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre
O prejuízo causado pela invasão e depredação do horto florestal da Aracruz Celulose por mulheres camponesas ligadas à Via Campesina, em Barra do Ribeiro (RS), pode chegar a milhões de dólares, segundo a empresa. Preocupado com isso, o governo gaúcho tentava hoje evitar a perda de um investimento da empresa avaliado em US$ 1,2 bilhões.
A depredação das instalações da Aracruz ocorreu na manhã de hoje e envolveu um grupo de 2.000 militantes da Via Campesina, na maioria mulheres.
Nota divulgada hoje pela Aracruz contabilizou os prejuízos: "Perda de aproximadamente 1 milhão de mudas prontas para plantio e 4 milhões de mudas revolvidas. O laboratório teve suas instalações totalmente destruídas, especialmente sementes e pesquisas, além dos computadores".
A destruição do laboratório causou prejuízos de US$ 400 mil, segundo a empresa, e também "representa perda ainda não determinada em produtividade florestal da ordem de milhões de dólares, decorrente da perda de materiais genéticos que levaram cerca de 15 anos para serem produzidos e outros que não podem ser recuperados".
O secretário estadual de Desenvolvimento, Luís Roberto Ponte, demonstrou a preocupação do governo. ''Se a sociedade não repudiar esse ato, isso será mortal para as negociações com os investidores do setor", afirmou, salientando que os investimentos da Aracruz podem gerar 50 mil empregos diretos e indiretos.
O diretor operacional da Aracruz, Walter Lidio Nunes, disse que não há a intenção de cancelar qualquer investimento. ''Esse ato de barbárie é alienígena ao ambiente do Rio Grande do Sul. Está claro para nós que não expressa nem de longe o que pensa a sociedade como um todo.
Vamos manter nossos estudos no Estado", disse ele. Bahia e Espírito Santo disputam o novo investimento com o Rio Grande do Sul.
O governo gaúcho procura mostrar agilidade nas investigações. O governador interino, Antônio Hohfeldt (PMDB), anunciou que seis dos 37 ônibus que conduziram os invasores até o horto florestal já tiveram as placas identificadas, o que, segundo ele, facilitará a localização dos responsáveis.
A delegada Raquel Dornelles, de Barra do Ribeiro, pretende ouvir as camponesas que deram entrevistas depois da invasão, para chegar a seu comando. Os nomes estão sendo reunidos. Houve, segundo a delegada, crimes de seqüestro e cárcere privado (de dois vigias da empresa).
Exército
Em outro caso envolvendo sem-terra no Rio Grande do Sul, o Exército pode ser convocado a intervir caso a Brigada Militar não providencie a desocupação da Fazenda Coqueiros, em Coqueiros do Sul, invadida no dia 28 de fevereiro. A juíza da 3ª Vara Cível de Carazinho, Ana Paula Caimi, enviou ofício ao Comando Militar do Sul comunicando que pode solicitar auxílio para a retirada dos invasores.
"Se não for cumprida a ordem [da retirada], pode haver intervenção federal", afirmou a juíza.
"Não precisamos do apoio do Exército para cumprir a ordem. A ajuda logística seria bem-vinda. Estamos monitorando a situação próximo ao acampamento. Ainda não há uma data para o cumprimento da desocupação", disse o comandante regional da Brigada Militar, Waldir Cerutti.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u76420.shtml
09/03/2006 - 19h45m
MST faz protesto contra agronegócio em criadouro da Avestruz Master em Pernambuco
Letícia Lins - O Globo
VITÓRIA DE SANTO ANTÃO (PE) - Cerca de 200 militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ocuparam nesta quinta-feira a fazenda Marapicu, onde funciona o maior criatório da Empresa Agrocomércio e Representações Avestruz Ltda em Pernambuco. Com foices, facões, enxadas e porretes, eles derrubaram a cerca da propriedade e a placa que sinaliza a entrada da Avestruz Master, às margens da rodovia estadual PE-50, a 51 quilômetros de Recife.
Ao contrário das outras 19 ocupações realizadas essa semana, o MST não montou acampamento no local, justificando que o ato foi apenas um protesto contra o agronegócio, a exemplo do que já ocorreu no Rio Grande do Sul, onde na quarta-feira passada os sem-terra depedraram o laboratório e viveiro florestal da Aracruz Celulose.
- Isso aqui é o melhor exemplo da financeirização da agricultura. Não é preciso trabalhar. Basta criar um projeto, convocar as pessoas a investirem e enganar todas elas. Isso aqui é um símbolo do agronegócio e a produção pode parecer real devido ao número de animais aqui observados, mas a maior parte é virtual, não existe - acusou o coordenador regional do MST, Jaime Amorim, que liderou a ocupação.
Ele afirmou que o MST não vai se intimidar diante das repercussões negativas por conta da destruição na Aracruz, onde uma pesquisadora disse ter perdido 20 anos de estudos. A depedração foi no município de Barra do Ribeiro, a 56 quilômetros de Porto Alegre.
- Não estamos preocupados com a imagem do MST. Se essa pesquisadora fosse séria não tinha se vendido a uma multinacional, que adota a monofloresta. O Brasil não pode ficar refém da produção de pinho e eucalipto, até porque todos sabem que essa última espécie é danosa ao meio ambiente, tornando árido o solo onde ela é plantada. Florestas homogêneas acabam com a biodiversidade e reduzem as espécies de animais. De monocultura já basta a da cana em Pernambuco - disse.
- Se o ato lá no Rio Grande do Sul arranhou a nossa imagem não nos faz mal. O que interessa é levar ao centro da discussão produtos transgênicos, o agronegócio e as florestas homogêneas - disse Jaime.
http://oglobo.globo.com/online/pais/plantao/2006/03/09/192207738.asp
Vão ficar impunes?