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Lotus - A Prostituta

Breno C.

Usuário
Continuação da primeira parte do conto...

Quando fiz o pedido, tremendo por dentro, não acreditava que seria aceito, achei que seria rejeitado. Em momento algum pensei que seria mal tratado, não na casa dos Hinton, mas no fundo imaginei que aquela garota apenas riria da minha proposta, pois nós só havíamos nos visto de muito longe e ela parecia nem me notar. Mas a verdade nem sempre é como imaginamos! Quando fiz o pedido, ela abriu o maior sorriso que já pude ver em uma garota comportada como ela.

- Como já lhe disse jovem Jef: aqui em casa, até as mulheres fazem suas próprias escolhas, então seu pedido não deveria ser feito a nossa pessoa e sim a minha filha que é quem decidirá se aceita ou não seu pedido. – era a coisa mais irreal que poderia acontecer. Olhei para a jovem Susan, não queria ter que repetir a pergunta, mas se fosse necessário faria.

- Não precisa perguntar novamente Sr. Jeferson – ela definitivamente havia lido meus pensamentos – Antes de responder a sua pergunta, gostaria que me dissesse o porquê desse pedido.

Ela havia acabado comigo numa só frase. Como eu poderia assumir que estava apenas por interesse nas vantagens que teria me casando com ela, no dinheiro que aquela união me proporcionaria. Meu plano sempre fora falho, porque eu estava indo de encontro a um precipício esperando voar, se não desse certo eu apenas cairia e me machucaria, ficaria com o orgulho ferido e a família dela fechasse suas portas para mim, mas eu tinha que arriscar fazendo o pedido, sabia que ninguém nunca havia feito o pedido da mão daquela jovem e que teria mais chances sendo filho de um antigo amigo.

A verdade é que na hora inventei que já havia notado a beleza de Susan e sempre me lembrei dos momentos em que brincávamos juntos quando crianças, deixei claro que era uma paixão que tinha desde pequeno. E a meu ver eles engoliram a história como se ela fosse uma verdade incontestável. Na hora não pensei, mas hoje tenho quase certeza de que eles só estavam loucos para casar sua filha mais velha, porque já estava passando da hora.

- Antes de aceitar qualquer pedido seu Jef, gostaria de conversar com você melhor. Como você mesmo pode ver, aqui em casa, somos pessoas muito distintas e razoáveis, não nos deixamos levar por decisões tolas. Sei que você é um bom rapaz e que pede minha mão com as melhores intenções.

- E para que não pensem qualquer impropriedade de minha adorada filha, vou deixar que vocês conversem, mas Beth ficará na sala. Sei que não vai se importar, não é querida Beth? – acho que ela se importava sim.
Conversamos naquela tarde e nos tornamos mais íntimos com o passar da horas. Eu sabia que ela aceitaria o pedido. A família aceito, era tudo uma grande loucura, eu mesmo não era capaz de acreditar que uma Hinton aceitara se casar comigo, foi um dia estranho, mas dias estranhos estavam no meu currículo desde que começara ser jornalista.

***

O tempo passou, assim como o dia em que fui anunciado como o noivo de Susan Hinton para toda a alta sociedade de nossa cidade. Foi uma festa muito bonita, com garçons, talheres de prata, mesas no jardim da casa dos Hinton, as amigas de Susan e da família e meus poucos amigos do trabalho.

- Agora que você vai se amarrar, temos que fazer uma despedida de solteiro para você Jef – o Larry estava quase gritando, mas estava bêbado e não espero outra coisa do Larry quando está bêbado.

- Fala baixo! Agora o Jef é um rapaz de família. E o que a jovem e recatada Susan Hinton ia pensar de nosso jornalista se ouvisse esse tipo de conversa em seu jardim. – Joe, aquele hipócrita, sempre achei que ele me odiava, mas na verdade era só inveja.

- É Larry, depois conversamos sobre esse tipo de coisa e tenta não beber mais, não quero te levar em casa mais uma vez. – eu disse meio que olhando de soslaio para o grupo onde Susan conversava com uma senhoras, uns maracujás de gaveta na realidade, mas mesmo assim ainda eram a alta sociedade.

Aquele conversa seria meu tumulo, mas mesmo assim ela continuou no outro dia, quando tínhamos que fingir que trabalhávamos em uma redação jogada as moscas de uma segunda-feira destruída pela maior tempestade que a costa leste já havia visto.

- Lembra do que falei na sua grande festa sobre uma possível despedida de solteiro para você? – o Larry não ia me fazer esquecer essa história.

- Lembro, mas não se anime. Não vai acontecer nada, não vamos a lugar nenhum. Se o pai da Susan ficar sabendo que eu fui a algum inferninho com vocês , ele vai botar minha cabeça a premio. – eu sabia que o Sr. Hinton não acharia nada mal, e talvez até nos acompanhasse, mas o que me preocupava mesmo era o que Susan pensaria.

- Tem certeza? E se eu te animar dizendo que abriu uma casa nova bem no centro, perto daquele bar que você gostava antes de ficar noivo da garota que vale milhões de dólares?

- No máximo centenas, não milhares de dólares. Se fossem milhares, eu não estaria me casando com ela.

- Vamos Jef? Você nunca vai ser um noivo de verdade se não tiver sua própria despedida de solteiro. - os olhos do Larry brilhavam enquanto ele praticamente implorava por uma despedida de solteiro. Eu não sou tão insensível assim e se eles queriam um motivo para ir até um bordel, não podia deixá-los só na vontade.

- Se vocês querem tanto ir, vamos! Mas se a família da Susan ficar sabendo de alguma coisa, eu juro que mato vocês.

Saímos naquela noite mesmo, fomos até a casa nova de “entretenimento” adulto que havia aberto assim como o Larry havia dito. Não era muito longe da redação, dava para ir andando e no meio do caminho conversamos. Como só foi Larry, Samuel e eu, pude falar sobre o dilema que eu estava passando, sobre o que estava começando a achar de Susan e sobre o dinheiro envolvido no meio de tudo aquilo. Não que o Sam e Larry sejam as melhores pessoas com as quais eu possa discutir alguma coisa, mas mesmo assim foi melhor que não compartilhar aqueles problemas e guardar tudo para mim.

O prédio onde ficava a tal nova casa era um pouco sinistro, tinha um estilo meio oriental e Larry disse que era assim por dentro também, além de todas as garotas serem orientais também. Na época eu não era muito fã de orientais e sempre ouvia história muito sinistra do que a máfia deles era capaz de fazer com ficava devendo algo. Queria desistir, mas não podia, Larry estava quase me empurrando porta adentro, parecia que ele já estivera naquele local e sua próxima frase denunciava a veracidade de minha desconfiança.

- Vou te apresentar a dona do local! – o entusiasmo era intenso em sua voz, ele parecia uma criança que ganha um brinquedo novo e quer mostrar para todos. – Hoje a noite vai ser sua campeão, você vai experimentar as coisas mais exóticas que o oriente tem. – senti que deveria ter medo dessa ultima frase

Por dentro o lugar era menos ameaçador do que por fora. Ninguém se sentava no chão ou coisa parecida, havia cadeiras e mesas, além de sofás aonde vi os homens mais influentes da cidade sentados como se nada estivesse acontecendo. Mas o lugar todo fedia a um cheiro muito forte que me deixou enjoado assim que entrei. Eu sabia muito bem que cheiro era aquele, era o tal do ópio, já tinha ouvido muito sobre ele.

- Esse lugar não é o máximo? Olhe só para tudo isso. E as mulheres... – Sam havia perdido o fôlego enquanto olhava aquele salão que se dividia em três parte: um pequeno palco, aonde nem duas dançarinas poderiam se apresentar ao mesmo tempo; um salão principal aonde ficava a maior parte das mesas e tinha os sofás encostados nas paredes; e por ultimo uma pequena varanda elevada, onde estavam sentados os chineses ou japonês – nunca soube muito bem a diferença – mais estranhos que eu já havia visto. Então uma mulher vestida num quimono rosa se aproximou de nós.

- Bem vindos a minha humilde casa jovens cavalheiros – ela não aparentava estar na casa dos quarenta e mesmo assim era muito atraente com seus cabelos negros, olhos puxados e pele alva. – Espero que gostem de tudo...

- Claro que vamos gostar senhora. Essas são as jovens mais bonitas que a cidade tem para oferecer aos seus homens – Larry tinha que interromper o discurso de boas vindas daquela mulher. – Viemos fazer despedida de solteiro para o nosso querido Jef. – não feliz em ser completamente idiota, Larry tinha que me levar junto naquilo.

- Oh! Que bom! Mas espero que o senhor continue sócio de minha casa quando já estiver casado. Somos muitos discretos senhores e zelamos pela boa imagem de cada um de nossos “amigos”, sabemos que eles têm família e que são res... – não posso relatar tudo o que aquela mulher pálida dizia por que simplesmente tive a atenção arrebatada pela coisa mais linda que eu já vira na face da terra, e ela estava dançando no palco, mais próxima de um anjo do que qualquer um das freiras que eu já tenha conhecido.

- Senhora! – a interrompi – Como é o nome daquela jovem que está no palco agora. – ela se virou para olhar melhor e quando seus olhos voltaram a me fitar, eles estavam carregados de um pequeno sorriso que faria qualquer um gelar.

- Aquele é Chun-rei, a nossa mais bela dançarina e alguns fregueses chegam a dizer que é a mais bonita de nossas garotas. O senhor deseja conhecê-la. – esse foi um daqueles momentos que eu sabia que deveria ter saído correndo pela porta e ter ido embora, mas o máximo que pude fazer foi balançar a cabeça em sinal de afirmação. Meu pesadelo estava preste a começar.
 

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