Apesar de concordar com isso. Deixa eu te perguntar. Qual é a alternativa para isso? Um estado ditatorial?
Acho que há um problema mais amplo nesse sentido, inerente à nossa própria cultura política.
Consolidou-se no imaginário político do brasileiro a vinculação intrínseca entre política e corrupção, o que gerou por sua vez um alheamento. Política passou a ser vista como algo necessariamente sujo e maculado. Há um desencantamento (sobre isso, é bastante interessante o diálogo dos filósofos Renato Janine Ribeiro, da USP, e Mário Sergio Cortella, da PUC, no livro "Política para não ser idiota").
Parece-me que o brasileiro, em geral, não tem consciência política. E isso parece-me contrastar bastante com outros países da América Latina.
Quando olhamos pro Chile e vemos uma mobilização gigantesca por educação pública de qualidade, envolvendo estudantes universitários e secundaristas, professores e parcela substancial da Sociedade Civil. Quando vemos que eles conseguiram colocar 100 mil pessoas nas ruas em um único dia de protesto. Quando vemos que ante a repressão da polícia, a população fazia um panelaço de suas casas em protesto contra a criminalização de uma mobilização popular. Quando vemos algo assim no Brasil?
Olho para as últimas greves do professorado em Minas Gerais e vejo pouca adesão da sociedade civil. Vejo o Governo de Minas usando a máquina pra desqualificar o sindicato, lançando comerciais mentirosos na Globo. Vejo o Estado de Minas, maior jornal do Estado e plataforma dos tucanos, lançando matérias como "Ante o ENEM que se aproxima, pai é obrigado a pagar aulas particulares para filhos por causa da greve". Aí parte da sociedade civil se revolta contra o professorado que não recebe o piso salaria estipulado na esfera federal. Vejo policiais jogando bombas de gás lacrimogênio e dando tiro de borracha em professores grevistas organizados. Além disso, fica patente a fragmentação de bandeiras.
Quando olhamos pra Argentina, vemos que a Lei de Anistia naquele país foi derrubada ante a pressão da sociedade civil. E vemos que centenas de pessoas já foram condenadas por crimes contra a humanidade no período da ditadura militar naquele país, incluindo ex-presidentes militares, que pegaram prisão perpétua. No Brasil nem se fala nisso. Em 2008 a OAB pediu revisão da Lei de Anistia do Brasil, para que agentes do Estado que tivessem promovido tortura e homicídios pudessem ser julgados. Em abril de 2010, esse pedido caiu no Supremo.
Nossos Parâmetros Curriculares falam tanto em formar o "cidadão crítico", mas isso não passa de letra morta. Por que isso? Porque discutir política nas escolas é erroneamente considerado doutrinação. Os alunos se formam sem entender a organização institucional do país em que vivem. Sem saber a diferença de atribuições entre Câmara dos Deputados e Senado. Sem possuírem noções de economia política. Aí de quatro em quatro anos o Governo Federal solta aquelas propagandas: "Vote consciente!" Mas de que maneira? Se a educação oferecida não promove subsídios pra isso? Política não é sinônimo de política partidária. A sociedade é permeada por relações políticas. Da macro à micro-esfera, tudo passa por relações de poder. Acho que começar a discutir política nas escolas seria um passo importante.