As idéias contidas neste artigo não são da Primula. É apenas divulgação... mesmo porque não fica claro se a pesquisa levou em conta os budistas, muçulmanos, shintoistas, sikhs, etc.. (as pessoas estudadas eram da Itália)
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http://www.revistapesquisa.fapesp.br/
Edição impressa (ou seja, a revista mesmo, não tem link - por isso tive de digitar, droga! )
Julho de 2002
Distúrbio compulsivo e o temor a Deus
Educação religiosa rígida pode estar ligada a distúrbio
Estudo publicadona revista
Behaviour Research and Therapy (julho de 2002) mostrou que há uma ainda inexplicada relação entre religião e distúrbios de comportamento. Pesquisadores das universidades de Parma e de Padova, ambas na Itália, indicaram que, entre os grupos de pessoas com maior religiosidade, os católicos são os mais propensos a ter transtornos obsessivos-compulsivos (TOC), especialmente se tiveram uma educação religiosa severa na infância. O TOC caracteriza-se por pensamentos obsessivos (idéias, imagens, sons, frases, lembranças, dúvidas ou impulsos) usualmente desagradáveis e acompanhados de apreensão e angústia. Mesmo as considerando absurdas,o paciente nào consegue ignorá-las. São clássicos os caos em que a pessoa lava a mão inúmeras vezes por dia, sem motivo. As causas do problema, que afeta milhões em todo o mundo, ainda são obscuras. Sabe-se apenas que fatores genéticos, educação e traumas emocionais têm implicações no problema. A novidade do estudo é a descoberta de que católicos tem mais sintomas de TOC - além de um conhecido sentimento de culpa exarcebado. Foram comparadas freiras e padres com uma comunidade laica de católicos e com outros sem envolvimento religioso. Os indivíduos com alto grau de religiosidade, especialmente entre os católicos, relataram os mais graves sintomas do distúrbio. Para a psiquiatra Lynne Drummond, do Hospital Saint George, o estudo é pouco esclarecedor. Ela acredita que o TOC ocorre em quem tem pre-disposição genética para isso. Mas diz que muitos pacientes com o distúrbio admitem ter tido educação excessivamente religiosa.
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Onde os dogmas são muito interessantes de serem realmente aplicados:
Peixes e Tabus do Rio Negro
Posição das espécies na cadeia alimentar determina o modo de consumo ou sua proibição.
(não vou digitar tudo senão meus dedinhos...)
.... entre 1850 e 1852, o naturalista inglês Alfred R. Wallace percorreu o Rio Negro. Foi uma das primeiras expedições científicas à região e resultou na descrição - por meio de desenhos e anotações - de 212 espécies de peixes, só agora apresentadas em livro. Pelas mesmas águas cor de café, um século e meio depois andou um equipe da UNICAMP, que entrevistou as populações ribeirinhas - no trecho entre Ponta Negra, perto de Manaus, e o rio Jaú, na margem direita - e constatou os tabus alimentares que regulam o consumo de peixes.
Mulheres menstruadas e pessoas doentes, p.ex., não podem comer certos peixes carnívoros, provavelmente porque, na avaliação dos pesquisadores, estão no topo da cadeia alimentar e têm maior probabilidade de acumular toxinas. Há também os peixes interditados para consumo normal por terem prioridade para uso medicinal. A arraia, p.ex., não é carnívora, e é um forte tabu alimentar: sua gordura é usada contra asma, tosse e pneumonia.
"A dieta é uma forma de tratar as doenças" comenta Alpina Begossi, responsavel pelo projeto que resultou também no livro
Peixes do Alto rio Juruá (coedição Imprensa Oficial, Edusp e FAPESP).... Segundo ela, as proibições alimentares - encontradas também entreo s caiçaras da Mata Atlântica paulista, entrevistados em pesquisas financiadas pela FAPESP desde 1992 - podem resultar da influência da colonização portuguesa: por meio dela, essas populações teriam assimilado antigos preceitos sanitários derivados da medicina hipocrática e mesmo das regras de pureza que a Bíblia estabelece no livro
Levítico
....(ecologia) "Em áreas banhadas pelo Rio Araguaia, a pesca esportiva, apoiada por agências ambientais governamentais, contribuiu para destruir a pesca artesanal, uma fonte de subsistência e renda local, com possibilidades de manejo e integrada ao ecossistema" comenta Alpina. Um dos objetivos do trabalho que ela coordena é justamente demarcar legalmente as áreas de pesca, como o Japão fez há anos.
A receita de manejo estava lá mesmo -foi apenas reconhecida pelos pesquisadores. O saber dos ribeirinhos contém uma série de orientações que servem perfeitamente de receita para o manejo sustentado. Uma delas é o recurso à maior diversidade possível de plantas medicinais, forma de minimizar o impacto da coleta por espécie (traduzindo: em vez de acabar de uma vez com a camomila, plantar só camomila, eles pegam um pouquinho aqui, outro ali e tudo continua vivo no ecossistema). Na agricultura, os ribeirinhos do Negro valorizam a diversificação e o aprimoramento genético de cultivares - o caso da mandioca é o melhor exemplo. Nivaldo peroni, pesquisador do grupo, constatou a existência na região de nada menos que 88 variedades de mandioca, todas resultantes do manejo feito pelas populações locais, provavelmente por herança do saber indígena.
... do mesmo modo o conhecimento e o consumo de uma grande variedade de peixes minimiza o impacto da exploração por espécie. A ocorrência de tabus alimentares, justamente por impor restrições, diminui a pressão predatória.
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Em resumo... qualquer coisa se usada de forma equilibrada pode ser útil. Tabus, crenças e religião são úteis: são arquivos de conhecimento antigo, que não deve ser esquecido ou desprezado. O problema acontece quando você exagera na dose do remédio...
E se alguém fez um livro que faz o link entre Tolkien e religião... bravo! Alguém alguma hora tinha de fazê-lo. Talvez os próximos fiquem melhores.