Capítulo Dois: Um dia diferente
Fazia uma noite fresca e não havia ninguém na rua, o que era uma sorte, pois seria bastante esquisito se alguém o visse saindo com uma coruja numa gaiola e com um malão pesadíssimo. Levou vários minutos até que ele chegasse à esquina devido ao peso carregado. Apoiou seu malão na placa que dizia Rua dos Alfeneiros e segurou a gaiola encima do muro do nº 01.
Não passaram nem dois minutos e ele viu aparecer do nada dois grandes e ofuscantes faróis. Mas os faróis não eram nada se comparados ao resto: um imenso ônibus de três andares, bastante comprido, de cor roxo berrante. Estampava na frente um letreiro que dizia 'O Nôitibus Andante'. O condutor, que Harry lembrava chamar-se Ernesto Prang, abriu a porta deixando sair o Sr. Weasley e Rony, que vieram buscá-lo.
Os Weasley eram uma típica família de bruxos. Rony, seu melhor amigo, era um dos sete filhos de Molly e Arthur Weasley. Gui, o mais velho, com 24 anos, já havia terminado Hogwarts e trabalhava para o banco dos bruxos, Gringotes, no Egito, como desfazedor de feitiços. Carlinhos, também formado, estudava e trabalhava com dragões na Romênia. Percy, outro a ter completado seus estudos em Hogwarts, tinha 19 anos e trabalhava no Ministério da Magia, no Departamento de Cooperação Internacional em Magia. Os gêmeos Fred e Jorge, ambos com 17 anos, estavam no último ano em Hogwarts e eram muito bagunceiros. Rony, agora com 15 anos estava entrando com Harry no quinto ano em Hogwarts. Por último, a caçula e única filha do casal Weasley, Gina, com 14 anos, entrando no quarto ano da escola de magia. A menina tinha um xodó por Harry desde que o vira no Expresso de Hogwarts, no primeiro ano de escola dele.
- Harry! - disse Rony descendo a escadinha - Que legal você vir com a gente!
- Boa noite Harry! Tudo bem? - disse o Sr. Weasley, um bruxo alto e magro, quase careca, mas com os poucos cabelos que tinha muito ruivos, como os do resto da família. Ele era fascinado pelas coisas dos trouxas (pessoas sem sangue mágico). - Lalau, pode vir nos ajudar com a bagagem?
Então, desceu do Nôitibus um rapaz com uniforme roxo, mesmo tom do veículo. Seu nome era Stanislau Shunpike e Harry já o conhecia da vez que fugira de casa no 3º ano. Lalau ajudou Harry, Rony e o Sr. Weasley a colocar o malão e a gaiola no bagageiro e indicou a cama - sim, a cama. No Nôitibus não havia assentos, apenas camas - de Harry. Ficaria ao lado de Rony no andar de cima.
- Legal aqui, não é? - disse Rony alegre - Você já tinha andado nisso antes, não?
- Já. Mas, eu não tenho de pagar pela viagem?
- Teria sim, se meu pai não tivesse feito isso por você.
- E os outros, não quiseram vir?
- Querer, eles queriam, mas - Rony corou - papai não podia pagar para todos eles.
A família Weasley, apesar de simpática, era bastante pobre e todas as coisas que usavam eram de segunda mão. Harry, para mudar de assunto, comentou sobre a viagem até lá.
- Vocês se lembravam do nome da rua? Não tiveram problemas em vir para cá?
- Problemas, não. Solavancos e dores nas costas sim! Quem será que contratou esse cara? É um barbeiro nato! Todos, sabe o que são todos? Todos os objetos nas ruas têm de desviar dele.
- É. Eu me lembro. Da vez que eu andei também foi assim.
Demorou cerca de uma hora de solavancos e sacolejos até a última pessoa sair do Nôitibus e Lalau vir perguntar onde iriam descer.
- Ottery St. Catchpole, um pequeno povoado um pouco afastado da cidade - disse o Sr. Weasley.
- Estaremos lá em alguns minutos - respondeu o rapaz. Dito isso o Nôitibus deu uma guinada, seguida de um tranco e apareceu perto do morro Stoatshead, de onde, no ano anterior, Harry e os Weasley partiram para ver a Copa Mundial de Quadribol. Em cinco minutos estavam diante da Toca.
- Estão entregues! - exclamou Lalau - Até a próxima! - E entrou no Nôitibus, fechando a porta. Em um piscar de olhos aquele trambolho roxo tinha desaparecido na escuridão.
O Sr. Weasley pegou o malão de Harry, ajudado por Rony, enquanto ele carregava a gaiola com Edwiges.
Ao entrarem na casa, foi a maior festa: os gêmeos Weasley soltaram uns fogos (que eles inventaram), que explodiam várias vezes e de várias cores, dentro de casa, o que fez a Sra. Weasley ralhar com eles e ter que limpar toda a bagunça. Depois, ela pegou a gaiola, colocou perto do poleiro com as duas outras corujas, Hermes e Errol, e soltou Edwiges. Fred e Jorge ajudaram Harry e Rony com a bagagem, levando-a para o quarto de Rony, onde Harry já havia estado duas vezes, em anos anteriores.
- Venham comer! - chamou a Sra. Weasley lá da cozinha.
- Oba! - exclamou Rony. - Quando tem visita ela capricha mesmo na comida!
- Legal. Com os Dursley eu nunca posso comer o que quero. É sempre para o Duda. Pior agora, pois ele ainda está de regime.
- Credo! Vamos fazer uma coisa boa. Vamos comer!
- Vamos! A partir de agora eu estou de férias!
Eles comeram até se estufarem, depois se empanturraram de sobremesa: pudim, bolo, sorvete, etc. Após a farta refeição, os meninos desafiaram Rony para uma partida de xadrez de bruxo. Como já era de se esperar, Rony ganhou as três partidas. Fred foi quem perdeu mais rápido. Rony só precisou de uns sete minutos para, com um peão, dar um xeque mate nele. Depois veio Harry, que depois de quinze minutos teve seu rei comido pelo bispo do Rony. Quem melhor jogou foi o outro gêmeo, Jorge, que demorou cerca de meia hora para perder seu rei para a Rainha do irmão.
Percy, Harry percebeu, só saíra do quarto para jantar, o que fez muito rapidamente, voltando logo depois. Nem para dar-lhe boas vindas na sala ele desceu.
- Rony, - disse ele - onde está o Percy? Ele normalmente gosta de tentar um longo diálogo comigo.
- Ah! Ele está às voltas com outros relatórios para o Ministério, acho eu. Ele tem andado um pouco estranho depois que soube que o Sr. Crouch havia sido assassinado. Ele realmente gostava do chefe dele. O chefe provisório do Departamento de Cooperação Internacional em Magia é um cara chamado Randall Tompkins que não vai muito com a cara do Percy. Talvez ele ache que se trabalhar melhor que o chefe provisório será promovido a chefe do Departamento.
- Randall? Que nome horrível. Hum... E a Gina? Só a vi quando cheguei, na sala. Ela nem desceu para jantar.
- Ih! Dessa eu já não sei. Não deixa que ninguém entre no seu quarto desde que mamãe lhe disse que iríamos buscá-lo na sua casa. Vai ver está preparando um cartão de dia dos namorados atrasado. - disse Rony debochado.
- Muito engraçado, Rony.
Nisso, os gêmeos chegaram perto deles muito animados.
- Querem ir lá fora apostar uma corrida de vassouras? - perguntou Jorge - Vai ser divertido. E para que não haja injustiças, a Firebolt de Harry será revezada. Quem chegar primeiro mais vezes, será o vencedor!
- Ótimo! - responderam Harry e Rony.
- Que ótimo que encontrei vocês todos juntos. - disse a Sra. Weasley, que vinha entrando no quarto. - Assim precisarei dizer "vão dormir já" uma vez só.
- Ah mãe! - resmungou Fred - Nós íamos jogar lá fora.
- Disse bem. Iam. Agora vão para a cama. Se quiserem acordo os quatro mais cedo amanhã e vocês poderão brincar o dia todo lá fora.
Como a Sra. Weasley parecia muito resoluta em sua decisão, eles não tiveram outra escolha além de aceitarem e irem dormir. Harry iria dormir num colchão nos pés da cama de Rony. Depois de trocar de roupa e deitar, Rony dormiu quase imediatamente. Então Harry se levantou e pegou algo em seu malão: um calendário. Riscou mais um dia e contou apenas dois para que chegasse seu aniversário, dia 31 de julho. Será que os Weasley se lembrariam da data? Guardou novamente o calendário e voltou a se deitar. Dormiu pensando no aniversário que chegava. "15 anos", pensou.
Os outros dois dias passaram sem empecilhos. Os garotos passavam o dia no jardim ou nos campos ao redor da Toca, brincando ou voando. Percy continuava "entretido" com o trabalho no Ministério e só saía do quarto para comer. Gina estava acordando bem mais cedo que de costume, tomando café antes dos outros, e parecia querer evitá-los. A Sra. Weasley era a única que entrava no quarto da menina para levar-lhe as refeições. Apenas uma vez Harry cruzou com ela na escada, quando estava voltando para o quarto. Ela ficou vermelha até as raízes dos cabelos e saiu correndo, batendo a porta. "O que ela estará fazendo?", indagou-se Harry.
Naquela noite, Harry se sentia mais tranqüilo e feliz. Isso se devia por duas coisas: uma, que por estar entre amigos, o fato de sua cicatriz doer não o preocupava tanto e outra porque no dia seguinte seria seu aniversário.
Harry acordou de manhã com o sol no rosto. Rony já havia levantado e aberto a janela. Sentou-se no colchão e pôs os óculos. Deu uma olhadinha ao redor e mirou o espelho interno da porta do armário, que estava entreaberta. "Tenho 15 agora" pensou ele.
Foi nessa hora que Harry percebeu como a Toca estava quieta, sem ruídos de talheres ou pessoas... Isso definitivamente não era normal, principalmente sabendo que Fred e Jorge moravam sob esse teto. "Muito estranho, o que será que houve? Será que todos saíram sem mim? Ou será que os feitiços de Dumbledore não funcionaram?!" Imediatamente ele descartou essa possibilidade. Resolveu investigar.
Levantou do colchão aos pés da cama de Rony e empurrou-o para baixo desta. Trocou de roupa e se preparou para descer. As escadas até a cozinha rangem bastante quando se pisa nelas e Harry gostaria muito que dessa vez elas não fizessem isso. Se por acaso houvesse alguém lá embaixo que não deveria estar, perceberia facilmente a presença dele. Mas, como escadas não obedecem, elas rangeram bastante. Harry, ao descer, dava uma espiada nos outros quartos procurando sinal de vida. Ninguém estava no quarto de Gina, nem de Percy, nem dos gêmeos, nem do Sr. e Sra. Weasley.
Ao pé da escada havia um corredor comprido e estreito, que levava à porta da cozinha. Estava fechada. Chegou até a porta e encostou o ouvido nela, tentando ouvir alguma coisa. Nada. "O jeito é abrir e arcar com as conseqüências", pensou. Girou a maçaneta devagar, e devagar abriu uma frestinha na porta, quando...
- SURPRESA!!!!
A porta abriu violentamente, fazendo com que Harry perdesse o equilíbrio e quase caísse para frente. Ao levantar a cabeça, viu algo que o fez esfregar os olhos, tão inacreditável era: a família Weasley, toda reunida em volta da mesa da cozinha que estava decorada com enfeites, doces e bexigas, todos eles usando chapéus de festa que mudavam de cor quando a pessoa se mexia. Nas paredes, balões de todas as cores e fotos que acenavam e batiam palmas para Harry. Quando ele entrou definitivamente na cozinha, a Sra. Weasley veio até ele e lhe deu um beijo na bochecha, dizendo "Parabéns, querido!", enquanto o Sr. Weasley, que foi quem abriu repentinamente a porta, vinha por trás e lhe colocava um chapéu na cabeça. "Feliz Aniversário", disse ele.
Eles o levaram à mesa, acenderam quinze velas e cantaram "Parabéns a você". Nunca ele havia se sentido tão feliz num aniversário. Sempre o passava na casa dos Dursley, que nunca nem se lembravam e muito menos lhe davam presentes. Nos dois anos anteriores, recebera cartões, presentes e bolos dos amigos e do padrinho, mas uma FESTA, ele nunca teve, muito menos uma surpresa. A sensação de apagar as velas e cortar o bolo era maravilhosa. Adorou a idéia de ter uma festa e desejou outra para o próximo aniversário - mesmo sabendo das mínimas possibilidades de isso acontecer.
Depois veio a hora da entrega dos presentes. Novamente ganhou uma peça de roupa feita pela Sra. Weasley, mas não um suéter - essa ela reservava para o Natal - e sim uma bonita capa de lã vermelha, com um leão nas costas, para os jogos de quadribol que fossem no inverno. Percy, como já era de se esperar, lhe deu um livro intitulado "Pequenos Grandes Bruxos" que (felizmente!) era muito interessante, contando a vida de vários bruxos que foram famosos desde crianças e suas respectivas carreiras futuras. "Para você se espelhar neles, Harry", disse ele. Fred, Jorge e Rony deram um cartão em conjunto, que, dependendo do humor da pessoa que o abrisse, fazia um barulho diferente. Por último veio Gina. Ela, mais encolhida que de costume, veio com um pacote muito bem decorado nas mãos. Ele só imaginou o que poderia ser.
- P..p..parabéns, Harry. - disse ela estendendo-lhe o pacote. Suas mãos estavam visivelmente trêmulas.
- Obrigado! - respondeu ele - O que é? - chacoalhou a caixa perto do ouvido para ver se fazia algum barulho.
- Abra e veja! Eu mesma fiz! - exclamou Gina. E foi o que ele fez. Seu queixo caiu de espanto. Dentro da caixa havia um pomo de madeira, pintado de dourado, com asas de pássaro de verdade. Uma imitação perfeita do verdadeiro Pomo de Ouro.
- Uau, é lindo! Como você fez?
- Gina passou boa parte das férias no quarto estudando transfiguração e levitação permanente de objetos. - disse a Sra. Weasley levantando-se de sua cadeira - Eu a ajudei em alguns detalhes, mas o mérito é todo dela. Com ele você pode treinar a sua posição de quadribol mais facilmente. Ele age como um pomo de ouro de verdade, nós já testamos. Espero que tenha gostado!
- Se gostei? A-d-o-r-e-i! - exclamou Harry - Muito obrigado, Gina! Foi um dos melhores presente que já ganhei!
- Ah! Então foi por isso que você não saía do quarto por nada, não é? - perguntou Rony - Escondeu de todos até hoje! Que espertinha, hein? - e virando-se para Harry - Vamos treinar lá fora? Quem pegar o Pomo primeiro fica com a sobremesa do almoço dos outros! Vamos Fred! Vamos Jorge! Peguem suas vassouras!
Nisso, ouviu-se lá fora Errol gritando como um louco. O Sr. Weasley saiu para ver o que era e viu chegando três corujas pardas, que traziam um embrulho cada amarrado nas pernas.
- Harry, acho que chegaram encomendas para você! - disse o Sr. Weasley entrando com um Errol esperneando de susto; ele continuava parecendo um espanador de pó velho e cinzento. Harry foi até o poleiro das corujas nos fundos da Toca onde estavam as três corujas estranhas. Uma delas tinha um pacotinho onde estavam amarrados cinco envelopes -todos com o brasão de Hogwarts - que Harry imediatamente percebeu serem as listas dos materiais da 4ª, 5ª, e 7ª séries. Ele desamarrou-os do pé dela, que deu um piado de agradecimento e voou.
Dirigiu-se às duas outras. Uma tinha um grande embrulho com um cartão numa letra bonita, escrita em cores diferentes. "Hermione, com certeza", pensou. O outro tinha dois cartões em letras normais, meio garranchosas, acompanhados de um pacote. "Seria de Sirius? Talvez..., mas e esse outro cartão? Não é a mesma letra..." Pegou os cartões e os presentes e despachou as corujas, entrando de volta na cozinha.
- De quem é? - perguntaram todos, em coro.
- Um com certeza é de Hermione. O outro talvez seja do meu padrinho. Mas ele veio com dois cartões. É estranho, não é?
- Bem, abra e leia logo! - exclamou Rony, impaciente.
Harry primeiro abriu o presente de Hermione.