Algumas analogias entre “The Lord of the Rings” e “Harry Potter”.
Algumas analogias entre “The Lord of the Rings” e “Harry Potter”.
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Conversava eu, sábado passado, com um jovem no entorno dos vinte anos {músico, apreciador dos jogos de interpretação (RPG)}, quando lhe perguntei o que pensava da obra inglesa “Harry Potter”, ao que ele redarguiu que a julgava muito semelhante a “O Senhor dos Anéis” (do Sr. J. R. R. Tolkien).
Voltei para casa meditando sobre a assertiva e, nesse domingo que se findou (4/12/2005), pude assistir (no canal aberto) à versão cinematográfica para o segundo livro da série (“Harry Potter e a Câmara Secreta”).
Ora, não pude mesmo deixar de reconhecer quadros, cenários, personagens e temas realmente muito semelhantes aos que preenchem a obra de Tolkien. Será acaso?... Mas antes de dar minha opinião sobre haver ou não acaso, cabe-me mostrar quais são estas similitudes (e vou apontá-las conforme me vierem à mente, sem preocupações quanto à ordem, nos respectivos livros).
- 1. Gandalf e o Sr. Alvo, Diretor da Escola de Portter.
Duas das principais personagens das obras em comento são, respectivamente Gandalf (para “O Senhor dos Anéis”) e o Sr. Alvo, diretor da Escola de Potter, instituição para jovens aprendizes de magia.
As roupas cinzentas (no IV filme - “H. Potter e o Cálice de Fogo -, p. ex.), a barba branca, o senso de humor delicado, o chapéu pontudo, o apreço pelas crianças/jovens, a sabedoria... Tudo isto não faz lembrar Gandalf - sobretudo quando o mesmo está entre os hobbits?...
Mas há ainda outro traço marcante de semelhança: tanto Gandalf quanto seu “similar” em H. Potter apreciam deixar uma parte das ações a cargo dos seus “orientandos”, apenas cuidando de manter um olho sobre eles, de modo a evitar prejuízos sérios. Assim, Gandalf deixa que Sam, Merry e Pippin aprontem algumas, da mesma forma como, na escola de Potter, o Diretor Alvo (e, na verdade, todos os professores) tendem a permitir alguns excessos, por parte dos alunos. É como se, para ambas as personas, a liberdade de fazer/errar-acertar/crescer fosse parte da seu método de “educação” (e eu, modestamente, concordo com eles).
- 2. O “Huorn”, o “Salgueiro-homem” e o “Salgueiro Lutador”.
Em “O Senhor dos Anéis” as árvores têm um papel importante, a tal ponto de existirem “pastores de árvores”, os Ents e árvores selvagens, guerreiras, os “huorns”.
Ora, em “Harry Potter e a Câmara Secreta” aparece - ou melhor, vive -, num dos pátios da escola, um “Salgueiro Lutador”, sobre o qual caem, Potter e seu amigo ruivo Ron, dentro do carro encantado da família deste.
É uma semelhança grande: em ambos os casos - huorn e salgueiro - se trata de árvores selvagens, com vontade própria e arredia, irascível; apesar disto, ambas as árvores - cada qual em seu mundo - são toleradas pelos personagens bons, aceitas por eles; não só toleradas, mas mesmo apreciadas e protegidas.
Além disso, uma das primeiras coisas que ameaçaram a vida de Frodo, quando ele deixou o Condado (“A Sociedade do Anel”, capítulo “A Floresta Velha”) foi justamente um salgueiro, que aprisionou a ele e aos hobbits - com execeção do valoroso Samwise - que o seguiam. Todos foram salvos por Tom Bombadil:
“- Meus amigos estão presos no salgueiro - gritou Frodo, quase sem fôlego.
- O Sr. Merry está sendo esmagado numa fenda - berrou Sam.
- O quê? - gritou Tom Bombadil, dando um salto no ar. - O Velho Salgueiro-homem? Nada pior que isso? Podemos resolver isso logo. Conheço a melodia para ele. Velho Salgueiro-homem cinzento! Vou congelar a seiva dele, se não se comportar. Vou cortar até que as raízes saiam do solo. Vou cantar para levantar um vento que leva embora folha e ramo. Este Velho Salgueiro-homem!”
Ora, não é necessário grande esforço, para ver a semelhança entre as situações.
- 3. Tom Bombadil e Hagrid, o professor “Guarda-caça” da escola de Potter.
Tom Bombadil é um grande mistério, na obra de Tolkien, a tal ponto que nem mesmo se pôde descobrir uma maneira satisfatória para colocá-lo na versão cinematográfica da obra... Dele diz o criador Tolkien:
“Você pode ser capaz de conceber da sua única relação para com o Criador sem um nome - você pode: por que em tal relação pronomes se tornam nomes próprios? Mas assim que você esteja em um mundo de outros finitos com um semelhante, sendo cada um único, diferente, e relacionado ao Ser Supremo, quem é você? Frodo não perguntou 'o que é Tom Bombadil' mas 'quem é ele'. Nós e ele sem dúvida, com freqüência negligentemente confundimos as perguntas. Fruta D'Ouro dá o que eu penso que seja a única resposta correta. Nós não precisamos entrar nas sublimidades de 'eu sou o que sou' - que é bastante diferente do que ele é. Ela acrescenta como uma concessão, uma declaração de crítica do 'que'. Ele é o mestre de um modo peculiar: não tem medo e nenhum desejo de possessão ou dominação em absoluto. Somente sabe e entende sobre tais coisas conforme o concernem no seu pequeno reino natural. Dificilmente sequer julga, e até onde pode ser visto faz nenhum esforço para reformar ou remover mesmo o Velho Salgueiro.
Eu não penso que Tom requeira que se filosofe a respeito dele, e não é de nenhuma maneira melhorado por isto. Mas muitos o consideraram um estranho ou realmente discordante ingrediente. Em fato histórico eu o coloquei porque já o havia 'inventado' independentemente (ele apareceu primeiro na Oxford Magazine) e queria uma aventura no caminho dos hobbits, na saída do Condado. Mas o mantive, exatamente como era, porque representa certas coisas do contrário omitidas. Eu não o planejei para ser uma alegoria - ou não teria lhe dado um nome tão particular, individual, e ridículo - mas 'alegoria' é o único modo de exibir certas funções: ele é então uma 'alegoria', ou um exemplar, uma encarnação particular de pura (real) ciência natural: o espírito que deseja conhecimento de outras coisas, sua história e natureza, porque elas são 'outras' e completamente independente da mente que questiona, um espírito contemporâneo com a mente racional, e completamente desinteressado em 'fazer' qualquer coisa com o conhecimento: Zoologia e Botânica, não Pecuária ou Agricultura.”
Vê-se a complexidade da personagem.
E quanto a Hagrid, o professor grandalhão e bonachão de H. Potter, que surge também no começo da trama (lembremos que Frodo se depara com Tom, no início de sua jornada sacrificante), como o primeiro personagem importante com o qual o protagonista (Poter) se depara?
Para mim, os dois são muito semelhantes: são estranhos, habitam casas incomuns e modestas (que parecem maiores por dentro do que por fora), apreciam as coisas naturais (sobretudo criaturas exóticas) mas têm corações muito bons, são meigos, ternos, poderosos mas sábios...
- 4. A “Moral da história”, em “A Sociedade do Anel” e em “A Câmara Secreta”.
De minha parte, creio mesmo que a obra de Tolkien tem três grandes lições maiores, mais importantes, principais e as aponto como as que fecham as três versões cinematográficas (de Peter Jackson) da obra.
Centralizando atenção para “A Sociedade do Anel” e para “A Câmara Secreta”, vejamos os diálogos entre os “magos” (Gandalf e o diretor Alvo, da escola de Potter) e seus tutelados (Frodo e Potter), nos finais de ambos os filmes:
a) “A Sociedade do Anel”:
Frodo: “- Gostaria que nada disso tivesse acontecido... Gostaria que o anel unca tivessem vindo para mim...”
Gandalf: “- Isto é o que todos nós gostaríamos. Mas não nos cabe decidir. Tudo o que nos cabe é decidir o que fazer o com o tempo que nos é dado.”
b) “A Câmara Secreta”:
Professor Alvo: “- Não são as nossas habilidades que determinam os nossos destinos; são as nossas escolhas...”
Não é a mesma mensagem, sob outras palavras?...
Há muito mais a dizer e eu espero fazê-lo, noutros artigos.
Por hora, fico com esta pergunta (que talvez, seja uma constatação): não será mesmo, “Harry Potter”, uma grande similitude de “O Senhor dos Anéis”?...
Fortaleza/CE, 5 de dezembro de 2005, 12:21 hs.
José Inácio de Freitas Filho.