Vixe Anica, táí: não sei o_o
Pq ao que me consta ela está dependendo de um mecenas. É o que saiu num jornal goiano hoje. Dou destaque pra parte sobre a Lei Rouanet, que já havia saído numa notícia nO Globo ano passado, que ponho logo abaixo.
Tradução para o inglês à altura do clássico de Guimarães Rosa está a caminho. Mas depende de um mecenas
Edição 2140
http://www.jornalopcao.com.br/colun...esta-caminho-mas-depende-de-um-mecenas-70303/
A australiana Alison Entrekin se incumbiu, ela mesma, de conseguir um financiador para um trabalho estimado para durar cinco anos – 12 vezes mais do que um romance “comum”
Ela já havia traduzido para o inglês, entre outros livros, “Cidade de Deus” (“City of God”) , de Paulo Lins; “Perto do coração selvagem” (“Near to the Wild Heart”), de Clarice Lispector; e Budapeste (“Budapest”), de Chico Buarque. Foi quando apareceu para Alison Entrekin um convite a uma empreitada desafiadora: construir a nova versão de “Grande Sertão: Veredas” para o inglês.
Obra basilar da literatura nacional, o clássico de Guimarães Rosa nunca foi popularizado fora do Brasil. Em boa parte, isso se deve ao problema da única tradução existente em inglês: batizada de “The Devil to Pay in the Backlands”, ela data de 1963 e é bastante contestada. Harriet de Onís, americana nascida em Illinois e respeitada por seu trabalho com a literatura espanhola — e pessoa que acabou se tornando íntima de Guimarães Rosa, depois de introduzi-lo no mercado americano —, se incumbiu primeiramente do trabalho, mas desistiu, alegando que, caso prosseguisse, não faria outra coisa da vida. Faz sentido. A odisseia, então, foi concluída por James L. Taylor, mas nunca teve uma segunda tiragem. Taylor era considerado um excelente lexicógrafo (“cujo nome me olha, em ouro, da lombada do meu dicionário favorito”, escreve a própria Alison), mas não conseguiu “captar a mensagem” do dialeto criado pelo autor. Por suas mãos, a versão inglesa de “Grande Sertão” se tornou uma espécie de romance de faroeste. Jamais um livro ruim, mas bem aquém de seu verdadeiro potencial e riqueza ímpar.
A australiana aceitou o desafio. “Eu tirei três semanas para o livro, deixando de lado o romance em que eu estava trabalhando. Traduzi três páginas. Sim, “páginas”, não capítulos”. É o que ela conta no artigo “When in Hell, Embrace the Devil: On Recreating ‘Grande Sertão: Veredas’ in English” (fazendo o ofício da autora, ainda que de maneira precária, algo como “Se Você Está no Inferno, Abrace o Capeta: Recriando ‘Grande Sertão: Veredas’ em Inglês”), publicado em versão online na revista eletrônica “Words Without Borders”. “Quando fui abordada a respeito de traduzir um certo clássico literário brasileiro reconhecido por seu linguajar característico e me perguntaram se eu estaria disposta a produzir uma pequena amostra dele, meu primeiro pensamento foi: ‘isso é possível?’ Então, eu disse que sim, como se faz quando atolada em prazos, mas confrontada com um desafio irresistível.”
Como era de se esperar e ela mesma relata, não está sendo fácil. Alison conta que o normal de um dia de trabalho produtivo no ofício de tradutor é conseguir avançar algo em torno de 2 mil palavras. O que ela própria conseguiu com a obra de Guimarães foram 860 palavras… em três meses. “Isso é uma página por semana, 57 palavras por dia, ou 7 palavras por hora, se você trabalhar a rotina diária de oito horas”. Mas ela mesma conclui: “Mas quando você está em um ‘cozido’ desses, por que se preocupar com números?”
Acabou escolhida pela Wylie, considerada a agência literária mais importante do planeta, e Eduardo Tess — que detém os direitos sobre o romance —, a nomeou tradutora oficial da nova edição em inglês. No processo de seleção, ela enviou um trecho traduzido que foi vistoriado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade de Princeton, em Nova Jersey (EUA).
Um livro convencional com o mesmo porte da obra de Rosa —entre 600 e 700 páginas —, ocuparia um tradutor por seis meses. Alison prevê que precisará de cinco anos para concluir seu trabalho. Isso pode até não parecer, por conta da nobreza da tarefa, mas é um entrave. É que o interesse comercial existe, mas com pagamento do serviço com valor convencional, como se fosse por um romance comum. Ou seja, “business is business”, valor imaterial à parte. É como querer pagar apenas pela função do objeto — exagerando em outra seara, seria como comprar um capacete usado por Ayrton Senna pagando o preço de mercado por um equipamento de segunda mão. Então, além de se ocupar diretamente de seu ofício, Alison está buscando financiamento. Uma chance para que o trabalho seja viabilizado é a Lei Rouanet, tão atacada ultimamente.
Enquanto isso, para pôr em evidência seu trabalho, ela publicou um trecho do que já fez até o momento com o livro (veja no box desta página). Certamente, conferir o que ela faria ao levar a palavra “nonada” para o inglês é uma das principais curiosidades dos leitores de Guimarães Rosa. Virou “nonought”, um termo do inglês arcaico que significa “nada” e, ao mesmo tempo, serve ainda como uma forma de negação.
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Flip 2015: Alison Entrekin busca apoio para nova tradução da obra-prima de Guimarães Rosa
Australiana é uma das tradutoras mais reconhecidas de literatura brasileira para o inglês da atualidade
PARATY - A australiana Alison Entrekin está na rua, no meio do redemoinho. Uma das tradutoras mais reconhecidas de literatura brasileira para o inglês da atualidade, talvez fique com a agenda menos cheia em breve, para mergulhar em uma grande obra: quer passar cinco anos dedicando-se exclusivamente à tradução de “Grande sertão: veredas”, de Guimarães Rosa. Quer dizer, se conseguir viabilizar o projeto. Se concretizado, o trabalho de Alison se somará à primeira tradução americana da obra, feita em 1963, alvo de grandes críticas.
Alison foi eleita pela Wylie Agency, agência literária mais poderosa do mundo, e por Eduardo Tess, detentor dos direitos do romance, como a tradutora oficial da nova edição em inglês do livro. Na seleção, ela chegou a mandar um trecho traduzido — que foi avaliado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade de Princeton. Acabou ganhando o posto. Ela participa hoje, às 18h, no Centro Cultural Sesc Paraty, da mesa “Com a palavra, o tradutor”, ao lado da americana Zoe Perry.
A australiana — que já traduziu “Cidade de Deus”, de Paulo Lins, e “Perto do coração selvagem”, de Clarice Lispector —, porém, esbarrou em uma dificuldade. Editoras americanas ficaram interessadas na obra, mas pagariam o mesmo valor que pagam para um romance mais convencional. Uma obra do tamanho de “Grande sertão: veredas”, se não tivesse toda a experimentação de linguagem, demoraria cerca de seis meses para ser traduzida. Alison calcula que vá gastar cinco anos. A ideia agora é buscar financiamento — missão que ela resolveu assumir. O primeiro passo vai ser tentar aprovar o projeto na Lei Rouanet, mesmo sabendo que isso exigiria a publicação do livro também no Brasil, talvez em edição bilíngue.
— Foi o primeiro livro que li do Guimarães Rosa. Quando me convidaram, eu nem tinha lido. Mas me fisgou. Principalmente quando comecei a traduzir. Foi aí que vi toda a densidade do romance — diz Alison. — Esse trabalho de conseguir financiamento me custou o último ano todo. Mas ainda não consegui resolver.
A única tradução em inglês de “Grande sertão: veredas” — com o título “The devil to pay in the backlands” — foi feita por Harriot de Onís, importante tradutora do
boom latino-americano, e James Taylor, que assumiu o trabalho depois que ela desistiu. São comuns as críticas ao fato de os dois não terem conseguido recriar poeticamente, em outra língua, o idioma rosiano — e terem construído uma espécie de faroeste. Depois, houve outras tentativas, mas abortadas no meio do caminho.
— A Harriot agia também sob as influências culturais da época, que buscavam atender às expectativas de latinidade (do boom), com esses autores engajados politicamente. E o Guimarães Rosa não se enquadrava nessa expectativa. Então, a abordagem da tradução foi domesticadora — diz Alison. — Ele sentia uma gratidão a ela, por abrir as portas para o mercado de língua inglesa. Mas dizia coisas contraditórias. Às vezes elogiava a tradução, outras vezes pedia um inglês mais joyceano. Só que acabava cedendo. Com tradutores de outras línguas, ele encorajava quando conseguiam uma ruptura de linguagem.
O que lhe chamou atenção na obra do autor mineiro, diz Alison, foi o fato de ele criar “um dialeto que não existe, mas parece existir”. E ela quer repetir isso na versão em inglês. Para isso, a australiana conta com um professor de literatura, outra tradutora — e leitores que ela usa como “cobaias”. Quando sair da marcha lenta e puder se dedicar só a isso, em vez de alternar com outras traduções, vai passar às cartas que Guimarães Rosa trocou com seus tradutores. Para dar um gostinho a quem ficou curioso, ela conta que traduziu a famosa palavra “nonada” como “nonought”. “Nought” é uma palavra do inglês arcaico que significa “nada”, mas que também serve como uma negativa.
— Não prometo que continue assim para sempre, ainda posso encontrar outra tradução! — ri Alison.
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