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Quando a "representatividade" vira valor de mercado...

Li um texto de uma professora, Dirce Amarante, publicado na Folha de S. Paulo, no dia 18.03.23, sob o título Fabricação de supostos gênios desafia atuação dos críticos e fiquei pensando que, em paralelo com o que vínhamos falando aqui, da transformação de pautas identitárias em mercadoria, outro problema que parece se intensificar é o do elogio mútuo e com isso o problema da crítica e do crítico.

A questão do gênio é assunto de longo debate. Em resumo, como se sabe, os românticos usaram do conceito para ir contra a racionalidade artística dos classicistas (liberais), a fim de que a imaginação, a criatividade individual se sobressaísse em relação a regras e convenções. No entanto, nota a professora, expressão como essa tem sido usada de forma cada vez mais frequente e estúpida. Vai um trecho do texto:

Não é raro o leitor se deparar com adjetivos como "genial", "fenomenal", "brilhante" e "singular" em críticas, prefácios, textos de orelha... Livros com pouco mais de 200 páginas são vistos como estudos "completos e elucidativos" sobre um determinado assunto, o qual, aliás, já foi bastante esmiuçado por outros, em tomos volumosos.

A questão é que a crítica parece estar encurralada, e cada vez mais, porque hoje milhares se ofendem com uma posição negativa, digo isso para além do compadrio, do desejo de alavancar a venda de um livro de amigo, de surfar numa onda.
 
Vou entrar em um ponto potencialmente polêmico, em que até mesmo a forma de abordagem é delicada. Por isso, vou contar com alguma boa vontade de quem me lê.

Dia desses conversava com uma amiga que é assinante de um desses Clubes de Assinatura de livros, famoso, e essa conversa me suscitou algumas questões.

Ela comentou que este Clube manda muita coisa meia-boca, apenas por estar na moda. E que, entre outras coisas, está na moda o discurso da representatividade. [Não, ela não é minion.]

É fora de dúvida que a questão da representatividade se tornou um valor de mercado e que algumas empresas têm a intenção de construir uma certa imagem positiva dando visibilidade em suas campanhas a representantes de minorias sociais. E notem: aqui eu estou partindo do pressuposto de que isso é uma coisa positiva, ok?

O ponto do comentário dessa amiga é o seguinte: algumas dessas escolhas editoriais desse Clube de Assinatura, que foram feitas com base nesse valor da "representatividade", recaíram sobre algumas obras que ela considerou "meia-boca", do ponto de vista da qualidade literária. Só que ela entrava no aplicativo desse Clube e parecia que as pessoas tinham uma certa propensão a amar esses livros, sem muito critério. E se você dizia algo de negativo sobre algum desses livros...

Primeiro ponto para discussão: essa lógica da "representatividade", aplicada ao universo editorial -e aqui lembrando que em um Clube desse tipo você está pagando também pela curadoria, pode eventualmente sacrificar a qualidade da obra por uma condição específica do autor? E aqui é preciso dizer o óbvio: eu não estou dizendo que autores que venham de grupos historicamente invisibilizados e silenciados não possam escrever obras de altíssima qualidade. Nem vou me dar ao trabalho de citar exemplos.

O segundo ponto para a discussão é do lado da recepção: se você diz algo de negativo sobre uma obra que traz esse selo da "representatividade", a coisa, nesse universo maluco das redes, facilmente pode ser recebida como um ataque discriminatório a uma minoria. Nessa tensão entre um impulso (elogiável) de tornar visível os invisíveis, de um lado, e a necessidade de valorar as qualidades artísticas de uma obra, de outro, quão livre é a apreciação qualificada de uma obra literária? Quão condicionada por esta necessidade de validação social, de se mostrar progressista, inclusivo, etc, essa análise de uma dada obra pode estar? E, por fim: é um problema quando uma certa qualidade/condição/circunstância específica da pessoa que escreve é privilegiada em detrimento daquilo que foi escrito?
essa represetatividade acaba NÃO funcionando porque quem faz filmes, livros, quadrinhos, séries, peças etc. fica tentando "empurrar" material ruim em uma espécie de cota ao invés de publicar/ produzir material bom.
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Vou comentar direto na essência que levou o Mercúcio a abrir este tópico: clubes de assinatura sejam eles de livros, filmes, CD´s de música, etc, a princípio deveria ser algo muito bom pra rapidamente ampliarmos nosso repertório com alguma qualidade e logicamente pra facilitar a vida de quem não tem tempo livre pra pesquisar, ler/ouvir resenhas. Mas eu ainda prefiro me dar ao trabalho de ir atrás e pesquisar o quero ler, ver e ouvir, do que ficar insatisfeito numa pseudo zona de conforto.
 
Última edição:
Representatividade sempre foi uma bobagem, independente do contexto. É um paliativo que simplesmente não resolve. E os clubes são muito filhos dessa época em que esse ativo de função social ambígua se valoriza muito, é natural que até pela natureza do serviço que oferecem, propiciada pela tecnologia, que tragam algo assim, nichado. Sempre me causa má impressão, mesmo quando o livro é bom, porque se por um lado aumenta nosso repertório (eu dificilmente teria lido literatura haitiana de outra forma), parece que quer forçar um tipo de reflexão que deveria ser mais natural (mesmo que o livro não force isso, no caso, ele seria ruim).

Agora ativo econômico isso é já faz tempo.
 

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