Faram¡r
Dr. Benway
Eu gosto de falar sobre o Genesis. Claro, se trata de uma banda com um material vasto e muita história para ser contada; certamente uma história de sucesso, poucos artistas conseguiram manter-se durante tanto tempo no topo, sem soarem repetitivos. É divertido discutir a trajetória da banda, porque podemos tomar vários pontos de vista diferentes. Eu estou acostumado a escutar opiniões sobre como o Genesis era genial nos anos setenta, enquanto eram progressivos e tinham Peter Gabriel e como lentamente foram corrompidos pelo comercialismo, se tornando pop sob a batuta do abominável Phil Collins. Partilhei dessa opinião durante um bocado de tempo, mas percebo hoje que ela esta equivocada. Claro, a saída de Peter Gabriel após o The Lambs Lies Down on Brodway foi um marco na sonoridade da banda e certamente eles nunca mais fizeram nenhum álbum com a qualidade artística dos anteriores, mas é um tremendo desperdício não observar a carreira deles após a saída de Peter Gabriel. Em primeiro lugar, porque os álbuns que se seguiram, Trick of the Tail e Wind and Wuthering são progressivos e de excelente qualidade. Tão técnicos como os anteriores, embora não alcancem a qualidade aos álbuns clássicos. É costume apontar a saída de Peter Gabriel como a maior perda da banda. A saída de Steve Hacket significou mais na aproximação ao pop, após o álbum Wind and Wuthering. Embora o álbum seguinte, And Then There Was Three, mantivesse consideravelmente as características dos anteriores (o Trick of the Tail foi uma mudança mais brusca), foi nesse que a banda começou de fato sua guinada pop. Não chega a ser correto definir o começo da fase pop no And Then Were Three, porque esse trabalho ainda é bem progressivo, mas a mudança fica visível. Em seguida eles lançaram Duke, que durante muito tempo eu considerei o primeiro álbum totalmente pop da banda, mais uma vez equivocadamente. Não é totalmente pop. É certamente um trabalho bem mais acessível que o antecessor, mas de novo ainda guarda algumas características progressivas. Foi com o Abacab que a banda mudou de vez. Nesse ponto o Gênesis é uma banda totalmente pop, estilo anos oitenta, e assim os álbuns que o sucederam.
Pode parecer, pela forma que eu escrevi, que essas mudanças representaram a ruína do Genesis, quando na verdade foi o caminho para o sucesso comercial da banda. Não apenas o sucesso comercial, mas o status de banda mais proeminente dos anos oitenta, talvez a mais bem sucedida comercialmente desde os Beatles. Seus álbuns sempre estavam entre os primeiros mais vendidos nos EUA e na Inglaterra, suas músicas nas rádios e na MTV. Do Invisible Touch, mais da metade do álbum tocava regularmente nas rádios. Qualquer pessoa de qualquer lugar conhece várias músicas do Genesis sem saber, tamanha a profusão que a banda tinha. Ok, mas e a qualidade?
Se o interesse for arte, música de qualidade soberba, é melhor ficar com os álbuns dos anos setenta, principalmente os de Peter Gabriel. Técnica apurada e sentimento, boa parte graças às interpretações de Peter Gabriel. O resto (que esta longe de ser resto, muito pelo contrário) fica por conta composições maravilhosas da banda. Os primeiros álbuns com Phil Collins no vocal podem ser incluídos nesse grupo, pela qualidade artística, mas ainda sobra o resto? É difícil admitir, mas o Genesis fez música pop de excelente qualidade também, como poucas bandas conseguiram fazer, e não adianta culpar apenas Phil Collins, porque o principal compositor ainda era Tony Banks, seus teclados tomavam conta da música. A música era "produto", mas produto de excelente qualidade.
Vou partir agora para pequenas resenhas dos álbuns de estúdio.
From Genesis to Revelation
Conheço apenas algumas músicas desse álbum, mas somando isso ao que eu li, da para fazer uma avaliação geral dele. A banda aqui ainda esta bastante imatura, não mostrando todo o seu potencial. As músicas eram curtas, um pouco distante do rock progressivo que os consagraram, podendo ser consideradas um tipo de rock pastoral, bastante suave e acústico. Embora esteja longe de se comparar aos melhores trabalhos deles, já tem os indícios da qualidade que a banda mostrará nos álbuns seguintes.
Trespass
Esse é o primeiro trabalho da banda que merece destaque e pode ser incluído no rol dos melhores álbuns deles. Ainda guarda resquícios de passagens acústicas e pastorais do álbum anterior, misturadas com as características que o Genesis mostrou nos álbuns seguintes: música dramática, teclados mais evidentes, guitarras (as vezes com peso), cozinha mais complexa e os vocais bem mais expressivos. The Knife é a música mais conhecida do álbum e, talvez, a mais pesada da carreira deles. As outras músicas também são dignas de nota. Looking for Someone e White Mountain tem ótimos trabalhos do Tony Banks; Dusk é uma música suave que lembra o primeiro álbum, só que de qualidade bem superior. Na minha opinião, os dois grandes destaques do álbum são Visions of Angels e Stagnation, músicas injustamente relegadas ao segundo plano. A melodia do piano que da inicio a Visions of Angels é inesquecível, seguido pela voz emocionada de Peter Gabriel. Bela música dramática, com ótima poesia. Stagnation é uma música bem marcada pelo estilo de Anthony Phillips, suave, mas com sessões instrumentais que remetem aos trabalhos posteriores do Genesis.
Esse álbum é uma ótima amostra do que eles podiam fazer mantendo as características originais da banda com o estilo progressivo. Eu pessoalmente não apenas o incluo dentro da discografia clássica da banda como o acho superior ao álbum seguinte, o também excelente Nursery Crime.
Nursery Crime
Considerado por muitos o primeiro grande álbum do Genesis, embora seja também um álbum de transição. Duas grandes mudanças enriquecedoras ocorreram na banda: a entrada de Steve Hacket como guitarrista e Phil Collins na bateria. A mudança pode ser vista claramente em Return of The Giant Hoggweed e Fountain of Salmacis, que são músicas pesadas e bastante complexas. A faixa inicial, The Musical Box também carrega essas características. Mescla passagens suaves com outras sombrias, onde Steve Hacket mostra sua habilidade em solos fantásticos e Phil Collins destrói na bateria. Os vocais de Peter Gabriel estão ainda mais dramáticos e teatrais, especialmente na primeira faixa e na música Harold the Barrel. Seven Stones é uma música linda, geralmente incluída pelos fãs como uma das melhores da banda, Harlequin e For Absent Friends são músicas bem suaves, lembrando o estilo dos primeiros álbuns. Como um todo o álbum é excelente, mas o melhor ainda estava por vir.
Foxtrot
Embora todos os álbuns anteriores sejam excelentes, com a possível exceção do primeiro, foi nesse que o Genesis pode mostrar ao mundo tudo o que eles podiam fazer. Não é um simples álbum, é um marco no Rock e na música em geral. Art Rock é uma definição simples e eficiente para trabalhos como esse. Música complexa, melódica, personalizada e emocional – é o que esse álbum oferece. Aqui Peter Gabriel não apenas é teatral, ele interpreta em suas músicas vários personagens diferentes, varias emoções diferentes, de forma sublime. O álbum começa inspirado com o teclado de Tony Banks em Watcher of The Skies, a música esbanja harmonias complexas entre o teclado e o baixo. Supper’s Ready é o ponto principal do álbum, em seus quase vinte e três minutos, mas todas as músicas são perfeitas nesse álbum – tão perfeitas como poderiam ser. Tanto em Supper’s Ready como em Get’em Out By Friday Peter Gabriel interpreta mais de um personagem, em músicas complexas e coerentes. Em Get’em Out By Friday eles mostram um futuro não tão distante, amargo, mas remetendo (em minha opinião) a expulsão dos camponeses de suas terras, como ocorreu no cercamento dos campos. As músicas do Genesis eram muitas vezes fantasiosas, mas como recurso poético. Eles não perdiam a conexão com questões sociais. Can-Utility and the Coastliners é para mim a música paradigmática do Genesis. Pode não ser a melhor, mas inclui tudo o que se pode esperar do Genesis clássico: passagens complexas intercaladas com outras calmas, interpretação emocional de Peter Gabriel, teclados marcantes de Tony Banks, solos discretos de baixo e solos criativos de Steve Hacket. Time Table é belíssima e Horizons é um instrumental de violão inspirado em Bach. Esse álbum é considerado por alguns o melhor deles e, embora não concorde, posso compreender tal opinião.
Selling England by the Pound
Eu sou suspeito para falar desse álbum. Não o considero apenas o melhor do Genesis. De acordo com o meu gosto, esse é o melhor trabalho de Rock/Pop existente. O álbum não poderia ser tão perfeito se não tivesse uma poesia contundente que acompanhasse a música. Na verdade, se tratando de Genesis clássico, a interpretação musical segue a lógica da poesia, como deveria ocorrer sempre. Alguns álbuns conceituais contam uma história que transmite uma ou várias mensagens. Aqui, cada música conta uma história individual, mas que segue o mesmo tema: A destruição dos valores tradicionais ingleses na mão de forças industriais e corporativistas. Esse tema pode ser percebido sutilmente na letra das músicas, das mais variadas formas; dramática em Firth of Fifth, satírica em The Battle of Epping Forest, por exemplo. Mas o impacto das letras vem depois do impacto da música. Quando Peter Gabriel canta sem acompanhamento algum o começo de Dancing With the Moonlite Knight, da para perceber que se trata de uma música fora de série. Em seguida, O piano e a guitarra passam a acompanhar a melodia vocal gentilmente, ate o momento em que a música se torna densa e dramática. O refrão é acompanhado por acordes pesados de guitarra e solos virtuosos. A música mantêm o nível de tensão ate o final tranquilo. I know What I Like vem em seguida mantendo a qualidade no topo. É uma música bem mais suave e se tornou o primeiro grande hit da banda, sendo ate hoje uma de suas músicas mais conhecidas. A tensão se forma novamente em Firth of Fifth, que começa com o, talvez, melhor solo de piano da discografia da banda. Essa música traz também um solo memorável de Steve Hacket, que acompanha o tema iniciado pelo órgão. Mais uma vez a tensão é suavizada na balada More Fool Me, a primeira música cantada por Phil Collins no Genesis. The Battle Of Epping Forest é a música mais longa e pretensiosa (não em um sentido pejorativo) do álbum. É uma amostra de como se pode ser complexo sem em nenhum momento ferir a melodia da música. A bateria tem ritmo quebrado, mas nunca soa feia, todos os instrumentos estão em seu devido lugar e coerentes entre si. After the Ordeal é um belo instrumental. Alias, da para perceber que as músicas mais dramáticas e pomposas são intercaladas por outras mais calmas ou de menor amplitude. É um ótimo recurso, que faz a audição do álbum um prazer ainda maior. Cinema Show é a última "grande música" do CD, e é A música. Não é apenas a minha opinião, muitas outras pessoas consideram essa a melhor música do Genesis. No meu caso eu a considero a melhor música de Rock existente! Não vou comenta-la, porque não consigo expressar em palavras o que sinto ao ouvi-la. Dizer o que? A qualidade é inegável, mas o fato de eu considera-la a melhor de todas é puro gosto pessoal, é parte da subjetividade que conta muito na hora de avaliar uma obra de arte. E aqui estou tratando de uma obra de arte.
The Lamb Lies Down On Brodaway
É o trabalho mais grandioso da banda, uma Rock Opera, a minha preferida. Esse (junto aos dois álbuns anteriores) é o ponto alto da carreira do Genesis, onde eles apresentavam os trabalhos mais criativos. A história contada é no mínimo insólita. As transformações místicas de um rapaz chamado Rael, em sua vida numa grande cidade. É bastante perturbadora em músicas como The Colony Of Slippermen. O estilo da banda mudou de uma forma que eu não sei definir bem. É tão progressivo quanto os álbuns anteriores, mas engloba uma diversidade maior, é mais eclético. Algumas músicas são "normais" como The Lamb Lies Down on Brodway, The Cage, It, the Carpet Crowlers (talvez a mais famosa do álbum). O estilo de músicas como Cuckoo Cocoon e The Grand Parade Of Lifeless Packaging lembram os pedaços mais extravagantes de composições antigas da banda, so que aqui como músicas independentes. Acho que essa mudança na estrutura é natural, afinal, estamos falando de uma Opera Rock. E considerado o melhor álbum da banda pela maioria dos fãs e foi um dos últimos deles (sem contar os pops) que eu ouvi. Pode não ter as músicas mais complexas deles, mas é o trabalho mais difícil de digerir, o mais pretencioso, e indispensável para quem quer conhecer a banda, ou quer conhecer Rock Progressivo, ou Rock em geral. Um dos álbuns mais influentes de todos os tempos.
Trick of the Tail
A mídia em geral considerou a saída de Peter Gabriel como a morte da banda. Claro, eles o consideravam o integrante mais importante, o principal compositor do grupo. Embora Peter Gabriel sempre tenha sido importante, ele não tomava parte na composição das músicas. E em Trick of the Tail, mais de um ano após o lançamento do último álbum eles deram o troco em todos que duvidaram que a banda poderia continuar, demonstrando qualidade e obtendo sucesso. A banda mudou o estilo e esse álbum não alcançou a qualidade de seus antecessores, mas ainda continua sendo um álbum importante na discografia da banda. O estilo continua progressivo, embora tenha se suavizado, e algumas músicas mostram a virtuosidade dos membros como poucas outras; Dance on a Volcano é uma música complexa e com solos magistrais de Hacket. Robbery, Assault & Battery também é bastante complexa durante a segunda parte da música, enquanto outras como Squonk e Mad Man Moon mostram o novo estilo da banda, que se tornara evidente nos álbuns seguintes. Entangled e Ripples são músicas mais lentas, dotadas de grande beleza enquanto a faixa final é uma reprise dos temas das músicas anteriores, orientado de forma jazzística.
Wind & Wuthering
Esse é o ponto que muitos fãs marcam como o último grande álbum do Genesis. É um trabalho que se equipara a qualidade do anterior, embora de um passo adiante no comercialismo da banda. A transição para o pop não se fez de um álbum para o outro, foi uma transição lenta que durou vários anos. Your Own Special Way é uma música bastante suave e se tornou o maior Hit da banda nos EUA ate o momento, o primeiro de muitos porvir. Essa foi a última participação de Hacket no Genesis, e ele fez muito nesse álbum. Blood on the Rooftops, Eleventh Earl of Mar, ‘Unquiet Slumber for the Sleepers... e ...In That Quiet Earth’ tem sua marca na composição, solos memoraveis em estruturas complexas. Talvez o grande momento do álbum seja One For The Vine. Por sinal é a composição mais longa da banda desde a saída de Peter Gabriel, e mistura partes acústicas com uma complexa sessão instrumental na metade da música, onde Tony Banks brilha.
... And Then There Were Three
Para muitos fãs esse álbum é o primeiro de muitos que podem ser descartados. Steve Hacket saiu da banda e as músicas se tornaram bem mais acessíveis. A saída de Hacket foi menos traumática do que de Peter Gabriel, significou mais um indicio dos rumos do Genesis. O estilo mais pop de músicas como Your Own Special Way se tornaram regra, que pode ser observada em Snowbound e em Follow You, Follow Me, um dos maiores sucessos deles. As raízes progressivas se mantem em músicas como Down and Out, The Lady Lies, Burning Rope e Deep in the Motherlode. Rutheford ocupou a função de tocar guitarra e a sonoridade delas se tornaram mais limpas, como na música Scenes From a Night’s Dream, uma das melhores do álbum. Esse é um trabalho de transição, ainda pendendo para o progressivo, enquanto no próximo álbum, Duke, a banda se voltara para o pop, mantendo poucas características progressivas.
Eu fiquei com preguiça de fazer a resenha dos álbuns Duke, Abacab, Genesis e Invisible Touch, que eu havia pensado. Deles o Duke ainda mantem resquícios progressivos e carrega o estilo dos anos 70, mesmo sendo pop. O Abacab é uma mudança é tanto, logo na primeira faixa (Abacab): música minimalista, dançante, típica dos anos 80. Esses álbuns são repletos de composições curtas e sonoridade límpida. Uma das melhores coisas que se pode ter no Pop, todos esses álbuns são recomendáveis.
Eu acho complicado falar de música, porque não conheço o suficiente de teoria musical, sequer toco algum instrumento. Geralmente uso o meu senso estético e meus sentimentos para poder escrever em relação à música da melhor forma que posso, ainda assim encontro dificuldades. Mas como se trata de uma banda que eu amo tanto, não me importo com isso. Espero que esse tópico possa render.
Pode parecer, pela forma que eu escrevi, que essas mudanças representaram a ruína do Genesis, quando na verdade foi o caminho para o sucesso comercial da banda. Não apenas o sucesso comercial, mas o status de banda mais proeminente dos anos oitenta, talvez a mais bem sucedida comercialmente desde os Beatles. Seus álbuns sempre estavam entre os primeiros mais vendidos nos EUA e na Inglaterra, suas músicas nas rádios e na MTV. Do Invisible Touch, mais da metade do álbum tocava regularmente nas rádios. Qualquer pessoa de qualquer lugar conhece várias músicas do Genesis sem saber, tamanha a profusão que a banda tinha. Ok, mas e a qualidade?
Se o interesse for arte, música de qualidade soberba, é melhor ficar com os álbuns dos anos setenta, principalmente os de Peter Gabriel. Técnica apurada e sentimento, boa parte graças às interpretações de Peter Gabriel. O resto (que esta longe de ser resto, muito pelo contrário) fica por conta composições maravilhosas da banda. Os primeiros álbuns com Phil Collins no vocal podem ser incluídos nesse grupo, pela qualidade artística, mas ainda sobra o resto? É difícil admitir, mas o Genesis fez música pop de excelente qualidade também, como poucas bandas conseguiram fazer, e não adianta culpar apenas Phil Collins, porque o principal compositor ainda era Tony Banks, seus teclados tomavam conta da música. A música era "produto", mas produto de excelente qualidade.
Vou partir agora para pequenas resenhas dos álbuns de estúdio.
From Genesis to Revelation
Conheço apenas algumas músicas desse álbum, mas somando isso ao que eu li, da para fazer uma avaliação geral dele. A banda aqui ainda esta bastante imatura, não mostrando todo o seu potencial. As músicas eram curtas, um pouco distante do rock progressivo que os consagraram, podendo ser consideradas um tipo de rock pastoral, bastante suave e acústico. Embora esteja longe de se comparar aos melhores trabalhos deles, já tem os indícios da qualidade que a banda mostrará nos álbuns seguintes.
Trespass
Esse é o primeiro trabalho da banda que merece destaque e pode ser incluído no rol dos melhores álbuns deles. Ainda guarda resquícios de passagens acústicas e pastorais do álbum anterior, misturadas com as características que o Genesis mostrou nos álbuns seguintes: música dramática, teclados mais evidentes, guitarras (as vezes com peso), cozinha mais complexa e os vocais bem mais expressivos. The Knife é a música mais conhecida do álbum e, talvez, a mais pesada da carreira deles. As outras músicas também são dignas de nota. Looking for Someone e White Mountain tem ótimos trabalhos do Tony Banks; Dusk é uma música suave que lembra o primeiro álbum, só que de qualidade bem superior. Na minha opinião, os dois grandes destaques do álbum são Visions of Angels e Stagnation, músicas injustamente relegadas ao segundo plano. A melodia do piano que da inicio a Visions of Angels é inesquecível, seguido pela voz emocionada de Peter Gabriel. Bela música dramática, com ótima poesia. Stagnation é uma música bem marcada pelo estilo de Anthony Phillips, suave, mas com sessões instrumentais que remetem aos trabalhos posteriores do Genesis.
Esse álbum é uma ótima amostra do que eles podiam fazer mantendo as características originais da banda com o estilo progressivo. Eu pessoalmente não apenas o incluo dentro da discografia clássica da banda como o acho superior ao álbum seguinte, o também excelente Nursery Crime.
Nursery Crime
Considerado por muitos o primeiro grande álbum do Genesis, embora seja também um álbum de transição. Duas grandes mudanças enriquecedoras ocorreram na banda: a entrada de Steve Hacket como guitarrista e Phil Collins na bateria. A mudança pode ser vista claramente em Return of The Giant Hoggweed e Fountain of Salmacis, que são músicas pesadas e bastante complexas. A faixa inicial, The Musical Box também carrega essas características. Mescla passagens suaves com outras sombrias, onde Steve Hacket mostra sua habilidade em solos fantásticos e Phil Collins destrói na bateria. Os vocais de Peter Gabriel estão ainda mais dramáticos e teatrais, especialmente na primeira faixa e na música Harold the Barrel. Seven Stones é uma música linda, geralmente incluída pelos fãs como uma das melhores da banda, Harlequin e For Absent Friends são músicas bem suaves, lembrando o estilo dos primeiros álbuns. Como um todo o álbum é excelente, mas o melhor ainda estava por vir.
Foxtrot
Embora todos os álbuns anteriores sejam excelentes, com a possível exceção do primeiro, foi nesse que o Genesis pode mostrar ao mundo tudo o que eles podiam fazer. Não é um simples álbum, é um marco no Rock e na música em geral. Art Rock é uma definição simples e eficiente para trabalhos como esse. Música complexa, melódica, personalizada e emocional – é o que esse álbum oferece. Aqui Peter Gabriel não apenas é teatral, ele interpreta em suas músicas vários personagens diferentes, varias emoções diferentes, de forma sublime. O álbum começa inspirado com o teclado de Tony Banks em Watcher of The Skies, a música esbanja harmonias complexas entre o teclado e o baixo. Supper’s Ready é o ponto principal do álbum, em seus quase vinte e três minutos, mas todas as músicas são perfeitas nesse álbum – tão perfeitas como poderiam ser. Tanto em Supper’s Ready como em Get’em Out By Friday Peter Gabriel interpreta mais de um personagem, em músicas complexas e coerentes. Em Get’em Out By Friday eles mostram um futuro não tão distante, amargo, mas remetendo (em minha opinião) a expulsão dos camponeses de suas terras, como ocorreu no cercamento dos campos. As músicas do Genesis eram muitas vezes fantasiosas, mas como recurso poético. Eles não perdiam a conexão com questões sociais. Can-Utility and the Coastliners é para mim a música paradigmática do Genesis. Pode não ser a melhor, mas inclui tudo o que se pode esperar do Genesis clássico: passagens complexas intercaladas com outras calmas, interpretação emocional de Peter Gabriel, teclados marcantes de Tony Banks, solos discretos de baixo e solos criativos de Steve Hacket. Time Table é belíssima e Horizons é um instrumental de violão inspirado em Bach. Esse álbum é considerado por alguns o melhor deles e, embora não concorde, posso compreender tal opinião.
Selling England by the Pound
Eu sou suspeito para falar desse álbum. Não o considero apenas o melhor do Genesis. De acordo com o meu gosto, esse é o melhor trabalho de Rock/Pop existente. O álbum não poderia ser tão perfeito se não tivesse uma poesia contundente que acompanhasse a música. Na verdade, se tratando de Genesis clássico, a interpretação musical segue a lógica da poesia, como deveria ocorrer sempre. Alguns álbuns conceituais contam uma história que transmite uma ou várias mensagens. Aqui, cada música conta uma história individual, mas que segue o mesmo tema: A destruição dos valores tradicionais ingleses na mão de forças industriais e corporativistas. Esse tema pode ser percebido sutilmente na letra das músicas, das mais variadas formas; dramática em Firth of Fifth, satírica em The Battle of Epping Forest, por exemplo. Mas o impacto das letras vem depois do impacto da música. Quando Peter Gabriel canta sem acompanhamento algum o começo de Dancing With the Moonlite Knight, da para perceber que se trata de uma música fora de série. Em seguida, O piano e a guitarra passam a acompanhar a melodia vocal gentilmente, ate o momento em que a música se torna densa e dramática. O refrão é acompanhado por acordes pesados de guitarra e solos virtuosos. A música mantêm o nível de tensão ate o final tranquilo. I know What I Like vem em seguida mantendo a qualidade no topo. É uma música bem mais suave e se tornou o primeiro grande hit da banda, sendo ate hoje uma de suas músicas mais conhecidas. A tensão se forma novamente em Firth of Fifth, que começa com o, talvez, melhor solo de piano da discografia da banda. Essa música traz também um solo memorável de Steve Hacket, que acompanha o tema iniciado pelo órgão. Mais uma vez a tensão é suavizada na balada More Fool Me, a primeira música cantada por Phil Collins no Genesis. The Battle Of Epping Forest é a música mais longa e pretensiosa (não em um sentido pejorativo) do álbum. É uma amostra de como se pode ser complexo sem em nenhum momento ferir a melodia da música. A bateria tem ritmo quebrado, mas nunca soa feia, todos os instrumentos estão em seu devido lugar e coerentes entre si. After the Ordeal é um belo instrumental. Alias, da para perceber que as músicas mais dramáticas e pomposas são intercaladas por outras mais calmas ou de menor amplitude. É um ótimo recurso, que faz a audição do álbum um prazer ainda maior. Cinema Show é a última "grande música" do CD, e é A música. Não é apenas a minha opinião, muitas outras pessoas consideram essa a melhor música do Genesis. No meu caso eu a considero a melhor música de Rock existente! Não vou comenta-la, porque não consigo expressar em palavras o que sinto ao ouvi-la. Dizer o que? A qualidade é inegável, mas o fato de eu considera-la a melhor de todas é puro gosto pessoal, é parte da subjetividade que conta muito na hora de avaliar uma obra de arte. E aqui estou tratando de uma obra de arte.
The Lamb Lies Down On Brodaway
É o trabalho mais grandioso da banda, uma Rock Opera, a minha preferida. Esse (junto aos dois álbuns anteriores) é o ponto alto da carreira do Genesis, onde eles apresentavam os trabalhos mais criativos. A história contada é no mínimo insólita. As transformações místicas de um rapaz chamado Rael, em sua vida numa grande cidade. É bastante perturbadora em músicas como The Colony Of Slippermen. O estilo da banda mudou de uma forma que eu não sei definir bem. É tão progressivo quanto os álbuns anteriores, mas engloba uma diversidade maior, é mais eclético. Algumas músicas são "normais" como The Lamb Lies Down on Brodway, The Cage, It, the Carpet Crowlers (talvez a mais famosa do álbum). O estilo de músicas como Cuckoo Cocoon e The Grand Parade Of Lifeless Packaging lembram os pedaços mais extravagantes de composições antigas da banda, so que aqui como músicas independentes. Acho que essa mudança na estrutura é natural, afinal, estamos falando de uma Opera Rock. E considerado o melhor álbum da banda pela maioria dos fãs e foi um dos últimos deles (sem contar os pops) que eu ouvi. Pode não ter as músicas mais complexas deles, mas é o trabalho mais difícil de digerir, o mais pretencioso, e indispensável para quem quer conhecer a banda, ou quer conhecer Rock Progressivo, ou Rock em geral. Um dos álbuns mais influentes de todos os tempos.
Trick of the Tail
A mídia em geral considerou a saída de Peter Gabriel como a morte da banda. Claro, eles o consideravam o integrante mais importante, o principal compositor do grupo. Embora Peter Gabriel sempre tenha sido importante, ele não tomava parte na composição das músicas. E em Trick of the Tail, mais de um ano após o lançamento do último álbum eles deram o troco em todos que duvidaram que a banda poderia continuar, demonstrando qualidade e obtendo sucesso. A banda mudou o estilo e esse álbum não alcançou a qualidade de seus antecessores, mas ainda continua sendo um álbum importante na discografia da banda. O estilo continua progressivo, embora tenha se suavizado, e algumas músicas mostram a virtuosidade dos membros como poucas outras; Dance on a Volcano é uma música complexa e com solos magistrais de Hacket. Robbery, Assault & Battery também é bastante complexa durante a segunda parte da música, enquanto outras como Squonk e Mad Man Moon mostram o novo estilo da banda, que se tornara evidente nos álbuns seguintes. Entangled e Ripples são músicas mais lentas, dotadas de grande beleza enquanto a faixa final é uma reprise dos temas das músicas anteriores, orientado de forma jazzística.
Wind & Wuthering
Esse é o ponto que muitos fãs marcam como o último grande álbum do Genesis. É um trabalho que se equipara a qualidade do anterior, embora de um passo adiante no comercialismo da banda. A transição para o pop não se fez de um álbum para o outro, foi uma transição lenta que durou vários anos. Your Own Special Way é uma música bastante suave e se tornou o maior Hit da banda nos EUA ate o momento, o primeiro de muitos porvir. Essa foi a última participação de Hacket no Genesis, e ele fez muito nesse álbum. Blood on the Rooftops, Eleventh Earl of Mar, ‘Unquiet Slumber for the Sleepers... e ...In That Quiet Earth’ tem sua marca na composição, solos memoraveis em estruturas complexas. Talvez o grande momento do álbum seja One For The Vine. Por sinal é a composição mais longa da banda desde a saída de Peter Gabriel, e mistura partes acústicas com uma complexa sessão instrumental na metade da música, onde Tony Banks brilha.
... And Then There Were Three
Para muitos fãs esse álbum é o primeiro de muitos que podem ser descartados. Steve Hacket saiu da banda e as músicas se tornaram bem mais acessíveis. A saída de Hacket foi menos traumática do que de Peter Gabriel, significou mais um indicio dos rumos do Genesis. O estilo mais pop de músicas como Your Own Special Way se tornaram regra, que pode ser observada em Snowbound e em Follow You, Follow Me, um dos maiores sucessos deles. As raízes progressivas se mantem em músicas como Down and Out, The Lady Lies, Burning Rope e Deep in the Motherlode. Rutheford ocupou a função de tocar guitarra e a sonoridade delas se tornaram mais limpas, como na música Scenes From a Night’s Dream, uma das melhores do álbum. Esse é um trabalho de transição, ainda pendendo para o progressivo, enquanto no próximo álbum, Duke, a banda se voltara para o pop, mantendo poucas características progressivas.
Eu fiquei com preguiça de fazer a resenha dos álbuns Duke, Abacab, Genesis e Invisible Touch, que eu havia pensado. Deles o Duke ainda mantem resquícios progressivos e carrega o estilo dos anos 70, mesmo sendo pop. O Abacab é uma mudança é tanto, logo na primeira faixa (Abacab): música minimalista, dançante, típica dos anos 80. Esses álbuns são repletos de composições curtas e sonoridade límpida. Uma das melhores coisas que se pode ter no Pop, todos esses álbuns são recomendáveis.
Eu acho complicado falar de música, porque não conheço o suficiente de teoria musical, sequer toco algum instrumento. Geralmente uso o meu senso estético e meus sentimentos para poder escrever em relação à música da melhor forma que posso, ainda assim encontro dificuldades. Mas como se trata de uma banda que eu amo tanto, não me importo com isso. Espero que esse tópico possa render.